1. A atualidade desportiva, sobretudo a do futebol, é pródiga em siglas e abreviaturas – PSG e Man Utd são exemplos –, e o que se lê em Portugal não constitui exceção. No consultório, uma das novas questões em linha aborda a escrita das siglas a que se reduzem certos nomes de clubes de futebol: neste tipo de abreviação, deve-se ou não empregar pontos? Noutra vertente linguística, em dúvida está também a formação de palavras, a sua compatibilidade com outras, a sua flexão: existe o adjetivo horizontino, no sentido de «relativo ao horizonte»? Diz-se «esforçar-se para» ou «esforçar-se por»? E como se faz o plural de próton, nêutron e elétron? Esta atualização traz ainda um problema de análise linguística: que função sintática desempenhará «a tudo» na frase «prestam atenção a tudo»? Finalmente, uma pergunta já relacionada com o estilo do discurso: um «ilustre desconhecido» será assim tão ilustre?
2. Se uma avó portuguesa se queixar de que só ouve frioleiras da boca dos jovens, será que a neta percebeu exatamente o que ela quis dizer? A propósito da preocupação com o futuro do património lexical português e de como os mais jovens parecem estar dele alheados, a rubrica O nosso idioma transcreve com a devida vénia uma crónica que a editora e escritora Maria do Rosário Pedreira publicou em 5 de outubro de 2019 no jornal português Diário de Notícias.
3. O saber falar em público, que parece hoje uma arte em decadência, tem associada a preocupação com um modelo de pronúncia (ortoépia), tida como melhor que as outras e, portanto, correta. Em Portugal, é muito forte essa valorização, nem sempre consciente, que nos leva a achar ridículos os sotaques ou pronúncias regionais. Daí o ar desajeitado com que se retratam as personagens que falam "axim" (isto é, que pronunciam o chamado s beirão), ou que reduzem o ditongo ei a uma vogal ("lete", em vez de leite) e dizem «na sei», em lugar de «não sei». Ao encontro desta constatação, o tradutor e professor universitário Marco Neves lança mais um desafio às nossas crenças linguísticas que merece aqui registo: trata-se de um artigo publicado em 20 de outubro de 2019 na plataforma digital Sapo24, no qual se reflete sobre uma comparação entre o parlamento britânico e o parlamento português. No primeiro, os deputados, digladiando-se no calor da discussão do Brexit, fazem gala da sua pronúncia regional; em Portugal, pelo contrário, todos disfarçam a diversidade fonética herdada, nivelando o português pela modalidade urbana e mediática historicamente baseada na pronúncia culta do eixo Coimbra-Lisboa. Porquê estas atitudes linguísticas contrastadas?
Sobre a diversidade de pronúncias regionais e a sua relação com a norma-padrão, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "O s beirão"; "A pronúncia do ditongo ei"; "Betacismo"; "O ditongo ou"; "Sobre sotaques e regionalismos"; "Sobre a aceitabilidade das pronúncias regionais em Portugal"; "Descasos do dialeto lisboeta"; "O lisboetês, o coimbrês e outros sotaques"; "Crónica do falar lisboetês"; "Crónica do falar lisboetês (bis)"; "Contra o sotaque único"; "Dicção, nome-padrão e regionalismos"; "Boa dicção e pronúncia regional"; "O novo acordo ortográfico e a variação regional"; "Pronúncia-padrão"; "Ainda a pronúncia-padrão"; "Pronúncia afetada, regionalismos e erros".
4. Das notícias em que a língua portuguesa é tema, realce para:
– o protocolo de cooperação sobre o ensino da língua portuguesa na ilha de Jersey, que o presidente do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos, e o chefe do governo de Jersey, John Le Fondré, assinaram no dia 21 de outubro de 2019, na embaixada de Portugal em Londres;
– a conferência Presente-Futuro, O Elogio da Leitura – Plano Nacional de Leitura 2027, que se realiza em 24 de outubro p.f., na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. No encontro participam Teresa Calçada (comissário do Plano Nacional de Leitura), João Luís Lisboa (professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), Maria de Lurdes Rodrigues (reitora do ISCTE-IUL), Isabel Alçada (ex-ministra da Educação), entre outros (mais informação aqui).
5. A respeito dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, têm destaque os seguintes temas:
– a homenagem prestada a Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro na primeira reunião do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), no programa Língua de Todos*, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, 25/10/2019, às 13h20;
– Comunicar com Sucesso, um novo livro da professora e consultora linguística Sandra Duarte Tavares, no programa Páginas de Português*, emitido pela Antena 2, no domingo, 27/10/2019.
* Estes programas são repetidos: o Língua de Todos, no sábado, dia 26 de outubro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 2 de novembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
6. No magazine televisivo Cuidado com a Língua!, uma aula de costura motiva uma incursão pelo campo lexical da moda, passando em revista a evolução de palavras como agulha ou costurar e descobrindo o sentido da palavra pesponto ou da expressão «ter para os alfinetes». Estes e outros assuntos serão tratados no novo programa do Cuidado com a Língua!, emitido na RTP1, quarta-feira, dia 23 de outubro, depois das 21h00* (mais informações aqui).
* Hora oficial de Portugal continental, podendo o programa ser visto, posteriormente, via RTP Play.
1. Na nova abertura do Consultório, encontramos a palavra ferroviário, que designa uma profissão ligada aos caminhos de ferro. Mas como se pronuncia? O modismo «é suposto» tem sido criticado e têm sido apontadas alternativas ao seu uso. No entanto, quando supor é usado numa frase como sinónimo de considerar deve flexionar no singular ou no plural? Também uma questão relacionada com a grafia de Centro-Serra (Brasil), segundo o Acordo Ortográfico de 90. Podemos ainda encontrar respostas a questões relacionadas com a diferença entre as expressões «da parte da manhã» e «na parte da manhã», a correção das formas onde e aonde numa frase específica e a diferença entre os valores aspetuais iterativo e habitual.
A propósito do evitável modismo «é suposto», recordamos alguns esclarecimentos divulgados no Ciberdúvidas: «O dispensável estrangeirismo «é suposto»», «Ainda o modismo: É suposto...», «A praga do «é suposto»».
Primeira imagem: imagem do Museu Nacional Ferroviário de Lousado
2. No magazine televisivo Cuidado com a Língua!, uma aula de costura motiva uma incursão pelo campo lexical da moda, passando em revista a evolução de palavras como agulha ou costurar e descobrindo o sentido da palavra pesponto ou da expressão «ter para os alfinetes». Estes e outros assuntos serão tratados no novo programa do Cuidado com a Língua!, emitido na RTP1, quarta-feira, dia 23 de outubro, depois das 21h00* (mais informações aqui).
* * Hora oficial de Portugal continental, podendo o programa ser visto, posteriormente, via RTP Play.
3. No Reino Unido continua a saga da tentativa de saída da União Europeia, tendo o Parlamento britânico forçado o primeiro-ministro Boris Jonhson a enviar ao Parlamento Europeu um pedido de adiamento. No entanto, o Primeiro-ministro continua a tentar aprovar as condições de saída a 31 de outubro (ver notícia). As notícias relacionadas com este assunto trazem à atualidade linguística termos ingleses como o muito conhecido "Brexit" (amálgama de «British exit»), relativamente ao qual recordamos que, sendo uma palavra estrangeira, deve ser grafada em itálico ou entre aspas, podendo manter-se a maiúscula. Quanto à forma de pronunciar a palavra, embora o dicionário da Porto Editora só preveja "brégzit", refira-se que muitos falantes têm optado pela pronúncia "bréksit", que é também aceitável (para mais formações sobre a questão da pronúncia de "Brexit", leia-se a nota deixada aqui).
A propósito de questões linguísticas relacionadas com o tema, recordemos alguns artigos divulgados no Ciberdúvidas: "Brexit vs. Bremain", "A Torre de Babel da União Europeia, sem O reino Unido", "O inglês, língua oficial da União Europeia, mesmo depois do Brexit?", "As línguas na Europa: o que mudará com o Brexit?", "Brexit e as patentes: uma oportunidade para Portugal".
4. Noutro ponto do globo, a ofensiva contra o povo curdo na Síria tem também ocupado as páginas da comunicação social (notícia). Cabe aqui recordar que a língua curda é uma das línguas oficiais do Iraque, que é falada por cerca de 25 milhões de pessoas, principalmente no Médio Oriente, pelas comunidades curdas do Curdistão - correspondente a parte do Irão, Iraque, Síria e Turquia - e também do Líbano, Arménia e Geórgia. Esta língua tem sido ameaçada pela sua proibição na Síria e pela punição pelo seu uso na Turquia.
5. A atualidade passa também pela Catalunha e, em particular pela sua capital, Barcelona, a «cidade angustiada» (expressão utilizada pelo jornal espanhol El Periódico), que tem sido palco de confrontos mais ou menos violentos entre manifestantes e forças da ordem, na sequência dos protestos contra a condenação pelo Tribunal Supremo espanhol dos 12 dirigentes políticos. O Ciberdúvidas tem vindo a registar diversos apontamentos relacionados com a Catalunha, entre os quais recordamos «O significado de estamento», «Orchata», «O apelido Cataluna» e a notícia de 2008 que dava conta que a língua portuguesa tem «cada vez mais adeptos na Catalunha».
6. Na atualidade relacionada com a língua, deixamos os seguintes destaques:
— O lançamento da obra Assim nasceu uma língua, de Fernando Venâncio, com a chancela da editora Guerra & Paz;
— A solicitação de entrada na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) feita pelos Estados Unidos (notícia);
— Um projeto de ensino do português em França recebeu mais de 100 candidaturas (notícia).
1. Eis uma nova pergunta cujo tópico é exatamente o monossílabo à cabeça desta mesma sequência introdutória: como se analisa um enunciado começado pelo advérbio eis? Mas há mais questões: como se usam corretamente as construções de particípio, do tipo «chegado a casa, o João fez o jantar»? E que dizer do emprego de julgar numa instrução como «julgue as seguintes opções como verdadeiras ou falsas»? Os temas de sintaxe estão, portanto, em maioria na presente atualização do Consultório, ainda com espaço para falar do verbo humildar, equivalente a humilhar e ser humilde, bem como para dar atenção ao gentílico correspondente a Terras de Bouro, um topónimo do norte de Portugal.
2. Na Montra de livros, apresenta-se um livro publicado há alguns anos (a edição data de 2013), mas que justifica agora referência, dada a sua clareza e utilidade. Trata-se de Escrita em dia, editada pelo Clube do Autor e da autoria da escritora Margarida Fonseca Santos, uma obra que visa «desbloquear e conduzir» quem se proponha escrever pelos mais variados motivos.
3. A língua portuguesa foi levada no século XVI por comerciantes, militares, aventureiros para as mais diversas partes do mundo. Além da sua presença em diferentes continentes e do contributo que deu para a génese de várias línguas crioulas, conta-se o testemunho lexical da sua influência noutras línguas, na América, na África, na Ásia ou na Oceânia. É o caso da Indonésia, em cujo idioma oficial, o bahasa, as palavras bandeira, boneca e Natal são, respetivamente, bendera, boneka e... Natal. Na rubrica Diversidades, apresenta-se um interessante vídeo que documenta estas coincidências vocabulares num jogo com dois participantes, um falante de português e uma falante de bahasa. Trata-se de um registo do SBS National Language Competition, concurso organizado pelo canal de rádio australiano SBS Radio para incentivar e promover o gosto pelas línguas estrangeiras na Austrália (na imagem, mapa anónimo datável de 1550, que representa o Oceano Índico e o sueste asiático; fonte: Wikipédia).
4. Vem, portanto, a propósito assinalar aqui a criação do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que passa a ser comemorado anualmente a 5 de maio, por decisão do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), reunido em 17/10/2019. É o culminar de um processo que levou à aprovação por unanimidade de uma proposta apresentada pelos países da CPLP*, com apoio da Argentina, do Chile, do Uruguai, da Geórgia, do Luxemburgo e outros países. Entre os argumentos justificativos da comemoração conta-se o facto de o português estar entre as línguas mais faladas do hemisfério sul e historicamente constituir a que marca a primeira vaga de globalização. Para António Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, o endosso por esta organização da nova data comemorativa (ver mensagem da Presidência da República Portuguesa) terá grande impacto: «[e]ntra nos calendários internacionais, o que quer dizer que ganha uma projeção do ponto de vista internacional, podendo ter consequências nos mais diversos planos»; e abre caminho para o português se tornar língua de trabalho na ONU (Organização das Nações Unidas), a par das que já têm esse estatuto, a saber, o inglês, o francês, o chinês, o espanhol, o árabe e o russo (ler notícia da agência Lusa citada pelo Público, em 18/10/2019).
* Há 10 anos que a data já era assinallada como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP.
5. Falando de línguas, acredita-se que os seus limites geográficos coincidem com fronteiras políticas linearmente contínuas e estáveis. Um exame atento das cartas geográficas e a investigação histórica depressa levam ao desengano, como acontece mesmo em Portugal, que não reconhece a integração em Espanha de um território onde se conserva o português, Olivença. Esta e outras curiosidades sobre as fronteiras como espaços de contacto e hibridação linguística dão o mote para mais um inspirado apontamento do tradutor e professor universitário Marco Neves, que o disponibiliza no blogue Certas Palavras (publicação de 17/10/2019).
6. Quanto aos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: a situação da língua portuguesa em Timor-Leste é tema central no Língua de Todos**, emitido na RDP África, na sexta-feira, dia 18 de outubro, às 13h20; no programa Páginas de Português** (na Antena 2, no domingo, 20 de outubro, às 12h30), dá-se relevo à homenagem prestada nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, no Porto, a Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro no contexto da 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP). Mais informação nas Notícias.
** Língua de Todos, repetido no dia seguinte, sábado, dia 19 de outubro, depois do noticiário das 09h00. Páginas de Português também reptido no sábado seguinte, dia 25 de outubro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
1. Que há de errado com a frase «a medida que, causou mais impacto foi anunciada no final»? A vírgula, que está mal colocada... Para sabermos porquê, a rubrica O nosso idioma regressa ao tema das vírgulas, ilustrando-o com seis casos de uso incorreto, explicados e corrigidos num utilíssimo apontamento da autoria de Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas.
2. O Pelourinho também se centra noutra incorreção, esta devida ao deficiente conhecimento da terminologia mais básica da descrição gramatical. A que classe pertence a palavra homem? Pois claro que é um... Mas o melhor é ler o esclarecimento de Sara Mourato, a propósito de um erro de classificação ocorrido num programa televisivo.
3. São cinco as novas respostas em linha no Consultório: porque será que, em Lisboa, o Museu de Marinha não se chama «Museu da Marinha»? Como é que se formou o adjetivo inadiável? A palavra jóquer, forma aportuguesada do inglês joker, tem plural? Desta atualização fazem parte ainda duas respostas sobre tópicos mais especializados: como se classifica a frase «a cor da parede é bonita» quanto à modalidade? E como analisar uma construção proporcional que figura num texto do grande escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908)?
4. A elaboração da língua portuguesa teve, a partir de finais do século XVII, também que ver com um crescente alheamento relativamente à cultura de outras regiões da Península Ibérica, mesmo as mais próximas. Contudo, no nosso tempo, enquanto os acontecimentos na Catalunha* são natural motivo de preocupação, manifesta-se a vontade de recuperar laços que pareciam esquecidos, como é o caso da relação com a Galiza e o galego. Justifica-se, portanto, referir aqui a entrevista que o tradutor, linguista e professor universitário Marco Neves deu em 15/10/2019 ao programa de rádio A Rede Social, conduzido pelo jornalista Fernando Alves, na qual se dá relevo a O Galego e o Português são a mesma Língua?, uma das mais recentes publicações daquele autor. Explicando os motivos – a "urgência" – que o levaram a escrever este livro, Marco Neves menciona a «noção muito precisa de que a História da Língua Portuguesa tem de ser contada com a Galiza como ponto muito importante» e a inquietante perceção de «o galego estar em risco de desaparecer» (toda a entrevista aqui).
* A propósito da crise catalã e dos seus aspetos também linguísticos, ler "E se 1640 tivesse saído ao contrário?", artigo do historiador e político Rui Tavares na edição de 16/10/2019 do jornal Público.
5. Na presente semana, são temas em destaque nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa:
– a situação da língua portuguesa em Timor-Leste no Língua de Todos*, emitido na RDP África, na sexta-feira, dia 18 de outubro, às 13h20;
– e no programa Páginas de Português* (na Antena 2, no domingo, 20 de outubro, às 12h30), a homenagem feita a Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro na 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa COLP), que se realizou nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, no Porto.
Mais informação nas Notícias.
* O Língua de Todos é repetido no dia seguinte, sábado, dia 19 de outubro, depois do noticiário das 09h00. O Páginas de Português também tem repetição no sábado seguinte, dia 25 de outubro, às 15h30. A hora é a oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
6. Um registo final para o 23.º programa da 10.ª série do magazine televisivo Cuidado com a Língua!, que passa na quarta-feira, dia 16 de outubro, na RTP1 (depois das 21h00*). Numa visita guiada ao Palácio de Belém, revela-se um conjunto de curiosidades histórico-linguísticas em torno da residência oficial do Presidente da República português (notícia aqui).
1. Em Moçambique, têm lugar, em 15 de outubro, as eleições gerais e das assembleias provinciais. No plano linguístico, a campanha que decorreu ao longo de 43 dias não foi alheia à inovação lexical, como o comprova o uso do termo showmício para designar os eventos que fecharam a campanha (cf. notícia). Esta expressão designa uma "reunião pública de cidadãos em que se combina música e discursos de cariz político" (Dicionário Priberam) e trata-se de um termo já dicionarizado, previsto para a variante brasileira do português. Este momento importante na vida dos moçambicanos leva também a que aqui recordemos algumas questões linguísticas que têm sido tratadas no Ciberdúvidas, nomeadamente o facto de neste país o português ser falado por cerca de 39% dos moçambicanos. Esta variedade do português tem evoluído sobretudo no plano fónico e, em parte, no plano sintático, como explica Perpétua Gonçalves, linguista moçambicana, que estudou também a génese do português de Moçambique (obra apresentada aqui). Outros artigos importa recordar: «Escrita, língua portuguesa e poder em Moçambique», «Moçambique ratifica Acordo Ortográfico» e «A reinvenção da língua portuguesa em Moçambique».
2. Diferentes situações do quotidiano motivam quer a criação lexical quer a recuperação de palavras já existentes (mais ou menos adormecidas). Mas, é também possível que se assista à utilização de palavras que, na verdade, não existem ou que não têm necessidade de ser criadas. Na nova atualização do Consultório, encontramos situações desta natureza nas palavras "impatríota" e micragem. No plano das classes de palavras, é a palavra incessantemente que motiva uma dúvida sobre a sua inserção numa dada subclasse. Por fim, uma questão relacionada com a possibilidade de flexionar no plural a locução «tal que».
3. A banalização da palavra declaração tem contribuído para que esta perca o traço semântico de alguma solenidade que assumia em tempos passados. Quem o constata é o jornalista Luís M. Faria, num artigo (originalmente publicado na Revista do semanário Expresso do dia 12/10/2019) que demonstra como os verbos dizer ou afirmar parecem ter caído em desuso, pois atualmente quem quer marcar o espaço mediático «faz declarações».
4. O alcance da língua portuguesa no mundo é um facto notável que fica bem patente não só no seu atual número de falantes como também na influência que esta deixou noutras línguas. Prova disso é o pequeno vídeo da SBS rádio, que destaca um conjunto de palavras comuns entre o português e o bahasa indonésio, uma língua adaptada com base nos modelos do malaio e do neerlandês. Estima-se que esta língua tenha mais de 100 palavras herdadas do português.
5. O 23.º programa da 10.ª série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! passa na quarta-feira, dia 16/10/2019, na RTP1 (depois das 21h00*), com uma visita guiada ao Palácio de Belém. Em foco um conjunto de curiosidades histórico-linguísticas em torno da residência oficial do Presidente da República português (notícia aqui).
6. Alguns destaques relacionados com a língua e as suas diversificadas áreas de influência:
— O jornal digital brasileiro Nexo divulgou um artigo que elenca os nomes de bebés mais populares em 2017, em São Paulo. Entre os nomes do género feminino, encontramos Maria, Ana e Alice, e entre os do género masculino, Miguel, Davi e Arthur (ver notícia);
— A língua portuguesa é oferecida no sistema de ensino em 33 países, facto que resulta do esforço de consolidação e expansão do ensino da língua portuguesa no mundo, uma das metas do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua (ver notícia).
1. A ortoépia é uma área que exige uma constante atenção porque as formas de pronunciar as palavras estão sujeitas a uma constante evolução. Não raro, uma mesma palavra associa-se, sincronicamente, a diferentes possibilidades de pronúncia. É o que acontece com rapsódia, cujo s tanto se pronuncia [s] como [z]. Qual será a forma correta? As diferenças verificadas na forma de pronunciar as palavras são, muitas vezes, mais evidentes quando cotejamos diferentes variedade do português. Esta realidade fica bem patente nas flutuações de pronúncia de sc entre as variantes de português europeu e brasileiro. A pontuação, nomeadamente a vírgula, constitui uma das áreas críticas da escrita. No caso específico das construções proporcionais, quais as vírgulas exigíveis? A seleção lexical também pode oferecer dúvidas. Por exemplo, quais as diferenças entre manejável e maneável? Para concluir, na nova atualização do Consultório, identifica-se a função sintática dos constituintes «de ténis» e «de vestido» quando surgem com os verbos correr e sair.
Na imagem, Henry Fawcett; Dame Millicent Fawcett, de Ford Madox Brown, 1872.
2. A lexicógrafa Ana Salgado divulga um novo artigo na plataforma Gerador, abordando questões relacionadas com a acentuação: «Acentuo ou não acentuo – eis a questão». Este tema tem sido também profusamente tratado no Ciberdúvidas. Recordamos aqui algumas respostas que trataram diferentes assuntos relacionados com a acentuação: «Regras de acentuação», «Abreviaturas / acentuação», «Acento grave e acento agudo», «Regras de acentuação (II)», «Acentuação anteproparoxítona», «Acentuação das paroxítonas», «Ortografia e acentuação gráfica», «Regras de acentuação com base morfológica».
3. O termo cateterismo entrou no léxico ativo dos portugueses esta semana quando o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou que teria de realizar este exame (anúncio feito no programa Alta Definição, que irá para o ar no sábado, 12 de outubro, na SIC). O termo cateterismo, que se refere a um exame que consiste na introdução de um cateter na artéria, para identificar o seu calibre e problemas associados, já foi tratado no Consultório do Ciberdúvidas, numa análise ao seu sentido e à sua formação.
4. A atualidade relacionada com a língua e a literatura merece alguns destaques:
— A atribuição do prémio Nobel da Literatura, referente aos anos de 2018 e de 2019, a dois autores europeus: a escritora polaca Olga Tokarczuk * e o dramaturgo austríaco Peter Handke* (notícia completa aqui);
* N.E. (14/10/2019) – O apelido da escritora polaca, Tokarczuk, articula-se aproximadamente como "tokártchuk" (ouvir aqui). O do autor austríaco, Handke, soa "hantke" (ouvir aqui).
— O FOLIO, Festival Literário Internacional de Óbidos, decorre em Óbidos entre os dias 10 e 20 de outubro, propondo um vasto programa de atividades de âmbito literário e cultural em diversos espaços desta vila medieval (programa aqui).
5. A 1.ª reunião ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa é o tema central dos programas produzidos para a rádio pública portuguesa pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, os quais contam com a participação de Ana Paula Henriques, linguista angolana, José Pedro Ferreira, investigador português, e Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (notícia aqui).
1. Em Portugal, sente-se a sedução dos anglicismos até nas expressões mais afetivas. Na televisão, dê-se o exemplo de um programa de cozinha do canal 24Kitchen – em inglês, como não podia deixar de ser –, intitulado A Sentada, cujas competentes demonstrações de arte culinária são sublinhadas pelo enunciado «yummy and delicious» («apetitoso e delicioso»), um lema simpático que faz a diferença... à inglesa. Mas este gosto anglicista vai mais longe e chega mesmo à declaração de amor à pátria, como revela Sara Mourato na rubrica Pelourinho, com um comentário ao título do concurso I ♥ Portugal, ou seja, I love Portugal. Porque não Adoro Portugal, em vernáculo, como é costume nas versões deste programa produzidas noutros países europeus?
2. Cultor da língua portuguesa e profundo conhecedor da tradição literária europeia, o escritor, poeta e tradutor português Vasco Graça Moura (1942-2014) publicou em 2001 o livro Testamento de VGM (reeditado pela Quetzal Editores em 2019). Desta coleção, a Antologia seleciona um poema, alusivo ao árduo manejo das palavras.
3. Os bons escritores podem dormitar e cometer erros, como qualquer outra pessoa. A propósito desta possibilidade, o consultório retoma uma frase de Júlio Dinis (1839-1871) cuja correção continua a suscitar reservas. A presente atualização traz também questões sobre terminologia gramatical,análise sintática, classes de palavras, derivação e onomástica.
4. Terminou a 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), que o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e a Universidade do Porto organizaram na referida cidade nos dias 7 e 8 de outubro p.p. No documento final, assinado por especialistas da Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal e Timor-Leste, reconhece-se a importância do Vocabulário Comum da Língua Portuguesa (VOC) e definem-se os seguintes eixos de atuação: o aprofundamento da sistematização das regras ortográficas do português; a ampliação do corpo de conhecimentos sobre a ortografia e estabelecem-se «três eixos de atuação» para a promoção e coesão da língua entre os diferentes Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP); e a criação de corpora' (conjunto de textos escritos e registos orais) de «dimensões comparadas e com equilíbrio semelhante» para as variedades do português dos Estados-membros da CPLP. Durante a reunião foi eleita a comissão de coordenação deste novo órgão do IILP, atribuindo-se temporariamente a direção ao filólogo e gramático brasileiro Evanildo Bechara, com Inês Machungo (Moçambique) e José Pedro Ferreira (Portugal). À comissão cabe, para já, a tarefa de supervisionar o regulamento do COLP, para redação do qual foi criada uma comissão coordenada pelo linguista angolano Silvestre Estrela (fonte: notícia da agência Lusa conforme publicação no País ao Minuto). No primeiro dia da reunião, foi prestada uma homenagem a Evanildo Bechara e ao filólogo e dicionarista português João Malaca Casteleiro (ver aqui o discurso alusivo, proferido pela presidente do Conselho Científico do IILP, a professora universitária e linguista Margarita Correia).
5. A 1.ª Reunião Ordinária do COLP é igualmente o tema central desta semana nos programas Língua de Todos e Páginas de Português, que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. Foram ouvidos vários participantes, entre eles, a linguista angolana Ana Paula Henriques, o investigador português José Pedro Ferreira, que integra a comissão portuguesa junto do Conselho da Comissão Científica do IILP, bem como o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos.
O programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África na sexta-feira, 11 de outubro, às 13h20* (com repetição no sábado, dia 12 de outubro, depois do noticiário das 9h00*). O Páginas de Português tem emissão na Antena 2 no domingo, 13 de outubro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 19 de outubro, às 15h30).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando depois os programas Língua de Todos e Páginas de Português, disponíveis, aqui e aqui, respetivamente.
1. As eleições legislativas tiveram lugar em Portugal ontem, dia 6 de outubro, tendo os resultados ditado a vitória do Partido Socialista, embora sem uma maioria absoluta, o que implica que o partido terá de procurar um acordo com um ou mais partidos políticos de modo a garantir estabilidade governativa. Com efeito, na noite da contagem dos votos e da divulgação faseada dos resultados, a palavra que provavelmente mais se ouviu nos meios de comunicação social, repetida por jornalistas, políticos e comentadores, foi acordos. E porque as hesitações e as oscilações na forma de pronunciar a palavra continuam a ocorrer, justifica-se que se recorde que a pronúncia correta da palavra no singular como no plural é com "o" tónico fechado(/acôrdo/ e /acôrdos/), tal como já se recordou em diversas ocasiões (aqui, aqui e aqui).
Dado que este acontecimento político, de relevo nacional e internacional, vai motivar muitas páginas escritas e muitas intervenções orais a propósito de todos os cenários que se vão desenhar, relembremos algumas respostas do Ciberdúvidas que abordam questões linguísticas relacionadas com esta temática: «Eleição e Eleições», «Eleições eleitorais», «Haverão eleições, diz Costa. E diz mal», ««Eleito como» e «considerado como»», «Elegível e legível», «Ganhado», «Plural de eleitor-fantasma», «Reeleito + arreia (arrear)», «Precariedade e não «precaridade»».
2. A teoria dos géneros textuais constitui um dos enquadramentos teóricos fundacionais dos programas de português do ensino básico e secundário em Portugal. Neste contexto, a publicação Ensinar géneros de texto: conteúdos, estratégias e materiais adquire extrema importância não só pela pertinência do tema como também por reunir um conjunto de propostas que contemplam uma abordagem teórico-didática de diferentes géneros textuais estudados em contexto escolar. Uma obra coordenada por Antónia Coutinho e Noémia Jorge, editada com o apoio do Centro Luís Krus / Escola de Verão da Nova (FCSH) / Associação Professores de Português / Porto Editora e apresentada na Montra de Livros.
3. A realidade política e os seus contornos dão azo a que a criatividade linguística procure todo o seu esplendor de forma a traduzir as realidades que vão tendo lugar e também as opiniões de quem as observa e analisa criticamente. Todas estas perspetivas parecem estar encerradas na nova palavra bolsomínion, aplicada à realidade política brasileira, cuja formação e grafia se explicam na nova atualização do Consultório. O nome estratégia, muito recorrente em domínios lexicais do foro político e de âmbito militar, é também tratado para dar conta do consenso existente em várias línguas europeias relativamente à sua etimologia. Não menos militar é a expressão «abrir fogo», cuja regência preposicional também aqui se analisa. «Não me diga», expressão de espanto, de interrogação ou de afirmação, motiva dúvidas quando à pontuação que a ela se deve associar e que aqui se esclarece. Por fim, a possibilidade de dar ordens de forma indireta e através de frases interrogativas é também motivo de reflexão associado à frase «Você pode ver que dia é hoje?»
4. O uso excessivo de estrangeirismos em língua portuguesa está em foco no magazine Cuidado com a Língua!, emitido na quarta-feira, dia 9/10, na RTP1, a partir das 21h00 (hora oficial de Portugal continental) – com uma abordagem de realidades muito distintas, da loja vintage ao drink ao final do dia (notícia aqui).
5. Como já aqui foi noticiado, a 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) tem lugar hoje e amanhã (7 e 8 de outubro). Neste encontro inaugural procurar-se-á definir áreas prioritárias de intervenção do órgão agora constituído. Neste mesma reunião, terá lugar uma homenagem a Evanildo Bechara, professor, gramático e filólogo brasileiro, e ao filólogo português João Malaca Casteleiro (mais informações aqui).
6. Entre os acontecimentos relacionados com aspetos da língua, destacamos aqui:
— A atribuição do prémio Nobel da Medicina (a ter lugar no dia de hoje), que motiva um alerta para a forma como se pronuncia a palavra Nobel (recorde-se aqui e aqui);
— O restauro, em Espanha, do testamento de Fernão de Magalhães, um original de 1519, que foi escrito pelo navegador antes de iniciar a viagem de circum-navegação, do qual apenas resta um fragmento (embora se possua uma cópia do texto integral), que foi identificado há dez anos. Trata-se de um documento de grande interesse histórico e também linguístico.
1. Recorre-se à metáfora, quando se diz que esta ou aquela palavra foram "torcidas" ou "esvaziadas" de sentido para defesa de interesses obscuros, como é o caso de verdade, tantas vezes pronunciada – ou "seduzida" – em apoio de mitos e mentiras. Em O nosso idioma, Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, deixa um apontamento em forma de diálogo, em que um dos interlocutores revela alguns dos paradoxos (e artifícios) da comunicação político-institucional. Na mesma rubrica, Sara Mourato comenta um neologismo – em português, praticamente por vir – que dá que fazer aos media de língua espanhola: trata-se do anglicismo pedophrasty, recorrente nas críticas dirigidas à jovem Greta Thunberg e aos seus apoiantes, no contexto dos protestos contra a crise climática. Que significa ao certo? Como adaptá-lo ao português?
Na imagem, programa de A Cadeira da Verdade, comédia de Ramada Curto (1886-1961), que foi levada à cena no Teatro da Trindade (Lisboa) em fevereiro de 1932. Fonte: MatrizNet.
2. Nesta atualização do consultório, mais perguntas: como empregar «tanto quanto» e «tão quão»? Querendo especificar palavras como tipo ou formato, diz-se «formatos de anúncio» ou «formatos de anúncios», ou seja, associa-se-lhes um nome no singular ou no plural? Se já existe calculador, calculante e calculista, qual a necessidade de outro adjetivo com significado semelhante, calculativo? Por último, retoma-se um problema de sintaxe: o da forma o que, cujo uso frásico tem uma análise dependente do modo como se vê a sua estrutura interna.
3. Realiza-se a 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) na Casa de Pernambuco, no Porto, nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, com organização do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a Universidade do Porto. Do encontro, são anfitriões o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Augusto Santos Silva; o reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira; e o presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Luís Faro Ramos. Após a sessão de abertura, terá lugar uma homenagem aos académicos Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, e João Malaca Casteleiro, da Academia das Ciências de Lisboa, promovida pela equipa central do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), com apoio do IILP e da Universidade do Porto (pormenores na rubrica Notícias).
4. Em Portugal, a história e a atualidade justificam o registo de duas datas importantes:
– Comemora-se a 5 de outubro o aniversário da implantação da República, um acontecimento que teve ampla repercussão não só institucional mas também linguística, dado ter criado as condições para a grande Reforma Ortográfica de 1911, cujos princípios constituem a base dos acordos ortográficos posteriores.
– Em 6 de outubro, realiza-se em Portugal a eleição da Assembleia da República, da qual saírá também o novo governo constitucional português. Vale a pena recordar a Abertura de 30 de setembro de 2015, nas vésperas das últimas eleições legislativas realizadas em Portugal, em 4 de outubro desse ano. Se a palavra que marcara a anterior legislatura (2011-2015) era troica, num contexto de crise económica e financeira, sem grande hesitação se dirá que foi geringonça o vocábulo que deu o tom à vida política portuguesa em finais de 2015. O seu uso intensificou-se, inicialmente como maneira depreciativa de referir o acordo político que viabilizou então a formação de governo. À volta da origem de geringonça, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "475 anos de geringonça" ; "Geringonça, a palavra que deu a volta ao texto"; "O bom e o mau uso do léxico político no jornalismo"; "A Geringonça, mas a da 'Esopaida' de António José da Silva"; "A geringonça vocabular do ano". A propósito da linguagem política e do vocabulário das eleições, sugere-se ainda a leitura de: "Características do discurso político"; "Metáforas do discurso político";"A língua em termos de eleições"; "Algumas figuras de estilo"; "Eleições e eleições" , "Cartazes eleitorais"; "'Haverão eleições', diz Costa. E diz mal"; "Política"; "Política II"; "Ética na política"; "A classe de palavras de político"; "Concordância: 'ela é um dos políticos'"; "Deputados à/da Assembleia"; "'Deputado a' e 'deputado 'a'"; "Botar + votar + deitar"; "O vocábulo arruada".
Fonte da imagem: Unsplash.
5. Falando ainda de atualidades, mas noutros quadrantes de atividade ou noutros âmbitos geográficos:
– O Brasil é notícia graças a iniciativas na promoção do português, como é o caso dos cursos de língua portuguesa promovidos em Camboriú, no estado de Santa Catarina, dirigido a mulheres provenientes do Haiti, com vista à sua integração.
– Estão abertas até 30/11/2019 as inscrições na 11.ª edição do Festival Itinerante do Cinema de Língua Portuguesa (FESTin), um acontecimento realizado anualmente, que visa difundir e desenvolver o cinema nos países de língua portuguesa.
6. Espaço ainda para um registo triste, o da morte de um dos mais velhos alfarrabistas de Portugal, o livreiro João Rodrigues Pires, que era o proprietário de O Mundo do Livro, uma livraria do Largo da Trindade, em Lisboa.
Fonte da imagem: Jay Clark em Unsplash.
7. O livro Comunicar com sucesso, de Sandra Tavares Duarte, e a obra do escritor António Lobo Antunes, abordada numa entrevista à professora Maria Alzira Seixo, são, na presente semana, os temas dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa.
* Língua de Todos, emitido na RDP África – na sexta-feira, dia 4 de outubro, às 13h20, com repetição no dia seguinte, sábado, dia 5 de outubro, depois do noticiário das 09h00 – e Páginas de Português, na Antena 2, no domingo, dia 6 de outubro, às 12h30, com repetição no sábado seguinte, dia 12 de outubro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente, aqui e aqui.
1. A história da língua portuguesa é rica, diversificada e complexa. Deste processo evolutivo fazem parte pequenas histórias de palavras que nós, falantes, tanto gostamos de conhecer. Cada uma é curiosa, rica e, não raro, inesperada. Nesta atualização do Consultório, vamos ao encontro da história da utilização do pronome vós dirigido a um interlocutor singular. Por aqui passam também dúvidas geradas pela paronímia das expressões «às vezes» e «há vezes», acompanhadas de hesitações relacionadas com a correção do uso da vírgula após a expressão «e você» e com a classificação da palavra nunca. As exceções que a própria língua cria às suas regras ficam patentes num caso de concordância siléptica entre o nome gente e um possessivo e nas possibilidades de uso ou omissão do artigo indefinido
Na primeira imagem: Notícia de Torto, manuscrito datado de 1211 -1216, considerado o texto não literário mais antigo redigido em língua portuguesa.
2. A história da origem da palavra circo e do significado da expressão «andar na corda bamba» estarão em foco no magazine televisivo Cuidado com a Língua!, que regressa à RTP1, às quartas-feiras, a partir das 21h00, com início hoje, 2 de outubro. As questões lexicais abordadas no programas estarão enquadradas no tema do ensino-aprendizagem das artes circenses, o que levará também ao tratamento do léxico de natureza circense (notícia aqui).
3. O Dia Mundial do Vegetarianismo, comemorado no dia 1 de outubro, traz-nos uma história de outra palavra pela pena de Nuno Alvim, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa, que, no P3, separata do jornal Público, divulgou uma crónica, aqui transcrita com a devida vénia, que vai em busca da origem da palavra vegetariano, a qual tem uma relação estreita com a história do próprio movimento. Fica a questão: qual a relação de Pitágoras de Samos e da crença na migração das almas com a origem do vegetarianismo?
4. Das várias notícias relacionadas com a língua, destacamos as seguintes:
— Marco Neves, tradutor e docente universitário, lançou um novo projeto onde aborda questões relacionadas com a língua e a tradução. No sítio intitulado Cinco Palavras, o autor divulga, em pequenos episódios, textos gravados cujo tema se desenrola em torno de cinco palavras;
— Augusto Santos Silva, ministro dos negócios estrangeiros português, numa entrevista à ONU News referiu que a língua portuguesa é, de acordo com dados da UNESCO, uma das três línguas do mundo que mais vai crescer, sendo expectável que este crescimento assuma uma dimensão significativa em África. Estima-se que neste continente o número de falantes atingirá os 500 milhões ao longo do século XXI. A ocorrer este fenómeno, a língua portuguesa passará a ter mais falantes em África do que no Brasil, país onde atualmente se concentra o maior número de falantes da língua (notícia disponível no sítio Plataforma);
— Do Canadá chega-nos a notícia de que a comunidade portuguesa de Kingston envida esforços para assegurar a manutenção a longo prazo do curso de português existente na Universidade de Queen's. Para tal, realizou um evento de angariação de fundos, que, em conjunto com as verbas da universidade e do Camões – Instituto da Língua e da Cooperação, permitirão a continuidade do projeto;
– O 30.º aniversário da Priberam, empresa que, em Portugal, se tornou pioneira na criação de dicionários em linha, ao criar o conhecido Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (mais informação aqui).
5. A obra do escritor António Lobo Antunes, abordada numa entrevista à professora Maria Alzira Seixo, e o livro Comunicar com sucesso, de Sandra Tavares Duarte, serão os temas dos programas de rádio produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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