Nos estudos do português ou de outra língua qualquer, há duas perspetivas fundamentais: a interna, que descreve o funcionamento e a evolução das estruturas de palavras, frases e textos; e a externa, que relaciona o devir linguístico com as configurações e as mutações do contexto social, cultural e político. É deste segundo ponto de vista que Carlos Alberto Faraco, professor titular (aposentado) de língua portuguesa da Universidade Federal do Paraná, elabora a História Sociopolítica da Língua Portuguesa e constrói um relato sobre como o português, a partir das suas raízes no ângulo noroeste da Península Ibérica (na Galiza e em terras portucalenses), foi catapultado para os espaços asiático, sul-americano e africano pelo ímpeto expansionista de Portugal, até, finalmente, já em tempos pós-coloniais e globalizadores, se encontrar numa encruzilhada.
A visão de Faraco é, pois, diacrónica, sobretudo focada na língua como insígnia institucional e tendo sempre por horizonte as tensões em que o seu futuro há muito se joga – entre, por um lado, o desejo de unidade, aliado à necessidade de garantir e justificar a posição do idioma entre os mais falados no mundo; e, por outro lado, dando o fracionamento como inevitável, as críticas à retórica e às ações de convergência. Sem escamotear as enormes dificuldades que o projeto unitário há décadas conhece, Carlos Alberto Faraco – coordenador da Comissão Nacional do Brasil no Instituto Internacional da Língua Portuguesa, integrado no grupo de consultores que acompanha os trabalhos do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa, no âmbito da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 – apresenta assim uma obra que já constitui com certeza um marco na bibliografia que tem por tema a história da língua.
Destinado a todos os interessados nas representações sociopolíticas do idioma, este livro é, afinal, um diagnóstico lúcido que aponta para o muito que está por fazer e decidir quanto a essa diversidade linguística que tem um passado comum e ainda se denomina português contemporaneamente*.
* História Sociopolítica da Língua Portuguesa foi uma das três obras galardoadas pelo Prêmio 2016 da Academia Brasileira de Filologia. Ver também a resenha do linguista Marcos Bagno (Universidade de Brasília) na revista brasileira Cadermos de Estudos Linguísticos, vol. 58, n.º 1.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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