A identificação da classe a que pertence a locução «graças a Deus» está dependente da intenção do falante, que a pode utilizar quer como locução adverbial quer como locução interjetiva. Note-se, em resposta a uma das dúvidas do consulente, que a indicação de que uma palavra / expressão é uma locução adverbial ou, noutros casos, uma locução interjetiva é uma classificação que visa indicar a classe e a subclasse de pertença. A expressão «graças a Deus», por um lado, é uma locução adverbial com um sentido equivalente a felizmente (cf., por exemplo, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea). De acordo com esta interpretação, na frase apresentada, a expressão «graças e Deus» desempenha a função sintática de modificador de frase, a mesma função sintática que desempenharia felizmente, se tivesse sido selecionado em lugar da locução:
(1) «Graças a Deus / Felizmente, estou vivo.»
Trata-se de um modificador de frase, pois é um constituinte não selecionado por nenhum elemento da frase e que incide sobre toda a frase, expressando, neste caso, a opinião do locutor sobre o conteúdo da frase («estou vivo»). Como afirma Paiva Raposo, estes advérbios «exprimem um juízo do falante sobre o conteúdo proposicional do resto da frase ou sobre as circunstâncias da sua produção» (Gramática do Português.Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1603).
Por outro lado, «graças a Deus» pode ser uma locução interjetiva se corresponder não à opinião do locutor sobre o conteúdo da frase, mas à emoção que este pretende traduzir. Nas palavras de Celso e Cunha, uma interjeição é uma «espécie de grito com que traduzimos de modo vivo as nossas emoções» (Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, p. 587). Nesta qualidade, a expressão poderá mesmo surgir de forma independente, o que não acontece com a locução adverbial:
(2) «Estou vivo. Graças a Deus!»