1. Na data de 8 de junho comemora-se o Dia Mundial dos Oceanos, na mesma semana em que pouco depois, em 10 de junho, se festeja o Dia de de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. É curioso notar como o mar é tema comum às duas comemorações. Com efeito, em Portugal, o feriado evoca o contributo decisivo de um poeta renascentista para a elaboração de uma língua que se expandiu por via marítima, acompanhando a conquista de territórios além-mar, para explorar recursos humanos e materiais, num movimento agressivo que hoje começa a avaliar-se de forma bastante crítica. No Dia Mundial dos Oceanos a tónica é a sustentabilidade de tal exploração, porque o horizonte se define agora pela preocupante degradação ambiental do planeta provocada pela frenética e imparável atividade humana. À volta dos nomes dados a mares e oceanos (talassónimos), leiam-se, por exemplo, "A etimologia das palavras atlântico, jónico, mar, mediterrâneo e oceano", "Mediterrâneo" e "Oceano, praia e respetivos holónimos"; e sobre a grafia destas formas, consulte-se "Maiúsculas e minúsculas com nomes de regiões e acidentes geográficos". Vide, ainda, "Portugal em sétimo lugar na qualidade das águas balneares europeias".
Na primeira imagem, Mar (Nazaré), de Adriano Sousa Lopes (1879-1944), Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa (fonte: MatrizNet).
2. A presente atualização coincide com o começo de uma semana recheada de datas festivas especialmente em Portugal, onde o 10 de Junho neste ano de 2020 será apenas assinalado simbolicamente, de modo a respeitar as medidas de combate contra a pandemia de covid-19 (ler nota de 01/06/2020 da Presidência da República Portuguesa). O mesmo acontecerá à celebração do feriado religioso do Corpo de Deus em 11 de junho. Finalmente, em 13 de junho, o Dia de Santo António, começa o ciclo dos Santos Populares, que neste ano de 2020 também se pautarão pelo modo virtual, sem as multitudinárias festas tradicionais, por causa das referidas medidas cautelares. Com tópicos relacionáveis com estas duas últimas datas, sugere-se a leitura das seguintes respostas: "As palavras Deus, Anjo e Alma", "Razão do uso de Deus sem artigoFrase sobre Santo António de Lisboa", "Sobre o Sermão de Santo António aos Peixes", "Interpretação de excerto de Sermão de Santo António aos Peixes", "O significado de um excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, "Festa Junina", "Nos santos populares (en)cante com poesia popular". Entretanto, devido a todos estes feriados, a nova atualização do Ciberdúvidas fica marcada para segunda-feira,15 de junho.
Entre os eventos comemorativos do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, destaca-se Os Lusíadas como nunca os ouviu, uma maratona de leitura (integral) do poema épico de Camões pelo ator António Fonseca, transmitida do Teatro Nacional D. Maria II no próprio dia feriado.
3. Em O nosso idioma, o glossário "A covid-19 na língua" prossegue o registo de novas entradas e das suas definições: o substantivo ajuntamento; o adjetivo brutal com a expressão choque económico, recorrentes no comentário ao impacto económico negativo da pandemia; a locução capitalismo digital, para designar o avatar tecnológico do capitalismo; o verbo contagiar; o vocábulo manifestação, que figura nas notícias sobre as manifestações contra o racismo que se realizaram mundialmente em protesto pela morte do afro-americano George Floyd e que não cumprem as imposições de distanciamento por causa das pandemia; "TV Funerária", apodo criado pelo Presidente do Brasil para criticar a TV Globo pelo destaque dado ao boletim epidemiológico; e o termo vulnerabilidade.
4. No Consultório, salienta-se o valor intensivo do artigo indefinido em frases exclamativas; comenta-se a grafia da expressão «não sei quê»; identifica-se o adjunto adverbial (modificador do grupo verbal) da frase «tudo era alegria para ela»; e analisa-se o comportamento sintático e semântico do conector pois.
5. Moçambique dispõe de um Vocabulário Ortográfico Nacional, que está alojado na plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa desde 2014. Mas também é verdade que este país ainda não ratificou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Para fazer um ponto da situação a respeito do que se passa em Moçambique em matéria ortográfica, a rubrica Acordo Ortográfico transcreve com a devida vénia a entrevista que a linguista Marta Sitoe concedeu ao jornal Preto e Branco (06/06/2020).
6. Além das variedades nacionais, que vão elaborando a sua própria norma, há também a considerar a variação regional de cada país. Em Portugal, como se sabe, subsistem formas regionais com maior ou menor vitalidade, como é o caso da expressão «ter avondo», que se mantém no sueste alentejano e na metade oriental do Algarve. Em O nosso idioma, transcreve-se, da edição de 03/06/20202 do jornal Público, um apontamento do escritor português Miguel Esteves Cardoso, a propósito do referido regionalismo português.
7. Hashtag é um anglicismo muito corrente na atualidade, em formas como #nãoaoracismo (ver Instagram). O termo é formado por hash (de hash mark, «sinal de cardinal», ou seja, #) e tag, «etiqueta» (ver dicionário Merriam Webster); e a associação do sinal # com uma palavra ou expressão é empregada em blogues e outras páginas eletrónicas para facilitar a identificação ou a pesquisa de temas (cf. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, consultado em 08/06/2020). Mas não haverá termo vernáculo com o mesmo significado? Virando novamente a atenção para o que fazem outras línguas românicas como o português, registe-se que, para o espanhol, a Fundéu recomenda a substituição do anglicismo por etiqueta. Sem veleidades castelhanistas, reconheça-se que o exemplo da Fundéu se transpõe sem problema para o português como etiqueta. Tendo em conta que tag já é equivalente a etiqueta, porque não permitir, então, o alargamento semântico da palavra portuguesa?
8. Um último registo para a história de um mestrado em veterinária numa universidade pública portuguesa e de uma aluna, cuja dissertação nunca foi admitida a provas porque a candidata, brasileira, não usou a norma ortográfica de 1945 nem a sintaxe própria do português do Brasil – contada pela professora Margarita Correia, em artigo publicado originalmente no Diário de Notícias do dia 9 de julho de 2020.