A questão é pertinente, já que o problema que se coloca não é simplesmente identificar o tipo de constituintes envolvidos (substantivo-substantivo, substantivo-adjectivo, adjectivo-adjectivo e assim por diante), mas, sim, o tipo de estrutura interna e de relação entre os elementos dos compostos.
No tratamento dos compostos morfossintácticos, podemos identificar diferentes comportamentos (que não serão analisados aqui na sua totalidade), os quais têm reflexo na forma como é feita a flexão, interessando-nos distinguir, para esta questão em particular, dois tipos:
a) compostos constituídos por dois substantivos, cuja estrutura interna corresponde a uma estrutura de adjunção, ou seja, em que o núcleo do composto surge à esquerda, e o elemento da direita se comporta como um adjunto, dando informação adicional sobre o núcleo; neste caso, a flexão é feita apenas no núcleo do composto e é precisamente nesse caso que se inscrevem todos os exemplos que dá, pelo que a forma corre{#c|}ta do plural destes compostos será eleitores-fantasma, empresas-fantasma, cidades-fantasma e crianças-soldado;
b) compostos que podem ser constituídos por substantivos ou adjectivos, designados como estruturas de conjunção ou como compostos coordenados, isto é, cuja estrutura interna é uma estrutura de coordenação, não sendo possível identificar um núcleo; assim, no plural, ambos os elementos recebem a marca de flexão em número, sendo disso exemplo compostos como autor-compositor (sequência de dois substantivos), cuja forma do plural é autores-compositores, ou surdo-mudo (formado por dois adjectivos), cujo plural é surdos-mudos.
Note-se que, em análises gramaticais mais recentes, tem vindo a distinguir-se simplesmente compostos endocêntricos (ou seja, com núcleo) de compostos exocêntricos (ou seja, sem núcleo).
É importante referir que, pese embora esta justificação teórica para diferentes comportamentos dos compostos quanto à flexão, dicionários de referência, como o Houaiss, bem como vocabulários oficiais, como os do ILTEC ou da Academia Brasileira de Letras, registam já dois plurais possíveis para os casos apresentados em b); vejam-se exemplos como empresas-fantasmas/empresa-fantasma, cidades-dormitórios/cidades-dormitório, cidades-Estados/cidades-Estado, cidades-satélites/cidades-satélite…
É um facto que, no que concerne a análise morfológica estrita, a flexão correcta deverá ser a acima indicada; mas haverá eventualmente uma mudança em curso e, como sabemos, aquilo que é erro num momento, por uso generalizado dos falantes, pode tornar-se posteriormente norma...
Bibliografia consultada:
MATEUS et alii (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.