1. Dia 1 de junho é o Dia Mundial da Criança (em Portugal, Angola e Moçambique), data assinalada pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, ainda no rescaldo da II Grande Guerra Mundial, com o intuito de sensibilizar a comunidade internacional para os problemas vividos por milhões de crianças um pouco por todo o mundo. Passados 70 anos, muitas crianças ainda não veem respeitados os seus direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos da Criança. A UNICEF estima que, nos países subdesenvolvidos, inúmeras crianças vivem em dificuldades extremas. Este ano, em particular, a data será celebrada de forma diferente por crianças e suas famílias, mas os motivos que estiveram na sua origem devem continuar bem presentes no espírito de cada um. Este dia é também motivo para recordar algumas respostas disponíveis no Consultório, relacionadas com a palavra criança: «Criança: etimologia», «Nome coletivo de criança», «Enquanto crianças» e «em crianças», «Criança-soldado e crianças-soldado». Sobre o tema, vide ainda o texto «Qual a origem da palavra «criança»?», da autoria do professor universitário e tradutor Marco Neves.
Primeira imagem: desenho de criança.
2. O dia 1 de junho coincide também, em Portugal, com o início da terceira fase do plano de desconfinamento, que determina o fim do "dever cívico de recolhimento" e prevê a abertura de jardins de infância, centros comerciais, cinema e salas de espetáculo, ginásios, entre outros espaços. A área metropolitana de Lisboa estará, porém, sujeita a condições particulares, dado o aumento do número de infeções registado, que determinam o adiamento da abertura de centros comerciais e de lojas com mais de 400 metros quadrados. A reabertura gradual tem ainda motivado a implementação de medidas excecionais na prática dos cultos religiosos e das atividades desportivas. Por seu turno, o setor da aviação pode contar já com o fim das restrições de passageiros. Os diferentes momentos da pandemia continuam a trazer também novas palavras e expressões que vão integrando o glossário A covid-19 na língua. Desta feita, poderão ser consultadas «bolha... de ódio», «pré-covid» e «live».
3. A formação de palavras com base num processo de aportuguesamento nem sempre produz resultados aceitáveis do ponto de vista da norma ou até da sensibilidade linguística dos falantes. Estes são os problemas que as palavras "hacktivismo" e empoderamento acusam e que motivam respostas divulgadas na nova atualização do Consultório. A identificação de funções sintáticas, nomeadamente do complemento oblíquo e da sua distinção do modificador do grupo verbal, também motivam dúvidas quando se processa a análise de grupos verbais como «prolongar-se por várias cenas» ou «morar em casa com a mãe».
4. Na rubrica Pelourinho assinala-se um "erro da pandemia": a "distançia"... apanhada pelo «maldito vírus»...
5. As crianças são também motivo de preocupação pela situação de ensino à distância, que marca a sua aprendizagem no momento atual. O afastamento da escola pode, todavia, encobrir situações de violência ou de negligência, pelo que é importante que educadores e professores se mantenham atentos a alguns sinais, como os que enumera Rute Agulhas, especialista em psicologia clínica e familiar, no seu artigo publicado no Diário de Notícias (aqui transcrito com a devida vénia).
6. A Antena 1 estreia nesta data o programa Serviço Público — Bloco de Notas, destinado ao apoio dos alunos dos 11.º e 12.º anos na preparação para os exames nacionais em Portugal, nas disciplinas de Português, Matemática, História, Biologia e Geologia, entre outras (ver notícia).
7. O universo infantil adapta-se de forma extraordinária às mensagens que a música traz consigo, e as aprendizagens podem também ser veiculadas de forma muito eficaz através de recursos musicais. Por essas razões e porque o dia é especial para as crianças, deixamos aqui a sugestão de algumas músicas que poderão dar outra cor ao Dia Mundial da Criança. Tratam temas relacionados como os professores, os alunos e até aulas sobre gramática: «Um bom professor, um bom começo», «O nome dela é crase», de Prof. Noslen, «Estudo errado», de Gabriel o Pensador, «Anjos da guarda», de Leci Brandão, «Ao mestre com carinho», de Eliana, «Professor e professora», de Jair Oliveira, «Patati Patatá – Homenagem à professoras». Existem estudos e apontamentos diversificados que apontam para a importância da música na construção das aprendizagens, tanto da língua materna como da língua estrangeira. Entre eles, destacamos «Canção: letra e música no ensino de português como língua adicional» , «O uso da Canção no ensino do Português como língua estrangeira», «Música no ensino de gramática», «A MPB e sua contribuição para a língua portuguesa», «Música como ferramenta pedagógica no ensino de língua à luz da gramática analítica reflexiva». Para terminar, uma sugestão a recordar a importância do livro físico e das sensações na aprendizagem: «O cheiro dos livros», do grupo musical Cabeças no Ar:
1. Fala-se de «janelas para o mundo», e evocam-se imagens de libertação. Depois, diz-se «portas trancadas», e o temor assalta o espírito. Em O nosso idioma, a professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, vira mais uma vez a sua atenção para as metáforas motivadas pelas vivências da presente crise sanitária, com um novo texto. Desta vez, a autora revela como o campo lexical do vocábulo casa é fonte de um discurso onde se inscreve o sempre difícil equilíbrio entre as liberdades e a necessidade de proteção.
Na imagem, Casas (1957), de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa (fonte: MatrizNet).
2. Em Portugal, fazendo frente à propagação do SARS-CoV-2 – também chamado «(novo) coronavírus» –, o Governo renova a situação de calamidade, anunciando a passagem à terceira fase do desconfinamento, ainda com restrições sobre a utilização e desfrute dos lugares públicos (ver notícia do jornal Público em 29/05/2020 e infromações sobre a covid-19 na RTP Notícias). E, apesar das temperaturas estivais no país, a gerarem a ânsia por mar e praia, a opção mais segura continua a ser o recolhimento doméstico. Prossegue, portanto, na rubrica O nosso idioma a atualização de "A covid-19 na língua", glossário que dando testemunho da evolução desta crise e da sua verbalização sobretudo mediática, se apresenta agora repartido por uma página principal e 25 páginas organizadas por ordem alfabética (cf. abertura de 27/05/2020). Neste dia, têm entradas poluição, pré-pandemia, propileno, robusto e «momento Delors», uma expressão criada pelo presidente da República Portuguesa ao referir-se à proposta da Comissão Europeia para um fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros destinado à minimização dos efeitos económicos e sociais da pandemia. Uma referência também para desconfinamento e máscara, a cujos registos se juntou nova informação.
3. O combate ao coronavírus é igualmente mote para uma nova questão em linha no Consultório: com «perímetro de segurança», que verbo é mais adequado – criar, montar ou estabelecer? E, a propósito da investigação sobre a covid-19, o que é melhor: «evidências científicas», ou «provas científicas»? A sintaxe volta a marcar presença: será que o pretérito imperfeito e o pretérito perfeito do indicativo podem combinar-se na mesma frase – por exemplo, «quando vivia em Luanda, a Mariana visitou Benguela»? Finalmente, uma pergunta sobre pontuação: têm vírgula as orações subordinadas substantivas que ocorrem em «quem vai ao mar perde o lugar» e «que a praia está cheia já se sabe»?
4. De França, chegam notícias preocupantes sobre as condições de aprendizagem da língua portuguesa entre crianças lusodescendentes. Numa entrevista à agência Lusa (27/05/2020), Carla Dugault, copresidente da Federação dos Conselhos de Pais e Alunos (FCPE), alerta para a redução da oferta na rede de escolas públicas francesas, assinalando que «o inglês [é] para toda a gente e o português acaba por ficar um pouco para o ensino à distância»; e acrescenta: «O ensino do português depende das mairies [câmaras municipais], portanto não sei se o governo português fez esse trabalho para que a língua se aprenda nas escolas. Não me parece que se tenham batido muito por isso» (ver também publicação digital Lusojornal).
4. As épocas de crise económica e social favorecem o choque de interesses e mal-entendidos, bem como a exploração destes por mentes vocacionadas para o conflito. Os tempos que atravessamos justificam, portanto, o registo da comemoração, na presente data, do Dia Internacional das Forças de Manutenção da Paz pela Organização das Nações Unidas. Apesar de um passado não isento de críticas, os chamados capacetes-azuis mantêm-se como pilares fundamentais para impedir o regresso da guerra, em todo o mundo. E a propósito do acrónimo ONU, relembre-se o já relembrado inúmeras vezes: a pronúncia correta é "onú", e não "ónu", visto o u final e a falta de acento gráfico indicarem que a palavra é aguda – ou oxítona –, tal como bambu, Peru ou tabu.
5. Maria Velho da Costa (Lisboa, 1938-2020) , recentemente falecida, é a figura em destaque nos dois programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa. No Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de maio, pelas 13h20*, o professor António Cabrita, da Universidade Eduardo Mondlane, sobre a vida e obra desta escritora portuguesa; o tema é também abordado no programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 31 de maio, pelas 12h30*, com entrevistas às professores universitárias Ana Luísa Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Helena Buescu (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Dar-se-á igualmente destaque ao tão atual verbo «confinar» – com um apontamento a cargo da professora Carla Marques.
Na imagem à direita, as "Três Marias" – da esquerda para a direita, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno – na época do célebre processo judicial que contra elas foi movido por causa da publicação de Novas Cartas Portuguesas (1972).
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 30 de maio, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 6 de junho, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Alguns nomes zoológicos ou botânicos, como baleia-de-bryde, adotam na sua formação o nome de quem descobriu a espécie ou a estudou. Este processo suscita, no entanto, uma dúvida: este mesmo nome próprio, normalmente um apelido, deverá continuar a ser grafado em maiúscula no interior da nova palavra? No Consultório, pode ainda consultar respostas no âmbito da sintaxe: as preposições "atípicas", como menos, obrigam à forma oblíqua do pronome? E em «estar mal da cabeça», qual a função do sintagma preposicional? Por fim, uma resposta relacionada com a forma da interjeição ó (ou ô) e com a necessidade de vírgula quando colocado à cabeça de um vocativo.
2. A covid-19 na língua, um projeto desenvolvido pelo Ciberdúvidas desde o início da crise sanitária, cresceu em consonância com o dinamismo lexical que a língua tem acusado e que tem marcado este período das nossas vidas. Por essa razão, para facilitar o acesso ao seu conteúdo, o glossário encontra-se agora organizado por entradas alfabéticas, que correspondem a ficheiros independentes. Para efetuar uma consulta, basta clicar, no documento principal, na letra que inicia cada palavra ou expressão. Para além do já longo repertório que se guarda para memória futura, o documento inclui as seguintes novas entradas: «Abraços (e beijos) virtuais», «à porta fechada», calamidade, confinante, «economia virtual», «economia zombie», «etiqueta respiratória», «geração da pandemia», metáforas, «momento Hamilton», nanovacina, «nova vida», paliar, precariado, reconfinamento, retoma e «síndrome da cabana», supercontagiadores e «trabalhadores itinerantes».
3. O dinamismo lexical motivado pela covid-19 é também tema do apontamento «A criatividade lexical de uma pandemia», da professora universitária Luísa Ribeiro Ferreira, publicado originalmente na plataforma 7 margens. Um texto que explora novos significados e expressões, como «equipamento de proteção» ou «higienização das mãos», que dizem a nova realidade que vivemos.
4. À volta da língua e da sua diversidade motivada pela variação temporal, geográfica e contextual encontra-se a crónica da professora Margarita Correia, que, congratulando-se com a riqueza desta nossa língua, não deixa de lembrar que é urgente saber como integrar esta visão de uma língua internacional e pluricêntica no ensino e, no âmbito político, Recorda que é fundamental passar a tratar estas questões «com abertura, clareza, conhecimento e honestidade e que medidas venham a ser tomadas com fundamentação e inteligência» (texto publicado no Diário de Notícias, aqui transcrito com a devida vénia).
5. Os maus-tratos infligidos ao português motivam um apontamento da professora Arlinda Mártires, divulgado na rubrica Pelourinho, onde analisa algumas "pérolas" oferecidas por programas televisivos aos seus espetadores. É o caso da expressão «ouvidos de "marcador"» ou da conjugação do verbo manter no pretérito perfeito do indicativo, com a forma "manteu".
6. A origem da palavra água é o tema da crónica divulgada pelo professor e tradutor Marco Neves, que identifica o termo em várias línguas europeias, indo, de seguida, até ao latim e daí até à forma proto-itálica e, mais distante ainda, à forma proto-indo-europeia.Um percurso que, no entanto, dificilmente se poderá continuar em busca de palavras mais antigas, o que leva o autor a concluir que será uma «quimera tentar descobrir as primeiras palavras humanas» (texto divulgado originalmente no blogue do autor Certas Palavras).
7. A probabilidade de o ensino à distância se manter durante o próximo ano letivo como medida complementar é, segundo a investigadora e historiadora Raquel Varela, uma catástrofe anunciada. Na sua ótica, o que se promove é a automação da educação, que vem resolver o problema da falta de professores, mas terá sérias consequências pessoais para todos os envolvidos no processo, para além de promover uma aprendizagem deficiente (apontamento divulgado no blogue da autora).
8. Na literatura mundial, o tema da pandemia com as suas consequências devastadoras é tratado por diferentes autores com abordagens muito distintas. Numa altura em que a pandemia passou da ficção à realidade, obras desta natureza tornam-se muito apetecíveis. Neste contexto, a professora universitária Lilia Schwarcz recorda um conjunto de obras fundamentais, como O Alienista, de Machado de Assis, A Peste, de Albert Camus, Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago ou O Amor nos Tempos de Cólera, de Gabriel García Márquez (artigo divulgado no jornal Nexo).
9. De Bragança, chega-nos a notícia de que a construção do Museu da Língua Portuguesa terá início no próximo mês de novembro, com uma conclusão estimada para 2022 (notícia).
10. Os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa tratam esta semana uma mesma personalidade: a escritora, recentemente falecida, Maria Velho da Costa, recordada num depoimento do professor António Cabrita*, da Universidade Eduardo Mondlane e das professoras universitárias Ana Luísa Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Helena Buescu** (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) (notícia aqui).
* No programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de maio, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 30 de maio, depois do noticiário das 09h00.
** No programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 31 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 6 de junho, às 15h30.
Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Morreu Maria Velho da Costa (Lisboa, 26/06/1938- 23/05/2020), figura maior da renovação da ficção portuguesa das últimas décadas. Tendo-se consagrado como romancista em 1969 com Maina Mendes, escreveu pouco depois, com Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Teresa Horta (1938), as Novas Cartas Portuguesas (1972), cuja denúncia da condição da mulher em Portugal e da sua menorização pela linguagem colocou as autoras no centro do chamado "processo das Três Marias", um dos confrontos mais marcantes do final do regime político anterior ao 25 de Abril de 1974. Nos anos seguintes, assina títulos como Casas Pardas (1977), Lucialima (1983), Missa in Albis (1988), Dores (1994), Irene ou o Contrato Social (2000) ou Myra (2008). É igualmente de realçar a sua escrita de argumento cinematográfico, área em que deu importante contributo, contando colaboração com os realizadores portugueses João César Monteiro (1939-2003), Alberto Seixas Santos (1936-2016) e Margarida Gil. Foi autora muito premiada, sendo de destacar, em 2002, o Prémio Camões (2002) e, em 2013, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Por ocasião da cerimónia de entrega deste último, a escritora, retomando o tema da natureza da palavra literária, sublinhou: «Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza» (fonte: RTP Notícias, 24/05/2020). Sobre o alcance da criação estético-literária e da ação cívica desta escritora portuguesa, sugere-se a leitura do artigo "Maria Velho da Costa: a palavra literária em estado de apoteose", artigo que o professor universitário, ensaísta e jornalista António Guerreiro lhe dedicou no jornal Público em 24/05/2020.
2. A propósito dos problemas que afetam atualmente o funcionamento dos media, tornam-se recorrentes os termos infodemia e desinformação. São eles sinónimos? Ou haverá entre eles um vincado contraste semântico? E uma expressão como «infodemia da desinformação», será ela redundante ou contraditória? Na presente atualização do Consultório, dá-se um parecer sobre o tópico de todas estas interrogações e acolhem-se respostas a outras questões: as locuções «como que» e «como se» empregam-se da mesma maneira? Qual é a origem do topónimo Creiro (Setúbal)? E que alternativa existe ao anglicismo upcycling?
3. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia um trabalho do jornalista André Manuel Correia (Expresso, 23/05/2020) sobre o poliglotismo em Portugal, país onde ao mesmo tempo se descobre hoje um cenário de multilinguismo que há décadas se desconhecia ou ignorava.
4. A violência pela palavra tem a forma do insulto. Que histórias de sujeição do corpo e da sexualidade encerram os vocábulos ofensivos? Sobre o tema da homossexualidade, João Nota explora uma série de tabuísmos num artigo publicado originalmente em 23/12/2016 no blogue esQrever, dedicado a temas LGTBI, e agora também consultável em O nosso idioma.
5. Se hipopótamo é, etimologicamente, um composto de origem grega em que hipo- significa literalmente «cavalo», então uma pessoa com hipotensão tem «tensão de cavalo»? Muito longe disso, explica João Nogueira da Costa num apontamento igualmente disponível em O nosso idioma, à volta das palavras, das suas relações semânticas e das suas origens.
6. Na perspetiva da renovação do léxico e das unidades que caem em desuso, registo também para o episódio que a série O Tamanho da Língua, produzida em 2018 pela Folha de S. Paulo, dedica a este respeito:
7. Explorando o filão da criatividade linguística, tem ainda registo um texto saído no jornal Público em 24/05/2020 e da autoria do escritor Miguel Esteves Cardoso, que aí propõe que o termo inglês entitlement, «direito, prerrogativa», seja traduzido, com pitoresco, pela expressão «carapausismo de corrida» – um neologismo derivado da expressão «carapau de corrida».
1. A forma como se perceciona a realidade resulta de um processo cognitivo que a língua filtra. Este mecanismo, que está na base da criação do campo conceptual onde as metáforas de desenham, tem sido particularmente produtivo no contexto da crise pandémica que se atravessa. Analisando estes movimentos linguísticos, a professora Carla Marques propõe no seu apontamento «Das linhas de trincheira ao olho do furacão» uma viagem pelas metáforas que perspetivam a situação da covid-19 convocando a realidade da guerra ou a das catástrofes naturais. Noutros domínios da língua, a ação do novo coronavírus continua a contribuir para o alargamento do campo lexical que se constrói em seu torno. Desta realidade damos conta dos novos termos e expressões introduzidos no glossário do A covid-19 na língua: «Abraços (e beijos) virtuais», «economia zombie», «geração da pandemia», nanovacina, «momento Hamilton», «nova vida», paliar, reconfinamento e «síndrome da cabana».
2. Será lícito aportuguesar nomes de autores de obras literárias? Esta é uma das questões que nos chegaram e a que respondemos na atualização do Consultório, onde analisamos ainda perguntas como «Qual a grafia de claviarpa?», «A que classe pertence conforme?», «Padre é nome biforme ou uniforme?». Por fim, identificam-se os atos de fala configurados num conjunto de enunciados.
3. Em Portugal, «dá-se a alguém», no Brasil, «dá-se para alguém» com frequência. Esta é uma das muitas diferenças entre as variantes europeia e brasileira. Dando conta desta realidade, o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi explica, no artigo «Ah, que saudade do a!», que este afastamento resulta de uma evolução do português brasileiro, que foi abandonando gradualmente a preposição a, pedida por verbo dicendi ou dativa, para a substituir por para.
4. Podemos ter saudades de uma pessoa, de um local e também de uma construção linguística porque a língua é espaço de afetos. Isso mesmo recorda a colaboradora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, ao associar, num artigo divulgado em 2011, as reações ao acordo ortográfico aos sentimentos que a língua estimula nos falantes, ao mesmo tempo que recorda que a ortografia sempre foi convencional e um produto humano.
5. O professor universitário e tradutor Marco Neves divulgou no seu blogue Certas Palavras um excerto da obra ABC da Tradução – um apanhado de palavras, de A a Z, que descrevem a atividade da tradução – e um outro seu livro, Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português: «Volta à França» é erro de português?
6. Os estudiosos da língua têm ao seu dispor o sítio Fontes Linguísticas do Português, um espaço da responsabilidade do professor e lexicógrafo João Paulo Silvestre, que organizou uma vasta bibliografia, relacionada com o percurso da gramática portuguesa, num período compreendido entre os séculos XVI e inícios do XX. Organizada em três secções, Gramática, norma e ensino, Dicionários e Reflexões metalínguísticas, esta será uma fonte de consulta privilegiada para quem procura conhecer não só a história da língua portuguesa como também a da linguística portuguesa.
7. Num momento em que, em Portugal, se anuncia que no próximo ano letivo o ensino terá uma componente em casa, é tempo de refletir sobre o modelo de ensino à distância criado em resposta à necessidade de confinamento. Há quem defenda que o verdadeiro ensino não pode acontecer à distância (artigo do jornal Público). Noutra perspetiva, os professores da "nova telescola" contam como foi difícil o processo de preparação do projeto #EstudoEmCasa (aqui). Noutro sentido, o ministro da educação Tiago Brandão Rodrigues anunciou que o ministério está atento às possíveis inflações das classificações dos alunos e que os exames nacionais serão ajustados à situação excecional que se vive (aqui).
8. Embora o desconfinamento vá abrindo portas e convide os portugueses a sair de casa, ainda não é possível, por exemplo, ir ao cinema. Por essa razão, a Medeia Filmes continua a disponbilizar, na sua Quarentena Cinéfila, filmes que poderão ser vistos em casa (cf. os filmes em exibição).
9. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, destacamos o tema do ensino do português no Instituto Politécnico de Macau e na China em geral, que se repercute nos países africanos de língua oficial portuguesa (no Língua de Todos, emitido pela RDP África*) e o projeto Património léxico da Gallaecia (no Páginas de Português, da Antena 2**)
* Na sexta-feira, dia 22 de maio, pelas 13h20, com repetição no sábado, dia 23 de maio, depois do noticiário das 09h00.
** No domingo, dia 24 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 30 de maio, às 15h30
10. A última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! continua a ser repetida na RTP2. No sábado (23/05) e no domingo (24/05), será possível rever os programas dedicados ao veterinário e ao ourives. Mais pormenores aqui.
Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. É palavra pequenina, mas com grande capacidade para abranger muitos valores semânticos. Trata-se da conjunção e, cuja polissemia é o tópico de uma das respostas da presente atualização do Consultório. Outra questão diz igualmente respeito ao funcionamento da língua, a do uso do verbo ficar no modo imperativo. Somam-se ainda duas perguntas sobre a variação da língua em Portugal: primeiro, revela-se que a interjeição bô, característica dos falantes de Trás-o-Montes, também se pronuncia e escreve como bó; depois, fala-se da ilha das Flores, ao abordar um topónimo de grafia instável, que se encontra na freguesia da Fajã Grande: é "Quada", "Cuada" ou "Coada"?
2. A proliferação de conteúdos informativos, quantas vezes produzidos sem critério, motivou a criação da palavra infodemia, – já aqui comentada em 03/02/2020 –, para denotar essa avalanche de notícias e comentários desencontrados que confundem as mentes. A cobertura mediática da pandemia causada pelo novo coronavírus não fugiu a este problema, e, portanto, regista-se a entrada deste termo em A covid-19 na língua, que acolhe ainda outra palavra, hostel, também objeto de outros comentário feitos anteriormente (aqui, aqui e aqui).
3. Acerca do combate à desinformação, na rubrica Notícias, dá-se conta da criação, pela equipa do centro de investigação de sociologia MediaLab CIES do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), da plataforma CovidCheck.pt, que visa o esclarecimento das principais questões sobre a pandemia do novo coronavírus, à volta da qual também se gerou um autêntico surto de infodemia, frequentemente pelas redes sociais.
4. Na rubrica Ensino, transcreve-se com a devida vénia o artigo que a linguista Margarita Correia assinou no Diário de Notícias de 20/05/2020, a propósito do multilinguismo nas escolas portuguesas.
5. Em O nosso idioma, disponibiliza-se o acesso a um minicurso sobre a norma culta brasileira concebido e ministrado pelo linguista brasileiro Carlos Alberto Faraco. São cinco aulas com base no livro Norma Culta Brasileira — Desatando Alguns Nós (editora Parábola), publicado em 2008 por este autor, que, em 2016 também lançou outro título muito importante: História Sociopolítica da Língua Portuguesa.
6. Outro trabalho notável vindo do Brasil: a série de vídeos intitulada O Tamanho da Língua que a Folha de São Paulo produziu sobre a língua portuguesa, a sua história e o seu uso diversificado, com a participação de vários especialistas. Na rubrica O nosso idioma igualmente se dá acesso a estes registos, que conseguem divulgar as muitas faces da língua em tom descontraído sem faltar ao devido rigor documental e científico.
7. Temas realçados nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:
– no Língua de Todos , que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 22 de maio, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 23 de abril, depois do noticiário das 09h00), o ensino do português no Instituto Politécnico de Macau e na China em geral, que se repercute nos países africanos de língua oficial portuguesa;
– no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 24 de maio, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 30 de maio, às 15h30), apresenta-se o projeto Património léxico da Gallaecia, coordenado pelo Instituto da Lingua Galega e com a participação de uma equipa do Centro de Linguística da Universidade do Porto e outra do Centro de Estudos em Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Em português, as locuções iniciadas por à são abundantes. Tome-se como exemplo «à pressa», «à medida que», «à vista». A natureza da palavra à é, todavia, geradora de discórdia. Há gramáticos que defendem que se trata de uma contração da preposição a com o artigo definido a, que é assinalada pelo acento grave. Porém, outros gramáticos há que sustentam uma interpretação distinta: o acento de à não sinaliza crase, mas apenas a abertura da vogal. A explicação desenvolvida destas posições pode ser acompanhada na resposta que se encontra na nova atualização do Consultório. No plano das classes de palavras, há situações em que o particípio verbal se converte em adjetivo. Este processo dificulta, em certos usos, a identificação da classe de pertença da palavra na frase. Nesta resposta, apontamos alguns critérios de classificação que poderão auxiliar na distinção. No plano da organização frásica, a construção de frases longas exige uma atenção particular ao plano da coesão, pois o nexo que os constituintes vão estabelecendo na sequência frásica poderá criar tensão entre o plano sintático e o plano semântico-pragmático, o que fica claro na análise desta questão. Por fim, as designações não científicas atribuídas às flores resultam, por vezes, de processo orais que são suscetíveis de operarem alterações às palavras. Será esse o caso de cravo-púnico e cravo-túnico?
2. A dinâmica linguística, consequência da situação pandémica, é um facto constatado em inúmeras línguas, que tem, inclusive, desencadeado o interesse do cidadão comum por questões de lexicografia. Renovam-se os processos de formação de palavras, acrescentam-se sentidos e formam-se novas locuções e expressões. No glossário A covid-19 na língua, acompanhamos, desde março, a evolução do fenómeno e vamos dando conta do que vai ocorrendo na língua portuguesa nas suas diferentes variantes. Do Brasil, chega-nos uma curiosidade: os termos "cloroquiners" e "quarenteners", que são formados através da junção ao radical do sufixo inglês -er, que significa "adepto" ou "apoiante". Para além destas inovações lexicais, o glossário passa a integrar palavras ou expressões como covidiota, desconfinamento assimétrico vs. desconfinamento contido, estado de alarme, pangolim, «(não) voltar à rua», entre outras. O processo de transformação da língua e a relação dos falantes com os novos termos e sentidos é também objeto de reflexão no Brasil, num artigo do jornalista Victor Stock, intitulado «Pandemia do coronavírus traz à tona novas palavras e termos» (artigo publicado no jornal brasileiro Diário da Região – de São José do Rio Preto, aqui reproduzido com a devida vénia).
3. A Associação Brasileira de Linguística (Abralin) tem vindo a promover o evento Abralin ao vivo: Linguists Online, que conta com uma agenda diária de conferências e mesas-redondas com importantes nomes do cenário nacional e internacional da Linguística, transmitido em linha numa plataforma aberta e interativa. Das comunicações já realizadas destacamos aqui a do linguística português Ivo Castro, intitulada «Portugal visto do céu — demografia, dialetologia e história da língua». Nele, o autor passa em revista aspetos da evolução do português, centrando-se em mapas dialetológicos elaborados por Leite de Vasconcelos, Paiva Boléo e Lindley Cintra e defendendo que os mapas necessitam de uma atualização, atendendo à influência da escola e dos meios que comunicação social, que apagaram diferenças no domínio escrito a suavizaram marcas regionais da pronúncia.
4. A questão da proximidade entre o galego e o português, que Ivo Castro também aborda na sua conferência, tem estado associada a avanços e recuos nas opções políticas espanholas relativamente ao galego. O que é certo é que o galego perde atualmente falantes face ao poder de hegemonia do castelhano, ao mesmo tempo que se desenvolvem iniciativas que visam cativar a atenção dos galegos para a língua e para o estreitamento de relações com a língua portuguesa, como nos dá conta o jornalista português Ruben Martins, num artigo divulgado o suplemento P2 do jornal Público, onde questiona «O galego vai salvar-se no português?». É também sobre o galego e sobre as ameaças de desaparecimento que a língua enfrenta que reflete o professor universitário Marco Neves num apontamento divulgado no seu blogue Certas Palavras.
5. O bilinguismo constitui a realidade dominante em muito países do mundo. A evolução histórica, a união de povos diferentes num mesmo país, a mobilidade de populações... inúmeros foram os fatores que contribuíram para diferentes situações de multilinguismo. O Brasil não é exceção a esta realidade. Embora, ao longo da sua história, tenha sido testemunha de tentativas de impor o português como língua única, o que é certo é que o país mantém o seu multilinguismo, que tem raízes profundas relacionadas com as populações indígenas do território. É o que explicam os linguistas brasileiros Paulo Henrique de Felipe e Wilmar da Rocha D'Angelis no artigo transcrito na rubrica Diversidades.
6. Reabrem nesta data os museus em Portugal. Cincidente com o Dia Internacional dos Museus, o combate ao surto pandémico impôs regras novas de higienização, na exigência de distanciamento físico e no uso de máscara.
Esta é uma oportunidade para recordar alguns textos relacionadas com a temática, disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas. Por exemplo: Museu de marinha vs. Museu da Marinha + O diminutivo de museu + «Museu Reina Sofia»... porquê? + São Paulo reconstrói o Museu da Língua Portuguesa
6. Este dia 18 de maio coincide, em Portugal, com a 2.ª fase do plano de desconfinamento, que prevê, entre outras medidas, o regresso às aulas presenciais dos alunos do 11.º e 12.º anos. Embora esteja circunscrito apenas às aulas das disciplinas sujeitas a exame nacional, mantendo-se o regime de ensino à distância às restantes disciplinas, este plano tem merecido muito críticas oriundas de diversos quadrantes, que consideram que se trata de uma decisão precipitada que pode pôr em causa a saúde pública e que está apenas subjugada ao peso que os exames nacionais assumem no país. É esta a posição que a professora Lúcia Vaz Pedro assume no artigo de opinião que divulga no jornal Público. O tema do regresso às aulas motivou também o programa A Cena do Ódio, de David Ferreira, na Antena 1, onde se recordou ainda a canção Cheiro dos Livros, dos Cabeças No Ar. Uma homenagem aos professores de Português, que se apresenta também aqui:
1. O português faz parte das línguas românicas, nas quais existe um contraste morfossintático importante, o de género. Acontece que, em referência à pandemia de covid-19, muitos falantes das línguas irmãs da portuguesa hesitam também quanto ao género a dar ao nome da doença (não é o vírus). Em França, a Académie Française recomenda «la covid-19», no feminino, porque se trata de uma maladie e esta palavra é do género feminino (leia-se em inglês a edição de The Guardian em 13/05/2020). No mundo de língua espanhola, é também «la covid-19», no feminino, porque se categoriza como enfermedad, cognato de enfermidade (ver Fundéu-BBVA). Em português, a mesma coisa: com covid-19, intuitivamente acessível é tratá-lo como nome feminino, visto o seu hiperónimo doença ter este género. Diga-se, portanto, «a covid-19» (e não «o covid-19»).
2. Em O nosso idioma, prossegue a atualização de "A covid-19 na língua", um já extenso reportório dos termos, expressões e fraseologias que se sucedem e coexistem no discurso da comunicação social em português. A presente fase de desconfinamento em Portugal justifica realçar, entre as novas entradas, a palavra reativação, que se distingue pela ambiguidade: por um lado, pode denotar a preocupante possibilidade de quem já esteve doente poder voltar a ficar infetado; por outro, marcando o alívio das medidas restritivas, alude à reanimação gradual de vários domínios da vida social e económica.
3. Qual é boa pronúncia da palavra circuito? É "circuíto"ou "circúito"? No Consultório, dá-se a resposta, com recomendações ortoépicas também para gratuito, fortuito e fluido. Aborda-se igualmente a classificação de para em construções como «uma boa ideia para viajar», analisa-se sintaticamente uma frase queirosiana e comenta-se a semântica dos plurais de imperador e príncipe.
4. Na rubrica Diversidades, fala-se da formação do plural, não em português, mas em ronga, changana e zulu, línguas bantas que se falam entre o sul de Moçambique e o sueste da África do Sul. Mais um apontamento do professor João Nogueira da Costa à volta das palavras e das suas histórias.
5. O tema da pandemia chama a atenção dos linguistas, que se organizam para monitorizar as inovações lexicais em diferentes línguas e em tempo real, graças à tecnologia. Voltando às línguas românicas, assinale-se, por exemplo, o seminário Le parole della crisi in tivù/Les mots de la crise à la télévision. Un dialogo italiano-francese ("As palavras da crise na tevê. Um diálogo ítalo-francês"), um encontro promovido pela rede Realiter via plataforma digital em 18 de maio p.f. Numa perspetiva multilingue mundial, conta-se o projeto Metaphors for Covid-19, um corpus de metáforas da covid-19, cujos promotores disponibilizaram para o efeito o acesso livre a uma tabela em linha para recolha de abonações, com a condição de estas constituírem alternativa à muito repetida e convencional metáfora da guerra (para participar na discussão seguir #ReframeCovid no Twitter; ver também The Linguist List).
6. A cultura procura a resposta possível às restrições impostas atualmente aos espetáculos presenciais. As condições existentes obrigam, portanto, à exploração de meios audiovisuais em suporte digital, como é o caso da mostra Europa Film Fest, que exibe gratuitamente filmes europeus entre 15 a 21 de maio, em resultado de uma parceria entre a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu em Portugal e a Filmin Portugal (mais informação aqui). Mas as medidas de distanciamento social conjugadas com o desconfinamento levam a recuperar o cinema em drive-in*, a exemplo da iniciativa da Câmara Municipal da Batalha (Leiria), que, de 15 a 17 de maio p. f., oferece sessões de cinema no parque de estacionamento do centro de exposições da referida vila portuguesa.
* Anglicismo referente ao serviço prestado a clientes que não saem do carro em que se fazem transportar. Não há ainda termo português equivalente e de uso estável. Os dicionários da Infopédia e da Priberam registam o anglicismo sem aportuguesamento.
7. O cinema é ainda tema do 25.º programa da 10.ª e última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! – que volta a passar na RTP 2, no domingo, dia 17/05, às 20h20*, tendo por cicerone o jornalista Mário Augusto.
8. Temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, algumas particularidades do português explicadas pela professora Sandra Tavares Duarte,; e, no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, o protocolo de cooperação entre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América .
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00; o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. A inovação linguística continua a estar na ordem do dia. Cada nova vivência, cada nova realidade busca uma palavra ou expressão que a diga. Desta vitalidade vamos dando conta no A covid-19 na língua, que, nesta atualização, passou a integrar os termos inovar e robustez. Apesar de a língua ter maleabilidade suficiente para integrar novos lexemas e novos significados, há palavras que parecem estar a resistir a incorporar no seu campo semântico novas aceções, como mostra a estranheza que produzem afirmações como «Vou-me mascarar para ir ao supermercado» ou «Quando chegares a casa, desmascara-te», no contexto do atual uso obrigatório de máscara. É a tensão lexical que por vezes se cria entre as palavras e a realidade e entre os velhos e os novos usos que motiva o apontamento da consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, intitulado «O novo normal vem mascarado».
2. Na nova atualização do Consultório, uma questão parece desvelar um fenómeno de hipercorreção: estará correto dizer «o texto fala de» ou «o livro fala sobre»? Há, por outro lado, questões que procuram a forma correta: deve dizer-se «há fadista» ou «ah, fadista»? E o adjetivo atento, usado em expressões como «atento o parecer», tem forma feminina se acompanhar um nome no feminino? Por fim, uma questão que pretende identificar a classe de então na expressão da lógica proposicional «Se P, então Q».
3. A língua portuguesa procura a sua afirmação no mundo. Neste âmbito, uma das perspetivas a adotar é a de que o português é pluricêntrico e não bicêntrico (ou seja, apenas centrado no português europeu e no português do Brasil). Defendendo esta visão do fenómeno, a professora e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia convida-nos a refletir sobre a importância da mudança de mentalidades para o fortalecimento desta nossa língua de oito países, na sua crónica semanal publicada no Diário de Notícias (aqui transcrevita com a devida vénia).
4. O contacto entre línguas desencadeou, ao longo dos séculos, fenómenos de interferência tanto na língua dominante como na(s) dominada(s). Incidindo sobre este fenómeno, o escritor angolano João Melo recorda, no artigo «A influência africana na língua portuguesa», vários casos de empréstimos lexicais ou de influência fonética que se manifestam sobretudo na variante do português do Brasil e que têm origem nas línguas bantas africanas (texto publicado originalmente no Diário de Notícias e aqui transcrito com a devida vénia).
5. O mundo e a forma como está concebido têm um dos seus pilares estruturantes na comunicação escrita. Todavia, existe, ainda, uma camada da população que não sabe ler nem escrever. As pessoas que a integram são, não obstante, detentoras de outros saberes, por vezes seculares, que importa preservar e conhecer. É esta a missão do realizador e documentarista Tiago Pereira, fundador do projeto A música portuguesa a gostar dela própria, que, em contexto de isolamento social, decidiu filmar à janela algumas músicas portuguesas cantadas por pessoas que preservam este património popular (vídeos divulgados no P3, secção do jornal Público). Veja-se, por exemplo, o vídeo onde Maria da Alzira canta «Não cortes o teu cabelo».
6. A desejável manutenção do isolamento social continua a motivar propostas culturais que podem ser seguidas no conforto do lar. É o caso da minissérie Os Maias, exibida em 2001 pela Rede Globo, que pode ser recordada no Youtube (disponível aqui). No mesmo sentido vai a proposta da Companhia de Teatro de Almada, que divulga esta semana a peça de 2010, Tuning, de Rodrigo Francisco, encenada por Joaquim Benite.
7. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa teremos os seguintes temas: Língua de Todos contará com a presença da professora Sandra Tavares Duarte, que falará sobre particularidades do português (transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00*) e o Páginas de Português, emitido pela Antena 2, entrevista Rita Faden, presidente da FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), a propósito do protocolo de cooperação entre a FLAD e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América e aumentar o acesso à programação e avaliação curricular em Língua Portuguesa (no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30*).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Em Portugal, o Plano de Desconfinamento, aprovado pelo governo em 30/04/2020 para fazer frente à covid-19, leva a população a afazer-se a uma «nova normalidade», expressão motivada pelo inglês «new normal», para alguns interpretável como horizonte de novas oportunidades, sem deixar de ser eufemística, porque agora se trata da arriscada coexistência com a ameaça nos espaços públicos. De qualquer modo, o coronavírus instalou-se nas notícias em qualquer língua, e, em português, continuam a somar-se novos usos que marcam o evoluir da crise, como atestam as repetidas atualizações de "A covid-19 na língua", onde dão entrada nestes dias os seguintes termos e expressões: «Adote um hostel», BCG, «bicho mau», distância física, escola virtual, «fique alerta», hospedeiro, imunidade baixa, imunidade celular, imunidade cruzada, imunidade inata vs. adquirida (ou adaptativa), imunidade transitória, imunodeficiência, pegada da infeção, pré-sintomático, «tsunami de ódio e xenofobia», «Vamos ficar todos bem», vírus de constipação, vírus endémicos vs. pandémicos e «vírus relativamente bonzinho».
2. A propósito de hostel, palavra de origem inglesa, recorde-se que se tornou corrente no vocabulário hoteleiro (ler aqui e aqui) e até já está dicionarizada, embora como estrangeirismo (cf. Dicionário Infopédia e Dicionário Priberam). Como se faz o seu plural: "hosteis" ou "hosteles"? Em O nosso idioma, um apontamento dá conta de como é possível aportuguesar este vocábulo.
3. Sobre a expressão «nova normalidade», muito corrente nestes dia da «pandemia que abalou o Mundo»*, damos destaque ao que os escreveu o diretor-geral da Fundéu-BBVA , Javier Lascuráin, sobre a forma equivalente em espanhol: «nueva normalidad». O texto, que aborda vários aspetos de interesse para o uso de «nova normalidade» em português, encontra-se também traduzido na rubrica Diversidades.
* «A crise pandémica e económica que abalou o Mundo, abanou também o futebol», de Tomás Froes, Record, 8/05/2029
4. Para tempos sombrios, em vez de pessimismo paralisante ou otimismo impensado, talvez o remédio esteja na lucidez e na esperança. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia uma reflexão do escritor português Valter Hugo Mãe, publicada no Jornal de Noticias, no dia 10 de maio p.p. Comentando as repercussões da pandemia nas palavras e na expressão,Valter Hugo Mãe alerta para o perigo de, no futuro, «colaborarmos ingenuamente com quem dissemina já discursos de intolerância e ódio para ratificar a intolerância e o ódio».
5. Também a respeito do futuro, mas na perspetiva das escolas e da brusca transição das suas atividades para plataformas digitais, a rubrica Ensino disponibiliza um outro texto, intitulado "Que educação para a era pós-covid-19?", do professor catedrático aposentado António Dias de Figueiredo, da Universidade de Coimbra, que o publicou originalmente no seu próprio blogue.
6. No consultório, o tópico da coabitação, uma autêntica arte em tempos de distanciamento social, é aflorado numa dúvida sobre a boa formação do nome comum corresidência. Para evitar eventuais conflitos à escala hierárquica, uma resposta revela a etimologia do prefixo vice- e sugere que um vice-presidente não tem que se sentir inferiorizado em relação ao seu presidente. A construção das frases e os seus problemas, um tema constante para quem se preocupa com a clareza dos discurso, marcam também presença nesta atualização com uma pergunta sobre a concordância verbal numa oração de infinitivo introduzida por ao – «ao cortarem-lhe as tranças, deixaram a menina muito triste»ou «ao cortar-lhe as tranças, deixaram a menina muito triste»? –, e outra sobre a correlação dos tempos numa frase complexa como «duvido que o Zé fosse capaz disso».
7. Uma notícia triste: a morte de Sérgio Sant'Anna em 10 de maio de 2020, vítima da covid-19. O escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1941, estreou-se em 1969 com o livro de contos O Sobrevivente, que de algum modo definiu o rumo que o seu percurso literário tomou como notável contista. Sobre este autor, ler as notícias publicadas por O Globo e a Folha de S. Paulo.
8. Uma pergunta radical na mudança de assunto e na sondagem às origens do português: que língua falava Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal? No blogue Certas Palavras, o tradutor e professor universitário Marco Neves, retomando um tópico explorado no seu recente livro Almanaque da Língua Portuguesa, surpreende ainda muitos quando revela a umbilical relação linguística do então pequeno território portucalense com a Galiza, para rematar: «[...] ainda hoje há uma surpreendente proximidade entre o que se fala dum lado e doutro da fronteira entre Portugal e a Galiza – e note-se que estamos a falar de uma das mais antigas fronteiras do mundo. Muitos galegos ainda falam galego e nós, claro está, falamos português. Todos nós, portugueses e galegos, falamos qualquer coisa que descende da língua que se ouvia em Guimarães – mas também em Tui – quando Afonso Henriques se tornou o primeiro rei de Portugal.»
9. Dois registos, ainda, sobre o Dia Mundial da Língua Portuguesa, assinalado pela primeira vez no passado dia 5:
♦ O lançamento do primeiro grande estudo que o Consello da Lingua Galega publica sobre o conhecimento do português entre a população galega. Com o título O valor do Portugués en Galicia, esta obra analisa o uso e o ensino da língua portuguesa, bem como as atitudes para com esta. Entre as conclusões, estima-se que 60% dos galegos têm competências em português, mas apenas 18% têm domínio elevado da língua; além disso, 73,2% acham que o português deveria ser estudado na Galiza, mas só 17% sabem dessa possibilidade no ensino secundário graças à Lei Paz Andrade (sobre esta disposição, ler abertura de 12/03/2014).
♦ O anúncio, nesse dia, em Angola, de várias iniciativas relacionadas com a lingua portuguesa no país. Notícia do Jornal de Angola.
10. Na RTP 1 e na RTP Internacional volta a passar o episódio 13 sobre a arte chocalheira, Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, conforme o reconhecimento da UNESCO, em 2015. Decorre no Museu do Chocalho, em Alcáçovas. Passará na terça-feira, dia 12 de maio, às 14h45 *, no primeiro canal da televisão pública portuguesa e, depois, nos seus canais internacionais.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando este episódio disponível também na RTP Play, aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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