1. Eis uma nova pergunta cujo tópico é exatamente o monossílabo à cabeça desta mesma sequência introdutória: como se analisa um enunciado começado pelo advérbio eis? Mas há mais questões: como se usam corretamente as construções de particípio, do tipo «chegado a casa, o João fez o jantar»? E que dizer do emprego de julgar numa instrução como «julgue as seguintes opções como verdadeiras ou falsas»? Os temas de sintaxe estão, portanto, em maioria na presente atualização do Consultório, ainda com espaço para falar do verbo humildar, equivalente a humilhar e ser humilde, bem como para dar atenção ao gentílico correspondente a Terras de Bouro, um topónimo do norte de Portugal.
2. Na Montra de livros, apresenta-se um livro publicado há alguns anos (a edição data de 2013), mas que justifica agora referência, dada a sua clareza e utilidade. Trata-se de Escrita em dia, editada pelo Clube do Autor e da autoria da escritora Margarida Fonseca Santos, uma obra que visa «desbloquear e conduzir» quem se proponha escrever pelos mais variados motivos.
3. A língua portuguesa foi levada no século XVI por comerciantes, militares, aventureiros para as mais diversas partes do mundo. Além da sua presença em diferentes continentes e do contributo que deu para a génese de várias línguas crioulas, conta-se o testemunho lexical da sua influência noutras línguas, na América, na África, na Ásia ou na Oceânia. É o caso da Indonésia, em cujo idioma oficial, o bahasa, as palavras bandeira, boneca e Natal são, respetivamente, bendera, boneka e... Natal. Na rubrica Diversidades, apresenta-se um interessante vídeo que documenta estas coincidências vocabulares num jogo com dois participantes, um falante de português e uma falante de bahasa. Trata-se de um registo do SBS National Language Competition, concurso organizado pelo canal de rádio australiano SBS Radio para incentivar e promover o gosto pelas línguas estrangeiras na Austrália (na imagem, mapa anónimo datável de 1550, que representa o Oceano Índico e o sueste asiático; fonte: Wikipédia).
4. Vem, portanto, a propósito assinalar aqui a criação do Dia Mundial da Língua Portuguesa, que passa a ser comemorado anualmente a 5 de maio, por decisão do Conselho Executivo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), reunido em 17/10/2019. É o culminar de um processo que levou à aprovação por unanimidade de uma proposta apresentada pelos países da CPLP*, com apoio da Argentina, do Chile, do Uruguai, da Geórgia, do Luxemburgo e outros países. Entre os argumentos justificativos da comemoração conta-se o facto de o português estar entre as línguas mais faladas do hemisfério sul e historicamente constituir a que marca a primeira vaga de globalização. Para António Sampaio da Nóvoa, embaixador de Portugal na UNESCO, o endosso por esta organização da nova data comemorativa (ver mensagem da Presidência da República Portuguesa) terá grande impacto: «[e]ntra nos calendários internacionais, o que quer dizer que ganha uma projeção do ponto de vista internacional, podendo ter consequências nos mais diversos planos»; e abre caminho para o português se tornar língua de trabalho na ONU (Organização das Nações Unidas), a par das que já têm esse estatuto, a saber, o inglês, o francês, o chinês, o espanhol, o árabe e o russo (ler notícia da agência Lusa citada pelo Público, em 18/10/2019).
* Há 10 anos que a data já era assinallada como o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP.
5. Falando de línguas, acredita-se que os seus limites geográficos coincidem com fronteiras políticas linearmente contínuas e estáveis. Um exame atento das cartas geográficas e a investigação histórica depressa levam ao desengano, como acontece mesmo em Portugal, que não reconhece a integração em Espanha de um território onde se conserva o português, Olivença. Esta e outras curiosidades sobre as fronteiras como espaços de contacto e hibridação linguística dão o mote para mais um inspirado apontamento do tradutor e professor universitário Marco Neves, que o disponibiliza no blogue Certas Palavras (publicação de 17/10/2019).
6. Quanto aos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: a situação da língua portuguesa em Timor-Leste é tema central no Língua de Todos**, emitido na RDP África, na sexta-feira, dia 18 de outubro, às 13h20; no programa Páginas de Português** (na Antena 2, no domingo, 20 de outubro, às 12h30), dá-se relevo à homenagem prestada nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, no Porto, a Evanildo Bechara e João Malaca Casteleiro no contexto da 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP). Mais informação nas Notícias.
** Língua de Todos, repetido no dia seguinte, sábado, dia 19 de outubro, depois do noticiário das 09h00. Páginas de Português também reptido no sábado seguinte, dia 25 de outubro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente, aqui e aqui.