Aberturas - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Aberturas
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Diz-se que no português contemporâneo já não se usam nem a forma de tratamento vós (que marca um grupo de destinatários) nem a respetiva flexão verbal («vós falais», «vós ides»). A afirmação é válida se fizer referência à maior parte dos falantes do Brasil ou de África ou mesmo de grande parte do território de Portugal. No entanto, é amplamente desmentida pelo confronto com a realidade linguística do interior norte português. Em O nosso idioma, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques,  faz a crónica de uma visita a Trás-os-Montes, para lembrar a vitalidade do vós, tão frequente, afinal, na comunicação oral e escrita da região de Bragança, associado a vocábulos tão expressivos como cibo, agarimo ou farragacho (conservando a africada tch). Na mesma rubrica, outra lista, desta vez das formas de tratamento e das suas abreviaturas empregadas no meio académico –  uma recolha de Sara Mourato.

Na imagem, Serra do Marão de Joaquim Francisco Lopes (1886-1956), no Museu Grão Vasco (Viseu) – fonte: MatrizNet. A serra do Marão constitui a barreira montanhosa que isola Trás-os-Montes da zona litoral, a qual motivou a expressão tradicional «para lá do Marão mandam os que lá estão».

2. Tanto faz usar «é verdadeiro» como «é verdade»? Esta é uma das novas perguntas em linha no consultório, onde o léxico, o seu uso, a sua boa formação, o seu significado ou a sua grafia são tópicos a realçar: existe a palavra literacização? Pode empregar-se a palavra "outorgação", em vez de outorga? Evangélico é sinónimo de evangelista?  Porque não escrever dança com s? A sintaxe também suscita dúvidas: como analisar a frase «sabe do que fala»?

3. Faça-se referência a mais um interessante artigo do tradutor e professor universitário Marco Neves, que o publicou em 15/09/2019 na plataforma digital Sapo 24 e disponibilizou em 18/09/2019 no blogue Certas Palavras. Trata-se de certas tradições bilingues inesperadas, como sejam a sobrevivência do francês – ou melhor, da sua versão medieval anglo-normanda – no cerimonial do parlamento do Reino Unido, ou a surpreendente semelhança da toponímia galega com a portuguesa.

Registe-se, a propósito, a comemoração, a 26 de setembro, do Dia Europeu das Línguas, que visa festejar a diversidade linguística na Europa e promover a aprendizagem de línguas (ver também página dedicada a esta data nas páginas da Direção-Geral de Educação do Ministério da Educação de Portugal). Sobre as língaus da Europa e o seu ensino, ler  "O euroléxico de A a Z", "O multilinguismo na União Europeia", "Curiosidades linguísticas da Europa", "O português, língua da Europa", "Novamente o português, língua da Europa",  "O ensino de línguas estrangeiras hoje, na Europa".

4. Dos acontecimentos culturais em que o nosso idioma comum é tema ou motivo, salientam-se:

– a abertura em 30 de setembro da exposição "Quem ler os livros que eu li" – Aproximações à biblioteca de Fernão de Oliveira, que a Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, dedica a Fernão de Oliveira (1507-ca. 1581), autor da primeira gramática da língua portuguesa, a Grammatica da Lingoagem Portuguesa, publicada em 1536;

– de 27 a 29 de setembro, o Festival 6 Continentes, também conhecido como Festival Internacional da Música Lusófona, o qual abrange ativamente e em simultâneo grande número de eventos promovidos em diferentes países e comunidades de língua portuguesa. Em 2019, contam-se participações de Angola (Luanda), do Brasil (Santos, Rio de Janeiro, Belo Horizonte), de Cabo Verde (Praia), Portugal (Cascais, Coimbra, Almada, Pinhal Novo), de Moçambique (Inhambene), incluindo países fora da CPLP, mas de algum modo ligados à presença ou influência culturais da língua portuguesa (México, Peru, Costa Rica, Espanha, Reino Unido, França). Mais informação aqui.

5. As dúvidas sobre o uso correto da língua voltam a estar em foco no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, 27 de setembro, às 13h20* (com repetição no sábado, dia 28 de setembro, depois do noticiário das 9h00*). A consultora do Ciberdúvidas Sandra Duarte Tavares dá indicações sobre diferentes casos; por exemplo: «A locutora agradece aos ouvintes a preferência pela Antena 2. A locutora deve dizer obrigado ou obrigada

No Páginas de Português, emitido pela Antena 2 no domingo, às 12h30 (com repetição no sábado seguinte, 5 de outubro, às 15h30*) o tema em destaque é o lançamento pelo Instituto Politécnico de Macau (IPM) de cinco novos livros para divulgar e promover o ensino da língua portuguesa em Macau, na região da Grande Baía e na China. Numa entrevista a Gaspar Zhang Yunfeng sobre o ensino de português na China, é dada a conhecer a publicação das seguintes obras: Fonética e Fonologia para o Ensino do Português como Língua Estrangeira e Exercícios Práticos de Fonética de Português Língua Estrangeira, ambos da autoria de Adelina Castelo; Português com Textos 2 -- Textos narrativos para o ensino do Português como Língua Estrangeira, de Sara Augusto e Caio Christiano; Português em Uso, de Rui Pereira; e Guia de Preparação para o DAPLE -- Diploma Avançado de Português, de Liliana Inverno.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois os programas Língua de Todos de Páginas de Português, disponíveis, aqui e aqui, respetivamente.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O equinócio do outono ocorre hoje, dia 23 de setembro, no hemisfério norte. Anuncia-se a chegada de um tempo instável, realidade que motiva o provérbio «Outono, ou seca as fontes ou salta as pontes». A vinda do frio associa-se a uma natureza cada vez mais despida e a dias gradualmente mais curtos porque «No outono o sol tem sono». Recordemos que a palavra outono, bem como os outros nomes de estações do ano, passou a escrever-se com letra minúscula com as novas regras do Acordo Ortográfico de 90, o mesmo tendo acontecido aos nomes dos meses. Esta nova grafia levanta, não raro, a questão da inclusão dos nomes das estações do ano na subclasse dos nomes comuns, interpretação que não é correta, como aqui nos explicou o professor Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas.

            Primeira imagem: Outono, de José Malhoa, 1918 

2. No rescaldo das eleições legislativas regionais da ilha da Madeira, que tiveram lugar em 22 de setembro, e em plena campanha eleitoral para as eleições para a Assembleia da República, as palavras e os conceitos associados a esta realidade estão na primeira linha dos discursos políticos e jornalísticos. Por essa razão, é sempre importante recordar algumas questões relacionadas com o campo lexical da esfera política, tratadas anteriormente no Ciberdúvidas. Antes de mais, recordemos a própria palavra política, que tem como sentido nuclear o valor de "ciência ou arte de governar", mas que pode ter usos figurados bem menos elevados, como se recorda aqui. Não obstante, espera-se que os políticos rejam a sua atividade pelos princípios éticos que os sentidos da palavra bem sublinham (recorde-os nesta resposta). Neste contexto, é também pertinente aferir se devemos dizer eleição ou preferir o termo eleições (ver explicação) ou se faz sentido usar a expressão «eleições eleitorais»: 

3.  Na Montra de LivrosJosé Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, apresenta a mais recente obra de Lúcia Vaz PedroCamões Conseguiu Ver Muito Para Quem Só Tinha Um Olho, com a chancela da Manuscrito. Um livro no qual a autora parte da apresentação de erros reais de alunos do ensino básico e secundário para a sua correção, o que lhe permite passar em revista conteúdos de diferentes domínios da disciplina de Português. Uma proposta divertida para acompanhar o estudo do português. 

4. Na nova atualização do consultório debruçamo-nos sobre a ortoépia, ao esclarecer qual a pronúncia correta da expressão «Benza-o Deus» e do apelido Abecassis. A utilização da palavra racional como adjetivo em expressões que constituem uma tradução literal do inglês motivam uma reflexão sobre o decalque linguístico apressado. As funções sintáticas dos constituintes das frases voltam a motivar uma reflexão, desta feita centrada na função desempenhada por todos na frase «Ele vendeu-as todas». Por fim, no campo dos recursos expressivos, analisa-se a diferença entre zeugma e elipse. 

5. Sandra Tavares Duarte lançou recentemente a obra Comunicar com sucesso, da editora Oficina do Livro, na qual condensa um conjunto de sugestões para que os leitores possam aperfeiçoar as suas competências comunicativas no âmbito da oralidade e da escrita, para além de incluir ainda uma lista dos erros mais comuns, dicas para comunicar com assertividade e com vista aos objetivos e ainda técnicas e ferramentas para aperfeiçoar as competências linguísticas. 

6. Entre os diversos temas relevantes para a língua portuguesa, divulgados em diferentes espaços, destacamos a explicação da origem da expressão «queimar pestanas», apresentada pela lexicógrafa Ana Salgado, num apontamento publicado na plataforma de divulgação cultural Gerador. Interessante também é conhecer a história dos nomes dos alimentos que consumimos. Este é o mote para um conjunto de artigos da responsabilidade de José Carlos Fernandes, engenheiro do ambiente, ilustrador e autor de banda desenhada, que têm vindo a ser publicados no jornal em linha Observador. Entre eles, assinalamos os mais recentes que abordam «as maçãs-do-diabo», os «nabos suecos e erva-dos-pardais» e «pêssegos-dos-lobos e maçãs insanas».

     A propósito da grafia dos nomes de espécies botânicas (e também zoológicas), recordamos que, segundo o Acordo Ortográfico de 90,  se deve usar o hífen em todas as palavras compostas, quer estas tenham preposição ou não, conforme se explicou aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Ainda hoje os lobos se cruzam nos caminhos dos nossos pesadelos, saídos de crenças e medos ancestrais. Um pouco menos remota, mas de história não menos obscura, é a palavra alcateia, usada em português para denominar um grupo destes animais. Sabe-se que tem origem árabe, mas como evoluiu o seu significado?. Entretanto, a propósito da língua árabe, para mencionar em português o nome de uma cidade do Iémen, país do sul da Península Ibérica, infelizmente dilacerado nos últimos anos pela guerra, escreve-se Adem ou Adém, ? Já agora, para referir um destino geográfico, poderemos poupar palavras e formar o termo geodestino? E, falando disto e de outras coisas, dizemos que adquirimos conhecimento ou conhecimentos? E, quanto ao que possibilita o saber, aceita-se o uso da expressão «condição sine qua non», ou será esta redundante e, portanto, de evitar? São questões que nos traz a presente atualização do consultório.

2. Quantas vezes ouvimos dizer que as meninas aprendem a língua materna mais depressa do que os meninos? É mito e mera impressão, ou há algum fundamento para pensar que a atitude das mulheres perante o uso da língua se distingue do dos homens? Trata-se de uma discussão em aberto, a que a rubrica Diversidades não fica indiferente ao deixar disponível a tradução de um artigo originalmente escrito em espanhol pelo jornalista Jaime Rubio Hancock, que o publicou em 16 de setembro em Verne, um sítio eletrónico associado ao jornal El País.

3. Apesar de teses negacionistas com expressão nos corredores do poder, os abusos da atividade humana estarão na origem de situações meteorológicas repetidas ou continuadas (o aquecimento global é disso exemplo), que apontam para uma mudança ambiental brusca e catastrófica. Para manifestar preocupação e exigir medidas urgentes de modo a minorar os efeitos da crise climática, assinala-se nesta data, 20 de setembro, um dia de protestos à escala mundial – a comunicação social chama-lhe «greve pelo clima». Este movimento antecede a Cimeira da Juventude sobre o Clima das Nações Unidas, realizada em 21 e 22 de setembro de 2019, contando com a presença da jovem ativista sueca Greta Thunberg. No dia 23 de setembro, tem lugar a Cimeira de Ação Climática organizada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para acelerar a aplicação do Acordo de Paris sobre a mudança climática. À volta da palavra clima, da sua família de palavras e do seu campo lexical, consultem-se: : "Climático", "O adjetivo climatérico", "Alterações climáticas ou mudanças?", "Condições atmosféricas", "As aceções do adjetivo temporal", "Erros inadmissíveis", "Condições edafoclimáticas", "A formação da palavra edafoclimático".

4. Não sem polémica, este dia é também o da comemoração dos 500 anos da partida da frota inicialmente liderada pelo navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521), para a primeira viagem de circum-navegação do mundo. Como outras viagens da época, esta, em especial, marca a expansão e colonização europeias do mundo que, para o bem e para o mal, determinaram o adensamento das redes mundiais de ação e comunicação humanas, com a disseminação das línguas da Europa, entre elas a nossa, e o nascimento de novas línguas por contacto, como acontece com os crioulos. Sobre este tema, consultem-se as seguintes respostas e artigos: "Expansão da língua portuguesa"; "A influência do português no Oriente"; "A língua portuguesa no Brasil"; "Formação do léxico português no Brasil"; "A matriz negra da língua portuguesa no Brasil"; "A formação dos sotaques do Brasil"; "Língua portuguesa (emancipação do Brasil)"; "A dimensão africana da língua portuguesa"; "A nossa língua portuguesa"; "Influência do português nas línguas africanas"; "O português em Angola"; "A língua portuguesa em Angola"; "Português de Angola e Moçambique"; "O nosso império é a língua portuguesa"; "Será em África que teremos mais falantes de português"; "Que fazer com esta CPLP?"; "Os três círculos da lusofonia"; "Para as urtigas com a Lusofonia"; "Crioulos"; "As línguas crioulas"; "Crioulo, dialecto e pidgin"; "Dialeto, crioulo e patoá"; "As línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné"; "A língua portuguesa e o crioulo cabo-verdiano"; "A teoria da simplificação e da relexificação do crioulo"; "Qual é a origem da língua cabo-verdiana?"; "Crioulo de Ceilão"; "Antigo crioulo"; "Uma língua à portuguesa no Sri Lanka?"; "O crioulo de Malaca";  "Diglossia".

5. A problemática da literatura digital e a importância da língua portuguesa e da literatura em Angola são temas em foco dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa na presente semana (mais informação nas Notícias).

O programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 20 de setembro, pelas 13h20* (com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*). O Páginas de Português tem mais uma emissão na Antena 2, no domingo, dia 22 de setembro, às 12h30 (com repetição no sábado seguinte, dia 28 de setembro, às 15h30). Ambos os  programas ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Não raro, os programas televisivos dão matéria a este espaço por veicularem incorreções linguísticas que importa retificar, a bem da língua portuguesa. Não obstante, a opacidade de alguns termos eruditos também poderá merecer uma reflexão de natureza linguística, como nos mostra Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, num apontamento sobre o significado e a origem do termo abléfaro, que surgiu numa questão colocada no programa televisivo Joker, da RTP1.  

2. A nova atualização do Consultório traz também uma dúvida relacionada com o significado de duas palavras parónimas: monção e moção. Trazemos ainda dúvidas que visam diferentes áreas gramaticais, como a pronúncia e a origem do topónimo Maximinos, antiga freguesia de Braga, ou uso do hífen nos nomes compostos raposa-do-deserto, papagaio-verde ou rocha-mãe.  As irregularidades na flexão das palavras levam um consulente a questionar-se sobre a possibilidade de pluralizar o adjetivo ultravioleta. Coloca-se também a questão da correção sintática da construção «Faz-lhe uso». Por fim, uma pergunta sobre a possibilidade de o advérbio  poder funcionar como uma conjunção coordenativa adversativa, sendo equivalente a mas

Segunda imagem: Igreja de Maximinos, em Braga. 

3. A importância do pão na gastronomia latina é por demais conhecida. Como é bem sabido, as realidades extralinguísticas condicionam várias áreas da gramática, como é o caso da criação lexical ou da evolução semântica. É neste contexto que o tradutor e professor Vítor Santos Lindgaard explora, num pequeno artigo divulgado no seu blogue Travessa do Fala-Só, o significado da família de palavras de mica, miga, migalha, migar e ainda nos conta a história de como a palavra sopa começou por significar o pão que se punha no caldo para passar a designar o próprio alimento. 

4. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa, registe-se:

—  A chegada às livrarias portuguesas da obra Camões conseguiu escrever muito para quem tinha um olho (edições Manuscrito) da autoria da professora Lúcia Vaz Pedro, com lançamento ao público na FNAC do Colombo, em Lisboa, no dia 20 de setembro, às 18h30.

— A apresentação pública, em Lisboa, da Rede de Ensino do Português no Estrangeiro 2019-2020 da responsabilidade do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação, no dia 20 de setembro, pelas 9h00, no Auditório do Camões, sessão que conta com a presença do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro;

—  A publicação no Brasil da obra Escrever na Universidade 2 – Texto e discurso, da autoria de Francisco Eduardo VieiraCarlos Alberto Faraco, com a chancela da Parábola Editorial, um texto que integra um conjunto de três publicações que versam a escrita em contexto universitário. 

5. Temas dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa na presente semana:

— A problemática da literatura digital, a propósito do lançamento da obra Voltar a Ler, do poeta e crítico literário António Carlos Cortez, que será o convidado do programa Língua de Todos – transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 20 de setembro, pelas 13h20* (com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*);

— A importância da língua portuguesa e da literatura  em Angola, no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no domingo, dia 22 de setembro, às 12h30** (com repetição no sábado seguinte, dia 28 de setembro, às 15h30), com uma conversa com o professor Mário Joaquim Aires dos Reis, leitor do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação e docente na Universidade Katyawala Bwila, de Benguela.

* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em plena atividade, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa volta às atualizações regulares, trissemanalmente – às segundas, quartas e sextas. Um regresso que, como já é hábito, coincide com o arranque do ano letivo em Portugal, justificando os nossos votos de trabalho profícuo e enriquecedor para alunos e professores, nos próximos meses. É para eles, mas também para quantos fora do ensino formal, onde quer que se fale português, desejam saber mais para o usar melhor, que se destina o labor aqui desenvolvido há mais de 22 anos, desde 15 de janeiro de 1995, data de lançamento destas páginas pelos seus fundadores, João Carreira Bom (1945-2002) e José Mário Costa. Duas décadas materializadas pelo extenso arquivo constituído pelos milhares de respostas do Consultório e pelos não menos numerosos artigos de rubricas como O nosso idioma, Lusofonia, Ensino, Pelourinho ou Antologia, que muito devem à atenção constante de quem as segue e lhes dá incentivo. Reconheçamo-lo: o que aqui se faz é, no fundo, fruto de ação coletiva num espaço em linha, aberto, ao serviço de todos, onde se recolhe, divulga e debate informação à volta das questões que alimentam a unidade e a diversidade desta nossa língua.

Na imagem, Puxada da rede (1959), de Candido Portinari (1903-1962). Fonte: Projeto Portinari.

2. Este dia é, portanto, ocasião para dizer «pronto, já cá estamos outra vez», num jeito coloquial bem típico do português de Portugal. Em O nosso idioma, Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, constrói uma pequena ficção acerca do desenvolvimento de pronto e das suas variantes vulgares "prontos" e "prontes", irritantes bordões linguísticos que inçam a conversação diária dos Portugueses. Na mesma rubrica, transcreve-se coma devida vénia um muito interessante trabalho do tradutor e professor universitário português Marco Neves sobre as origens do alfabeto com que escrevemos: qual a sua origem mais remota? E como se desenvolveu? Um texto que o referido autor assinou no seu blogue Certas Palavras em 13/09/2019.

3. A propósito da escrita, cuja invenção muito deve à economia, que dizer do uso exagerado das siglas nos nossos dias? Em DiversidadesSara Mourato faz breve inventário das abreviaturas que circulam na troca apressada de mensagens.

4. No consultório, pergunta-se: o que significará esgalfo, termo usado na região de Aveiro? Gracioso pode ser sinónimo de gratuito? Estará correto colocar as conjunções (ou advérbios) porémpois no final de uma frase? Não terá Machado de Assis cometido um erro ao escrever a frase «vi-lhe fechar o cofre»? Pode dizer-se que uma ferida "se cicatrizou"? Em que situações se associam vírgulas ao advérbio de afirmação sim? Para rematar, um problema de sintaxe que continua a dar que fazer até aos gramáticos: como distinguir o sujeito do predicativo em frases identificadoras como «o meu amigo é o padrinho»?

5. Em Portugal, as notícias têm dado conta da desgraçada "atualidade" dos incêndios florestais, seguida da inevitável e necessária mobilização de meios de combate, acompanhada de medidas de proteção das populações mais martirizados por este flagelo  repetido na época do verão no país. Inevitável continua, também e infelizmente, o flagelo que constitui ler ou ouvir expressões como «populações  "evacuadas"»... Porque todo o cuidado é pouco, lembramos, uma vez mais, que o verbo evacuar apenas se refere ao esvaziamento de espaços, pelo que o correto é falar em «aldeias/lugares/casas evacuadas». Consulte-se, portanto, as seguintes respostas e artigos: "Evacuar", "Evacuar", "Evacuar indivíduos?", "Os sinistrados foram 'evacuados'", "Evacuação".

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Na imagem, Silva Porto, Colheita – Ceifeiras, 1893 (Museu Nacional Soares dos Reis, Porto).

 

Com o tempo estival no hemisfério norte e coincidindo com o período das férias escolares em Portugal, as atualizações do Consultório do Ciberdúvidas têm uma pausa em julho e  agosto. Durante este período não serão aceites nem selecionadas novas questões, ficando, por isso, inativo o formulário para envio de dúvidas. No entanto, para outros assuntos, fora do âmbito do uso da língua, continuamos contactáveis, como habitualmente, aqui. Como sempre também,  fica disponível o acesso aos mais de 50 000 artigos e respostas em arquivo, abordando os mais diversos temas da língua portuguesa.

Nas rubricas O nosso idioma, Pelourinho, Ensino, Controvérsias, Diversidades, Antologia e Montra de Livros, entre outras, abranda o ritmo de atualização, mas os destaques (ver mais abaixo) não deixarão de assinalar a entrada de novos conteúdos, sejam eles originais de consultores e colaboradores do Ciberdúvidas, ou material previamente publicado noutras fontes devidamente referenciadas. O mesmo acontecerá na página do Ciberdúvidas no Facebook.

Assim é este trabalho: uma incessante recolha e tratamento de tudo o que se diz, escreve e lê com interesse para o conhecimento da nossa língua e para discussão dos seus temas – onde quer que ela se fale.

E, enquanto setembro não chega para retomarmos a plena atividade, saboreemos o verão ou qualquer outra estação do ano com um poema do poeta português Eugénio de Andrade (1922-2005):

As Amoras

O meu país sabe às amoras bravas
no verão.     
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A metáfora é um recurso usado frequentemente na linguagem quotidiana, pela expressividade, economia e capacidade imagética que traduz. No meio político não parece ser possível resistir aos efeitos que este recurso permite explorar. Expressões como «pôr os dedos na ferida aberta», «deixar farpas» ou «amnésia seletiva» surgem frequentemente no espaço mediático para descrever situações ou atitudes, como refere Carla Marques, professora e consultora permanente do Ciberdúvidas, num apontamento sobre a metáfora na política.  

2. Em política é também frequente o uso do chamado "legalês", uma linguagem obscura, que circula entre um grupo restrito e que permite camuflar intenções muitas vezes menos lícitas. A linguagem adapta-se às características de determinados grupos sociais, que a usam como barreira à compreensão de estranhos, sendo assim colocada ao serviço de uma forma de seleção social. A manipulação da linguagem pode também convertê-la num domínio de tecnicismos que são característicos da área legal, administrativa. Esta linguagem opaca veda o acesso ao cidadão comum, é impeditiva da transparência e abre portas à corrupção. Quem o denuncia é Pedro Moura, engenheiro informático e articulista, num artigo que explora as ligações da linguagem à corrupção (originalmente publicado no jornal i e aqui transcrito com a devida vénia). 

3. O aparecimento de novas realidades implica também novas palavras que as designem. Não raro, as novidades oriundas de outros países trazem consigo o seu nome original. É o que acontece com o termo gig, que refere uma atuação ou um concerto marcado por alguma informalidade. Quando entra no português, esta palavra pertence a que género? Esta é uma das questões abordadas na nova atualização do Consultório, onde também se analisa a possibilidade de formar a palavra "presuntaria" para designar uma atividade económica ligada ao presunto. Ainda nesta atualização, uma questão sobre a flexão verbal e a locução «cada um» numa frase de valor imperativo e ainda duas outras questões: «É preferível a expressão «Eu e os meus amigos» ou «Os meus amigos e eu»?»; e «A frase «Eu determino isto fácil» está correta?» 

4.  Linguagem técnica e especializada é característica também da botânica, ciência que estuda as plantas. Miguel Boieiro, autarca e vice-presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Naturalogia, numa crónica intitulada "O açafate-de-prata", guia o leitor numa viagem em busca das espécies silvestres existentes na zona da Fonte da Telha, perto das instalações militares da NATO, em Portugal, dedicando especial atenção à Lobularia maritima, conhecida popularmente como açafate-de-prata. 

5. Entre as as notícias relacionadas com a língua portuguesa, destaque para:

 

– O Festival de literatura-mundo do Sal, a decorrer em Cabo Verde, entre 27 e 30 de junho;  

– A sessão do "Camões dá que falar", com tema "Por que lemos Sophia", que tem como convidados a escritora Lídia Jorge e o Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva, dia 27 de junho, pelas 17h, no auditório do Camões;

– a notícia de que, em Portugal, os critérios de correção da Prova Final de 9.º ano de Português não sofrerão alterações, apesar de algumas posições críticas que vieram questionar a perspetiva limitada ali adotada (notícia aqui);

– a  12.ª edição da International Association for Research in L1 Education (ARLE – Associação Internacional para a Investigação em Ensino de L1)*, organizada pelo Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa e realizada nas instalações da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, também da mesma universidade (UNL), evento que tem como conferencistas convidados Gert Rijlaarsdam (Universidade de Amesterdão, Países Baixos), João Costa (UNL, Portugal e atual secretário de Estado da Educação em Portugal), Sarah Levine (Stanford Graduate School of Education, Estados Unidos) e Bernard Schneuwly (Universidade de Genebra, Suíça). Mais informações, em inglês, aqui e aqui.

*Saliente-se que Ana Sousa Martins, coordenadora da Ciberescola da Língua Portuguesa, participa neste encontro com a comunicação intitulada "Text complexity and word learning" (em português, "Complexidade textual e aprendizagem de palavras"), em 28/06/2019, entre as 14h00 e as 15h00.

 

6. Nos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– O Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 28/06/2019 (depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15), será dedicado à análise e comentário da prova final de ciclo de Português Língua Segunda, do 9.º ano, pelo nosso colaborador Carlos Rocha

– No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 30/06/209 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 6 de julho, às 15h30*), são divulgadas entrevistas realizadas a contadores de histórias conduzidas pelo investigador do IELT e narrador Luís Correia Carmelo. São três entrevistas a três artistas portugueses, Ana Sofia PaivaAntónio Fontinha e José Craveiro. As entrevistas foram gravadas no âmbito do LU.GAR, um projeto que propõe mapear territórios culturais em contextos urbanos e reinterpretar as memórias de um lugar. 

* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Em vários pontos do mundo de língua portuguesa, de tradição cristã, dedica-se este dia a S. João Batista, o segundo dos santos que se comemoram no mês de junho (como se sabe, os outros são S. António e S. Pedro).  As festas de S. João, cujo sentido é tão religioso como profano e popular, coincidem, portanto, com o solstício – de verão no hemisfério norte – e não é de surpreender que, em Portugal, muitos provérbios alusivos à quadra se relacionem com os ciclos agrícolas: diz-se ainda hoje que «pelo São João, lavra e terás palha e pão», «pelo São João apanham-se à mão» ou «no mês de São João, para estar bem, há de cobrir o milho o rabo ao chão»; e, naturalmente, a relação do tempo que faz com o andamento das colheitas é tema obrigatório: «nevoeiro de São João estraga o vinho e não dá pão», ou «chuva de São João, tira vinho, azeite e não dá pão» (que já foi comentada aqui). Como sempre, nos arraiais, muitos procuram saciar apetites, atavicamente confiados em que «pelo São João, pinga a sardinha no pão», apesar da escassez cada vez maior deste peixe. Seja como for, se em Portugal há arquétipo do São João, encontra-se ele com certeza na tradição festiva da cidade do Porto e arredores, conforme se pode confirmar por um trabalho que o jornalista Márcio Magalhães assina no magazine digital NCultura em 23/06/2019.

Na imagem, São João Batista, painel de azulejos de autor desconhecido (Lisboa, 1650 – 1660). Fonte: MatrizNet.

2. Apesar dos folguedos são-joaninos, conseguimos alguma concentração para as perguntas do Consultório: como se explica que a letra de uma canção fuja à gramática convencional? A frase «já não me apetece» é equivalente a «não me apetece mais», ou não? Estará anti-hipertensor tão correto como anti-hipertensivo? E porque é que «príncipe consorte» se escreve sem hífen?

3. Entretanto, pensando na qualidade do português que se vai mediaticamente escrevendo, cabe aqui fazer referência a um apontamento em linha em 24/06/2019, no portal do Clube dos Jornalistas. O tema é o da confusão recorrente entre mil milhões e bilião, a qual fez com que uma despesa de 15 mil milhões de kwanzas – a que o ministério da Saúde de Angola tem com a hemodiálise – fosse transformada na astronómica soma de 15 biliões de kwanzas, que é a erradamente mencionada na notícia que circulou em Portugal (ver também no Pelourinho).

4. Ainda a propósito das diferentes reações às palavras do jornalista João Miguel Tavares a favor de maior ação política para prestigiar o crioulo de Cabo Verde, a rubrica Diversidades transcreve a crónica que o professor universitário e tradutor Marco Neves publicou em 23/06/2019 no portal SAPO 24 a respeito da génese do cabo-verdiano (texto também disponível em Certas Palavras, blogue deste autor).

5. A questão do cabo-verdiano envolve a do seu ensino e motiva outros países da CPLP a discutir o estatuto das línguas nacionais nas comunidades que usam o português como língua segunda. Ao encontro destas preocupações vêm, portanto, as recentes considerações de Incanha Intumbo, secretário executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que no IX Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, realizado entre 20 e 22/06/2019 na cidade da Praia (Cabo Verde), defendeu uma metodologia diferente no ensino da língua portuguesa nos países africanos, visto que «ensinamos o português nos nossos países como se fosse língua materna, quando não é» (declarações reproduzidas pela agência Lusa e publicadas pelo Diário de Notícias de 21/06/2019). Segundo Incanha Intumbo, um dos problemas do ensino nesses Estados é «terem "línguas africanas muito vivas", a que os estudantes estão habituados desde crianças, mas, de repente, têm de fazer uma transição para uma língua de índole europeia» (idem, ibidem).

6. Chegadas da Galiza, merecem também registo as declarações de Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua I. P., que, à margem de um encontro havido em 19/06/2019, em Santiago de Compostela, entre o instituto português e a Real Academia Galega, sublinhou que, apesar de próximos, o português e o galego não são a mesma língua (La Voz de Galicia, 21/06/2019). Assinale-se que, ainda no âmbito desta visita, o Camões I. P. e o Conselho da Cultura Galega criaram o Foro Inês de Castro, com vista a programar uma série de seminários, jornadas e conferências à volta de temáticas comuns a Portugal e à Galiza (mais informação aqui).

7. Registo ainda dos seguintes eventos e iniciativas no mundo académico:

– o lançamento de O Legado de Leite de Vasconcelos na Universidade, uma obra de Ivo Castro, professor emérito da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), em 26/06/2019, pelas 17h00 na biblioteca da FLUL;  

– entre os cursos de verão que as universidades portuguesas organizam entre julho e setembro, refira-se o curso "Boas práticas de tecnologia para tradução", que conta com o tradutor Marco Neves na sua equipa docente e decorre em julho na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (mais informação aqui);

– a criação, a partir de setembro de 2019, do Instituto Politécnico da Lusofonia (Ipluso), entidade do Grupo Lusófona que nasce da fusão de duas escolas, a ERISA – Escola Superior de Saúde Ribeiro Sanches, e o ISCAD – Instituto Superior de Ciências da Administração.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O verão tem início hoje no hemisfério norte. O dia 21 de junho será, portanto, o dia mais longo do ano, com 14 horas, 53 minutos e 7 segundos de luz em Portugal. Etimologicamente, verão tem origem na palavra latina vernum, que significava "tempo primaveril". Verão era, então, a palavra utilizada para referir a estação do ano que atualmente se designa por primavera. Na época, a palavra para referir a estação do verão era estio, como explica a professora Maria Regina Rocha neste artigo. A este propósito, recorde-se que, depois do Acordo Ortográfico de 1990, as estações do ano (bem como os meses, como já acontecia com os dias da semana) passaram a escrever-se com minúscula. A chegada do verão é ainda motivo para recordar algumas respostas relacionadas com o tema: «A expressão «vivò verão»», «Verão, veranico, veranil, veraniço», «Pino do verão», «Plural de verão».

Primeira imagem: Verão, de Arcimboldo, 1563. 

2. A justificação para a evolução fonológica das formas "Alger" e "Argélia" é uma das questões colocadas no Consultório, a qual convoca processos de evolução fonológica seculares. Ainda nesta atualização do Consultório, uma questão sobre a natureza do verbo cansar e sobre a função do grupo preposicional que o acompanha na frase «cansei de estudar». Finalmente, uma questão sobre a possível sinonímia das expressões «de par com» e «a par de».

3. Celebra-se a 21 de junho o 180.º aniversário de Machado de Assis, contista, cronista, jornalista, poeta e romancista brasileiro. O autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas deixou uma obra diversificada e plena de atualidade. Para comemorar esta data, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da Universidade de São Paulo realizou o Simpósio Machado de Assis 180 anos, que teve lugar nos dias 17 a 19 de junho em São Paulo (notícia aqui).

4. A empresa Facebook divulgou que vai lançar uma nova criptomoeda a que atribuiu o nome libra (notícia aqui). Relativamente ao termo usado para designar a nova moeda, veio o  Fundéu BBVA recomendar a sua grafia com letra minúscula, por se tratar do nome de uma moeda (ver aqui). A mesma recomendação se aplica à língua portuguesa, o que se torna ainda mais pertinente pelo facto de os meios de comunicação social terem vindo a optar pela grafia da palavra com letra maiúscula. 

5. manuscrito de Voynich é um documento do século XV, de quase 250 páginas, que ainda ninguém conseguiu decifrar, apesar das inúmeras tentativas já realizadas. Alan Turing e o próprio FBI estão entre os mais destacados nomes que tentaram ler o documento, sem sucesso. Recentemente, um investigador da Universidade de Bristol, no Reino Unido, veio anunciar ter resolvido o enigma, afirmando que o documento estava escrito em protorromance. Rapidamente, os especialistas, entre os quais o linguista português Ivo Castro, vieram afirmar que o protorromance é uma fase da evolução das línguas e não uma língua em si mesma, acusando as teorias agora divulgadas de serem fantasiosas. O documento em questão estará escrito num dialeto italiano e em sardo, mas o seu conteúdo permanece misterioso (notícia desenvolvida aqui).

CfO realismo dialético de Machado de Assis

6. No que se refere à atualidade da língua portuguesa pela mundo, destacamos as seguintes notícias:

– A língua portuguesa é estudada por mais de 8000 pessoas na Galiza, número divulgado por Luís Faro, presidente do Instituto Camões, que referiu que serão promovidas atividades diversas na Galiza, visando a expansão do estudo do português; 

– A divulgação de um mapa que apresenta as línguas mais comummente faladas nos Estados Unidos, excluindo o inglês e o espanhol, que indica que o português é a língua mais falada nos estados de MassachusettsRhode Island e Connecticut,  pelo Business Insider (cf. aqui);

– A IX edição do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa decorre até 22 de junho em Cabo Verde, uma edição que homenageia Germano de Sousa e que apresenta como vencedora do Prémio Literário UCCLA a obra Praças, do escritor angolano A. Pedro Correia (notícias aqui aqui);

– O escritor português Nuno Júdice venceu a 1.ª edição do Prémio Literário Francisco Sá de Miranda, promovido pela Câmara Municipal de Amares (notícia aqui);

– A divulgação do calendário escolar completo para o ano letivo de 2019/2020 em Portugal, que indica os períodos de aulas bem como as datas de aferições, provas e exames finais (notícia aqui). 

 7. O programa Língua de Todos dá destaque aos exames finais em Portugal, concretamente, aos do 9.º ano e do 12.º ano de Português Língua Não Materna, que são analisados criticamente pelo nosso colaborador Carlos Rocha (na RDP África, sexta-feira, 21/06/2019, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15). No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, professora Nélia Alexandre, coordenadora dos cursos de português para estrangeiros, faz uma apresentação das características pedagógicas e das valências tecnológicas da plataforma em linha de aprendizagem do ensino do português para estrangeiros O Meu Português, desenvolvida pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (domingo, 23/06/209, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 24 de junho, às 15h30*.

* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. É possível tratar uma interjeição como se fosse um nome? Claro, e o caso de ai, que exprime dor («ai!», «ai de mim!») ou ameaça («ai de ti!»), tem exemplos de usos nominais, sobretudo idiomáticos:«num ai» (= «num instante»), «dar ais» ou «pôr-se aos ais» (= «queixar-se, lamentar-se, gritar») e «sem ai nem ui». Este é um dos tópicos abordados no Consultório, onde – sem ais nem uis, para aproveitar o mote – se enfrentam outras dúvidas: o que é que as conjunções podem juntar numa frase? Como se analisam frases semelhantes a «ele referiu como se apaixonou»? «Trabalho duro» e «trabalho árduo» são compostos? Que significado tem o pronome me em «roubaram-me os sapatos»? E será que se pode dizer que uma empresa ou um edifício têm idade?  

2. «Última flor do Lácio, inculta e bela» –  assim se apelida frequentemente a língua portuguesa. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se um ensaio do investigador Everaldo Augusto, que evoca o poeta Olavo Bilac, autor desse famoso verso, o primeiro de poema Língua Portuguesa,  traçando um paralelo com o cantor e compositor Caetano Veloso e a sua canção intitulada Língua.

3. Ainda na esteira das considerações polémicas que, sobre o cabo-verdiano, o jornalista João Miguel Tavares fez nas comemorações do 10 de Junho, Dia de Camões (ver ponto 3 da Abertura de 11/06/2019), importa sublinhar que a questão do bilinguismodiglossia de Cabo Verde é já antiga e tem motivado propostas e ações (mesmo em Portugal, que acolhe uma importante comunidade cabo-verdiana). Vem, portanto, a propósito lembrar a iniciativa que, em 21/02/2019, Dia Internacional da Língua Materna, o Governo da cidade da Praia tomou no sentido da «classificação imediata» do crioulo como património nacional, conforme registou o portal cabo-verdiano SAPO Muzika/Inforpress na mesma data, numa peça que a rubrica Diversidades agora reproduz com a devida vénia.

Apesar das dificuldades, os crioulos cabo-verdianos encontram-se em processo de normativização, como é o caso da sua escrita, para qual se dispõe do oficilamente reconhecido Alfabeto Unificado para a Escrita do Cabo-Verdiano. Em Portugal, é conhecida a experiência de ensino bilingue que resultou de um projeto desenvolvido pela professora Ana Josefa Cardoso no Agrupamento de Escolas do Vale da Amoreira (Moita, Setúbal). Sobre a tradição linguística de Cabo Verde, consultem-se, no Ciberdúvidas, "As línguas crioulas de Cabo Verde e Guiné", "Bilinguismo cabo-verdiano", "A situação linguística de Cabo Verde", "Línguas crioulas" e "Diglossia".

4. Entretanto, no corrente ano, coincide o dia 20 de junho com a celebração do Corpo de Deus, feriado religioso também conhecido pelo nome latino de Corpus Christi. É uma data importante no mundo católico, que repetidas vezes foi tratada literariamente, por exemplo, na visão muito crítica do Memorial do Convento, de José Saramago (1922-2010): «[...] condene-me Deus se não declarar que melhor vestem as bestas do que os homens que as vêem passar, e isto é sendo o Corpo de Deus, trouxe cada um no seu próprio corpo o que de melhor tinha em casa, a roupinha de ver ao Senhor, que tendo-nos feito nus só vestidos nos admite à sua presença, vá lá a gente entender este deus ou a religião que lhe fizeram [...].» Relacionadas com esta temática, leiam-se as respostas seguintes: "'Amar a Deus', 'ver a Deus', etc.", "Razão do uso de Deus sem artigo", "As palavras Deus, Anjo e Alma" e "A história e o significado da expressão XPTO","Quinta-Feira Maior".

5. Falando do ensino não universitário em Portugal, para os muitos professores, alunos e famílias que nos seguem, registe-se a publicação do calendário escolar: as aulas começam entre 10 e 13 de setembro p.f. e acabam entre 5 e 19 de junho de 2020 (sobre pausas letivas e outra informação, ler o Despacho n.º 5754-A/2019).

6. A respeito dos programas de rádio produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa:

– O Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 21/06/2019 (depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15), dá destaque aos exames finais em Portugal, concretamente, aos do 9.º ano e do 12,º anos de Português Língua Não Materna, que são analisados criticamente pelo nosso colaborador Carlos Rocha.

– No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2 no domingo, 23/06/209 (às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 24 de junho, às 15h30*), foca a nova plataforma em linha de aprendizagem do ensino do português para estrangeiros O Meu Português desenvolvida pela Faculdade de Letras. O nível A1, disponível desde janeiro de 2019, inclui aulas teóricas, práticas, tutoriais, testes e respetivas soluções. A professora Nélia Alexandre, coordenadora dos cursos, faz uma apresentação das características pedagógicas e das valências tecnológicas da plataforma. Ainda neste programa a nossa colaboradora permanente, Carla Marques, faz um apontamento crítico do exame nacional de Português do 12. º ano.

* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.