Não se trata de uma “teoria”, mas de um requisito técnico indispensável a qualquer profissional que utilize a voz, seja para falar na rádio ou na televisão – é o caso concreto dos locutores, apresentadores e jornalistas com acesso ao microfone –, seja na arte de representar (os atores).
É uma aptidão que se adquire, e reforça, com o apoio de especialistas em técnicas vocais, habilitando qualquer desses profissionais a uma melhor dicção e articulação das palavras e dos sons por elas produzidos, de modo a serem mais bem entendidos pelos ouvintes e espectadores, em geral – potenciando, inclusive, vozes menos dotadas, mas que, devidamente “trabalhadas”, passam a ter outra qualidade.
Daí que esta seja uma componente especialmente contemplada na formação e reciclagem desses profissionais tanto da rádio e da televisão como nas escolas de atores. Se todos dela beneficiaram ou dela cuidam regularmente, já é outra história…
Quanto à segunda parte do comentário do consulente, sendo inquestionável que o tom da voz, o ritmo da locução e o vocabulário escolhido são pressupostos de isenção de um noticiário, diferente já é a questão da pronúncia, em si.
Nessa medida há duas vertentes a ter em conta: uma é uniformização recomendada e seguida nas principais estações públicas de rádio e de televisão europeias e dos EUA na pronunciação de palavras, nomes e termos, nacionais e estrangeiros, suscetíveis de gerarem erros e enganos, em quem comunica e quem ouve; e outra é a admissão ou não de sotaques nos que, por dever de ofício, são pivôs de informação.
No primeiro caso, em Portugal, por exemplo, desde 2009, a RTP tem mesmo disponível um Prontuário Sonoro, como não há outro no espaço da lusofonia, «instrumento e fonte de esclarecimento sobre palavras e nomes portugueses e de línguas estrangeiras que apresentem dificuldades ou dúvidas de pronunciação e sejam de uso continuado no audiovisual nacional (por exemplo, termos científicos, nomes de escritores, artistas e políticos, nomes de lugares, etc.)».
Quanto à aceitabilidade ou não de «um apresentador com sotaque alentejano ou açoriano», não é essa, de facto, a tradição no audiovisual português – e circunscrevendo-nos especificamente ao setor da informação. Por regra, os pivôs dos telejornais não apresentam os chamados traços dialetais ou sociolinguísticos mais marcados – mas que poderão já ocorrer nos canais de âmbito regional ou nas intervenções desse âmbito (caso da Madeira e dos Açores, por exemplo).
Sobre este mesmo tema e, particularmente, sobre o que, do ponto de vista linguístico, se considera a norma-padrão do português de Portugal, no campo da pronúncia, leia-se o texto A propósito de dicção, norma-padrão e regionalismos, da autoria de Carlos Rocha na rubrica O nosso idioma.