Sara Mourato - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara Mourato
Sara Mourato
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Licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e mestre em Língua e Cultura Portuguesa – PLE/PL2 pela mesma instituição. Com pós-graduação em Edição de Texto pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalha na área da revisão de texto. Exerce ainda funções como leitora no ISCTE e como revisora e editora do Ciberdúvidas.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Se eu tiver um software que eu chamei "Prox", teria de me referir a ele como "O Prox" ou "A Prox", se eu decidir não fazer menção à palavra software na oração?

Se pudesse ter uma explicação sobre o assunto seria ótimo!

Obrigada

Resposta:

No caso de Prox,  o nome termina com um x, o que não dá indicação clara de género, mas, como a maioria dos nomes de software segue o género masculino por convenção, já que programa e sistema e outros termos relacionados são masculinos, pode  assumir-se que se dirá «o Prox». À sua semelhança temos «o Linux», «o Photoshop», «o Excel», entre outros, que seguem a mesma lógica de atribuição do género masculino.

Pergunta:

Nas frases «O clube concede este diploma a fulano em reconhecimento à sua representação na personagem – Chico – no drama...» ou «O clube concede este diploma a fulano em reconhecimento pela sua representação da personagem – Chico – no drama...», devo escrever «reconhecimento à sua representação... » ou «reconhecimento pela sua representação...»? Ambas as construções estão corretas?

Obrigado antecipadamente pelo esclarecimento.

Resposta:

Ambas as construções – «em reconhecimento à sua representação» e «em reconhecimento pela sua representação» – estão corretas porque o substantivo reconhecimento constrói regência com as duas preposições: por. «Reconhecimento  a» e «reconhecimento por» usam-se com o sentido de: «o reconhecimento [gratidão, agradecimento] a ou para com alguém (por algo); o reconhecimento a Deus pelo dom da  vida», de acordo com o Dicionário Prático de Regência Nominal.

Pode aceitar-se é que divirjam ligeiramente no estilo:

(1) «Reconhecimento à sua representação» sugere algo direcionado ao objeto do reconhecimento, sugerindo uma relação estática;

(2) «Reconhecimento pela sua representação» destaca de modo mais dinâmico o motivo pelo qual o reconhecimento está a ser dado. 

Pergunta:

Ouvi recentemente alguém referir que tinha produzido um «texto esquálido, clean, minimalista», creio que foi essa a frase exata que a pessoa utilizou.

O sentido da palavra esquálido é o de que era um texto "enxuto", sintético, conciso. Ou seja, a palavra esquálido tinha uma conotação positiva. Nunca tinha ouvido a expressão aplicada a um texto e sobretudo com uma conotação positiva.

Podem, s.f.f., esclarecer se esse uso está ou não correto?

Muito obrigado e parabéns pelo vosso trabalho.

Resposta:

De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, a palavra esquálido tem as seguintes aceções: «que é ou está muito sujo; que está desalinhado, descuidado ou em desordem; que é considerado extremamente incorreto, baixo do ponto de vista moral; que está descorado e fraco; que está lívido, macilento; que é ou está sombrio, escuro». Estas definições indicam que esquálido tem, tradicionalmente, conotações negativas, associadas a sujidade, miséria e desleixo. Portanto, o uso da palavra para descrever um texto de forma positiva, como enxuto, sintético, conciso, é pouco convencional e não está alinhado com os significados estabelecidos.

No entanto, o uso inusitado ou criativo de palavras, mesmo em sentidos divergentes do normativo, ocorre com alguma frequência na linguagem, especialmente em contextos literários ou artísticos. A escolha de esquálido, neste contexto, pode ter sido feita de modo irónico, metafórico, ou mesmo com intenção estilística, atribuindo ao termo um novo sentido.

Portanto, ao avaliar-se esta escolha é importante considerar o contexto. Contudo, em contextos formais, tal uso é desaconselhado.

Pergunta:

Nação – devo considerar nome comum ou coletivo?

Resposta:

Nação é um nome comum coletivo na medida em que significa o conjunto de pessoas ligadas por tradições históricas, língua, costumes e instituições comuns, ou o conjunto de pessoas que constituem uma comunidade política autónoma, estabelecida num território definido e regida por leis, interesses e um chefe de estado comuns (no contexto político). Também pode designar um grupo de pessoas unidas por características ou índoles comuns (Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa). 

Por outro lado, é apenas um nome comum quando designa o território ocupado por essa comunidade ou o país natal de alguém (ibidem).

Pergunta:

"Míni" é como habitualmente nos referimos [em Portugal] a uma cerveja pequena, de 15ml a 25ml. Como devemos formar o plural no exemplo abaixo?

«Dê-me duas míni, por favor!»

Ou «Dê-me duas mínis, por favor!»

Obrigado

Resposta:

A forma correta no plural é: «Dê-me duas mínis, por favor!»

Em «cerveja míni», míni é um adjetivo, contudo, quando afirmamos «quero uma míni», o termo passa a ser usado como substantivo.

Quer se use como adjetivo quer ocorra como substantivo, devem seguir-se as regras de pluralização dos substantivos, e o plural é mínis. Esta forma é amplamente aceite e utilizada no português coloquial e está de acordo com as normas de formação de plurais.