1. Assinala-se a 16 de novembro de 2022 o centenário do nascimento de José Saramago. Ao longo de um ano, um pouco por todo o lado, em Portugal e no mundo, o autor e a sua obra foram celebrados, repensados, reinterpretados. Saramago, Prémio Nobel da Literatura, deixou aos seus leitores uma obra ímpar que se abre a temas de natureza humana e ao questionamento do mundo. A língua que dá forma às suas histórias é também ela um elemento de particular importância para o autor, que sempre a trabalhou de forma original e com a qual se preocupou, como ficou patente no texto que em 2003 escreveu especialmente para o Ciberdúvidas: «Uma língua que não se defende, morre». É nesta mesma forma de se apropriar da língua que encontramos marcas da presença de outras línguas, nomeadamente do castelhano, o que foi realçado pelo linguista Fernando Venâncio, no artigo «Saramago, o ibérico». Uma das originalidades de Saramago encontra-se também na forma como reinterpreta a escrita. Desde a pontuação à sintaxe, inúmeras circunstâncias demonstram a particular sensibilidade do autor para a sua língua e para as suas potencialidades. Neste campo, há que recordar a forma particular como utilizou a pontuação, tal como registava, em 2008, a jornalista Isabel Coutinho no artigo «Saramago, o escritor que brinca com a pontuação». Entre as particularidades da escrita saramaguiana, podemos ainda recordar o uso particular de cujo, que o autor utiliza nalgumas ocasiões como um pronome (e não como determinante, como acontece atualmente), por vezes, com um comportamento equivalente ao de um genitivo, com a sintaxe típica dos clássicos, noutras inserido numa estrutura com usos registados pontualmente nos séculos XVIII e XIX, equivalente a “do qual” e noutros casos a “o qual”. Em Memorial do Convento, escreve «Ao outro dia, aí pelas onze horas dele, bateu à portaria do convento um estudante, cujo convém dizer logo que desde há tempos andava pretendendo o hábito da casa».
A este propósito, recorde-se ainda a nota do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa sobre a exposição dedicada a Saramago na Biblioteca Nacional de Portugal, intitulada A oficina de Saramago e aconselha-se o documentário Viagem a Portugal, inspirado na obra homónima de José Saramago, apresentado pelo ator e humorista brasileiro Fábio Porchat.
Primeira imagem: pintura de Saramago, por Sofía Gandarias, 1995; segunda imagem: Estátua de José Saramago em Azinheira do Ribatejo.
2. A colocação da vírgula, desta feita numa perspetiva normativa, é tema do apontamento da professora Carla Marques, no programa Páginas de Português da Antena 2, onde se aborda a possibilidade de ocorrência de vírgula após Pedro, no enunciado «Pedro (,) abre a porta».
3. A integração de uma palavra numa classe de palavras pode não ser um processo linear. Esta dificuldade fica patente, por exemplo, na análise de um, cujas especificidades se consideram na resposta «Um terço perto da catedral». Na atualização do Consultório, é possível ainda consultar as respostas «Dado + conjuntivo», «Adjetivo+ oração de infinitivo: «é interessante de ler», «Percentagem + adjetivo»: «31% maior» e «A locução «em contracorrente», «Nomes deverbais sufixados com -mento».
4. Tempos houve em que chamar alguém português ou galego foi considerado um insulto. Atualmente, o recurso a estes gentílicos para atacar alguém parece ter caído em desuso, como se conclui no apontamento do jornalista Jorge Sá Eusébio, que aqui transcrevemos com a devida vénia.
5. Em Israel, encontrou-se inscrita num pente uma frase alfabética, que é considerada a mais antiga do mundo, o que se relata neste artigo (aqui transcrito com a devida vénia).
6. Entre os prémios atribuídos recentemente, destaque para os seguintes:
– O Grande Prémio da Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, atribuído a Mega Ferreira, escritor e jornalista, pela obra Crónicas Italianas;
– O Prémio Literário José Saramago, atribuído ao escritor brasileiro Rafael Gallo, pela sua obra Dor Fantasma.
7. Uma nota final para o comentário do humorista português Ricardo Araújo Pereira, no Programa cujo nome estamos legalmente impedidos de dizer (12/11, na SIC Notícias), onde este afirmou, sem total certeza, diga-se, que a expressão «pelos vistos» teria sido censurada pelo Ciberdúvidas. Esclarecemos que, na perspetiva do Ciberdúvidas, a expressão não está errada. Trata-se de uma construção cristalizada que se usa como equivalente a «ao que tudo indica», tendo registo dicionarístico. Já em 1997, nesta resposta, se considerava correto o uso (aqui).