A expressão apresentada é um sintagma nominal composto por um núcleo nominal (domingo) modificado por um sintagma preposicional («perto do calmoso»). Este sintagma preposicional é, por sua vez, composto por uma locução prepositiva (perto de) contraída com o artigo definido o e que tem como complemento o nome calmoso. A palavra calmoso pertence, no contexto em análise, à classe do nome por um processo de conversão (também conhecido como derivação imprópria), que integra uma unidade linguística numa classe de palavras distinta daquela a que pertencia originalmente, sem que haja lugar a qualquer alteração formal. Com efeito, calmoso é originalmente um adjetivo que, neste enunciado, foi convertido em nome comum.
Vários dados sintáticos concorrem para a interpretação de calmoso como pertencente à classe do nome:
(i) o complemento das preposições / locuções prepositivas é tipicamente um grupo nominal1:
(1) «Ele está perto da minha casa.»
(ii) os nomes têm como especificadores artigos definidos ou indefinidos, ao passo que os adjetivos não admitem esta compatibilidade sintática:
(2) «A casa é bonita.» (bonita é adjetivo)
(3) «A bonita é minha amiga.» (a coocorrência do artigo com o adjetivo bonita sinaliza o processo de conversão, ou seja, bonita é, nesta frase, um nome comum)
(iii) calmoso não reage ao processo de concordância (4), o que aconteceria se fosse um adjetivo (5):
(4) «Uma segunda-feira perto do calmoso» e não *«Uma segunda-feira perto da calmosa»
(5) «Uma segunda-feira calmosa» e não *«Uma segunda-feira calmoso»
É evidente que, numa perspetiva semântica, o nome calmoso associa ao nome domingo alguns traços de sentido herdados do adjetivo original que significava “em que há calma (‘calor’) ou calmaria” (Dicionário Houaiss), mas, sintaticamente, não deixa de pertencer à classe dos nomes.
Disponha sempre!
*Assinala a agramaticalidade da construção.
1. Não obstante, refira-se que as preposições / locuções prepositivas podem ter como complemento uma oração finita («Eles fizeram com que eu tivesse medo.») e, mais raramente, um advérbio («Ele passou por aí.») ou mesmo um adjetivo («Ele passou de cansado a enérgico num minuto.»). (Estes aspetos podem ser aprofundados em Raposo et al., Gramática do português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1497-1498)