DÚVIDAS

Nomes próprios em nomes zoológicos e botânicos compostos

Obrigada desde já pelas muitas e importantes respostas que nos têm dado ao longo destes muitos anos.

Hoje a minha pergunta tem a ver com a grafia de nomes de espécies zoológicas que incluam apelidos de cientistas que as descobriram e se esse apelido se escreve com maiúscula ou minúscula. Apesar das muitas pesquisas que fiz, não consegui encontrar uma explicação clara.

O dicionário online da Porto Editora grafa os exemplos abaixo com minúscula. Mas há muitas referências da especialidade que as grafam com maiúscula.

Se houver regra para isto, podem, por favor, explicar? E a regra, se existir, é diferente pré e pós-acordo ortográfico? E, se assim for, qual a forma certa para cada um dos acordos?

Cuvier’s beaked whale – "baleia-de-bico-de-Cuvier" ou "baleia-de-bico-de-cuvier", sendo que Cuvier provém do nome Georges Cuvier (1769-1832, anatomista francês?

Bryde's whale – "baleia-de-Bryde" ou "baleia-de-bryde", sendo que Bryde provém do nome Johan Bryde (1858-1925), cônsul norueguês?

Obrigada pela resposta.

Resposta

Agradecem-se as palavras de apreço da consulente.

Os nomes zoológicos e botânicos compostos escrevem-se com hífenes, e os nomes próprios neles incluídos grafam-se com minúscula inicial:

(1) baleia-de-bico-de-cuvier ou baleia-bicuda-de-cuvier1

(2) baleia-de-bryde2

Estas grafias são válidas tanto à luz do atual acordo como no âmbito da norma anterior (a de 1945). No entanto, há uma diferença quanto às regras donde decorrem:

– Com efeito, na atual norma, que é a do Acordo Ortográfico de 1990, não se explicita uma regra, mas da leitura do n.º 3 da Base XV, que determina a hifenização de compostos que denotam espécies botânicas e zoológicas, depreende-se que tais nomes próprios se escrevem com inicial minúscula, porque a exemplificação inclui dois desses casos: bênção-de-deus, fava-de-santo-inácio.

– Na norma de 1945, em vigorou em Portugal até 2015, não se declarava que, com compostos deste tipo, era obrigatório o hífen, parecendo assim que se abria a possibilidade de alguns nomes zoológicos e botânicos se escreverem sem hífen e, portanto, poderem incluir nomes próprios com maiúscula. Contudo, o texto da norma de 1945, inclui exemplos como erva-de-santa-maria, rainha-cláudia e rosa-do-japão, os quais, além de hifenizados, exibem nomes próprios com minúscula inicial.

Em suma, atualmente os nomes compostos que denotam espécies zoológicas e botânicas escrevem-se sempre com hífen, o que obriga a que os nomes próprios que os integrarem ocorram sempre com minúscula inicial. No passado, a situação não era tão clara, mas, se os nomes fossem hifenizados, teriam de apresentar eventuais nomes próprios com minúscula inicial.

1 Não foi possível atestar baleia-de-bico-de-cuvier, apesar de bem formada, mas o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa regista baleia-bicuda-de-cuvier.

2 Baleia-de-bryde é a forma atestada pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa.

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