1. Enquanto Portugal entra na terceira fase do plano de desconfinamento – excetua-se a região de Lisboa, que continua com medidas mais restritivas –, um termo circula mediaticamente: paraministro. Emprega-se este para referir o cargo de uma nova figura do governo, o gestor António Costa Silva, que, não sendo ministro, foi nomeado para gerir governamentalmente uma estratégia de recuperação económica nacional, contando com a chegada (incerta) de subvenções da União Europeia. Na comunicação social portuguesa, torna-se agora recorrente o uso da palavra paraministro como designação dessa singular função ministerial paralela (ver o registo humorístico de Ricardo Araújo Pereira em 31/05/2020 no programa Isto É Gozar com Quem Trabalha, transmitido pela SIC; mais notícias e comentários aqui e aqui). A rubrica O nosso idioma também não deixa escapar este recém-chegado ao discurso noticioso, integrando-o em mais uma atualização do glossário A covid-19 na língua,com outras novas entradas: Arte covid, descumprimento, serologia, seroprevalência, carga viral e zerar.
2. Com a terceira fase de desconfinamento em Portugal, um regresso muito aguardado: na quinta-feira, 4 de junho, retoma-se o campeonato da I Liga para 10 jornadas finais ... sem público. É o reativar de toda a máquina gigantesca de clubes, seguidos à distância por miríades de adeptos e comentadores. A respeito do "futebolês" motivado pelo chamado desporto-rei e espetáculo de multidões, são muitas as respostas e os artigos em arquivo no Ciberdúvidas, como revela a seguinte seleção: "Viva o 'futebolês'!", "A intensificação na linguagem do futebol", "O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal", "A ciência do esférico", "Comentador demasiado criativo", "Péssimo futebol falado"; "Uma questão de terminologia", "Um chuto no 'crachar'", "Já sabe o que é um 'zagueiro'?", "O 'dialeto luso' em futebolês".
3. A denominação dos meses é feita por nomes comuns ou por nomes próprios? A minúscula inicial sugeriria a primeira hipótese, mas as propriedades semântico-referenciais destes nomes tornam-nos um caso muito especial, conforme se revela no Consultório. Nesta mesma atualização, esclarecem-se dúvidas sobre a adequação do uso do plural de religião, a boa formação do adjetivo incomprovável, um caso de adjunto adverbial de assunto (conforme a terminologia gramatical brasileira) e a análise do complexo verbal «fui comer».
4. Nos países onde é falado, o português coexiste frequentemente com línguas locais, tanto em Angola e Moçambique, como em Timor-Leste, como ainda no Brasil, que conserva vários dialetos das famílias linguísticas ameríndias. Portugal está longe de ser a exceção monolingue, porque, além da sua própria língua gestual e de uma língua regional (o mirandês), conta ainda com as várias línguas faladas por diferentes comunidades estrangeiras; e este multilinguismo constitui uma realidade que o Ministério da Educação português de algum modo reconhece no seu Portal de Matrículas. Contudo, mais atenção e rigor são devidos, conforme assinala a linguista Margarita Correia em crónica publicada no Diário de Notícias em 2 de junho de 2020 e aqui transcrita com a devida vénia.
5. A propósito da onda de protestos e violência nos Estados Unidos da América, por causa da morte de George Floyd em 25/05/2020, fala-se da cidade onde tudo começou infelizmente por acontecer, Minneapolis – ou, em português, Mineápolis, forma que se regista, pelo menos, desde 1941. Acrescente-se que esta cidade se localiza no estado do Minnesota, que também tem equivalente vernáculo: Minesota.
A forma Mineápolis regista-se em Topónimos e Gentílicos, que I. Xavuer Fernandes publicou em 1941; e assim se mantém no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, e no Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa (1999) da Academia Brasileira de Letras. Consta igualmente destas últimas fontes a forma Minesota, a qual substituiu outra mais antiga, Minessota, com dois ss, conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940, da Academia das Ciências de Lisboa.
6. A pandemia tem afetado o funcionamento dos sistemas de ensino em vários países da União Europeia. É pois de referir a medida tomada pelo governo português, de abrir aos alunos lusodescendentes que, em França, não consigam concluir este ano o ensino secundário (o chamado baccalauréat ou bac, por truncação), a possibilidade de beneficiarem de medidas excecionais no concurso de acesso às instituições de ensino superior portuguesas para o próximo ano letivo (ler notícia de 03/06/2020 do Lusojornal).
7. O balanço da experiência do ensino à distância do Português Língua não Materna (PLNM) no contexto do surto epidemeológico e um curso sobre Análise Textual são os temas em foco nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. É também dado realce aos verbos mais usados na cobertura mediática da pandemia da covid-19 com um apontamento da professora Carla Marques. Mais informação nas Notícias.
O programa Língua de Todos vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 6 de junho, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 7 de junho, depois do noticiário das 09h00). O Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 dejunho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 13 de junho, às 15h30).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.