Não tenho conhecimento de fontes de doutrina normativa que considerem «claro que» uma expressão incorreta. A diferença que se nota entre esta e as suas versões mais extensas ou completas –«é claro que», ou «está claro que», ou, ainda, «fique claro que» – está exatamente no facto de que estas últimas são mais explícitas. Mas o uso de «claro que» é também aceitável, sobretudo em textos que peçam um tom mais conciso ou ágil, como pode ser o caso de certos textos de opinião ou em certas crónicas jornalísticas, até de época mais recuada; por exemplo:
«O sr. Vicente Pindela foi demitido, dizem, por pedir, mas o governo ter-lhe-ia provocado o pedido d' exoneração, enviando o nosso ministro em Londres, Luís de Soveral, a negociar com os prestamistas da Holanda sobre as reduções da dívida externa portuguesa. Claro que sendo a legação da Haia uma representação diplomática habitualmente morta, e indo à Holanda um negociador extraordinário, precisamente no instante em que havia já alguma coisa que fazer, a utilidade da legação portuguesa em Haia fica assim oficialmente posta em dúvida [...].» (Fialho de Almeida, Os Gatos, 5.º vol., in Corpus do Português de Mark Davies)