A letra g tem dois nomes: guê e gê.
A letra j só tem um nome: jota.
A matrícula do meu carro tinha as letras QG – e quando nas oficinas me perguntavam a matrícula, eu respondia: quê-gê. Invariavelmente, as pessoas que me atendiam escreviam “QJ”…
Eu corrigia: não é “quê-jota”, é quê-gê.
O funcionário que me atendia, um tudo-nada irritado, ripostava: «o senhor queria, então, dizer “quê-guê…»
–O senhor fez a tropa? – perguntava eu. Quando ia ao quartel-general, dizia "quê-gê", ou "quê-guê?
Aqui, a pessoa sentia o chão a fugir-lhe e respondia como se tivesse sido apanhada numa armadilha:
– Dizia "quê-gê"…
– E quando vai à GNR, como diz?…
Pois, o problema é que há quem, erradamente, chame à letra j “gê”.
♦
Um dia, era eu miúdo, o meu pai contava uma anedota em que duas pessoas discutiam se a palavra asneira se escrevia com j ou com g…
Feito espertalhão, respondi prontamente:
– É com j.
O meu pai desata a rir, em sonoras gargalhadas. Então, resolvi mudar de opinião:
– Não, é com g…
Pior a emenda que o soneto: as gargalhadas do meu pai ecoavam ainda com maior intensidade…
Foi, então, que o meu pai resolveu pegar numa folha de papel e escrever a palavra asneira, continuando a rir sem parar…
De facto, o s quando se encontra antes de consoantes sonoras (b, d, g, j, l, lh, m, n, nh, r, v, z) soa a j: asneira ("ajneira"), Lisboa ("Lijboa"), mesmo ("mejmo"), desde ("dejde"), os gatos ("ujgatos")…