A questão colocada não se enquadra no plano da correção gramatical. Evoca antes o fenómeno que tem vindo a ser designado por linguagem inclusiva, que pugna por uma igualdade de género na língua, tal como acontece no plano social. Este fenómeno tem desencadeado inúmeras reações que têm alimentado uma controvérsia que está bem viva no panorama nacional1.
No plano estritamente gramatical, poderemos dizer que, de facto, em português, o género masculino é o género selecionado para designar entidades do mundo extralinguístico pertencentes tanto ao género feminino como ao masculino. Por esta razão, na ótica gramatical, o quantificador todos tem a capacidade de se referir simultaneamente a pessoas do género masculino e feminino. A expressão «todos e todas» é, assim, do ponto de vista estritamente gramatical, redundante.
Numa perspetiva social, a opção por verbalizar as palavras no género masculino e feminino é um ato de intervenção e de manifestação de uma posição que vai muito além da linguística e das suas convenções, ou seja, neste plano, a língua é um instrumento ao serviço não só da comunicação mas também da assunção de posições.
1. Poderá consultar algumas dessas posições na rubrica Controvérsias, em artigos assinados por diferentes autores: Car@s leitorxs (e utentas), O sexo das palavras, Gramática ainda não tem sexo, Calem-se!, Calem-se, por favor, mas de vez!, Elas são eles e eles são elas?, Pai e Mãe Nossa que estais no céu