O caso apresentado diz respeito a uma unidade sintática composta por «nome nuclear + de + nome». Nesta situação, importa averiguar se o nome, complemento da preposição de, deverá surgir no singular ou no plural.
Embora não conheçamos um estudo que trate de forma aprofundada e consequente as diferenças entre as duas possibilidades flexionais do nome, em contexto interior ao sintagma preposicional, podemos sistematizar alguns aspetos que poderão ser orientadores:
(i) O nome que está no interior do sintagma preposicional não concorda em número com o nome que o sintagma complementa ou modifica:
(1) «terreno de cultivo»
(2) «terrenos de cultivo»
(3) «*terrenos de cultivos»
(ii) Os nomes contáveis no interior de um grupo preposicional ocorrem tipicamente com um determinante que os introduz, podendo ser flexionados no singular ou no plural, em função do valor de quantificação existencial que expressam:
(4) «as ruas da cidade»
(5) «as ruas das cidades»
(6) «o estado desta casa»
(7) «o estado destas casas»
(iii) Os nomes contáveis podem ser recategorizados como nomes massivos, ou seja, passam a designar uma entidade como o é, por exemplo, uma dada substância (temos como exemplo os nomes ar ou ferro, que designam tipicamente uma substância). Neste caso, surgem no interior do sintagma preposicional sem determinante e no singular:
(8) «livro de gramática»
(9) «bolo de ovo»
Neste contexto, os nomes representam um tipo ou um conceito geral e não entidades particulares.
Note-se, porém, que
(iv) Os nomes contáveis podem surgir no interior de um grupo preposicional sem ter sofrido um processo de recategorização, ou seja, mantêm-se contáveis. Neste caso, os nomes podem surgir no singular ou no plural e continuam a referir entidades particulares ou assumem um valor referencial genérico:
(10) «Isto é um abrigo de raparigas.»
(11) «Isto é um abrigo de rapariga.»
É evidente que, muitas vezes, a opção entre o singular e o plural corresponde ao nosso conhecimento do mundo e podem traduzir também uma especialização dos sentidos, como se verifica na oposição entre (10) e (11). Enquanto em (10) se refere um abrigo destinado a raparigas, em (11) refere-se um abrigo que, pelas características que apresenta, deverá pertencer a uma rapariga.
Em síntese, se atentarmos nos constituintes apresentados pela consulente, poderemos afirmar que a opção entre a forma singular e a forma plural poderá ser colocada ao serviço de uma intenção específica. Assim:
– por meio da expressão «formatos de anúncio», podemos referir o anúncio como um tipo de promoção de um produto, e não como um anúncio real e específico, daí a opção pelo singular;
– através da expressão «formatos de anúncios», podemos referir o anúncio como uma entidade específica, que pode, inclusive, ser contada, como em «os formatos destes cinco anúncios».
A mesma especialização de sentido se pode encontrar no contraste entre «ajustes de lance», que pode apresentar a entidade lance como uma situação abstrata, e «ajustes de lances», que toma a entidade como real e, logo, contável.
* assinala a agramaticalidade da construção
Nota: para um maior aprofundamento das questões envolvidas na resposta, sugere-se a consulta de Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 962-964 e 1067 e ss.