Durante a atual rodada bem disputada do campeonato brasileiro, é oportuno comentar os usos freqüentes na forma de descrever e comentar os jogos. Um dos processos mais corriqueiros é a intensificação, ou seja, a hipérbole ou forma de exagerar, pouco estudada na gramática. É manifestada por advérbios, adjetivos e locuções, como também pela gradação sufixal de nomes, por verbos e sua repetição, e largamente utilizada na linguagem corrente, em um país latino onde o exagero é a tônica da comunicação.
Na crônica esportiva (leia-se futebolística), a intensificação é constante, pois, analisando os acontecimentos diários do mundo dos esportes, busca envolver o leitor e convencê-lo a respeito das opiniões emitidas, fazendo-o sentir-se co-participante. Os jornalistas esportivos, especialmente no futebol, não apenas fazem a narrativa dos acontecimentos, mas comentam, refletem e analisam os mesmos, através do seu próprio ponto de vista.
Seu público é uma mescla de níveis sociais, da elite às classes populares; a fala (ou texto) busca ser leve, acessível e com grande poder de apelo, a fim de envolver todos num clima de disputa, na euforia das vitórias ou nas tristezas da derrota. Usa imagens, gírias, expressões pitorescas, como maneira de prender a atenção do leitor e convencê-lo da justiça ou do absurdo de um resultado.
A repetição é usada como recurso enfático, em: Que bola, bola! lindo, lindo, lindo! cuja entonação especial faz vibrar a torcida. O uso de aumentativos, diminutivos e superlativos têm valor afetivo ou pejorativo. Em Passou rentinho à trave, inho tem valor superlativo e não diminutivo.
O advérbio em mente é o mais usado na linguagem futebolística. Sua fácil formação confere um alto grau de compreensibilidade. Asssim, vemos em vários comentários: Custa emocionalmente um alto preço; Minha opinião foi absolutamente divergente; A bola estava realmente fora; Francamente, eu não vi; O juiz veio premeditadamente roubar o time; Fez uma boa arbitragem, especialmente pelo festival de cartões. Todos estes advérbios agem como intensificadores da ação descrita pelo verbo. O intensificador mais é também de largo uso: Por um jogo mais agressivo, mais rápido; Podia ter feito mais dois gols. Super é adotado em formações como supertime e supercraque.
Construções giriáticas ou populares dão um toque peculiar e carregado de intenções apelativas. São usadas expressões como: É dose para elefante; É para matar qualquer torcedor de raiva; O time vai ter que rebolar; Tem a leveza de um paquiderme, temos a ironia da imagem estabelecida pelas palavras antônimas. A hipérbole (exagero) é importante na redação esportiva: O camisa 5 calculou e mandou bomba; Raspou a trave esquerda; Nada de aparecer com o rei na barriga; O Palmeiras vem aí com todo o embalo; É sinal de alarme para o técnico. As descrições sugerem luta e adversários ferrenhos em choque. Nem a violência que impôs para intimidar o time sufocou o adversário; Evitou o desastre da derrota. As palavras são mais expressivas que descritivas e libertam a carga de emoção procurando envolver o leitor pela forma de descrever o fato.
in PE 360 Graus de 9 de Outubro de 2007