1. As palavras novas nascem das necessidades de comunicação. É neste contexto que, na presente atualização do Consultório, se analisa a possibilidade de formar o adjetivo preletivo a partir do nome preleção. Também a pronúncia de uma palavra "nova" para o falante pode dar azo a dúvidas: é o que acontece com a forma verbal esmero. O uso do singular no complemento do nome na expressão «crimes de leso-patriotismo» é alvo de explicação numa outra resposta. E a que classe de palavras pertence a expressão «graças a Deus» e qual a sua função sintática? Por fim, as orações de uma frase poética e a elevação do sujeito a complemento direto dão matéria para uma última questão.
Na imagem, pintura de René Magritte, Golconde, de 1953.
2. A questão das palavras que se gastam dá mote a um novo apontamento de Carla Marques, professora e consultora do Ciberdúvidas, desta feita à volta do verbo fazer, cuja interpretação exige, por vezes, um esforço interpretativo acrescido, disponível na rubrica O Nosso Idioma.
3. No mundo da lusofonia, registe-se a atribuição do Prémio Literário Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM)/ Eugénio Lisboa (2.ª edição) a Aurélio Manuel Furdela, contista e dramaturgo moçambicano, pela obra Saga d'Ouro. Um prémio que incentiva a criação literária moçambicana.
4. A propósito da difusão e alargamento da língua portuguesa no mundo, destacamos as seguintes notícias:
– No México, no próximo ano letivo (com início do verão de 2019), o ensino secundário orientado pela Universidade Latina da América passará a contar com o português língua estrangeira como disciplina obrigatória no ensino do "bachillerato" (correspondente ao ensino secundário), conforme noticia o Instituto Camões (ler nota informativa aqui);
– A criação de um leitorado de português no México, na Universidade de Guadalajara;
– O aumento da frequência de cursos de português na África do Sul, em resultado de um esforço para firmar a importância da língua portuguesa em África.
5. O programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 7 de dezembro, pelas 13h15* (com repetição no sábado, 8/12), entrevista José Viale Moutinho, a propósito da publicação da Camiliana, pelo Círculo de Leitores, em quatro volumes. Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 9 de dezembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 15 de dezembro, às 15h30), conversa com a professora Iolanda Ogando, da Universidade da Extremadura, sobre os portuguesismos e espanholismos que marcam os falares das gentes que habitam do lado de cá e do lado de lá do Guadiana e sobre a utilidade dos portuguesismos para ensinar o idioma de Camões como língua estrangeira.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1. «Não gostar de tudo» será o mesmo que «não gostar de nada»? A diferença é comentada no consultório, cuja atualização inclui a análise de uma frase de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1799-1854), um breve apontamento sobre a história da insólita grafia Bahia e o regresso das dúvidas ainda suscitadas pelo verbo contratualizar.
2. Na rubrica O nosso idioma, a jornalista Rita Pimenta explora a semântica do vocábulo combustível, na ordem do dia por causa dos distúrbios em Paris, em 1/12/2018, durante a manifestação dos «coletes amarelos» contra o aumento do preço dos combustíveis (texto transcrito do jornal Público, de 2/12/2018). Nas Controvérsias, outra mudança que se rejeita: a da alteração do nome de um velho largo em Lisboa, severamente criticada pela jornalista Ana Fernandes no Público de 28/11/2018.
3. Em Diversidades, a língua veicular do nosso tempo, o inglês, tem o seu perfil histórico traçado pelo professor universitário e tradutor Marco Neves, num texto que se transcreve com a devida vénia do blogue Certas Palavras.
4. A atualidade fica marcada neste dia pela visita oficial a Portugal do presidente da República Popular da China, Xi Jiping (na imagem, o nome China, em mandarim Zhōngguó). O contacto com a China tem motivado empréstimos vocabulares e a criação de muitas expressões, que já foram objeto de atenção no consultório e nas demais rubricas do Ciberdúvidas, a saber: "Marco Polo e o negócio da China"; "Iuane e yuan"; "O hífen em palavras como tinta da China"; "O sufixo -idade e o 'sentimento de ser chinês'"; "O gentílico de Nanquim (China)"; "Marco Polo, Angola e uma final do futebol português … em inglês". Sobre o intercâmbio linguístico com este país, tendo por centro o território de Macau, ler também "Macau, «enorme ponte virtual» entre a China e a língua portuguesa", "O português em África e na China, do ângulo de Macau", "Português Língua Estrangeira: negócio da China?", "O português na televisão e na China"; "A sintaxe do medo, o termo decrescimento e os palavrões na relação com o ser humano"; "O português em expansão, palavras de inadequado uso, o verbo desmoer e uma oração relativa 'bíblica'"; "O Português na China".
5. Continuando com temas da atualidade, refira-se ainda a Cimeira do Clima que a Organização das Nações Unidas realiza de 2 a 14/12/2018, em Katowice, na Polónia. Uma palavra recorrente nas notícias será com certeza descarbonizar, que denota a redução das emissões poluentes por ação humana. À volta do tema, sugere-se a consulta dos seguintes artigos e respostas: "Os adjetivos derivados de clímax: climáctico e 'climácico'" ; "..'Alterações climáticas' ou 'mudanças climáticas'"; "A formação da palavra edafoclimático"; "Condições atmosféricas"; "As acepções do adjectivo temporal"; "Condições edafoclimáticas" ; "O adjectivo climatérico"; "Do clima à ortografia". E, à medida que 2018 chega ao seu termo, aparecem as já tradicionais listas de candidatas à palavra do ano, salientando-se cinco entre elas, no que diz respeito a Portugal. Trata-se da tradicional iniciativa da Porto Editora, conforme uma notícia do jornal digital Observador: assédio, toupeira, professor, paiol e populismo. Para saber porquê, ler aqui.
1. No Consultório, identificamos dissomia como a palavra procurada por um consulente para traduzir um termo do francês. Indaga-se, ainda, a origem da expressão «grande soda», a regência do verbo dignar-se (com preposição a, de ou sem preposição) e a grafia de um topónimo alemão (Listenstaine ou "Lichtenstein"?).
2. Diferentes rubricas do Ciberdúvidas apresentam atualizações:
– A mais recente publicação de Manuel Monteiro, revisor linguístico e formador, intitulada Por Amor à Língua, é apresentada na Montra de Livros, numa apreciação que equaciona pontos fortes e fracos de um livro que procura diagnosticar e corrigir os vícios da «linguagem que por aí circula», como se refere no subtítulo;
– A confusão entre lasso e laço, identificada na notícia da edição digital de um jornal desportivo, motiva um novo apontamento no Pelourinho, onde se dá conta das diferenças entre as duas palavras homófonas;
– No Correio, debate-se uma questão de ordem político-económica que busca razões para não serem vendidas obras portuguesas no Brasil.
3. Entre as atualidades no âmbito da língua portuguesa:
– A Universidade Aberta está a liderar a criação de uma rede de ensino a distância em conjunto com seis instituições de ensino superior de países de língua oficial portuguesa. Este projeto estuda a criação de cursos livres, licenciaturas, mestrados e mesmo doutoramentos, que poderão ser frequentados nos países lusófonos a partir de casa;
A propósito de ensino a distância, lembramos o projeto Ciberescola da Língua Portuguesa, que oferece materiais gratuitos de apoio à aprendizagem do português, bem como cursos de Português Língua Estrangeira (PLE) a alunos adultos, dados através de videoconferência.
– Num artigo publicado na sua página, a Vortexmag recorda-nos que o sítio BuzzFeed incluiu em 2015 a palavra desenrascanço entre as "28 mais belas palavras que a língua inglesa deveria roubar" ao japonês, ao francês, ao indonésio, entre muitas outras línguas. São palavras belas sem tradução para a língua inglesa e que são explicadas aos leitores por meio de paráfrases. A palavra desenrascanço foi apresentada como «improvisação de última hora de uma solução apressada mas perfeitamente eficaz» (tradução proposta no artigo sobre o assunto) significado a que se segue a referência à conhecida personagem fictícia de uma série dos anos 80, MacGyver, mestre na resolução improvisada de problemas complexos, no desenrascanço, diriam os portugueses (cf. lista de palavras selecionadas aqui).
Uma questão sobre o verbo desenrascar e a sua origem passou já pelo Consultório e a seleção da palavra pelo sítio BuzzFeed foi também devidamente assinalada (aqui).
4. Destaque também para o programa Língua de Todos, que entrevista Iolanda Ogando, da Universidade da Estremadura, de Badajoz, sobre os portuguesismos como estratégia para a reivindicação da literatura nas aulas de Português como Língua Estrangeira (na RDP África, na sexta-feira, dia 30 de novembro, pelas 13h15*, com repetição no sábado, 1/12). No programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 2 de dezembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 8/12, às 15h30), estaremos à conversa com Manuela Pargana Silva, coordenadora nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, sobre os 20 anos deste projeto e os desafios para o futuro.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1.Como traduzir para inglês, francês, alemão ou castelhano o termo açorda, tão típico da cozinha do Portugal meridional? Para resolver este e outros problemas de tradução no domínio da gastronomia, a Montra de Livros apresenta o Dicionário Gastronómico Multilingue, numa edição da Dinalivro, em Portugal, e da Estante, no Brasil, da autoria de Rodolfo Farinha.
Uma brevíssima nota etimológica: açorda é um arabismo, do árabe hispânico attúrda, «sopa de pão; migas de pão cozido» ou «sopa de alho» (ver o Dicionário Houaiss e, de Federico Corriente, o Diccionario de Arabismos, Editorial Gredos, 2003).
2. Muita gente gostaria que o uso da vírgula fosse sempre previsível, ditado por regras simples. A verdade é que, havendo casos em que tal sinal é obrigatório, há muitas situações que dependem da intenção de quem escreve. É esta a conclusão a que se chega no consultório, com uma resposta a propósito do emprego de vírgula com orações subordinadas adverbiais. Outras questões nesta atualização: falando do título de um jornal, escreve-se «entrevista à Bola», ou «entrevista a A Bola»? Qual a etimologia do verbo chegar? Que sentido tem a construção «ou não fosse»? E, para manifestar uma opinião, será que «acho que...» é a única expressão disponível?
3. Em Portugal as notícias sobre a greve dos estivadores do porto de Setúbal referem a preocupante situação laboral desses trabalhadores – e não só desses, valha a verdade...–, mas, nos canais audiovisuais, volta-se a pronunciar mal a palavra precariedade, que perde indevidamente o i.
Recordemos o muito que aqui tem sido dito sobre tão maltratado vocábulo: "Precariedade e não 'precaridade'", "Precariedade", "Como dizer mal ("precaridade") escrevendo bem (precariedade)", "Unicidades a mais e a menos de um 1.º de Maio", "Polémicas linguísticas", "Precariedade, sem aspas" "Razões q. b. para recusarmos o barbarismo 'precaridade'", "Teimando no erróneo 'precaridade'", "Precariedade, pagar e salário", "Precariedade", "'Tá-se bem' – ou um verbo em vias de extinção", "Falando de precariedade,sem esquecer o aniversário de Cesário Verde", "Falar de precariedade no 1.º de Maio", "Precariedade, e não 'precaridade'", "Dois velhos tropeções, a linguagem náutica no Cuidado com a Língua!", "O escusado anglicismo startup, o velho tropeção na 'precaridade' e... palavras e expressões com História", "O regresso de 'precaridade' e outros erros insistentes".
4. Ainda a respeito da atualidade à volta da língua portuguesa, registe-se a atribuição do Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores ao poeta, romancista e professor universitário Helder Macedo pelo livro Camões e Outros Contemporâneos, que reúne ensaios e testemunhos sobre a influência perdurável da obra de vários autores .
Sobre Helder Macedo, lembramos este seu diálogo com o escritor brasileiro Ferreira Gullar (prémio Camões 2010) – num trabalho da autoria do jornalista João Paulo Cotrim, publicado na revista Up Magazine (revista de bordo da TAP Portugal), em 2013, com o titulo "Diálogos Atlânticos".
5. No programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, 30 de novembro, pelas 13h15* (com repetição no sábado, 1 de dezembro), entrevista-se Iolanda Ogando, da Universidade da Estremadura, de Badajoz, sobre os portuguesismos como estratégia para a reivindicação da literatura nas aulas de Português como Língua Estrangeira. O Páginas de Português, programa que vai para o ar na Antena 2, no sábado, 2 de dezembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 8 de dezembro, às 15h30), inclui uma conversa com Manuela Pargana Silva, coordenadora nacional da Rede de Bibliotecas Escolares, sobre os 20 anos deste projeto e os desafios para o futuro.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1. A importância das palavras fica bem patente na nova atualização do Consultório. Elas suscitam dúvidas sobre a sua grafia (bola ou bôla?), a sua origem (mandonismo faz parte do português do Brasil?) e as suas concordâncias (Olhos cinza ou olhos cinzas? e «O problema do Brexit é as fronteiras» ou «são as fronteiras»?)
2. A atualidade traz à tona palavras que se repetem incessantemente na comunicação social ou nas conversas quotidianas:
– Black Friday é a expressão oriunda dos Estados Unidos que dominou o comércio em Portugal e noutros locais do mundo e que já deu origem a termos derivados como Black Weekend ou Black Week. Em português, deveria preferir-se a designação Sexta-feira Negra, termo que continua em segundo plano face ao domínio da expressão inglesa;
Podemos recordar um pouco da história do aparecimento do nome/conceito Black Friday aqui e aqui.
– A palavra risco desencadeia a reflexão da jornalista Rita Pimenta na sua coluna semanal no P2 (suplemento do jornal Público): os riscos presentes na derrocada de uma pedreira em Borba ou evocados pela morte de uma família em Sabrosa, que «vieram lembrar como é "um risco" viver em Portugal», como afirma a autora;
– Mármore, outro termo relacionado com a derrocada da pedreira de Borba, é palavra retomada por Galopim de Carvalho, professor universitário português jubilado, muito conhecido pela defesa da divulgação e preservação do património relacionado com os dinossauros, num texto publicado originariamente na sua página pessoal do Facebook. Nele recorda a origem e a história da palavra, as características geológicas do calcário e ainda palavras relacionadas com mármore;
– A ilha Sentinela do Norte, na Índia, e os seus habitantes, os sentinelenses, viram-se recentemente envolvidos na notícia do homicídio de um missionário estadunidense que decidiu evangelizar este povo que há muito vive isolado do mundo, devido ao seu caráter violento. Estes factos são o ponto de partida para a nova publicação do tradutor e professor universitário Marco Neves, no seu blogue Certas Palavras. Nela, reflete-se sobre as condições de aparecimento da linguagem entre os seres humanos, assinalando estudos fundamentais sobre o assunto e destacando alguns traços comuns às diferentes línguas humanas que serão também característicos da língua dos sentinelenses, que nunca ninguém ouviu.
3. Da autoria de Marco Neves é o recém-publicado Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português, da editora Guerra & Paz – em destaque na rubrica Montra de Livros, com um apontamento do editor executivo do Ciberdúvidas, Carlos Rocha. Trata-se de uma obra que procura desmistificar ideias feitas sobre usos considerados incorretos e na qual o autor defende um uso mais aberto da língua.
1.«Surpresa inesperada», «pequenos detalhes» ou «ambos os dois» são bons exemplos de pleonasmos, isto é, de sequências de palavras redundantes. Em O nosso idioma, a linguista Carla Marques explica o seu funcionamento, num texto que é também um exercício divertido para tomar consciência dessas expressões e saber evitá-las em discurso. Noutro apontamento, Sara Mourato comenta o topónimo Valhadolid, um dos aportuguesamentos do nome da cidade castelhana de Valladolid, onde, em 21/11/2018, se realizou a 30.ª Cimeira Luso- Espanhola. Entre o muito que se publicou no século XX em Portugal sobre preceitos normativos, recupera-se um texto do professor universitário, jornalista e escritor português Agostinho de Campos (1870-1944), a respeito dos usos incorretos da locução «ponto de vista». Já que se fala de erros, leia-se a reflexão feita pelo linguista brasileiro Aldo Bizzocchi no seu blogue Diário de um Linguista (20/11/2018), à volta do papel da inovação, variação e mudança na vida dos idiomas (texto transcrito, com a devida vénia, para O nosso idioma). Finalmente, porque se fala da dinâmica das línguas, transcreve-se a crónica que o professor e jornalista angolano Edno Pimentel assinou em 22/11/2018, no semanário Nova Gazeta, em torno de um caso de escusada concordância – «ela foi pouca esperta»
2. A abreviatura de observação, Obs., deve escrever-se sempre com ponto? O que é mais correto: «há que fazê-lo», ou «há que o fazer»? E a que classe de palavras pertencerá a palavra próprio? As respostas fazem parte da atualização do consultório, que inclui mais duas questões, uma sobre o regionalismo matação e outra sobre o uso de maiúsculas iniciais no geónimo Península Itálica.
3. Ainda sobre a visita oficial a Portugal do Presidente de Angola, João Lourenço, entre 22 e 24/11/2018, já devidamente assinalada na nossa anterior Abertura. Interrogado sobre o combate à corrupção no seu país, João Lourenço afirmou, em linguagem metafórica, estar disposto a «matar o ninho do marimbondo» (= ninho de uma espécie de vespas), mesmo que leve umas picadas. Marimbondo tata-se de um agolanismo registado no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa com a definição genérica de «designação comum e imprecisa aos insetos himenópteros, espécie da família dos vespídeos e pompilídeos, sociais ou solitários, geralmente maiores e dotados de ferrão, distinguindo-se das vespas por manterem as asas anteriores longitudinalmente dobradas quando estão pousados». A fonte citada menciona uma variante, maribondo, e atribui a origem de ambas as formas ao quimbundo mari'mbondo, um composto de ma, prefixo de plural, e rimbondo, «vespa». Sobre a influência do quimbundo e outras línguas bantas de Angola no português consultem-se os seguintes artigos e respostas: "A língua quimbundo" (1997); "Quimbundo/kimbundo" (1998); "Quicongo e quimbundo" (1999); "Quimbundo no português" (2000), "Xingo" (2014); "Um cubico sem aspas" (2015).
A imagem construída por João Lourenço com base no vocábulo marimbondo foi muito comentada pela comunicação social portuguesa. Sobre as declarações do Presidente angolano em Portugal, saliente-se a visão da jornalista Bárbara Reis em "Até os marimbondos ajudaram para criticar José Eduardo dos Santos", artigo de opinião saído no jornal Público em 23/11/2018: «Os marimbondos são vespas que caçam aranhas e a sua picada está no topo da escala da dor das picadas de insectos. Fazem parte da cultura popular angolana e há até um poema de Ernesto Lara Filho [1932-1977], "Picada de Marimbondo", que foi musicado pelo célebre Waldemar Bastos (e que Fausto adaptou para o seu disco A Preto e Branco [com versão de Filipe Mukemba]). Porque está a falar para dentro, mas também para fora, Lourenço usou a imagem com calma: “Quando nos propusemos combater a corrupção em Angola, tínhamos noção de que precisávamos de ter muita coragem, sabíamos que estávamos a mexer num ninho de marimbondos. Até se costuma dizer que a picada da vespa é mais dolorosa do que a picada da abelha, por isso imaginem... Nós sabíamos que podíamos ser picados. Já começámos a sentir as picadelas. Mas isso não nos vai matar. Não é por isso que vamos recuar. É preciso destruir esse ninho de marimbondos. Quantos marimbondos existem nesse ninho? Não são muitos. Angola tem 28 milhões de habitantes, mas não há 28 milhões de corruptos. O número é bastante reduzido. Há uma expressão em Angola: somos milhões e contra milhões ninguém combate. Essa expressão continua viva, não morreu. Que ninguém pense que, por todos os recursos que tem, de todo o tipo, consegue enfrentar-nos.” O recado ficou dado. Mais tarde, um jornalista angolano lembrou que a frase de propaganda das FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), que ele ouviu muitas vezes quando era um jovem pioneiro, acaba assim: “Quem combate será derrotado.” [...]»
Cf. Sobre a evolução semântica do lexema “marimbondo”
4. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, refira-se o Língua de Todos, que se centra no projeto de Português Língua Não Materna para alunos do 1.º Ciclo que a Ciberescola desenvolve em parceria com a Direção Geral de Educação (RDP África, sexta-feira, dia 23 de novembro, pelas 13h15*; com repetição no sábado, 24/11). No programa Páginas de Português, a situação da língua portuguesa na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde é o tema central de uma entrevista às investigadoras Maria Antónia Barreto e Clara Carvalho (Antena 2, domingo, 25 de novembro, às 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 1 de dezembro, às 15h30).
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1. A tendência para a harmonia é uma das características dos usos da língua. Os falantes procuram a regularidade, o que gera as dúvidas. Um dos objetivos do Consultório passa pelo auxílio no esclarecimento das questões que a língua oferece aos seus utilizadores. Na presente atualização, mostra-se como as incertezas linguísticas podem passar pela grafia correta de uma palavra (dí(c)tico, dêí(c)tico ou deí(c)tico? ou ainda pitaia ou pitaya?), pelos sentidos veiculados pelas palavras («uma colisão pode ser repetida?» e «o vento faz-se sentir ou sente-se?»), pela disposição ("à inglesa") do texto na página («Quais as normas de indentação (recuo de parágrafo)?») ou pela tentativa de compreensão do uso dos pronomes no cotejo entre uma expressão espanhola («me lavé las manos») e uma portuguesa («lavei as mãos»).
2. Os problemas ortográficos são uma das causas de desequilíbrio na harmonia da língua. Ciente desta realidade, Sandra Tavares Duarte, professora e linguista, reúne, em artigo publicado originalmente na edição digital da revista Visão, um conjunto de erros que importa procurar corrigir. Marco Neves, tradutor e professor, buscando palavras que unem e a propósito de um agradecimento aos seus leitores, desvenda a história da palavra obrigado (texto que se trancreveu do seu blogue Certas Palavras). Em sentido contrário, Miguel Esteves Cardoso, colunista do jornal Público, reflete sobre as palavras gastas, usadas automaticamente, sem a novidade da primeira vez, na sua crónica diária.
3. Quanto à atualidade relacionada com a língua portuguesa:
– Registe-se a visita a Portugal do Presidente angolano, João Lourenço, de 22 a 24 de novembro (notícias aqui e aqui). Trata-se da primeira visita oficial a Portugal, numa missão que procura estreitar as relações entre Portugal e Angola.
A reaproximação entre Portugal e Angola abre espaço também para revisitar algumas publicações do Ciberdúvidas relacionadas com o português falado em Angola. Destacamos a evolução desta variante do português, questões lexicais diversas relacionadas com os termos esquebra, chota, palanca (negra) e outros, ainda o neologismo calorear, o verbo manter ou empréstimos do umbundo ao português. Recordamos também o Dicionário de Regionalismos Angolanos, o programa de rádio produzido pela Radio Nacional de Angola com a colaboração do Ciberdúvidas sobre os Mambos da Língua, um vídeo que apresenta e explica vocábulos característicos do português de Angola e ainda as crónicas de Edno Pimentel, professor de português em Angola e colaborador do jornal Nova Gazeta.
– Ainda uma nota para a mais recente polémica linguística: após Pedro Filipe Soares, líder da bancada do Bloco de Esquerda, ter usado o termo "camarados" na XI Convenção do Bloco de Esquerda, num descuido propiciado pela linguagem inclusiva, Nuno Melo, eurodeputado do CDS, veio acusá-lo de estar disposto a «assassinar a língua portuguesa, para sublinhar proclamações de género ridículas», num artigo publicado do Jornal de Notícias. Em resposta à polémica que se gerou em torno do erro, que foi prontamente corrigido, Pedro Filipe Soares, num artigo do Público, veio recordar que a língua é ideológica e tem história, defendendo ainda que há uma campanha contra a linguagem inclusiva.
As polémicas relacionadas com as questões de género na língua têm estado presentes em diversos artigos publicados no Ciberdúvidas, entre os quais destacamos "Qual a regra gramatical que permite a forma presidenta?", "Os cidadãos e a gramática", "Calem-se, por favor, mas de vez", "A propósito do feminino de procurador-geral da República", "Sobre o género gramatical das palavras" e "Pai e Mãe Nossa que estais no céu".
Cf. Governo substitui “direitos do Homem” por “direitos humanos” + A linguagem inclusiva, esse "perigo público"
4. O programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 23 de novembro, pelas 13h15* (com repetição no sábado, 24/11), apresenta uma entrevista com a professora Ana Paula Gonçalves, sobre o projeto desenvolvido pela Ciberescola de ensino de Português Língua Não Materna aos alunos do 1.º Ciclo, em parceria com a Direção Geral de Educação. Num apontamento, a nossa colaboradora, Ana Sousa Martins, refere-se ainda à importância do latim para a aprendizagem do português. No programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 25 de novembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 1 de dezembro, às 15h30), a situação da língua portuguesa na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e em Cabo Verde constitui o tema central de uma entrevista às investigadores Maria Antónia Barreto e Clara Carvalho. Estas especialistas registam as variações e percecionam tendências e evoluções.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1. Na presente atualização, um denominador comum, o gosto em conhecer e explicar a língua, sem deixar de a relacionar com a vida social. É o caso das quatro novas respostas que trazem ao consultório novos tópicos de reflexão – dos significados do substantivo paradocente e do pronome pessoal consigo aos usos frásicos de «ter à mão» e do verbo entreter.
Na imagem, o retrato de D. José Pessanha (1885), de Columbano (1857-1929). Repare-se no pormenor do espelho, à direita.
2. Em O nosso idioma, dois textos ilustrativos do valor documental do léxico do português:
– à volta da polissemia e da estilística do adjetivo bom, recupera-se da tradição metalinguística portuguesa do século XX um trecho de Língua e má língua (Livraria Bertrand, 3.ª edição, 1945), obra do escritor, jornalista, pedagogo e político português Agostinho de Campos (1870-1944);
– a propósito do falecimento do autor norte-americano de banda desenhada Stan Lee em 12/11/2018, e evocando a memória de Steve Ditko, ambos celebrados autores das aventuras dos super-heróis da Marvel, uma abordagem ao termo «banda desenhada» numa crónica da jornalista Rita Pimenta (do jornal Público de 18/11/2018).
3. Na Montra de Livros, apresenta-se um título curioso: O Pequeno Livro do Grandes Insultos, um novo livro do editor e cronista Manuel S. Fonseca, que com ele propõe uma «viagem arrojada à montanha-russa dos insultos», nomeadamente daqueles «que, de vez em quando, usamos para ferir de morte alguém».
4. Uma última nota, a respeito de outro autor, que, em Portugal, se tem distinguido pelo seu contributo para a divulgação de temas linguísticos e para a qualidade do debate em torno da língua portuguesa. Referimo-nos ao professor e tradutor Marco Neves, que em 20/11/2018, em Lisboa, lança o Dicionário de Erros Falsos e Mitos do Português. Do texto promocional, destaque para esta frase: «O autor ataca tabus, desmonta mitos e defende com unhas e dentes a riqueza da língua em toda a sua variedade social.»
1. Qual fénix renascida, algumas palavras também se reerguem das próprias cinzas. Há palavras repletas de vitalidade e pujança e outras adormecidas e votadas ao esquecimento. Há palavras que estão "na moda" e outras que ninguém usa ou mesmo (re)conhece. A palavra mandonismo encontrava-se neste limbo até Jerónimo de Sousa, líder do Partido Comunista Português, a trazer de novo para a ribalta na entrevista que concedeu ao jornal Público e à Rádio Renascença. Mandonismo significa «tendência para, hábito ou desejo de mandar em qualquer circunstância, especialmente com abuso e prepotência» (Dicionário Houaiss) e, segundo o dicionário, é uma palavra usada sobretudo no Brasil. Mandonismo formou-se a partir da associação do sufixo -ismo ao radical mandon, de onde derivou mand(ão). Um termo que se arrisca a não ficar esquecido nos tempos que correm.
A resposta a uma questão sobre algumas palavras em desuso (arcaicas) pode ser encontrada no Consultório do Ciberdúvidas. Recordamos ainda um artigo sobre palavras na "moda" nos textos da comunicação social.
2. Miguel Esteves Cardoso, jornalista e escritor, explora, na sua crónica do jornal Público, o uso quotidiano da expressão "alguma coisa foi", enquanto manifestação explicativa de ocorrências para as quais não se encontra explicação provável (disponível na rubrica O Nosso Idioma).
3. Na atualização do Consultório, encontramos dúvidas relacionadas com a pronúncia de palavras como cerca, cinco ou sete: o som inicial destas palavras pronuncia-se sempre [s] (como em pássaro) ou também pode corresponder a [ʃ] (como em chamar)? E como se pronuncia corifeu e cacheiro? E interregno? Já no plano sintático, a atenção recai sobre a palavra quanta. Será um pronome relativo? E a expressão tão único é aceitável? Para concluir, uma questão ortográfica relacionada com a escrita dos símbolos de referências monetárias.
4. No âmbito da atualidade internacional, tem lugar a 26.ª Cimeira Ibero-Americana, na sexta-feira, dia 26 de novembro, na cidade de Antígua na Guatemala. Contando com a participação, por parte de Portugal, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e pelo Brasil, do Presidente ainda em funções, Michel Temer, tem como lema «Uma Ibero-América próspera, inclusiva e sustentável».
A propósito da Cimeira Ibero-Americana, relembramos alguns textos publicados no Ciberdúvidas: a pronúncia correta de ibero e a grafia de Ibero-América. E ainda um artigo de reflexão sobre o espaço da lusofonia no mundo, na rubrica Lusofonias.
5. A Oxford Dictionaries anunciou que toxic é a palavra internacional do ano 2018. Entre as razões que justificam a escolha está o facto de o número de pesquisas da palavra nas páginas do dicionário ter aumentado significativamente e também a diversificação de contextos em que a palavra é utilizada, nomeadamente como adjetivo que qualifica determinadas realidades, como "chemical", "masculinity", "environment", "relationship", "culture","waste", "algae" e, por fim, "air" (para mais detalhes, leia-se a notícia do jornal Público aqui).
6. Destaque para o Congresso Internacional Luso-Brasileiro (IV edição), promovido pelo Centro Cultural Eça de Queiroz/Telheiras. O congresso, a decorrer entre os dias 19 e 24 de novembro, terá como tema «Lusofonia: realidade(s), mito(s) e utopia(s)».
7. Recordamos que o programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 16 de novembro, pelas 13h15* (com repetição no sábado, 17/11), passará uma entrevista com a consultora linguística Sara de Almeida Leite a propósito do livro que acaba de publicar – Para acabar de vez com o mau português. No programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 18 de novembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 24/11, às 15h30), Maria Antónia Barreto, e Clara Carvalho, investigadoras do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, falam sobre a língua portuguesa na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
1. «As pessoas não falam, pronto, a gente não consegue falar sem usar basicamente umas bengalas, ou lá o que é… Tás a ver?». A frase ilustra bem o recurso aos bordões linguísticos – "pronto", "ou lá o que é", "[es]tás a ver" – e dá o mote para um novo apontamento da professora e linguista Carla Marques que, no O nosso idioma, mostra como é importante tomar consciência destas expressões e evitá-las numa comunicação mais eficaz.
2. As notícias sobre a detenção do ex-presidente destituído do Sporting Cube de Portugal, Bruno de Carvalho, retomam uma velha confusão, a de mandado e mandato. José Mário Costa lembra essa destrinça no Pelourinho.
3. Qual a diferença entre abono e subsídio? O possessivo seu pode ser um deítico – mas o que é um deítico? Que significa «luzes do norte»? Qual a classe de palavras de cujo? E que vem a ser um walk-in closet em língua vernácula? As respostas estão todas no consultório.
4. Uma chamada de atenção para os textos da língua medieval, que não perde atualidade. Mencione-se, portanto, a descoberta em Toledo de um pergaminho galego-português, uma tradução do século XIV das Sete Partidas de Afonso X (1221-1284), rei de Leão e Castela, e avô de D. Dinis (1261-1325), rei de Portugal. Refira-se igualmente a oficina de trabalho Que faremos com este texto?, que se realiza em 16/11/2018, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade em Lisboa. Este encontro é dedicado à análise linguística do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro (1287-1354), conde de Barcelos, e de outros textos historiográficos portugueses (ver programa e resumos).
5. Comemora-se em 15 de novembro o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa. A Língua Gestual Portuguesa está incluída na Constituição da República como uma das línguas oficiais portuguesas desde 1997*, e o seu primeiro dicionário, publicado há oito anos, está agora disponível na página da Infopédia, onde é possível aprender, através de uma explicação e de um vídeo, os gestos de mais de 5300 palavras. Como já é tradição, a data é assinalada por várias atividades em diferentes pontos de Portugal. Recorde-se o que tem sido esta festa com um vídeo que alunos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto realizaram em 2016:
* O mirandês é outra das linguas oficais em Portugal, assim reconhecida oficialmente há 20 anos. Quanto à Lingual Gestual Portuguesa, entre artigos e respostas em arquivo, leiam-se "Língua Gestual Portuguesa" (2007), "Língua Gestual Portuguesa" (2010) e "Língua gestual na sala de aula" (2012).
6. Como acontece em qualquer língua, há erros, lapsos, incorreções que se manifestam tanto no discurso oral como na escrita. É caso para dizer que estamos sempre a ir de encontro a eles. Ao encontro, também. E "comprimos" ou "comprimentamos" e pouco cumprimos uma lisura de concordâncias, canelando a língua. No programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 16 de novembro, pelas 13h15* (com repetição no sábado, 17/11), entrevista-se a consultora linguística Sara de Almeida Leite a propósito do livro que acaba de publicar – Para acabar de vez com o mau português. No Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 18 de novembro, às 12h30* (com repetição no sábado seguinte, 24/11, às 15h30), Maria Antónia Barreto, e Clara Carvalho, investigadoras do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, falam sobre a língua portuguesa na Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.
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