A pergunta era – e continua a ser –, tão-só, para um qualquer falante não brasileiro envolvido minimamente no desenrolar da Copa Brasil 2014. Crónica publicada na revista 2 do jornal “Público” de 2/07/2014, disponível, também, no blogue da autora, Letra Pequena.
Se nesta altura do campeonato... (do Mundo de futebol) ainda não sabe o que é um «zagueiro», um «escanteio» ou onde fica a «zona do agrião», é porque nunca escutou um relato pela voz de um brasileiro.
No jogo do Brasil contra o Chile, ao descrever a movimentação que antecedeu o único golo do anfitrião antes dos penáltis, dizia o relator: «Foi de zagueiro para zagueiro.» Referia-se ao toque de cabeça de Thiago Silva, que enviou a bola na direcção de David Luiz. Tudo isto se passou depois de um “escanteio” marcado por Neymar.
A bola entrou na baliza, no que parecia ser um autogolo de Jara, mas a FIFA atribuiu o golo a David Luiz por a «pelota» ter raspado na barriga do atleta brasileiro. Este final de episódio aconteceu na «zona do agrião» e foi assim que se chegou ao «placar franciscano», no primeiro jogo das «oitavas».
Traduzindo: zagueiro é um defesa-central; escanteio é um pontapé de canto, a zona do agrião corresponde à pequena área, a pelota é o esférico, placar franciscano significa que o marcador assinala o resultado em 1-0 e oitavas quer dizer oitavos-de-final.
Portugal e Brasil falam a mesma língua? Sim. Embora às vezes pareça que não.
Muitas expressões deste desporto usadas no Brasil já são conhecidas do grande público português, em parte graças a Scolari. Time (equipa), goleiro (guarda-redes) e gramado (relvado) não são novidades nem oferecem dúvidas.
Outras palavras nem tanto. Os adeptos de [Portugal] são os torcedores [no Brasil]; o prolongamento do jogo passa a prorrogação; o fora-de-jogo transforma-se em impedimento; a vedação de um campo é um alambrado.
Penálti e pênalti são a mesma coisa, só diferem na grafia. Mas diferenças de ortografia e acentuação entre o português de Portugal e o português do Brasil não são deste campeonato.
P.S. – Para descodificar alguns significados, recorreu-se ao artigo "O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal", de José Mário Costa e João Matias (Ciberdúvidas da Língua Portuguesa).
In revista 2 do jornal Público de 6 de julho de 2014. Respeitou-se a norma anterior ao Acordo Ortográfico, seguida pelo jornal português.