1. A hesitação linguística é, na oralidade, vista como um fenómeno de descontinuidade no texto produzido. Inúmeras poderão ser as razões que justificam as hesitações. Todavia, entre elas, poderemos assinalar o esforço de clarificação do discurso, a reorientação discursiva e também a busca de correção gramatical. É também a hesitação entre duas possibilidades de realização linguística ou perante a duvidosa correção de uma expressão que motiva algumas das questões colocadas ao Ciberdúvidas: «Deve dizer-se «pedir que» ou «pedir a alguém que»?», «É preferível a expressão «sair pela porta fora» ou «sair porta fora»?», «Existe a forma "freinar" ou será frenar?» e «Qual a grafia correta de «meninos bem»?». Nesta atualização, ainda uma questão sobre a diferença entre antonomásia e perífrase.
Primeira imagem: Hesitação, de Alfred Stevens, 1867.
2. Em época de festejos relacionados com os santos populares, em Portugal, Aida Alves, diretora da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, vem recordar a importância da poesia popular, um género literário muito ligado ao canto popular, centrado no quotidiano do homem e na sua forma de estar no mundo. Num pequeno apontamento, somos levados numa viagem a uma breve história da poesia popular: da Poesia Trovadoresca, com a sua simplicidade, singeleza e ritmo natural, ao Romantismo, que acarinhou o folclore como representante da essência da alma pátria (texto originalmente publicado no jornal Correio do Minho e aqui transcrito com a devida vénia). A poesia popular convive de perto com a linguagem popular, rica em criações lexicais e em explorações semânticas. Recordemos alguns textos publicados no Ciberdúvidas relacionados com o tema: «A diferença entre linguagem popular e expressões regionais», «Verbo ougar (linguagem popular)», «Encertar (linguagem popular)», «Exemplos de registo popular da língua», «Níveis de língua popular e familiar vs. registo de língua informal», «Olhò e vivà» e «Algumas expressões populares portuguesas».
3. As perguntas típicas dos portugueses sobre o galego dão o mote a nova publicação de Marco Neves, professor universitário e tradutor, que anunciou no seu blogue Certas Palavras o lançamento para o final de junho da obra O Galego e o Português são a mesma língua? (Editora Através), que conta com um prólogo do linguista João Veloso. Esta mesma questão tinha já sido tratada num artigo divulgado pelo autor em 2017 (disponível aqui). O Galego e as suas relações com o Português nas várias vertentes, da linguagem falada aos textos de literatura, não esquecendo os idiomatismos, são aspetos que têm sido também profusamente abordados no Ciberdúvidas, como aqui se recorda: «Sobre o galego», «Sobre a expressão «és mesmo um galego», «Galaico-português / Galego-português», «Galego-Português», «Galego-português e galego medieval», «Do galego-português ao português», «O galego / o português», «Primeiros textos em Português», «Idade das Línguas» e o artigo «O galego-português existe?», de Fernando Venâncio.
4. No âmbito da atualidade, destacamos:
— o lançamento de um conjunto de publicações destinadas a apoiar o ensino do Português na China, pelo Instituto Politécnico de Macau: Fonética e Fonologia para o Ensino do Português como Língua Estrangeiro e Exercícios Práticos de Fonética de Português Língua Estrangeira, ambos da autoria de Adelina Castelo, Português com Textos 2 — Textos narrativos para o ensino do Português como Língua Estrangeira, de Sara Augusto e Caio Christiano; Português em Uso, de Rui Pereira, e Guia de Preparação para o DAPLE — Diploma Avançado de Português, de Liliana Inverno (notícia aqui);
— o início do período de exames nacionais do ensino secundário em Portugal, que abre neste dia, 17 de junho, com a realização do exame nacional de Filosofia, e cuja 1.ª fase se prolonga até ao dia 27 de junho. Os exames a realizar neste final de ano letivo incidem, pela primeira vez, sobre conteúdos de disciplinas envolvidas no Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, enquadradas pelas Aprendizagens Essenciais, o que implicou que os conteúdos visados por alguns exames tivessem sido reduzidos relativamente a anos anteriores, como explicou ao jornal Público Luís Santos, diretor do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) (notícia aqui).
1. O dia de Santo António, santo de devoção popular e por muitos considerado padroeiro da cidade de Lisboa, é celebrado a 13 de junho, dia do feriado da capital portuguesa, marcado por festividades populares. Tradicionalmente, Santo António é conhecido como casamenteiro, fama que a tradição perpetuou burilando frases e quadras alusivas aos seus poderes no campo amoroso. Recordamos aqui algumas delas:
«Santo António, meu querido, o que peço em segredo é um marido.»
ou
«Não precisa de altar
O nosso Santo Antoninho
No coração pode ficar
Fazer dele o seu cantinho.
Oh, manjerico bem cheiroso
Pelo regar e pôr ao luar
Dá-lhe um rapaz bem jeitoso
Para com ela se casar.»
Primeira imagem: Santo António de Pádua, de Kessler (1650/60)
A influência deste santo manifesta-se também na literatura portuguesa. O bem conhecido "Sermão de Santo António aos peixes", de Padre António Vieira, celebra as aclamadas qualidades oratórias do santo, que são apresentadas como modelo de pureza e retidão. O dia dedicado a Santo António é também motivo para reler algumas das respostas que passaram pelo Ciberdúvidas relacionadas com a temática: "Frase sobre Santo António de Lisboa", "Santo / São / Sã", "Abreviatura de santo: Sto, Sto. e S.to".
Devido ao feriado de 13 de junho, dedicado a Santo António, em Lisboa, a próxima atualização do Ciberdúvidas fica marcada para dia 17 de junho de 2019.
2. A história de uma língua desenha-se num percurso ancorado na construção de novas palavras e no alargamento dos seus sentidos. O ensaio intitulado "Quando a Língua Portuguesa encontrou Homero e a Ilíada", da autoria da investigadora brasileira Tâmara Kovacs Rocha, dá-nos a conhecer a importância da ação dos poetas na introdução de termos que estes cunharam a partir do latim e do grego, fazendo uso de processos linguísticos nem sempre bem recebidos pelos defensores do conceito de "língua pura". Neste percurso de construção da língua, as primeiras traduções dos textos do poeta grego Homero mostram claramente o contributo criativo dos poetas para o enriquecimento e maturidade da língua portuguesa. Também a professora e investigadora brasileira Adrienne Morelato, num ensaio sobre a língua portuguesa, percorre o caminho da evolução do português, desde a sua origem galega até à aventura marítima, demonstrando como esta língua se fez e cresceu às mãos dos poetas que a aprofundaram para dizer os seus sentimentos e desejos, o fado e a descoberta de novos mundos.
3. A história de uma língua acompanha também o percurso do seu povo e a sua própria ação. Nesta linha, João Miguel Tavares, presidente da Comissão Organizadora do 10 de Junho, veio, num discurso que gerou alguma polémica, defender que Portugal tem responsabilidade histórica para com os habitantes das antigas colónias, muitos dos quais têm como língua materna o crioulo. Este facto, associado à ideia de que estamos perante uma classe social desprotegida, levou-o a defender o ensino em crioulo cabo-verdiano nos primeiros anos de escolaridade em Portugal e em Cabo Verde. O Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, em reação a esta posição, assumiu a defesa da língua portuguesa, recordando que «a língua portuguesa é um instrumento universal fundamental» e um «trunfo essencial» no plano internacional (ver notícias aqui e aqui).
4. A tessitura desta língua que se construiu ao longo de séculos envolve vários planos que se materializam numa rede complexa de camadas que envolvem fonética, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática, entre outros domínios. Todos estes planos são mobilizados pelos falantes, que se apropriam da língua e a atualizam quase automaticamente. Todavia, é frequente que a própria língua exija uma atitude de reflexão, motivada pelas dificuldades que oferece aos seus falantes. Estes fenómenos relacionados com a consciência metalinguística justificam muitas das questões que os consulentes colocam ao Ciberdúvidas. Na presente atualização do Consultório, dúvidas relacionadas com a ortoépia (Como se pronuncia acrobata?), com as regências verbais (Quais as regências do verbo transferir? e do verbo mirar?), com a correção sintática (Como usar o advérbio eis com pronomes pessoais?) e com a classificação de funções sintáticas (Qual a função sintática do constituinte preposicionado que acompanha o verbo desembarcar? E de dia na frase «Já é dia»?).
5. A importância do contributo de alguns escritores para o enriquecimento de uma língua leva, não raro, a que estes sejam considerados "génios". É exatamente a atribuição deste epíteto à escritora Agustina Bessa-Luís, recentemente falecida, que conduz o jornalista Luís M. Faria a uma reflexão sobre a evolução do conceito de génio. Uma análise que conclui que a banalização de uma palavra pode retirar prestígio não só à própria palavra como também, e sobretudo, à pessoa que se procura elogiar (texto divulgado originalmente no semanário Expresso e aqui transcrito com a devida vénia).
6. As dúvidas que a grafia suscita, nomeadamente no âmbito das alterações introduzidas pelo Acordo Ortográfico de 1990, motivaram a obra Manual do Bom Português Atual, da autoria da professora Lúcia Vaz Pedro (Editora Calendário das Letras, 2016), que se apresenta na Montra de Livros. Como aí assinala Sara Mourato, com tanta bibliografia hoje disponível e tantas ferramentas acessíveis a um simples clique, só o desleixo explica uma errada aplicação da nova reforma ortográfica. E, pior ainda, quando essas grafias incorretas nada têm que ver com o AO90. Um exemplo recente é o da grafia de Rúben, que surge em diversos meios de comunicação social grafado como "Ruben", a propósito do falecimento do jornalista e membro do Comité Central do Partido Comunista Português Rúben de Carvalho (notícia aqui e aqui). O antropónimo Rúben, sendo uma palavra paroxítona (grave) terminada em n, sempre foi acentuada para não se pronunciar como uma palavra oxítona (aguda).
7. Temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, da presente semana: no Língua de Todos, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, comenta e analisa a prova de aferição, português segunda língua do 8.º ano (programa transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 14 de junho, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*); e no Páginas de Português, difundido pela Antena 2, é dado destaque ao Portal dos Corpus Ibero-Românicos, um projeto que pretende ser um instrumento informático que procura oferecer aos seus utilizadores a lista de corpora históricos em línguas ibero-românicas atualmente disponíveis na Internet. Nele, passa também uma entrevista com a professora Cristina Sobral, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, responsável pelo corpus de textos antigos em português até 1525. Ainda neste programa, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques, faz um comentário crítico à prova de aferição de português do 8.º ano (domingo, 16 de junho, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 22 de junho, às 15h30*).
1. A data de 10 de junho é a do feriado* que assinala em Portugal a memória de Camões e da sua epopeia Os Lusíadas, exemplo de apuro literário que, sem deixar de refletir a voz imperialista do passado, é hoje documento do processo de expansão que levou a língua portuguesa a todo o mundo. As comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas permitem, portanto, dirigir a atenção para Estados onde o português se tornou também língua materna ou língua segunda. Compreende-se, assim, que em 2019, o programa oficial comemorativo decorra não só na cidade de Portalegre, em Portugal, mas também em Cabo Verde, país cuja herança bilingue espelha bem meio milénio de história linguística planetária. Cabo Verde tem sido tema sempre retomado no Ciberdúvidas: realçamos "A nossa língua portuguesa", um texto de Germano de Almeida, mas outros são de mencionar, como sejam "A língua portuguesa e o crioulo cabo-verdiano", "Literatura cabo-verdiana", "Bilinguismo cabo-verdiano", "As línguas crioulas de Cabo Verde e da Guiné", "Quantas línguas cabem na língua portuguesa?", "Cabo Verde, sem tradução" ou "O regionalismo morabeza (Cabo Verde)".
Devido ao feriado, a próxima atualização fica marcada para dia 12 de junho de 2019.
* Escreve-se «o 10 de Junho», com maiúscula inicial em junho, quando se faz referência ao feriado e à comemoração associada (ver n.º 2 da Base XIX do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990). A forma «10 de junho» é grafia da simples menção do dia, conforme a data no calendário, sem alusão ao feriado comemorado em Portugal. Na imagem,
a capa de Os Lusíadas, na edição de 1572.
2. No Consultório, voltamos à questão do aportuguesamento de topónimos estrangeiros, comentando o caso do nome da cidade montenegrina de Nikšić (Montenegro, na península dos Balcãs), falamos do conceito de polaridade a propósito da expressão «nem por sombras!», sugerimos maneiras de uma turma expressar um agradecimento – «obrigado», «obrigada», «obrigados» ou «bem haja»? – e procuramos conciliar regências e pronomes relativos para obter uma frase correta. Por fim, não esquecendo Camões, interpretamos os versos que fecham o Canto I de Os Lusíadas e dão noção da desmesura que foi navegar até à Índia:
«Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o céu sereno
contra um bicho da terra tão pequeno?»
3. Navegar na Internet estará mais ao alcance dos nossos humanos desígnios, mas é tarefa não isenta de percalços. A informação colhida pode ser interessante, como parece acontecer com um texto disponível no sítio eletrónico NCultura: trata-se de uma lista de apelidos supostamente representativos dos usos onomásticos das comunidades judaicas ao longo da sua história em Portugal e no Brasil. Sucede, porém, que muitos dos apelidos inventariados têm origem fora do contexto cultural judaico. Por exemplo, é muito duvidoso que Carvalho ou Oliveira sejam apelidos de origem judaica, e mais plausível será que tenham relação com a toponímia portuguesa («alguém que era do lugar de Carvalho ou do lugar de/da Oliveira»), pelo que podiam tomar tais apelidos tanto um cristão-velho como um cristão-novo (um judeu geralmente convertido à força). Trata-se, portanto, de matéria cujo estudo, avesso a precipitações, não dispensa cuidados e convoca conhecimentos de história local e de genealogia (na imagem correspondente a este parágrafo, Perush Ha-Berakoth Ve-Ha-Tefillot, incunábulo hebraico impresso em Portugal, na Oficina de David Abudrahan em Lisboa, 1489 – fonte: sítio Tipografia).
4. O português torna a ser notícia na Galiza, paradoxalmente por afirmações feitas no Brasil, país onde decorre uma visita do presidente da Real Academia Galega, Víctor Fernández Freixanes. Segundo o jornal digital galego Praza, Freixanes, em intervenção feita em 5/06/2019, no I Seminário Internacional para Estudos Linguísticos. Galego e Português: o passado presente, realizado na Universidade Federal Fluminense (Niterói), considerou que os galegos têm de reivindicar o português nas escolas como língua irmã, «non para substituír o galego, senón para apoiarnos nel cara á [em direção à] proxección exterior»; lamentou ainda a escassa implantação deste idioma na rede de ensino da Galiza, apesar da aprovação por unanimidade no parlamento galego, em 2014, da denominada Lei Paz Andrade (ler também aqui).
5. Outra notícia: encontra-se aberto até dia 21 de julho de 2019 um concurso para atribuição de duas Bolsas de Cientista Convidado do IILP (BCC do IILP), ao abrigo do Programa de Bolsas de Cientista Convidado do Instituto Internacional de Língua Portuguesa – IILP. Detalhes do edital aqui.
6. Sobre os programas que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa, recordamos que, na presente semana, o Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, 7 de junho (depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*), destaca a digitalização dos acervos das bibliotecas dos grémios literários de Belém do Pará, do Recife e de Salvador da Bahia, graças ao financiamento de um grupo de empresários brasileiros de origem portuguesa. No Páginas de Português, em foco, a XIV Reunião Ordinária do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, a qual decorreu na cidade da Praia (Cabo Verde), de 27 a 29 do passado mês de maio (programa emitido na Antena 2, no domingo, 9 de junho às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 15 de junho, às 15h3*).
* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.
1. As locuções «com certeza» e «de repente» escrevem-se cada uma com duas palavras gráficas bem separadas, mas infelizmente são recorrentes as formas "concerteza" e "derrepente", tudo incorretamente pegado. Em O nosso idioma, a professora e linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, explicando estes e outros erros ortográficos como interferências da oralidade na escrita, apela a sermos mais cuidadosos e refletidos no que escrevemos.
2. De ortografia igualmente se fala no Consultório, a propósito do brasileirismo preto-velho, do tecnicismo decaexateto e do nome próprio Éris, que denomina uma deusa e um planeta anão. Como a construção de frases também requer cautela, retomam-se as questões de análise sintática e semântica: o que fazer com um pronome relativo que de interpretação ambígua? Quando o verbo ser identifica duas expressões em frases do tipo «a solidão é bom remédio», pode um nome abstrato como solidão fazer parte do sujeito?
3. O futuro do português em África depende do que se faça ou não nos países onde detém estatuto oficial e se fala como língua materna ou segunda língua. Angola, sempre na dianteira pelo número de reais e potenciais falantes, continua ainda a encontrar dificuldades na necessária transformação do português num instrumento de cultura e ciência para benefício dos seus cidadãos. Na rubrica Ensino, transcreve-se, com a devida vénia, do semanário luandense Nova Gazeta ( de 3/06/2019), a entrevista que o professor universitário guineense Mário Joaquim Aires dos Reis, especialista na obra de Manuel Rui Monteiro, deu ao jornalista Edno Pimentel, sobre a situação do ensino superior angolano e a falta de formação e de incentivos que ameaçam a pujança inicial da própria literatura de Angola (na imagem, a obra de Carlos Ervedosa, Roteiro da Literatura Angolana, publicado em 1979).
4. Entretanto, multiplicam-se as plataformas e os recursos eletrónicos para o desenvolvimento de competências linguísticas e culturais, entre elas, por exemplo, as da literacia. Importa, pois, mencionar o lançamento do sítio eletrónico do Clube de Leytura com o qual a editora Leya pretende facilitar e promover em Portugal o acesso das famílias aos livros e à leitura (mais informação nas Notícias).
5. Assinala-se em 5 de junho o Dia Mundial do Meio Ambiente, cujos temas, em 2019, têm conhecido crescente relevo mediático. À volta da questão da mudança climática, entram em circulação novas palavras e expressões, umas criadas vernacularmente, outras provenientes de idiomas estrangeiros, sobretudo, do inglês. Convém observar, portanto, que o campo lexical associado ao tópico dá sinais de alargar-se conceptualmente, fazendo emergir novos termos: assim, para acentuar a gravidade das situações decorrentes da chamada «mudança climática», torna-se mais recorrente e até adequada a expressão «crise climática» (ler, a propósito, recomendação da Fundéu para o espanhol, a qual pode ser transposta para o português); e cada vez mais se diz e escreve de um «estado de emergência climática», que se reduz a «emergência climática». Maio de 2019 foi especialmente fértil na circulação destas locuções neológicas, cuja evolução contamos poder ir registando aqui; entretanto, sugerimos a leitura dos artigos e respostas que, sobre o tema, se encontram no arquivo do Ciberdúvidas: "Ambiência e ambiental"; "Os adjetivos derivados de clímax: climáctico e 'climácico'"; "'Alterações climáticas' ou 'mudanças climáticas'; "A formação da palavra edafoclimático"; "Condições edafoclimáticas"; "Condições atmosféricas"; "As acepções do adjectivo temporal"; "Geoestratégico"; "O adjectivo climatérico", "O que é verdade e mito nos provérbios populares sobre tempor e clima".
6. Outro registo, os 75 anos do Dia D, como ficou lembrado o desembarque dos Aliados nas praias da Normandia, em 6 de junho de 1944, que marcou o inicio da derrota do nazismo e do fim da II Guerra Mundial. Direta ou indiretamente relacionados com esta efeméride, consultem-se "O significado da expressão Dia D'", "A grafia dos nomes de batalhas e guerras", "O aportuguesamento de nomes de regiões francesas", "A grafia das horas", "Sobre as horas", "Horas, de novo" , "Sobre a escrita dos números, das horas e de outras representações", "Livro de horas", "Canal da Mancha", "A praga dos vocábulos estrangeiros que não sabemos usar".
7. Temas da presente semana nos programas de rádio que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:
– no Língua de Todos, o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, fala da digitalização dos acervos das riquíssimas bibliotecas dos grémios literários de Belém do Pará, do Recife e de Salvador da Bahia, tarefa financiada por um grupo de empresários brasileiros de origem portuguesa (programa transmitido pela RDP África na sexta-feira, 7 de junho, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*);
– no Páginas de Português, a professora universitária e linguista Margarita Correia, presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), é entrevistada sobre a XIV Reunião Ordinária desse mesmo órgão do IILP, a qual decorreu na cidade da Praia (Cabo Verde), de 27 a 29 do passado mês de maio (programa emitido na Antena 2, no domingo, 9 de junho às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 15 de junho, às 15h3*).
1. Os nomes de marcas comerciais têm uma relação não motivada com o género gramatical. Por esta razão, por vezes, é difícil determinar se o nome de uma dada marca é masculino ou feminino, fenómeno que gera também dúvidas no plano da concordância. Não existindo nenhuma regra que determine, a priori, o género deste tipo de nomes, os falantes optam, não raro, por atribuir ao nome da marca o género do tipo de produto associado. Assim sendo, como determinar o género do nome Google? A diferença entre «mais bem/mal» e melhor/pior é uma das áreas que gera mais dúvidas aos falantes a par do uso do infinitivo flexionado. Na nova atualização do consultório, duas respostas abordam estas questões. Ainda uma dúvida sobre o significado da palavra configurador no âmbito do campo lexical de informática.
Na primeira imagem: Carta das línguas minoritárias e suas vulnerabilidades.
2. A língua portuguesa convive, nos vários países onde é falada, com outras línguas, dialetos e crioulos. Esta convivência nem sempre tem sido equilibrada, pois em muitas situações o português tem agido como elemento aglutinador dos falantes, o que tem funcionado como uma séria ameaça às línguas mais frágeis, que arriscam extinguir-se. Refletindo sobre esta realidade, o escritor angolano José Eduardo Agualusa defende que a relação entre as diferentes línguas no espaço da lusofonia deve ser entendida como uma parceria que deve apoiar as línguas nacionais, conferindo-lhes a dignidade que merecem, pois desta forma «estamos criando um espaço de língua portuguesa em que todas as partes participam de forma livre, em situação de relativa igualdade, sem dominados nem dominadores. Uma lusofonia horizontal, que não se esgota, longe disso, na língua comum. Uma irmandade autêntica.» (crónica originalmente publicada no jornal Expresso, de 01/06/2019, transcrita, com a devida vénia, na rubrica O Nosso Idioma).
3. Em linha com os problemas associados às línguas minoritárias encontra-se o 2.º Simpósio Internacional Línguas e Variedades Linguísticas Ameaçadas na Península Ibérica (LAPI 2019), que se realiza a 4 e 5 de julho de 2019, em Lisboa, com comunicações que visam a problemática da diversidade linguística na Península Ibérica. Este congresso é organizado pelo Centro Interdisciplinar de Documentação Linguística e Social (CIDLeS) e tem também a intenção de reunir um arquivo com dados relativos a todas as línguas ameaçadas na Europa (notícia aqui). A ação do CIDLeS tem incidido na preservação e descrição do minderico ou piação, língua falada pelos habitantes da zona de Minde, uma freguesia do concelho de Alcanena, distrito de Santarém, mas também tem apoiado estudos sobre outras línguas minoritárias, como uma língua falada no norte da Estremadura espanhola (cf. estudo desenvolvido pelo investigador checo Miroslav Vales).
4. Os dialetos fronteiriços motivaram um projeto intitulado "Fronteira hispano-portuguesa: documentação linguística e bibliográfica" (Frontespo), cujos resultados, relacionados com as particularidades dos falares das zonas de fronteira, têm vindo a ser divulgados desde 2015 (cf. notícia aqui). Este é um projeto, com investigação ainda em curso, que pretende preservar dados linguísticos que se encontram em risco de desaparecimento em consequência da escolarização dos falantes e por ação uniformizadora dos meios de comunicação de massas. Alguma bibliografia produzida no âmbito desta investigação poderá ser consultada aqui.
O Ciberdúvidas tem, desde há muito, dado destaque às questões relacionadas com a problemáticas das línguas ameaçadas, como se pode recordar nos seguintes textos: «Línguas e línguas», «As línguas dos outros», «Multilinguismo», «Línguas (quase) mortas», «Esta língua nossa» e «Dues lhénguas».
5. Um registo final, e de pesar, sobre o falecimento da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís (1922 – 2019). Nascida a 15 de outubro de 1922, em Vila Meã (Amarante), deixa uma vasta e diversificada obra (cf. aqui, aqui e aqui), reconhecida e aclamada no mundo inteiro. Estreou-se em 1948 com a novela Mundo Fechado, mas foi o romance A Sibila (1954) que marcou a sua maturidade enquanto escritora, que lhe trouxe o sucesso e o reconhecimento. O realizador Manuel de Oliveira, amigo pessoal da escritora, adaptou diversas das suas obras ao cinema, sendo Vale Abraão (1993) uma das produções mais conhecidas. Em 2004, o júri que a distinguiu, por unanimidade, Prémio Camões desse ano, considerou que a sua obra traduzia «a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável, contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
1. As línguas têm regras estáveis e formas fixas, mas também flexibilidade para a construção de frases e enunciados se adaptar ao contexto de comunicação, ou às necessidades mentais e afetivas da expressão. Por exemplo, uma fórmula de agradecimento típica do centro de Portugal, bem haja, varia em pessoa e em número e passa a bem hajas, quando se destina à pessoa que se trata por tu. A descrição das línguas pode igualmente dar conta da sua variação no espaço, revelando características localmente confinadas, como acontece com a pronúncia de certas vogais nasais na metade norte de Portugal. E o contacto entre línguas diferentes ocasiona interferências, situação de alguma forma ilustrada pelo nome comunalidade, que acusa a influência semântica do inglês. No fundo, acabamos por testar teorias e instrumentos da análise gramatical no confronto com a realidade de construções e frases como «artista de cinema» ou «ela saberá atuar, a menos que haja algum percalço». Tais são os tópicos abordados na presente atualização do Consultório.
2. Sendo o português uma língua pluricêntrica, isto é, um idioma cuja unidade abarca internacionalmente certa diversidade, impõe-se a colaboração e a convergência de usos e normas no seio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). No âmbito da atividade do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) – criado em 2002 para a gestão comum da língua portuguesa –, realizou-se na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, de 27 a 28 de maio último, a XIV Reunião Ordinária do Conselho Científico (CC) deste organismo da CPLP, na qual foram apreciados o relatório de atividades de 2018, algumas propostas de um plano para 2020, bem como as contas e o orçamento do próprio IILP. Foram ainda analisados novos projetos com ênfase na área de capacitação de professores e foi discutido o papel dos Observadores Associados da CPLP nas ações de promoção e difusão da língua portuguesa. A rubrica Notícias transcreve na íntegra o comunicado final deste encontro, documento em que se salienta, com interesse para a aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em toda a CPLP, o seguinte ponto: «[O Conselho Científico do IILP solicitou] A definição de mecanismos a adotar pelos Estados-membros para a entrega e a validação urgentes dos VON em falta, com vista a integrar o Vocabulário Ortográfico Comum (VOC), permitindo assim a conclusão desse projeto essencial para a CPLP.»
3. Maria Henriqueta Costa Campos (1929-2004), linguista e professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, sempre soube apontar caminhos para uma investigação aliciante e frutuosa, da riqueza de dados facultados por qualquer uso da língua, da coloquialidade à expressão literária, com vista à sua modelização teórica (sobre a sua vida e obra, ler também aqui). No ano em que comemoraria 90 anos, o Grupo Gramática e Texto do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa presta-lhe homenagem com a realização em 11 de julho de 2019 de uma oficina subordinada ao tema 'Linguística & Texto Literário' e intitulada "Sei um ninho"*. Os interessados em apresentar as suas comunicações a este encontro devem enviar até 20 de junho p.f. os respetivos resumos (200/300) à organização (contactos: claranc@fcsh.unl.pt ou ht.valentim@fcsh.unl.pt).
* Trata-se do primeiro verso do poema Segredo, do poeta português Miguel Torga (1907-1995).
4. Dois registos no rasto da atualidade :
– o Rally de Portugal, uma prova com grandes tradições com impacto também lexical (consultar, por exemplo, as respostas "Rali" e "O piloto/a condutora");
– o Dia Mundial da Criança, assinalado em 1 de junho (sobre o tema, ler "Crianças em risco, e não 'de risco'", "Crianças-soldado, crianças-soldados", "'Sobrevivência infantil' ou 'das crianças'?" "As 'crianças-índigo'" e Ensinar o mais-que-perfeito e o modo conjuntivo às crianças").
Na imagem, Meninas, pintura, óleo sobre tela, 1928. Sarah Afonso, no Museu do Chiado, Museu Nacional de Arte Contemporânea.
5. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa recorde-se que o Língua de Todos de sexta-feira, 1 de junho (transmitido pela RDP África, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*) entrevista a diretora, em Portugal, da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), Ana Paula Laborinho a respeito do projeto de mobilidade académica Paulo Freire-PALOP. No Páginas de Português de domingo, 2 de junho (emitido na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 8 de junho, às 15h3*), convida-se o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, para falar da digitalização dos acervos das bibliotecas dos Grémios Literários de Belém do Pará, do Recife e de Salvador da Bahia.
* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.
1. Numa altura em que a referência aos vários países europeus é constante na comunicação social, não menos frequente é a utilização de termos que designam as nacionalidades. São estas as palavras que Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, explora, procurando significados que vão muito além da significação de base equivalente a "ser habitante de..." e que denunciam perceções linguísticas associadas a uma visão particular de nacionalidades e etnias, num apontamento disponível na rubrica O Nosso Idioma.
2. No rescaldo das eleições para o Parlamento Europeu, cujos resultados foram conhecidos a 26 de maio, Sara Mourato, colaboradora do Ciberdúvidas, apresenta, em jeito de glossário, uma listagem de termos mais frequentes neste contexto eleitoral, assinalando as formas corretas a nível ortográfico e da sua pluralização, bem como a nomenclatura institucional adequada. Um trabalho de síntese que se justifica dadas as hesitações que continuam a associar-se ao uso de muitas destas palavras no espaço público. Ainda a atualidade da eleição dos eurodeputados para o Parlamento Europeu leva Marco Neves, tradutor e professor universitário, a refletir sobre as 24 línguas oficiais da União Europeia, cuja listagem se pode recuperar a partir de uma análise das siglas presentes nas notas de euro (notas de 50, 100 e 200), num artigo disponível no blogue do autor, Certas Palavras.
3. O efeito dos resultados das eleições europeias também se fez sentir em Portugal, sendo notórias as movimentações para reestruturar o mapa político. Alguns analistas anunciam já o desaparecimento da "geringonça", nome dado à coligação dos partidos de esquerda na atual legislatura, e adivinham a criação de uma "PANgonça", ou seja, uma possível aliança entre o partido socialista e o PAN (partidos das pessoas, dos animais e da natureza). O neologismo "PANgonça" é mais uma curiosa criação emanada da realidade política, que, neste caso, resulta da associação do acrónimo PAN a "gonça", elemento truncado de geringonça, com o qual se procura manter a ideia de aliança ocasional e estranha (termo utilizado num artigo do semanário Expresso).
4. No Consultório, vamos até Kosrae, uma ilha e um dos quatro estados da Micronésia, no Oceano Pacífico, para saber como se pronuncia esta palavra em português. Nesta nova atualização, encontramos também resposta a questões sobre a origem da palavra sebenta, sobre a função sintática do pronome numa frase como «Era-lhe fiel» e sobre a classificação do verbo dar na expressão «dar adeus à Libertadores». Ainda dúvidas sobre a correção da frase «Nós era que apresentaríamos o trabalho» e sobre o uso do superlativo absoluto sintético em formas do particípio passado.
5. A Organização Mundial de Saúde incluiu na lista de doenças o burnout – termo inglês que tem como equivalente, em português, «esgotamento profissional».
Cf. Depois do ‘burnout’, a sisifemia invade empresas e atormenta trabalhadores
6. Nas notícias relacionadas com a língua portuguesa e com os países lusófonos, destacamos uma feira, uma comemoração e um congresso:
— A 89.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, com início no presente dia 29/05, prolongando-se até dia 16 de junho, no Parque Eduardo VII;
Um acontecimento como uma feira do livro convida a reler alguns textos do Ciberdúvidas relacionados com o tema («Os livros digitais» e «No tempo do livro») e a recordar algumas respostas relacionadas com livros («O mesmo livro», «O aumentativo de livro», «"Publicação de livro" vs. "lançamento de livro"», «A preposição de na oração "O livro é de José"» e «Livro de horas»).
— A conferência científica internacional que assinala 100 anos da validação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, com as observações de um eclipse total do Sol no Brasil e na ilha do Príncipe, que era à época uma colónia portuguesa;
Esta efeméride justifica que recordemos aqui algumas respostas relacionadas com os temas que convoca: «Metateoria e teoria», «Espaço e período (de tempo)», «Os naturais da ilha do Príncipe (São Tomé e Príncipe)», «Português de São Tomé» e o programa de rádio alusivo ao ensino da língua portuguesa em São Tomé e Príncipe (Língua de Todos).
— O congresso internacional “Macau e a Língua Portuguesa: novas pontes a Oriente” (MacLP2019), que terá lugar nos dias 27, 28 e 29 de novembro de 2019, sob organização do Instituto Politécnico de Macau e do Instituto Português do Oriente, e que se centrará na reflexão e na partilha de investigação inovadora e de qualidade sobre a língua portuguesa nos domínios da Linguística, da Literatura e Cultura, da Pedagogia e Didática, bem como da tradução e Interpretação.
7. Temas dos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa da presente semana:
— No Língua de Todos – transmitido na sexta-feira, 1 de junho, na RDP África, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15* – passa uma entrevista com a diretora da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), em Portugal, Ana Paula Laborinho. Em foco o projeto de mobilidade académica Paulo Freire-PALOP (que, tal como o programa europeu Erasmus, vai permitir a circulação de estudantes entre instituições de ensino superior dos PALOP e portuguesas);
— No Páginas de Português – emitido na Antena 2, no domingo, 2 de junho às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, dia 8 de junho, às 15h3* – o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, conta como está a ser feita a digitalização dos acervos das bibliotecas dos Grémios Literários de Belém do Pará, do Recife e de Salvador da Bahia.
* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.
1. Quando se caracteriza a ordem de palavras do português, costuma falar-se na ordem SVO, que é o mesmo que dizer que numa frase da nossa língua aparece primeiro o sujeito, depois o verbo e, eventualmente, os seus complementos e modificadores: «Ela apresentou a sua demissão na sexta-feira». Contudo, nem sempre é assim, pois sabemos que a inversão do sujeito é frequente nas interrogações – «Apresentou ela a sua demissão na sexta-feira?» – e até em certas declarações, como se pode confirmar no consultório, numa nova resposta que sistematiza os casos de sujeito pós-verbal. Nesta atualização, podemos ainda compreender o uso contrastivo de sim, tal como ocorre no seguinte exemplo: «Ela demitiu-se não na quinta-feira, mas, sim, na sexta.» Já agora, a propósito de demissões e da conturbada saída do Reino Unido da União Europeia, uma outra resposta alude à da primeira-ministra britânica Theresa May em 24/05/2019, cuja saída depressa ficou conhecida como Mayexit (literalmente, «saída de May»), mais uma formação neológica anglo-saxónica de que os media em português se apropriaram. E, acumulando-se as nuvens no horizonte europeu, comenta-se a etimologia de nuvem e neblina.
Na imagem, Theresa May entra no n.º 10 de Downing Street em Londres, após o discurso em que anunciou a sua demissão (foto extraída do vídeo difundido pelo canal da Deutsche Welle News no Youtube).
2. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se um artigo que vai ao encontro de dúvidas levantadas pela escrita de topónimos: como estabilizar, por exemplo, a adaptação do nome geopolítico Sri Lanka ao português? Ou como evitar a excessiva variação na grafia de tantos topónimos da Angola, de Moçambique ou da Guiné-Bissau? Não basta o conhecimento da língua, é também preciso consenso e intervenção institucional ao nível internacional, num processo em que Portugal não tem estado nada ativo, como revela de modo muito crítico a linguista Margarita Correia, investigadora do CELGA-ILTEC (Universidade de Coimbra) no texto que assinou em 25/05/2019 no Diário de Notícias.
3. Continuando a comentar questões normativas do português, é tópico mais pacífico o da ortografia das palavras esdrúxulas, isto é, das proparoxítonas – por exemplo, pacífico, tópico, ou até toponímia. De tal maneira, que é caso para um texto se intitular "Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto", como faz o arquiteto e escritor brasileiro Eduardo Affonso na edição digital do Jornal da Cidade (artigo publicado em 25/05/2018).
4. Entre notícias sobre a aprendizagem da língua portuguesa como objeto de estudo, saliente-se a 12.ª edição da International Association for Research in L1 Education (ARLE – Associação Internacional para a Investigação em Ensino de L1), que, em 2019, tem organização do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e decorre de 24 a 28 de junho nas instalações da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, também da UNL. Este evento, que conta com a presença de linguistas de renome internacional (ver a lista de conferencistas convidados), dedica neste ano especial atenção às questões do ensino-aprendizagem do português como língua materna (ler Notícias; mais informações aqui).
5. Duas últimas notas com atualidade:
– uma sobre a notícia publicada pelo jornal digital Plataforma em 24/05/2019, registando as debilidades da Clínica Tyanyou China & Angola Hospital, em Huíla, Angola, entre elas, a de um médico chinês precisar de recorrer à tradução por telemóvel, do mandarim para o português, para atender os seus pacientes;
– outra sobre o Festival de Cannes, que, na edição de 2019 da sua secção paralela Un certain regard (Um certo olhar), premiou um filme em língua portuguesa, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, realizado por Karim Aïnouz. Também um filme rodado na Galiza ganhou o prémio do júri de Un certain regard: trata-se de O que arde, do realizador franco-galego Oliver Laxe, que conseguiu o facto notável de, pela primeira vez, uma obra cinematográfica falada em galego ter vencido um certame em Cannes.
1. As eleições para o Parlamento Europeu, que decorrem nos 28 Estados-membros da União Europeia de 23 a 26 de maio, trouxeram para a atualidade mediática vocábulos ligados a tendências políticas ou à ação política. A construção da União Europeia e das vicissitudes também linguísticas que esta organização tem procurado ultrapassar são aspetos que justificam a (re)leitura de alguns artigos e respostas disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas: "União Europeia"; "Gentílicos usados pelos serviços da União Europeia"; "Código de redação da União Europeia"; "O domínio alemão através do inglês"; "O inglês, língua oficial da União Europeia, mesmo depois do Brexit"; "Que ordem linguística para a nova União europeia?"; "Brexit vs. Bremain, os dois anglicismos marcantes do referendo na Grã-Bretanha, pró e anti-União Europeia"; "Estatuto do português em perigo na União Europeia"; "Política linguística da União Europeia em causa"; "Afonso Cruz vencedor do Prémio da União Europeia de Literatura 2012"; "Qual o lugar da língua portuguesa na União Europeia alargada?"; "A língua portuguesa na União Europeia alargada"; "Uma crise europeia com consequências linguísticas?"; "A difusão do português na União Europeia no Páginas de Português"; "Segundo um estudo comunitário, português é 'língua zero' na União Europeia".
2. Uma nova greve pelo clima tem lugar neste dia, 24 de maio, em pelo menos 111 países, incluindo Portugal, uma ação que mobilizará mais de um milhão de estudantes em manifestações em defesa do planeta (notícias aqui e aqui) e que começa a produzir alguns efeitos, inclusive na linguagem. Referimos já aqui a decisão do jornal britânico The Guardian de substituir a expressão "climate change" ("alterações climáticas") por "climate emergency" ("emergência climática"). Esta greve traz para o discurso quotidiano expressões como combustíveis fósseis, energias renováveis, aquecimento global, emissões poluentes, plástico, extermínio de espécies, que correspondem a preocupações que estarão na ordem do dia, acompanhadas da expressão «Planeta B», insistentemente repetida pela jovem ativista sueca Greta Thunberg, inspiradora das manifestações mundiais, que defende que «não há Planeta B».
A atualidade desta problemática leva a que recordemos algumas respostas / textos relacionados com léxico da área: ««Alterações climáticas» ou «mudanças climáticas»?», «Climático», «Do clima à ortografia», «Condições edafoclimáticas» e «O verbo estar com expressões relativas a temperatura».
3. A presente atualização do Consultório traz questões relacionadas com a existência e significado dos vocábulos espanéfico, espernético e espernéfico, com a conjugação do verbo parecer na 1.ª e 2.ª pessoas, com o uso de interjeições num poema do Almeida Garrett e com a possibilidade de introdução do grau comparativo de igualdade por como, quanto e quão. E ainda uma resposta que trata o valor da conjunção pois numa frase específica e a identificação da função sintática desempenhada por «à astronomia» na frase «Dedico-me à astronomia».
4. Entre as notícias relacionadas com a língua, assinalem-se:
– a atribuição de 21 bolsas a estudantes de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) pela Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), projeto enquadrado num programa de mobilidade, similar ao projeto europeu Erasmus, que vai permitir “a circulação de estudantes entre instituições do ensino superior e portuguesas, com reconhecimento curricular pelas escolas de origem” (notícia completa aqui);
– o trabalho de investigação que o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (CLUNL) está a levar a cabo, pedindo, para o efeito, a participação falantes nativos de português europeu, espanhol, italiano, inglês e alemão (ler Notícias);
– a apresentação, até 16 de junho 2019 (1.ª fase), de candidaturas ao curso de Pós-Graduação em Ensino de Português Língua Não Materna (em regime de e-learning), na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (ler Notícias).
5. Nesta semana, o programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, dedica a sua atenção à Gramática para Todos – o Português na Ponta da Língua, a mais recente obra de Marco Neves, professor universitário e tradutor, numa entrevista com o autor (25 de maio, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*). O programa Páginas de Português desta semana, na Antena 2, convida José António Souto Cabo, professor titular de Língua Portuguesa da Universidade de Santiago de Compostela, que virá falar sobre o documento que este investigador descobriu na Torre do Tombo, o Pacto de Irmãos, considerado como um dos mais antigos em galego-português, datado entre 1173 e 1175 e ainda sobre o galego-português, a sua origem e o modo como modelou a sociedade medieval de Portugal e da Galiza (no domingo, 26/05/2019, às 12h30*; com repetição no sábado seguinte, dia 1 de junho, às 15h30*).
. * Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.
1. «Ele chegou a casa e sentou-se no sofá e descansou um pouco e...» – não haverá nesta frase excesso de ocorrências da palavra e? Uma nova resposta do Consultório define em que condições se pode repetir esta conjunção. Outras questões também fazem parte da atualização deste dia: como analisar a maneira de referir a ação associada à frase «meti-me a viajar»? E como descrever a apreciação expressa em «valeu a pena lutar»? Que diferença gramatical existe entre tornar e tornar-se? E porque será que se diz «optei pelo curso de Letras», mas não «o curso de Letras foi optado»?
2. Na rubrica Pelourinho, a propósito da legendagem de uma série de televisão francesa, intitulada Philharmonie (em português, Orquestra), um apontamento de Sara Mourato recorda que, para designar uma mulher que dirige uma orquestra, um coro ou uma banda, se usa o substantivo maestrina, e não maestro.
3. «Fará sentido pôr em causa o Acordo Ortográfico (AO), dez anos depois de ele estar em vigor, de os alunos terem terminado dois ciclos de ensino e não conhecerem outra ortografia [...]?» – pergunta a professora Lúcia Vaz Pedro num texto que passa a estar disponível na rubrica Acordo Ortográfico e que o Jornal de Notícias publicou numa versão mais curta em 21/05/2019. «Demagogia, populismo e mesmo fake news» tinham também de chegar à política da língua» – escreve o jornalista português Henrique Monteiro, no artigo que assinou no semanário Expresso de 18/05/2019, que fica transcrito igualmente na rubrica Acordo Ortográfico. Em causa estão as declarações do jornalista e escritor brasileiro Nelson Valente, que, tecendo críticas ao AO, considera ter chegado o momento de o português brasileiro «ser reconhecido como uma nova língua».
4. Uma perspetiva diferente, a da unidade na diversidade, é a de jornalistas brasileiros da Folha de S. Paulo, que percorreram Portugal e Moçambique, além de diferentes regiões do Brasil, para mostrar a riqueza das expressões da língua portuguesa, a sétima mais falada do mundo. O nosso idioma reproduz, com a devida vénia, um dos vídeos desse trabalho.
5. Que o português falado e escrito no Brasil é a mesma língua usada em África ou em Portugal continua a ser também a visão prevalecente, como comprova o Pémio Camões de 2019, que, na sua edição de 2019, acaba de ser atribuído ao conhecidíssimo compositor e escritor brasileiro Chico Buarque de Hollanda. Entre as muitas reações à notícia, registe-se a de outro escritor e jornalista, também brasileiro, Sérgio Rodrigues, que não se faz rogado no elogio feito no jornal Folha de São Paulo, em 21/05/2019: «[...] a qualidade superior do cancioneiro de Chico vai além da capacidade que ele demonstra de manejar, como se os tivesse inventado, basicamente todos os recursos disponíveis no patrimônio acumulado pelos vates desde Homero».
6. No campo dos conteúdos digitais promotores da língua portuguesa, impõe-se mencionar o recente lançamento do Portal do Português da Universidade do Porto (UP), uma plataforma da iniciativa da Pró-Reitoria para a Promoção da Língua Portuguesa da UP, a qual «visa promover a importância do português como uma língua global e uma língua de produção e transmissão de conhecimento», bem como «difundir o [seu] uso [....] em contexto académico». Uma chamada de atenção, ainda, para o jornal eletrónico Plataforma, que mantém redações em Lisboa e Macau e que, conforme se declara no seu estatuto editorial, se caracteriza como «um órgão de comunicação social generalista onde se destaca a atualidade dos países e das regiões onde se fala a língua portuguesa».
7. Sobre os programas que o Ciberdúvidas produz para a rádio pública portuguesa:
– A propósito da recente publicação da obra Gramática para Todos – o Português na Ponta da Língua, do professor universitário e tradutor Marco Neves, o programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, passa uma entrevista com este autor e divulgador de temas da língua portuguesa (no dia 25 de maio, depois do noticiário das 13h00*; com repetição no dia seguinte, pelas 9h15*).
– No Páginas de Português desta semana, na Antena 2 (no domingo, 26/05/2019, às 12h30*; com repetição no sábado seguinte, dia 1 de junho, às 15h30*)., conversa-se com José António Souto Cabo, professor titular de Língua Portuguesa da Universidade de Santiago de Compostela, sobre o documento que este investigador descobriu na Torre do Tombo, o Pacto de Irmãos, considerado como um dos mais antigos em galego-português, datado entre 1173 e 1175. Este texto é o legado de uma época em que se tinha formado no território norte-ocidental da península ibérica uma língua romance derivada do latim, num processo de evolução que durou séculos. O especialista reflete sobre o galego-português, a sua origem e o modo como modelou a sociedade medieval de Portugal e da Galiza.
* Os programas Língua de Todos e Páginas de Português ficam disponíveis, posteriormente, aqui e aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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