Um chuto no "crachar"
Impropriedades do "futebolês"
Um jornalista do Diário de Notícias ousou recorrer ao jargão informático numa notícia sobre os efeitos do anúncio do abandono do jogador de basquetebol Kobe Bryant.
Foi tal o alvoroço que, podia ter informado o jornal, o site colapsou, ruiu, quebrou, faliu. Para qualquer informático habituado a puxar o seu computador ou sistema aos limites, o site crachou (do inglês to crash) – e muitos entendem o que o DN quis dizer. Mas a maioria não.
A analogia com os termos desportivos é inevitável. Já foi assim há cem anos com o verbo to shoot, adotado em quase todos os desportos de origem inglesa, do qual nasceu o verbo chutar que, no entanto, teve uma evolução semântica que o restringiu ao futebol e ao pontapé.
Ninguém diz que vai chutar quando joga andebol, basquetebol ou hóquei em patins, muito menos que vai chutar na carreira de tiro, pelo que também o verbo "crachar" dificilmente sairá do âmbito da informática. Assim, a menos que venha a haver um crache na língua portuguesa, ninguém dirá um dia que «o prédio crachou» ou que «o casamento está a crachar».
