1. Estendendo-se também à atividade financeira, a tecnologia digital cunha, como sempre, a sua terminologia em inglês. Sem haver distinção gramatical de género nesta língua, que fazer, por exemplo, com o empréstimo blockchain («tecnologia de cadeia de blocos»)? Usá-lo como nome feminino, à semelhança da sua tradução para português? A questão, que pode não ter resposta óbvia, é comentada no consultório, onde se fala ainda da grafia do advérbio alacremente, se procura identificar a classe de palavra de «o outro», se avalia o uso de «chamar de» e se discute o contraste entre as orações coordenadas conclusivas e as subordinadas consecutivas.
2. Fazer o papel do Diabo não é tarefa fácil, porque exige conhecer-lhe o estilo e as palavras. Para os mais desassombrados, na Montra de Livros apresenta-se uma obra que reúne vocábulos incómodos e definições que só podiam lembrar àquele cujo nome convém não proferir: da autoria do norte-americano Ambrose Bierce (1842-1914), trata-se do Dicionário do Diabo, traduzido em português por Rui Lopes.
3. As Controvérsias disponibilizam um texto – transcrito do blogue Diário de um Linguista (5/12/2018) –, no qual o autor, o linguista brasileiro Aldo Bizzocchi, relaciona a variação linguística com a desigualdade social, defendendo o direito ao conhecimento e ao uso coletivos da norma-padrão.
4. Entre a rejeição liminar e o apoio ativista, assim se acolhem em Portugal os ecos das recomendações do movimento PETA para combater linguagem antianimal. Num documento originalmente escrito em inglês, esta organização não governamental dedicada aos direitos dos animais sustenta que as palavras têm o seu peso e que é preciso criar novas expressões, que substituam as alusivas a maus-tratos infligidos aos animais. Propõe, por exemplo, que em vez de se dizer «matar dois coelhos de uma cajadada» – em inglês, «to kill two birds with a stone» (em tradução literal, «matar dois pássaros com uma pedra») –, se passe a empregar qualquer coisa como «dar de comer a dois coelhos com uma cenoura», numa adaptação (muito livre) da versão em alternativa – «feed two birds with a scone» (literalmente, «alimentar dois pássaros com um scone»). Será a militância capaz de revolucionar as expressões idiomáticas e apagar a inscrição de tempos em que a humanidade se mostrava menos preocupada com os direitos dos animais?
5. Ainda no contexto da visita a Portugal de Xi Jinping, presidente da República Popular da China, uma chamada de atenção para o artigo que o político e advogado português José Ribeiro e Castro assina no Público de 6/12/2018, para defender o ensino do mandarim aos Portugueses como investimento em recursos humanos capazes de competir numa economia globalizada.
6. A atualidade fica também marcada por algumas notícias respeitantes à promoção internacional da língua:
– na Escola Internacional da ONU, em Nova Iorque, o português vai começar a ser ensinado como língua extracurricular, graças à ação conjunta das missões do Brasil e de Portugal;
– em Lisboa, no Instituto Camões, tomou posse em 6/12/2018 o novo diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), Incanha Intumbo (na foto), assinalando nesta sua primeira intervenção pública o problema do financiamento do organismo e o seu empenho na «sensibilização» junto dos países-membros da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) que ainda não adotaram o Acordo Ortográfico de 1990.
6. Voltamos a lembrar que, no programa Língua de Todos, (na RDP África, sexta-feira, dia 7 de dezembro, pelas 13h15*; com repetição no sábado, 8/12), é entrevistado José Viale Moutinho, a propósito da publicação da Camiliana, pelo Círculo de Leitores. O Páginas de Português (na Antena 2, no domingo, 9 de dezembro, às 12h30*; com repetição no sábado seguinte, 15 de dezembro, às 15h30) foca o contacto fronteiriço entre o português e o castelhano numa conversa com a professora Iolanda Ogando, da Universidade da Extremadura.
* Os programas Língua de Todos, e Páginas de Português ficam disponíveis posteriormente aqui e aqui. Hora oficial de Portugal continental.