Existe, de facto, uma proximidade semântica entre coordenadas conclusivas e subordinadas consecutivas e, por vezes, a distinção entre ambas é difícil de determinar. De modo a procurarmos caracterizar claramente os aspetos basilares das duas realidades, vamos considerar apenas casos prototípicos que permitam identificar traços distintivos.
Sobre as orações subordinadas consecutivas1:
(i) expressam uma consequência associada a um grau, sendo que o seu objetivo comunicativo se centra na quantificação a que se associa uma consequência/efeito, ou seja, a consequência/efeito expressa na oração subordinada visa marcar a quantificação expressa na subordinante:
(1) «Ele trabalhou tanto que já concluiu o projeto.» (A quantidade de trabalho é sublinhada pelo facto o projeto já estar concluído)
(ii) são tipicamente introduzidas por um operador consecutivo como tão, tanto, tamanho, de tal forma, de tal modo:
(2) «Ele é tão trabalhador que conseguiu logo emprego.»
(3) «Ele trabalha tanto / de tal modo / de tal forma que conseguiu logo emprego.»
Estes operadores não podem ser eliminados da frase, o que comprova a dependência da expressão do grau referida em (i):
(2a) «*Ele é trabalhador que conseguiu logo emprego.»
(3a) «*Ele trabalha que conseguiu logo emprego.»
(iii) associam-se tipicamente a adjetivos (4), verbos (5) ou advérbios (6) que são graduáveis:
(4) «Ele é tão simpático que tem imensos amigos.»
(5) «Ele estuda tanto que é o melhor da escola.»
(6) «Ele trabalha tão silenciosamente que ninguém dá por ele.»
Sobre as orações coordenadas conclusivas:
(i) exprimem uma dedução relativamente ao que ficou dito no primeiro termo coordenado:
(7) «Está a chover, logo (eu concluo que) não vais à praia.»
(ii) não estão dependentes da expressão de grau no primeiro termo coordenado:
(8) «Ele já não mora na cidade, logo não pode sair connosco.» (a expressão «morar na cidade» não é graduável)
(iii) pode não expressar uma consequência/efeito resultante da causa expressa no primeiro termo coordenado:
(9) «O chão está húmido, logo deve ter chovido.» (A humidade não é uma causa que tem como consequência a chuva).
Relativamente às orações incluídas nas frases apresentadas pela consulente:
(10) «Ela foi muito atenciosa com os alunos, por isso será contratada novamente.» - oração coordenada conclusiva
(11) «Marcos estava muito doente, por isso não foi à escola durante toda a semana.» - oração coordenada conclusiva
(12) Eu e a minha esposa vamos mudar de cidade, por isso teremos que pedir demissão da empresa.» - oração coordenada conclusiva
Sem outro contexto, nenhuma das frases parece exprimir uma consequência do facto referido na primeira oração, na medida em que não é o grau de atenciosa ou de doente que são apresentados como causa da consequência expressa. Situação diferente estaria expressa em frases como:
(13) «Ela foi tão atenciosa que será contratada novamente.»
(14) «Marcos estava tão doente que não foi à escola durante toda a semana.»
A última frase apresentada pela consulente poderia ser concluída com uma oração coordenada conclusiva:
(15) «Pedimos demissão da empresa, logo já não vamos receber subsídio.»
Para incluir uma oração subordinada consecutiva, a oração teria de ser adaptada, de forma a incluir uma expressão graduável:
(16) «Pedimos demissão da empresa tão rapidamente que o gerente não teve reação.»
Convém acrescentar que as gramáticas modernas não consideram a coordenação conclusiva um tipo principal de coordenação2.
Noutro plano, refira-se que expressões como por conseguinte, por isso, portanto não são incluídas entre as conjunções coordenativas, sendo consideradas conectores conclusivos que explicitam o valor semântico do nexo3.
Assim sendo, a conjunção conclusiva prototípica é logo. A locução de modo que pode ser incluída entre as consecutivas.
Disponha sempre!
*sinaliza a agramaticalidade das frases.
1. Para um maior aprofundamento das características e tipos de consecutivas, cf. Joaquim Fonseca, "Pragmática e sintaxe -semântica das consecutivas" in Pragmática Linguística - Introdução, Teoria e Descrição do Português. Porto Editora, 1994, pp.133-195.
2. cf., por exemplo, Mira Mateus, Gramática da Língua Portuguesa. Caminho, p. 565.
2. Para aprofundamento desta questão, cf. Idem, ibidem, p. 569.