1. Morreu Maria Velho da Costa (Lisboa, 26/06/1938- 23/05/2020), figura maior da renovação da ficção portuguesa das últimas décadas. Tendo-se consagrado como romancista em 1969 com Maina Mendes, escreveu pouco depois, com Maria Isabel Barreno (1939-2016) e Maria Teresa Horta (1938), as Novas Cartas Portuguesas (1972), cuja denúncia da condição da mulher em Portugal e da sua menorização pela linguagem colocou as autoras no centro do chamado "processo das Três Marias", um dos confrontos mais marcantes do final do regime político anterior ao 25 de Abril de 1974. Nos anos seguintes, assina títulos como Casas Pardas (1977), Lucialima (1983), Missa in Albis (1988), Dores (1994), Irene ou o Contrato Social (2000) ou Myra (2008). É igualmente de realçar a sua escrita de argumento cinematográfico, área em que deu importante contributo, contando colaboração com os realizadores portugueses João César Monteiro (1939-2003), Alberto Seixas Santos (1936-2016) e Margarida Gil. Foi autora muito premiada, sendo de destacar, em 2002, o Prémio Camões (2002) e, em 2013, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Por ocasião da cerimónia de entrega deste último, a escritora, retomando o tema da natureza da palavra literária, sublinhou: «Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza» (fonte: RTP Notícias, 24/05/2020). Sobre o alcance da criação estético-literária e da ação cívica desta escritora portuguesa, sugere-se a leitura do artigo "Maria Velho da Costa: a palavra literária em estado de apoteose", artigo que o professor universitário, ensaísta e jornalista António Guerreiro lhe dedicou no jornal Público em 24/05/2020.
2. A propósito dos problemas que afetam atualmente o funcionamento dos media, tornam-se recorrentes os termos infodemia e desinformação. São eles sinónimos? Ou haverá entre eles um vincado contraste semântico? E uma expressão como «infodemia da desinformação», será ela redundante ou contraditória? Na presente atualização do Consultório, dá-se um parecer sobre o tópico de todas estas interrogações e acolhem-se respostas a outras questões: as locuções «como que» e «como se» empregam-se da mesma maneira? Qual é a origem do topónimo Creiro (Setúbal)? E que alternativa existe ao anglicismo upcycling?
3. Na rubrica O nosso idioma, transcreve-se com a devida vénia um trabalho do jornalista André Manuel Correia (Expresso, 23/05/2020) sobre o poliglotismo em Portugal, país onde ao mesmo tempo se descobre hoje um cenário de multilinguismo que há décadas se desconhecia ou ignorava.
4. A violência pela palavra tem a forma do insulto. Que histórias de sujeição do corpo e da sexualidade encerram os vocábulos ofensivos? Sobre o tema da homossexualidade, João Nota explora uma série de tabuísmos num artigo publicado originalmente em 23/12/2016 no blogue esQrever, dedicado a temas LGTBI, e agora também consultável em O nosso idioma.
5. Se hipopótamo é, etimologicamente, um composto de origem grega em que hipo- significa literalmente «cavalo», então uma pessoa com hipotensão tem «tensão de cavalo»? Muito longe disso, explica João Nogueira da Costa num apontamento igualmente disponível em O nosso idioma, à volta das palavras, das suas relações semânticas e das suas origens.
6. Na perspetiva da renovação do léxico e das unidades que caem em desuso, registo também para o episódio que a série O Tamanho da Língua, produzida em 2018 pela Folha de S. Paulo, dedica a este respeito:
7. Explorando o filão da criatividade linguística, tem ainda registo um texto saído no jornal Público em 24/05/2020 e da autoria do escritor Miguel Esteves Cardoso, que aí propõe que o termo inglês entitlement, «direito, prerrogativa», seja traduzido, com pitoresco, pela expressão «carapausismo de corrida» – um neologismo derivado da expressão «carapau de corrida».