1. A forma como se perceciona a realidade resulta de um processo cognitivo que a língua filtra. Este mecanismo, que está na base da criação do campo conceptual onde as metáforas de desenham, tem sido particularmente produtivo no contexto da crise pandémica que se atravessa. Analisando estes movimentos linguísticos, a professora Carla Marques propõe no seu apontamento «Das linhas de trincheira ao olho do furacão» uma viagem pelas metáforas que perspetivam a situação da covid-19 convocando a realidade da guerra ou a das catástrofes naturais. Noutros domínios da língua, a ação do novo coronavírus continua a contribuir para o alargamento do campo lexical que se constrói em seu torno. Desta realidade damos conta dos novos termos e expressões introduzidos no glossário do A covid-19 na língua: «Abraços (e beijos) virtuais», «economia zombie», «geração da pandemia», nanovacina, «momento Hamilton», «nova vida», paliar, reconfinamento e «síndrome da cabana».
2. Será lícito aportuguesar nomes de autores de obras literárias? Esta é uma das questões que nos chegaram e a que respondemos na atualização do Consultório, onde analisamos ainda perguntas como «Qual a grafia de claviarpa?», «A que classe pertence conforme?», «Padre é nome biforme ou uniforme?». Por fim, identificam-se os atos de fala configurados num conjunto de enunciados.
3. Em Portugal, «dá-se a alguém», no Brasil, «dá-se para alguém» com frequência. Esta é uma das muitas diferenças entre as variantes europeia e brasileira. Dando conta desta realidade, o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi explica, no artigo «Ah, que saudade do a!», que este afastamento resulta de uma evolução do português brasileiro, que foi abandonando gradualmente a preposição a, pedida por verbo dicendi ou dativa, para a substituir por para.
4. Podemos ter saudades de uma pessoa, de um local e também de uma construção linguística porque a língua é espaço de afetos. Isso mesmo recorda a colaboradora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques, ao associar, num artigo divulgado em 2011, as reações ao acordo ortográfico aos sentimentos que a língua estimula nos falantes, ao mesmo tempo que recorda que a ortografia sempre foi convencional e um produto humano.
5. O professor universitário e tradutor Marco Neves divulgou no seu blogue Certas Palavras um excerto da obra ABC da Tradução – um apanhado de palavras, de A a Z, que descrevem a atividade da tradução – e um outro seu livro, Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português: «Volta à França» é erro de português?
6. Os estudiosos da língua têm ao seu dispor o sítio Fontes Linguísticas do Português, um espaço da responsabilidade do professor e lexicógrafo João Paulo Silvestre, que organizou uma vasta bibliografia, relacionada com o percurso da gramática portuguesa, num período compreendido entre os séculos XVI e inícios do XX. Organizada em três secções, Gramática, norma e ensino, Dicionários e Reflexões metalínguísticas, esta será uma fonte de consulta privilegiada para quem procura conhecer não só a história da língua portuguesa como também a da linguística portuguesa.
7. Num momento em que, em Portugal, se anuncia que no próximo ano letivo o ensino terá uma componente em casa, é tempo de refletir sobre o modelo de ensino à distância criado em resposta à necessidade de confinamento. Há quem defenda que o verdadeiro ensino não pode acontecer à distância (artigo do jornal Público). Noutra perspetiva, os professores da "nova telescola" contam como foi difícil o processo de preparação do projeto #EstudoEmCasa (aqui). Noutro sentido, o ministro da educação Tiago Brandão Rodrigues anunciou que o ministério está atento às possíveis inflações das classificações dos alunos e que os exames nacionais serão ajustados à situação excecional que se vive (aqui).
8. Embora o desconfinamento vá abrindo portas e convide os portugueses a sair de casa, ainda não é possível, por exemplo, ir ao cinema. Por essa razão, a Medeia Filmes continua a disponbilizar, na sua Quarentena Cinéfila, filmes que poderão ser vistos em casa (cf. os filmes em exibição).
9. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, destacamos o tema do ensino do português no Instituto Politécnico de Macau e na China em geral, que se repercute nos países africanos de língua oficial portuguesa (no Língua de Todos, emitido pela RDP África*) e o projeto Património léxico da Gallaecia (no Páginas de Português, da Antena 2**)
* Na sexta-feira, dia 22 de maio, pelas 13h20, com repetição no sábado, dia 23 de maio, depois do noticiário das 09h00.
** No domingo, dia 24 de maio, pelas 12h30*, com repetição no sábado, dia 30 de maio, às 15h30
10. A última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! continua a ser repetida na RTP2. No sábado (23/05) e no domingo (24/05), será possível rever os programas dedicados ao veterinário e ao ourives. Mais pormenores aqui.
Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.