Na frase apresentada, a flexão do verbo dever no pretérito perfeito do indicativo não é aceitável.
O verbo dever é, na frase em análise, usado como um verbo auxiliar modal. Ou seja, trata-se de um verbo que contribui para a expressão de um valor de obrigação (modalidade deôntica) ou um valor de dúvida (modalidade epistémica), como em (1):
(1) «O João deve ir à escola hoje.»
Nesta frase, o verbo dever pode traduzir um valor de obrigação, que incide sobre o verbo ir, o que leva a que frase seja interpretada como «O João tem a obrigação de ir à escola hoje.» Em função do contexto, o verbo pode também expressar a dúvida, sendo a frase equivalente a «É possível que o João vá à escola hoje.»
O verbo dever pode ser usado como auxiliar modal com os valores referidos nos tempos do presente e do imperfeito, do modo indicativo e do modo conjuntivo. Pode também ser usado no condicional e no futuro do indicativo. Todavia, na qualidade de auxiliar com os valores indicados, este verbo não se usa no pretérito perfeito do indicativo. Veja-se a sequência de frases abaixo, na qual só a frase (7) é inaceitável pelo facto de o verbo se encontrar no pretérito perfeito do indicativo:
(2) «O João devia ir à escola hoje.» (imperfeito do indicativo)
(3) «Talvez o João deva ir à escola hoje.» (presente do conjuntivo)
(4) «Talvez o João devesse ir à escola hoje.» (imperfeito do conjuntivo)
(5) «O João deveria ir à escola hoje.» (condicional)
(6) «O João deverá ir à escola hoje.» (futuro do indicativo)
(7) «*O João deveu ir à escola hoje.» (perfeito do indicativo)
Pelo que ficou exposto, a frase apresentado está incorreta. Seria possível corrigir a frase usando o verbo dever no pretérito imperfeito do indicativo (8), no condicional (9) ou no futuro do indicativo (10):
(8) «Os donos da casa saíram e todos deviam sair também.»
(9) «Os donos da casa saíram e todos deveriam sair também.»
(10) «Os donos da casa saíram e todos deverão sair também.»
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da frase.
1. Oliveira e Mendes in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 632 – 640.