Aos poucos, a moda do «é suposto» instalou-se. Não deixa de ser curioso verificarmos a rapidez com que se tem propagado esta expressão, cópia da construção inglesa «it’s supposed». Uma verdadeira praga!
Bem, a construção em si poderá não fugir à norma. Trata-se de uma expressão impessoal, à semelhança de outras, como, por exemplo, é preciso, é possível, é conveniente. Mas, lá que soa mal, soa...
O problema é que a construção invadiu o nosso dia-a-dia, passou a aplicar-se a toda uma série de situações em que não era habitual encontrá-la: «É suposto comeres a sopa...», quando o que se queria dizer seria «Tens de comer a sopa»; ou «É suposto irmos ao cinema» em vez de «Estamos a pensar em ir ao cinema». E desta forma, nas mais diversas situações da oralidade, a língua se vai despersonalizando e perdendo em rigor e expressividade...
Mas há mais! É que, na sua forma impessoal (na 3.ª pessoa do singular) a construção pode não ser elegante, mas é sintacticamente aceitável. Mais grave é quando se procede a uma cópia directa de outras formas que a expressão assume na língua inglesa, surgindo construções inaceitáveis, como esta:
«Todos nós éramos supostos estar a viajar naquele carro...»
Este exemplo foi retirado da tradução de uma obra de grande tiragem publicada em Portugal e outros aparecem sistematicamente ao longo de todo o livro.
A construção é inaceitável, mas o leitor menos atento ou esclarecido não deixará de a interiorizar. Que belo serviço se presta desta forma à língua portuguesa!