Para esta resposta, não foi possível reunir elementos que permitam esclarecer cabalmente a origem do topónimo. Mesmo assim, expõe-se a seguir alguma informação que poderá contribuir para a sua etimologia e para a história da sua fixação como nome de lugar.
Assim, o topónimo já se escreveu Quereiro, como se atesta no Guia de Portugal (1.º volume, 1924)1, coordenado por Raul Proença (1884-1941):
(1) «Para os lados do Quereiro, na encosta da serra, uma imensa rasgadura ou talisca de grande profundidade, a que é arriscado descer. Entre o Alpertuche e o Risco, finalmente, a "lapa da Greta", que nem sempre pode ser visitada por a maré alta a invadir, e onde se conserva permanentemente uma lagoa.»
Também João Bénard da Costa (1935-2009) escrevia Quereiro:
(2) «Nos anos 60 e 70, nunca imaginei que fosse desaparecer a Praia dos Pescadores, quando, depois de carregado luto pela praia da infância e da adolescência, a ela me costumava a habituar. Já nesses anos a entremeava com o Quereiro, a duna meigamente opulenta que fica no fim do Portinho. [...] Mas o século XX acabou e, no actual, a opulência do Quereiro foi-se, como se foi a meiguice» (João Bénard da Costa, "O doce pássaro", P2, Publico, 05/10/2008; ver também aqui)
Nos concelhos de Santiago do Cacém e Odemira, ocorrem topónimos com a forma Quereiras, que parece partilhar o radical com Quereiro, muito embora não se possa excluir a eventualidade de a relação ser apenas de homonímia, sem incidência derivacional nem etimológica.
O que aqui se apura é, portanto, muito pouco. Aceitando que há uma ligação entre Quereiro/Creiro e Quereiras e supondo que estes topónimos integram os sufixos -eiro e -eira, interpretáveis como denotação da existência ou abundância de espécies animais e vegetais ou, ainda, de algum tipo de material, pode pensar-se nos referidos nomes como alusões a tais presenças no mundo natural. Mas, se assim é, não se vislumbra, para já, de que entidade guardam referência.
Cumpre registar também a propósito o topónimo Caroeira (Amarante), que Armando de Almeida Fernandes (1917-2002), em Toponímia Portuguesa – Exame a um Dicionário (1999), relacionava com "coroeira", termo que definia no sentido de «local elevado em relatividade e extensão»2. Não seria impossível uma hipótese segundo a qual a forma "coroeira" pudesse evoluir para "quereira" e "quereiro", atendendo à instabilidade das vogais átonas dos dialetos do português europeu. Contudo, para além de Caroeira, faltam exemplos claros da toponimização de "coroeira"; por outro lado, embora Creiro/Quereiro esteja associado à proeminência de uma duna e o topónimo Quereiras pareça situar-se em zonas de cumeada (cf. visualizador do Centro de Informação Geoespacial do Exército), afigura-se ténue a congruência referencial de uma palavra cujo emprego, para mais, tem história incerta.
1 Foi consultada a edição fac-similada da Fundação Calouste Gulbenkian (1988, p. 683).
2 Não foi possível encontrar registo dicionarístico de "coroeira", mas coroeiro, «cume», consta de Língua Charra (2013), o dicionário de transmontanismos de A. M. Pires Cabral. É, portanto, plausível o uso de "coroeira" como apelativo na descrição popular de aspetos do relevo.