Centenas de jovens e adultos estão inscritos em cursos de português na Catalunha. Em Barcelona, «há empregos para quem fale português».
A importância económica do português, como língua de trabalho e como exigência para alguns empregos, está a suscitar um crescente interesse entre residentes na Catalunha.
Este interesse por cursos orientados para os usos práticos da língua poderá, segundo vários responsáveis portugueses ouvidos pela Lusa em Barcelona, disfarçar a queda significativa de alunos nas licenciaturas em filologias.
Centenas de jovens e adultos estão inscritos em cursos de português na Catalunha, demonstrando que há «empregos para quem fale português», explicou à Lusa o cônsul português em Barcelona, Bernardo Futscher Pereira. «Há emprego para quem tenha um domínio do português. Daí que seja necessário apostar na promoção da utilidade prática da língua», explicou.
O interesse pela língua portuguesa «vem das oportunidades económicas e laborais a que se somam os muitos cidadãos da América Latina que vivem aqui e para quem o português faz sentido», sublinhou.
Esta opinião é partilhada por Helena Tanqueiro, responsável do Centro de Língua Portuguesa na Catalunha, instalado na Universidade Autónoma de Barcelona (UAB), e que está associado à Faculdade de Tradução e Interpretação.
Promover o português como língua «economicamente viável»
Estão inscritos mais de 250 alunos na licenciatura em Tradução e Interpretação com Português, uma percentagem significativa entre os cerca de 1.200 estudantes da faculdade.
«Cerca de 84 por cento dos alunos que saem do curso conseguem trabalho na sua área nos primeiros seis meses», afirmou Tanqueiro.
«Consolida-se a ideia de que é importante promover o português, como (língua) economicamente viável e como uma mais valia importante para o mundo laboral», explicou.
Em contraste com este interesse por cursos linguísticos com empregabilidade, dados oficiais notam que o português, tal como outras línguas, está a perder adeptos ao nível dos cursos superiores de Filologia, que, em várias universidades espanholas, têm menos de cinco alunos.
O curso de Filologia Portuguesa na Universidade da Corunha só tem um aluno e o da Universidade de Barcelona apenas quatro.
Em contrapartida, porém, e, no caso da língua portuguesa, centenas de alunos frequentam cursos de português pensando num mercado de trabalho especifico — como a tradução e interpretação — ou em empregos na economia globalizada.
Perdas de alunos são menores no português
Ainda que o interesse por 'novas' línguas como o chinês e o árabe esteja a roubar alunos a cursos em línguas tradicionais, como as europeias, as perdas são muito menores no português do que no francês, italiano e alemão, nota Helena Tanqueiro.
Os cursos pós-laborais oferecidos pelo Instituto Camões, por exemplo, têm este ano cerca de uma centena de alunos, porque muitos dos estudantes «precisam do português para os seus empregos».
A estes somam-se os cerca de 250 alunos por ano que leccionam português na Escola Oficial de Idiomas, «tanto gente jovem como adulta, espanhóis e estrangeiros que residem em Barcelona», explicou.
Para Helena Tanqueiro é preciso avançar na promoção de cursos de português orientados para «fins específicos», passando de uma visão quase puramente académica da língua para uma realidade «mais prática», e apostando tanto nos falantes de português como nos estrangeiros.
Paralelamente à aposta no universitário e superior, as autoridades portuguesas continuam empenhadas no estímulo ao secundário, procurando que o português seja reconhecido como uma língua opcional nos currículos das escolas catalãs.
A avançar, esta iniciativa criaria um novo nível de impulso do português na região, que se traduziria depois em níveis superiores de ensino.
Um projecto pioneiro decorre já na Escola Secundária Juan Corominas que financia a oferta do português, escolhido por cerca de 80 alunos como língua de opção.
Alargar o projecto ao sistema geral requer «pedagogia e persistência» junto das autoridades regionais para quem a incorporação de uma nova língua ao currículo representaria investimentos significativos, nota Futscher Pereira.
«Temos por isso que demonstrar de uma forma conclusiva que faz sentido, porque (a língua) é procurada pelos alunos e pode ajudar em alguns empregos», frisou.
Seu D'Urgell poderá receber segundo projecto piloto
Um segundo projecto-piloto poderá começar na localidade de Seu D'Urgell, onde, dada a proximidade a Andorra, há um elevado número de falantes do português, maioritariamente luso-descendentes, tanto no nível primário como no secundário.
Conseguir a adesão das autoridades a projectos deste tipo passa, na opinião de Tanqueiro, por combater também algumas percepções erradas como saber se, dada a proximidade linguística entre o espanhol e o português, é ou não necessário aprender a língua.
«Inicialmente pensa-se que não é preciso mas depois chega-se ao mundo laboral e percebe-se as necessidades e a mais-valia de dominar o português», disse.
No intuito de avaliar a situação actual do ensino do português estão a decorrer vários estudos, que se prendem quer com um inquérito a alunos para que avaliem a importância "económica" da língua, promovido pelo Instituto Camões.
Na Catalunha especificamente estão a ser recolhidos dados sobre o falantes de português nas escolas secundárias — cerca de mil brasileiros e portugueses — e a ser preparadas umas jornadas sobre o ensino do português.
Cf. As diferenças e sememelhanças entre o português e o catalão, de Veronika Hájková + A língua catalã + Cinco mitos sobre o catalão
*Lusa, 21 de Maio de 2008