Pergunta:
Devo felicitar-vos pelo excelente trabalho que têm vindo a fazer!
Tenho uma dúvida no que diz respeito ao complemento do nome referente ao nome retrato nos contextos seguintes:
1. O retrato da tua filha está perfeito.
2. O retrato que o artista elaborou está exposto na galeria.
Na frase 1, foi indicado que «da tua filha» seria um complemento do nome. Percebi a análise, visto que o nome retrato pode ser entendido como denotando uma representação visual ou gráfica e, ao retirar «da tua filha», o sentido referencial de retrato seria impreciso.
Contudo, na frase 2, a expressão «que o artista elaborou» foi considerada como modificador do nome restritivo. Sei que é uma oração subordinada adjetiva relativa restritiva e sei que estas costumam ter a função sintática de modificador do nome restritivo. Todavia, o sentido referencial de retrato não ficaria impreciso se esta fosse retirada, dado que é um modificador? Se a frase fosse «O retrato da tua filha que o artista elaborou está exposto na galeria», entenderia muito melhor a análise... Que justificação pode ser dada para se considerar ambas as análises sintáticas corretas?
Posso inferir que, não importando o contexto, se aparecer uma oração subordinada adjetiva relativa, esta terá sempre, sem exceção, a função sintática de modificador do nome, mesmo que eu saiba que o nome possa exigir um complemento do nome (como alguns nomes deverbais: «A oferta da casa foi feita ao casal» vs. «A oferta que o casal recebeu foi uma casa»?
Obrigada pela vossa atenção!
Resposta:
Com efeito, nas frases em apreço, os constituintes sublinhados nas frases desempenham a função de complemento do nome (frase 1) e modificador do nome (frase 2):
(1) «O retrato da tua filha está perfeito.»
(2) «O retrato que o artista elaborou está exposto na galeria.»
No caso da frase (1), o constituinte «da tua filha» desempenha a função de complemento do nome porque completa o sentido do nome retrato, na medida em que este, sendo um nome pictórico (relativo à imagem), pede um argumento que indique quem (ou o quê) está representado no referido retrato.
No caso da frase (2), a oração subordinada adjetiva relativa não constitui um argumento do nome porque não informa sobre o conteúdo representado na imagem. Dá antes uma informação que, ao incidir sobre o nome retrato, restringe o seu significado. É essa a razão que explica a alteração de sentido que ocorre quando se retira a relativa da frase.
(2a) «O retrato está exposto na galeria.»
A relativa «que o artista elaborou» junta-se ao nome retrato e leva a que este passe a referir apenas um objeto que corresponde ao retrato feito pelo artista, assim excluindo todos os outros possíveis retratos. Por essa razão, o oração relativa é indispensável à frase para que ela mantenha o seu sentido.
Por fim, refira-se que, de uma forma geral, as orações relativas que se associam a um nome desempenham a função de modificador do nome (restritivo ou explicativo).
Agradecemos as gentis palavras.
Disponha sempre!