Entre os nomes geográficos ucranianos que são mencionados na questão, identificam-se duas situações:
– Nomes que têm forma portuguesa, com ou sem tradição ou uso – são, portanto, exónimos1, isto é, nomes formados numa língua que não naquelas que se usam nos territórios onde os topónimos ocorrem: Carcóvia, Leópolis, Quieve, Galícia.
– Nomes transcritos ou transliterados conforme normas internacionais ou normas emitidas por autoridades locais e reconhecidas internacionalmente – são endónimos, ou seja, nomes locais que são romanizados: Kharkiv/Kharkov, Kyiv/Kiev, Lviv/Lvov.
Sobre os nomes em questão, importa salientar que não há ainda para o português critérios próprios padronizados para a transliteração de nomes do russo ou do ucraniano. Sendo assim, recorre-se às formas romanizadas conforme normas internacionais, as quais acusarão eventualmente a interferência de soluções provenientes de línguas hegemónicas (inglês, francês, espanhol).
Sobre as formas adotadas nos artigos da Wikipédia, deve notar-se que, por válidos que sejam, não têm o reconhecimento formal e generalizado que seria necessário. Deste modo, sem prejuízo das formas portuguesas propostas numa lista de exónimos relativos à Ucrânia (aqui), podem também empregar-se as transliterações internacionais, o que significa que neste ponto há que tomar decisões e optar pela forma do topónimo de uma das línguas dos Estados em conflito – ucraniano ou russo –, muito embora a Ucrânia tenha importante população russófona.
Assim, pela mesma ordem por que são mencionados os topónimos na pergunta, apresentam-se listados os endónimos ucranianos romanizados pelo sistema e quadro de transliteração aprovados pelo gabinete de ministros da Ucrânia em 27/01/2010 e divulgados pelo Grupo de Especialistas em Nomes Geográficos das Nações Unidas (UNGEGN), seguidos de um comentário em que se apresenta uma forma portuguesa e se dão pormenores sobre o seu uso2.
Nomes de cidades (politónimos)
Sevastopol ou Sevastopol’: há registo de Sebastópolis, muito pouco usado nas até agora poucas referências à cidade assim chamada.
Kherson (Kherson): há registo da forma Quérson.
Vinnytsia: Vinítsia, aportuguesamento possível e correto, mas sem registo.
Zaporizhzhia: Zaporíjia, aportuguesamento possível e correto, mas sem tradição.
Odesa: Odessa, forma bem enraizada no português.
Zhytomyr: há registos da forma portuguesa Jitomir.
Nomes de regiões (corónimos)
Volyn' : corresponde a Volínia, que tem registos enciclopédicos.
Kirovohrad: a forma Kirovogrado é discutível por associar heterogeamente o k a uma forma que globalmente segue a ortografiado português. Em alternativa, a forma Quirovogrado parece mais coerente. O Dicionário Lello (ver nota 2) regista Quirivogrado.
Zakarpattia: a forma Transcarpátia é preferível a "Transcarpácia", atendendo a que, em referência aos Cárpatos, se diz e escrever carpático, com t, e não "carpácico".
Halychyna: corrsponde a Galícia, que tem tradição de registo enciclopédico.
Podillia: a forma Podólia tem tradição de registo enciclopédico.
Siveria: o aportuguesamento Sevéria não tem registo nas fontes consultadas, mas é possível e correto.
Marmaroshchyna: a forma Marmácia é adaptação direta do latim Marmatia e, portanto, é aceitável, muito embora o nome romeno da região, Maramureș, possa ser transposto igualmente sem dificultado para portguês, por exemplo, como "Maramures", que não se atesta nas fontes consultadas.
Polissia: é possível e correto formar Polésia, que encontra parelelo noutras línguas românicas.
Bukovyna: tem por equivalente Bucovina, com tradição de registo enciclopédico.
Slobidska Ukraina : na Wikipédia ocorre a Ucrânia Esloboda cuja forma "esloboda" é muito discutível; afigura-se mais adequado empregar a tradução de slobidska que equivale a livre ou franca, assim permitindo compor o corónimo Ucrânia Livre (ou Franca).
Krym: o exónimo português é Crimeia, bem firmado no uso.
Quanto ao topónimo Quieve/Kiev/Kyiv, leia-se a nota incluída aqui.
1 Sobre a diferença entre exónimos e endónimos, recomenda-se a leitura das recomendações da Associação Galega de Onomástica, onde se podem recolher várias sugestões com interesse para a definição de critérios de aportuguesamento dos nomes ucranianos.
2 Foram consultados o Vocabulário da Língua Portuguea (1966), de rebelo Gonçalves; o Vocabulário Toponímico associado ao Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa; o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras; o Dicionário Prático Ilustrado (Lello e Irmãos Editores, 1959); e o índice geográfico de Os Eslavos. Povos e Nações (Edições Cosmos, 1968, pp 521-531).