Nos últimos tempos a preocupação com o meio ambiente tem estado na ordem do dia. Muitas são as manifestações e as chamadas de atenção para a crise climática que vivemos. Para o efeito, pede-se junto de quem tem poder e de quem tem mais impacto que se unam esforços em prol da conservação do meio ambiente, sob pena de as consequências serem catastróficas. Para esta causa, quem mais tem dado a cara e desempenhado um papel ativo, nomeadamente na organização de manifestações, são os jovens. E quem tem influenciado esta atitude? Outra jovem, conhecida por todos por ser uma ativista que faz ouvir a sua opinião e as suas preocupações relativamente às questões ambientais, Greta Thunberg.
Neste contexto, o neologismo inglês pedophrasty (formado pelos elementos com origem no grego παῖς, παιδός – paîs, paidós – que significa ‘criança’, e φραστήρ, ῆρoς – frastér, frastêros – que significa 'guia informador, ilustrador') tem ganhado vida. Mais não é que o «argumento que envolve crianças para sustentar uma racionalização e fazer com que a audiência se comova, que se deixe levar mais pelas emoções do que pela razão». Isto é, num debate, quando pretendemos fazer-nos ouvir, usamos como exemplo a situação das crianças, porque assim mais facilmente se comoverá o público. É o que tem acontecido com a jovem sueca, Greta, que muito tem sido referida nos debates acerca da crise climática, mesmo não estando presente.
Em espanhol, também a FUNDÉU já menciona este neologismo como sendo correto e, como decalque do termo inglês, grafa-se pedofrastia (pronuncia-se "pedofrástia").
O que acontece então com o português? A verdade é que ainda não há qualquer registo deste termo nos dicionários; no entanto encontramos algumas ocorrências em sítios ou blogues de menor relevo, surgindo a palavra grafada como pedofrastia1. Veja-se o que se encontra no sítio Medium: «Minha sugestão é evitar a pedofrastia — esta técnica já está batida e gera repulsa. Cuide das nossas crianças por outras vias.» Por extensão, teremos o termo pedofrasta, ou seja, a denominação da pessoa que usa o tema da proteção das crianças apenas para dar força à sua argumentação e impor os seus princípios ideológicos.
Posto isto, dada a baixa frequência dos termos pedofrastia e pedofrasta em português – pelo menos, no momento em que se escreve esta apontamento – , cabe perguntar: poderemos esperar que ambos entrem na língua?
1 A diferença de colocação de acento nas formas deste termo em espanhol e português deve-se ao sufixo de origem grega -ia: em espanhol, este sufixo é átono fazendo o acento tónico para a sílaba imediatamente anterior, como acontece em pederastia, pedofilia e democracia (soam "pederástia", pedofília" e "democrácia"); em português, a vogal i do sufixo -ia recebe o acento tónico da palavra que o integra, e, portanto, escreve-se pederastia, pedofilia e democracia. Deste modo, ao espanhol pedofrastia corresponderá o português pedofrastia. Disfarça-se, portanto, um contraste nítido de acentuação, apesar da homografia destas palavras e da sua comum falta de acentos gráficos.