1. A conceptualização das realidades associadas à covid-19 e às várias etapas da pandemia tem sido terreno fértil para a criação metafórica. Este processamento cognitivo gera expressões linguísticas que desvendam as interpretações do mundo e a forma como os seres humanos as associam a outras realidades que conhecem. A professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, tem desenvolvido um conjunto de reflexões que se orientam no sentido de delimitar alguns domínios conceptuais que estruturam a produção de metáforas na situação que se vive atualmente. Desta feita, apresenta um apontamento onde aborda o conceito de caminho / corrida, que tem enquadrado construções como «a corrida contra o vírus» ou «isto é uma maratona», e o conceito de doença, que tem permitido falar de áreas afetadas da sociedade, o que tem ficado patente em expressões como a «neurose coletiva» ou a «anemia da sociedade».
Primeira imagem: Fotografia de Jennifer B. Hudson
2. Para além das metáforas, também palavras e expressões têm sido convocadas para dizer a heterogeneidade do universo pandémico, que se tem complexificado e ramificado em inúmeros domínios. Exemplo disso é a recente descoberta que traz o nome da alpaca, mamífero da América do Sul, para A covid-19 na língua, o que acontece porque este animal tem anticorpos raros que poderão vir a ser usados nos tratamentos da covid-19. Nesta atualização, o glossário acolhe ainda os termos limpeza, hemorragia, luto e a expressão «comprar tempo». No Dia Mundial do Ambiente, que se celebra a 5 de junho, recorde-se também que a pandemia trouxe consigo efeitos positivos para o ambiente (na melhoria da qualidade do ar, por exemplo), mas também maior poluição devido aos descartáveis que se usam (luvas ou máscaras, entre outros) e um recuo nas práticas de reciclagem (ver notícia).
Esta é uma oportunidade também para recordar algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o ambiente: «Etimologia do meio ambiente», «Ambiência e ambiental», «Novamente, impacto e impacte» e «Sobre a formação dos substantivos compostos». E, a propósito da abertura em Portugal da época balnear sob rigorosas medidas restritivas de ocupação do areal e do distanciamento por causa da pandemia, fica também a sugestão de alguns esclarecimento no aquivo do Ciberdúvidas sobre a praia: O campo lexical de praia + O campo semântico de praia + «Arenosa praia...» + Oceano, praia e respectivos holónimos.
3. A complexidade das estruturas sintáticas permite o encaixe de orações no interior de outras e ainda que uma oração desempenhe uma função sintática no plano da frase. Estas possibilidades tornam, por vezes, labiríntica a análise da frase. É o que acontece no verso de Florbela Espanca «Morder como quem beija!». Outras questões chegam ao Consultório do Ciberdúvidas: entre elas, assinalamos a dúvida quanto à forma correta de pronunciar a palavra dorminhocos, motivada pelas oscilações de pronúncia entre o singular e o plural de algumas palavras, e a determinação da grafia correta da palavra Troino (antigo bairro de Setúbal). Do Brasil, chega uma questão relativa ao género do nome babá e outra que indaga a classe de menos na locução «em menos de uma hora».
4. O gramático e académico Evanildo Bechara é uma das figuras que tem contribuído de forma destacada para o estudo da língua portuguesa. Com um currículo riquíssimo em diferentes áreas da linguística, tem já um lugar na história, como bem o comprova a longa biografia e a diversificada bibliografia compiladas pelo professor galego José Paz Rodrigues. Nesta resenha, é ainda possível recordar diferentes vídeos de entrevistas, conferências e aulas de Evanildo Bechara (uma biografia divulgada no Portal Galego da Língua, aqui reproduzida com a devida vénia).
5. Os nomes que damos às letras e as letras que usamos para grafar determinados sons são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que, num registo dialogal, desfaz alguns equívocos conhecidos.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.