1. Defendia o linguista Herculano de Carvalho que a «linguagem, considerada na sua natureza essencial, é uma actividade, um agir livre e finalístico, realizado pelos homens enquanto seres pensantes e enquanto membros e criadores da sociedade»1. Esta afirmação define a comunicação linguística como uma condição essencial à vida em sociedade e ao desenvolvimento pleno do ser humano. A centralidade da linguagem foi desde cedo reconhecida por meio de fenómenos como a sistematização das regras de funcionamento da língua, associada às gramáticas, o desenvolvimento da sua aprendizagem, nos programas escolares, ou o estudo das suas características, com a afirmação da linguística enquanto ciência. A esta dinâmica em torno da linguagem juntam-se igualmente os estudos desenvolvidos para permitir a comunicação a todos aqueles que têm dificuldades acrescidas neste domínio. Entre os avanços dignos de relevo, encontra-se o projeto PROsyntax, um programa de intervenção do domínio sintático, destinado a crianças com perturbações da linguagem, desenvolvido na Universidade de Aveiro e já premiado. O PROsyntax vem confirmar que os estudos no âmbito da linguagem vão muito além da perspetiva descritiva, compreendendo áreas de intervenção prática que se podem revelar centrais em sociedade.
1. Herculano de Carvalho, Teoria da Linguagem, Natureza do Fenómeno Linguístico e análise das línguas, Coimbra Editora, 1983.
Primeira imagem: Gauguin, À beira mar. 1887.
2. O recurso à língua inglesa para nomear as mais diferentes realidades continua a merecer, no contexto da língua portuguesa, uma nota reflexiva de crítica, como o assinala José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, ao cotejar as designações Be my friend e Adota-me, escolhidas por projetos diferentes, ambos portugueses e tendo ambos o objetivo de encontrar donos portugueses responsáveis para cães abandonados.
3. O fenómeno da concordância do verbo com o sujeito tem muitas particularidades. Uma delas ocorre quando o sujeito é o pronome relativo quem, como recorda a professora Carla Marques no seu apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2.
4. A pronúncia do topónimo Azeméis (de Oliveira de Azeméis) dá matéria a uma nova resposta do Consultório. Nesta atualização, poderão ser consultadas outras seis respostas: «Etimologia e morfologia de alcaloide», «Os nomes carrasco, carrasca e carrascal», «Os verbos remir e redimir», «O plural de lúmen», «O significado de "ponto alto"» e «Patético e ridículo».
5. Em A covid-19 da Língua, regista-se a entrada dos termos BQ.1 e BQ.1.1, as designações da nova linhagem e sublinhagem da variante ómicron que colocam no panorama atual a ameaça de recuo na situação de alguma estabilidade conquistada em época pós-covid.
6. Irenelogia é uma palavra ainda não dicionarizada em português usada para designar a disciplina que estuda a paz e que deveria ser convocada nos tempos de guerra que se vivem, como recorda o economista Jorge Fonseca de Almeida no seu artigo (transcrito com a devida vénia).
7. Bendito e Louvado, Conto Contado — Contos Populares Portugueses é a nova publicação que junta editoras de Portugal e do Brasil, que reúnem numa publicação contos populares orais transcritos e ilustrados. O projeto conta com a colaboração de 14 narradores oriundos dos dois países envolvidos, como se noticia aqui, em artigo da autoria da jornalista Rita Pimenta, do jornal Público.
8. O Prémio Camões 2022 foi atribuído ao escritor brasileiro Silviano Santiago, que desenvolve ainda atividade como ensaísta, poeta, tradutor e professor. Na obra do autor, ainda não publicada em Portugal, merecem destaque dois romances já premiados: Mil Rosas Roubadas, vencedor do Prémio Oceanos, em 2015, e Machado (2016), vencedor do Prémio Jabuti, na edição de 2017, nas categorias Romance e Livro do Ano.
9. Um registo final para a exposição-homenagem dedicada à linguista e professora catedrática Maria Helena Mira Mateus (1931 – 2020), no átrio da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e cuja inauguração tem lugar a 26 de outubro. Este acontecimento é também matéria do artigo da linguista e professora universitária Margarita Correia, publicado no Diário de Notícias, em 24/10/2022, e transcrito aqui.