A perspetiva que adotou na suas aulas é legítima, pois justifica-se por razões pedagógicas e didáticas.
No entanto, convém lembrar que já no Acordo Ortográfico de 1945 (AO 45) não ficava absolutamente claro o estatuto dos encontros vocálicos pós-tónicos.
Com efeito, na Base XIX do AO 45, em referência ao uso de acento cicunflexo nas proparoxítonas, incluem-se como exemplos palavras que apresentam encontros vocálicos pós-tónicos, deixando inferir que estes são tratados como hiatos e as palavras onde figuram são proparoxítonas ou esdrúxulas:
«As vogais tónicas a, e e o de vocábulos proparoxítonos levam acento circunflexo, quando são seguidas de sílaba iniciada por consoante nasal e soam invariavelmente fechadas nas pronúncias normais de Portugal e do Brasil: câmara, pânico, pirâmide; fêmea, sêmea, sêmola; cômoro. Mas levam, diversamente, acento agudo, que nesse caso serve apenas para indicar a tonicidade, sempre que, encontrando-se na mesma posição, não soam, todavia, com timbre invariável: Dánae, endémico, género, proémio; fenómeno, macedónio, trinómio.»
No entanto, verifica-se que na Base XIII se diz que tais encontros vocálicos podem ser ditongos:
«3.° Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles os encontros vocálicos postónicos, tais os que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, colónia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue, tríduo.»
Sendo assim, o AO 45 também admite que colónia ou espécie são palavras graves, e não esdrúxulas. Daí a denominação «falsas esdrúxulas».
Note ainda que, na perspetiva de considerar como ditongos os referidos encontros vocálicos, a grafia não dispensaria o acento gráfico, uma vez que este é necessário nas palavras graves que terminam em ditongo decrescente oral ou nasal: hóquei, órgão.
Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1984, pp. 50 e 68/69), referem-se a estas palavras como casos em que tais sequências vocálicas pós-tónicas podem ser interpretadas ora como hiatos ora como ditongos crescentes.
De qualquer modo, de maneira a não desconcertar os nossos consulentes, modalizámos um pouco a afirmação feita acerca das falsas esdrúxulas.