O enunciado apresentado é caracterizado por alguma densidade que dificulta o seu processamento. Não obstante, julgamos «quanto que teria deixado alguns lugares escuros» constitui uma oração adverbial proporcional. Estas orações caracterizam-se por serem construções onde se «confrontam graus de intensidade de duas propriedades […] ou quantidade de duas entidades referidas» (Mira Mateus et al., Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, pp. 765-766).
Estas construções podem ser introduzidas por conjunções / locuções conjuncionais correlativas, tais como quanto mais… (tanto) mais, quanto mais… (tanto) menos, tanto mais... quanto mais, tanto mais... quanto menos, tanto menos... quanto mais1.
No caso em análise, o narrador avalia a justeza da comparação que acabou de construir («era como o luar que ali penetrasse»). Para tal, estabelece uma relação de proporção entre o “grau” da exatidão da comparação e a “quantidade” de lugares escuros deixados pelo luar, o que lhe permite inferir que, como o luar deixaria certamente lugares escuros no espaço, então a comparação que acabou de ser apresentada é muito rigorosa (ou muito «exata»).
É de referir ainda que Machado de Assis introduz a oração proporcional com construção «quanto que», que não será tida como correta. No entanto, o autor utiliza esta construção noutras situações, como se observa em (1):
(1) «... não encarava Estácio e D. Úrsula, sem que o pejo lhe colorisse a face, mudança tanto mais visível quanto que a vigília e a dor a tinham empalidecido muito.» (Machado de Assis, Helena)
Poderemos, neste caso, estar tanto perante uma construção idiossincrática como face a uma construção mais generalizada. Não temos, contudo, elementos para o aferir neste espaço.
Disponha sempre!
1. Bechara, Moderna gramática portuguesa. Nova Fronteira, p. 412.