Dentro da série que estou a dedicar às mais importantes personalidades da Lusofonia, onde a nossa língua internacional tem uma presença destacada, e, por sorte, está presente em mais de doze países, sendo oficial em oito, dedico o presente depoimento, que faz o número 152 da série geral que iniciei com Sócrates, a um professor e filólogo brasileiro. Estou a falar de Evanildo Cavalcante Bechara, nascido no bairro de São José da cidade de Recife a 26 de fevereiro de 1928. Junto com o português João Malaca Casteleiro, no seu cargo de membro da Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro, foi um dos máximos promotores do atual Acordo Ortográfico da Lusofonia. Por convite da ASPGP e das Irmandades da Fala (IFGP), em setembro de 1988 participou no 1.º Encontro Internacional da Lusofonia, celebrado na Casa do Brasil de Madrid, junto com outros representantes de países lusófonos. Em outubro de 2012 entrou como académico correspondente da AGLP. Com este depoimento, a ele dedicado, completo o número quarenta da série lusófona.
Por considerá-la interessante e acertada, tenho por bem reproduzir a biografia de Evanildo Bechara publicada no seu dia pela Academia Brasileira de Letras, de que Bechara é membro desde o ano 2000.
Quinto ocupante da Cadeira n.º 33, eleito em 11 de dezembro de 2000, na sucessão de Afrânio Coutinho, e recebido em 25 de maio de 2001 pelo acadêmico Sergio Corrêa da Costa, Evanildo Cavalcante Bechara nasceu no Recife (PE), em 26 de fevereiro de 1928. Aos onze para doze anos, órfão de pai, transferiu-se para o Rio de Janeiro, a fim de completar sua educação em casa de um tio-avô.
Desde cedo mostrou vocação para o magistério, vocação que o levou a fazer o curso de Letras, modalidade Neolatinas, na Faculdade do Instituto La-Fayette, hoje UERJ, Bacharel em 1948 e Licenciado em 1949.
Aos quinze anos conheceu o Prof. Manuel Said Ali, um dos mais fecundos estudiosos da língua portuguesa, que na época contava entre 81 e 82 anos. Essa experiência permitiu a Evanildo Bechara trilhar caminhos no campo dos estudos linguísticos. Aos dezassete, escreve seu primeiro ensaio, intitulado Fenômenos de Intonação, publicado em 1948, com prefácio do filólogo mineiro Lindolfo Gomes. Em 1954, é aprovado em concurso público para a cátedra de Língua Portuguesa do Colégio Pedro II e reúne no livro Primeiros Ensaios de Língua Portuguesa artigos escritos entre os dezoito e vinte e cinco anos, saídos em jornais e revistas especializadas. Concluído o curso universitário, vieram-lhe as oportunidades de concursos públicos, que fez com brilho, num total de onze inscritos e dez realizados. Aperfeiçoou-se em Filologia Românica em Madrid, com Dámaso Alonso, nos anos de 1961 e 1962, com bolsa oferecida pelo Governo espanhol. Doutor em Letras pela UEG (atual UERJ), em 1964. Convidado pelo Prof. Antenor Nascentes para seu assistente, chega à cátedra de Filologia Românica da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UEG (atual UERJ) em 1964. Professor de Filologia Românica do Instituto de Letras da UERJ, de 1962 a 1992. Professor de Língua Portuguesa do Instituto de Letras da UFF, de 1976 a 1994. Professor titular de Língua Portuguesa, Linguística e Filologia Românica da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, de 1968 a 1988. Professor de Língua Portuguesa e Filologia Românica em IES nacionais (citem-se: PUC-RJ, UFSE, UFPB, UFAL, UFRN, UFAC) e estrangeiras (Alemanha, Holanda e Portugal). Em 1971-72 exerceu o cargo de Professor Titular Visitante da Universidade de Colônia (Alemanha) e de 1987 a 1989 igual cargo na Universidade de Coimbra (Portugal). Professor Emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1994) e da Universidade Federal Fluminense (1998).
Dentre suas teses universitárias contam-se os seguintes títulos: A Evolução do Pensamento Concessivo no Português (1954), O Futuro em Românico (1962), A Sintaxe Nominal na Peregrinatio Aetheriae ad Loca Sancta (1964), A Contribuição de M. Said Ali para a Filologia Portuguesa (1964), Os Estudos sobre Os Lusíadas de José Maria Rodrigues (1980), As Fases Históricas da Língua Portuguesa: Tentativa de Proposta de Nova Periodização (1985). Autor de duas dezenas de livros, entre os quais a Moderna Gramática Portuguesa, amplamente utilizada em escolas e meios acadêmicos, e diretor da equipe de estudantes de Letras da PUC-RJ que, em 1972, levantou o corpus lexical do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sob a direção geral de Antônio Houaiss.
Orientador de dissertações de Mestrado e de teses de Doutoramento no Departamento de Letras da PUC-RJ, no Instituto de Letras da UFF e no Instituto de Letras da UERJ, desde 1973. Membro de bancas examinadoras de dissertações de Mestrado, de teses de Doutoramento e de Livre-Docência na Faculdade de Letras da UFRJ, no Instituto de Letras da UERJ e em outras IES do país, desde 1973. Membro de bancas examinadoras de concursos públicos para o magistério superior no Instituto de Letras da UFF, no Instituto de Letras da UERJ e no Departamento de Letras da USP, desde 1978. Foi Diretor do Instituto de Filosofia e Letras da UERJ, de 1974 a 1980 e de 1984 a 1988; Secretário-Geral do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, de 1965 a 1975; Diretor do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, de 1976 a 1977; Membro do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, de 1978 a 1984; Chefe do Departamento de Filologia e Linguística do Instituto de Filosofia e Letras da UERJ, de 1981 a 1984; Chefe do Departamento de Letras da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, de 1968 a 1988.
Membro titular da Academia Brasileira de Filologia, da Sociedade Brasileira de Romanistas, do Círculo Linguístico do Rio de Janeiro. Membro da Société de Linguistique Romane (de que foi membro do Comité Scientifique, para o quadriênio 1996-1999) e do PEN Club do Brasil. Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Internacional da Cultura Portuguesa. Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra (2000). Distinguido com as medalhas José de Anchieta e de Honra ao Mérito Educacional (da Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro), e medalha Oskar Nobiling (da Sociedade Brasileira de Língua e Literatura).
Foi convidado por acadêmicos amigos para candidatar-se à Academia Brasileira de Letras, na vaga do grande Mestre Afrânio Coutinho, na alegação de que a instituição precisava de um filólogo para prosseguir seus deveres estatutários no âmbito da língua portuguesa. Foi Diretor Tesoureiro da Instituição (2002-2003) e Secretário-Geral (2004-2005). Criou a Coleção Antônio de Morais Silva, para publicação de estudos de língua portuguesa, e é membro da Comissão de Lexicologia e Lexicografia e da Comissão de Seleção da Biblioteca Rodolfo Garcia.
Entre centenas de artigos, comunicações a congressos nacionais e internacionais, Bechara escreveu livros que já se tornaram clássicos, pelas suas sucessivas edições. Diretor da revista Littera (1971-1976) com16 volumes publicados; da revista Confluência (1990-2005), até agora com 30 volumes publicados.
Foi eleito por um colegiado de educadores do Rio de Janeiro, com apoio da Folha Dirigida, uma das dez personalidades educacionais de 2004 e 2005. A convite da Nova Fronteira integra o Conselho Editorial dos diversos volumes do Dicionário Caldas Aulete. Em 2005 foi nomeado membro do Conselho Estadual de Leitura do Rio de Janeiro e da Comissão para a Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa, iniciativa do Ministério da Educação.
Em 2008, pela passagem de seus 80 anos, recebeu, como homenagem, uma miscelânea intitulada Entrelaços entre textos, cuja organização, apresentação e escorço biobibliográfico coube ao Professor Doutor Ricardo Cavaliere. A referida homenagem foi editada e publicada pela Nova Fronteira. Ainda em 2008 foi lançada também pela Nova Fronteira 80 anos Homenagem: Evanildo Bechara, obra que aborda a trajetória do professor, gramático e escritor por meio de observação de colegas, alunos, amigos e admiradores. Teve como organizadores Dieli Vesaro Palma, Maria Mercedes Saraiva e outros do IP- PUC/SP.
Em 1950 casou com Ely Chauvet Bechara, da qual no seu momento se separou, e com quem teve um filho chamado Evanildo Chauvet Bechara, especialista em engenharia eletrônica. Em 1987 teve segundas núpcias com Marlit Silva, a sua atual esposa.
Nota: Uma ampla biografia da sua vida, a sua obra, o seu labor docente e o seu trabalho académico pode consultar-se aqui e aqui uma autobiografia.
Fichas dos Documentários
0. Entrevista a Evanildo Bechara.
Duração: 38 minutos. Ano 2013.
1. Depoimento sobre Machado de Assis por E. Bechara.
Duração: 32 minutos. Ano 2016.
2. Aula Magna do Prof. E. Bechara.
Duração: 21 minutos. Ano 2017.
3. O imortal Evanildo Bechara!
Duração: 41 minutos. Ano 2018.
4. Evanildo Bechara na Galiza (AGLP).
Duração: 10 minutos. Ano 2010.
5. Prof. E. Bechara no Programa do Jô (2008).
Duração: 17 minutos. Ano 2012.
6. A Língua Portuguesa e o seu estudo: Palestra de E. Bechara.
Duração: 143 minutos. Ano 2018.
7. Origem e evolução da Língua Portuguesa, intervenção de E. Bechara no Senado do Brasil.
Duração: 33 minutos. Ano 2014.
8. Conferência de E. Bechara em Compostela (AGLP).
Duração: 16 minutos. Ano: 2007.
9. Entrevista a E. Bechara no 1º Seminário de Lexicologia da AGLP em Compostela (2009).
Duração: 9 minutos. Ano 2011. Entrevistador: Alberto Pombo (do PGL).
A sua biobibliografia básica
Entre as obras escritas e publicadas por Evanildo Bechara temos que destacar as mais importantes, algumas das quais chegaram a ter várias edições:
–A contribuição de M. Said Ali à lingüística portuguesa. Porto Alegre: Instº Cult. Brasileiro-Árabe, 1970.
–A nova ortografia. Rio de Janeiro: Grifo, 1972.evanildo-bechara-capa-livro-sobre-o-novo-acordo
–Aprendendo a estudar, ler e escrever. Vitória, Brasília, 1974. Com Amauri Pereira e J. A. Carvalho.
–Comunicação e expressão, curso fundamental de português, 5ª série. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. Com M.ª Zely de Souza.
–Comunicação e expressão: 1.ª série, 2.º grau. Rio de Janeiro: Francisco Alves/Edutel, 1977. Com Samira Nahid, M. de Castro e Célia T. G. da V. Oliveira.
–Curso moderno de português. São Paulo: Companhia Editora Nacional, v. 1-2, 1968/1969.
–Fenômenos de intonação: um capítulo de fonética expressiva. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1946.
–Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2001.
–Guias de estudo de língua e de linguagem, da lingüística ao ensino da língua. Niterói, RJ: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro/Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, v. 3, 1977.
–Guias de estudo de língua e de linguagem, dos termos lingüísticos ao seu conceito. Niterói, RJ: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro/Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, v. 2, 1977.
–Guias de estudo de língua e de linguagem, instrumentos de avaliação. Niterói, RJ: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro/Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, v. 4, 1977.
–Guias de estudo de língua e de linguagem, introdução lingüística. Niterói, RJ: Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro/Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, v. 1, 1977.
–Hora de aprender: comunicação e expressão (1.ª série). Rio de Janeiro: Bloch, 1974. Com C. de Moraes, G. Marra, N. Adell e N. Neiva.
–Hora de aprender: comunicação e expressão (2.ª série). Rio de Janeiro: Bloch, 1974. Com as mesmas colaboradoras.
–Hora de aprender: comunicação e expressão (3.ª série). Rio de Janeiro: Bloch, 1974. Com as mesmas colaboradoras.
–Lições de português pela análise sintática. 16.ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2001 (Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1960).
–Língua e linguagem. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.evanildo-bechara-capa-livro-3
–Luís de Camões, Os Lusíadas, antologia. 2.ª ed. revista e ampliada. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 1999 (Rio de Janeiro: Grifo/INL-MEC, 1973). Com S. Spina.
–Manual de redação oficial do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria de Estado de Administração e Reestruturação, 2000.
–Moderna gramática portuguesa. 37.ª ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 1999 (São Paulo: Nacional, 1961).
–O ensino da gramática: Opressão? Liberdade? 12.ª ed. S. Paulo: Ática, 2006 (S. Paulo: Ática, 1985).
–Primeiros ensaios sobre língua portuguesa. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1954.
–Exercícios de linguagem: curso médio. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1954.
–Seleta de Bernardo Elis. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974. Com G. M. Teles.
–Minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009.
–A nova ortografia. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008 (4ª impressão).
–O que muda com o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2008 (5.ª impressão).
–Estudo da língua portuguesa: textos de apoio. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão. Ministério das Relações Exteriores, 2010.
Nota: São muito numerosos os seus artigos e depoimentos publicados em diferentes publicações periódicas de tipo académico, linguístico e cultural.
Ligações interessantessobre o pensameto do E. Bechara
Para analisar e refletir sobre o pensamento linguístico e educativo de Evanildo Bechara é interessante a leitura dos seguintes trabalhos recolhidos em publicações e na internet:
a) Artigo de Jerônimo Teixeira publicado na revista Veja em 5 de março de 2008, sob o título de “O decano do Português”.
b) Artigo de Carlos Alberto Short, sob o título de “E. Bechara, o homem, o mestre e o amigo”.
c) Entrevista a Bechara na qual fala sobre a educação e a aprendizagem linguística.
d) Artigo de E. Bechara sobre o Acordo Ortográfico.
Temas para refletir e realizar
Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um cinema-fórum, para analisar o fundo (mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.
Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Evanildo Cavalcante Bechara, um dos mais importantes promotores do Acordo Ortográfico da Lusofonia, professor, filólogo e membro da Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro. Na mesma, ademais de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias.
Podemos realizar no nosso estabelecimento de ensino um Debate Papo, sob o tema “a importância do Acordo Ortográfico da Lusofonia para a Galiza”, em que participem escolares e docentes, e mesmo pessoas interessadas no tema da comunidade em que se encontra o nosso centro educativo. No mesmo ter-se-iam em conta as opiniões de Bechara, Malaca, Monteiro Santalha, Carlos Durão, Ângelo Cristovão, Gil Hernández, Estraviz, Barbosa, os académicos da AGLP e membros da Agal e da AICL.
Biografia publicada no Portal Galego da Língua, a 3 de junho de 2020 (aqui reproduzida com a devida vénia)