1. A atualidade desportiva, sobretudo a do futebol, é pródiga em siglas e abreviaturas – PSG e Man Utd são exemplos –, e o que se lê em Portugal não constitui exceção. No consultório, uma das novas questões em linha aborda a escrita das siglas a que se reduzem certos nomes de clubes de futebol: neste tipo de abreviação, deve-se ou não empregar pontos? Noutra vertente linguística, em dúvida está também a formação de palavras, a sua compatibilidade com outras, a sua flexão: existe o adjetivo horizontino, no sentido de «relativo ao horizonte»? Diz-se «esforçar-se para» ou «esforçar-se por»? E como se faz o plural de próton, nêutron e elétron? Esta atualização traz ainda um problema de análise linguística: que função sintática desempenhará «a tudo» na frase «prestam atenção a tudo»? Finalmente, uma pergunta já relacionada com o estilo do discurso: um «ilustre desconhecido» será assim tão ilustre?
2. Se uma avó portuguesa se queixar de que só ouve frioleiras da boca dos jovens, será que a neta percebeu exatamente o que ela quis dizer? A propósito da preocupação com o futuro do património lexical português e de como os mais jovens parecem estar dele alheados, a rubrica O nosso idioma transcreve com a devida vénia uma crónica que a editora e escritora Maria do Rosário Pedreira publicou em 5 de outubro de 2019 no jornal português Diário de Notícias.
3. O saber falar em público, que parece hoje uma arte em decadência, tem associada a preocupação com um modelo de pronúncia (ortoépia), tida como melhor que as outras e, portanto, correta. Em Portugal, é muito forte essa valorização, nem sempre consciente, que nos leva a achar ridículos os sotaques ou pronúncias regionais. Daí o ar desajeitado com que se retratam as personagens que falam "axim" (isto é, que pronunciam o chamado s beirão), ou que reduzem o ditongo ei a uma vogal ("lete", em vez de leite) e dizem «na sei», em lugar de «não sei». Ao encontro desta constatação, o tradutor e professor universitário Marco Neves lança mais um desafio às nossas crenças linguísticas que merece aqui registo: trata-se de um artigo publicado em 20 de outubro de 2019 na plataforma digital Sapo24, no qual se reflete sobre uma comparação entre o parlamento britânico e o parlamento português. No primeiro, os deputados, digladiando-se no calor da discussão do Brexit, fazem gala da sua pronúncia regional; em Portugal, pelo contrário, todos disfarçam a diversidade fonética herdada, nivelando o português pela modalidade urbana e mediática historicamente baseada na pronúncia culta do eixo Coimbra-Lisboa. Porquê estas atitudes linguísticas contrastadas?
Sobre a diversidade de pronúncias regionais e a sua relação com a norma-padrão, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "O s beirão"; "A pronúncia do ditongo ei"; "Betacismo"; "O ditongo ou"; "Sobre sotaques e regionalismos"; "Sobre a aceitabilidade das pronúncias regionais em Portugal"; "Descasos do dialeto lisboeta"; "O lisboetês, o coimbrês e outros sotaques"; "Crónica do falar lisboetês"; "Crónica do falar lisboetês (bis)"; "Contra o sotaque único"; "Dicção, nome-padrão e regionalismos"; "Boa dicção e pronúncia regional"; "O novo acordo ortográfico e a variação regional"; "Pronúncia-padrão"; "Ainda a pronúncia-padrão"; "Pronúncia afetada, regionalismos e erros".
4. Das notícias em que a língua portuguesa é tema, realce para:
– o protocolo de cooperação sobre o ensino da língua portuguesa na ilha de Jersey, que o presidente do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos, e o chefe do governo de Jersey, John Le Fondré, assinaram no dia 21 de outubro de 2019, na embaixada de Portugal em Londres;
– a conferência Presente-Futuro, O Elogio da Leitura – Plano Nacional de Leitura 2027, que se realiza em 24 de outubro p.f., na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. No encontro participam Teresa Calçada (comissário do Plano Nacional de Leitura), João Luís Lisboa (professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), Maria de Lurdes Rodrigues (reitora do ISCTE-IUL), Isabel Alçada (ex-ministra da Educação), entre outros (mais informação aqui).
5. A respeito dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, têm destaque os seguintes temas:
– a homenagem prestada a Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro na primeira reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), no programa Língua de Todos*, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 25/10/2019, às 13h20;
– Comunicar com Sucesso, um novo livro da professora e consultora linguística Sandra Duarte Tavares, no programa Páginas de Português*, emitido pela Antena 2, no domingo, 27/10/2019.
* Estes programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 26 de outubro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 2 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
6. No magazine televisivo Cuidado com a Língua!, uma aula de costura motiva uma incursão pelo campo lexical da moda, passando em revista a evolução de palavras como agulha ou costurar e descobrindo o sentido da palavra pesponto ou da expressão «ter para os alfinetes». Estes e outros assuntos serão tratados no novo programa do Cuidado com a Língua!, emitido na RTP1, quarta-feira, dia 23 de outubro, depois das 21h00* (mais informações aqui).
* Hora oficial de Portugal continental, podendo o programa ser visto, posteriormente, via RTP Play.