A etimologia de estratégia, que significa genericamente «ciência das operações militares»1, encontra-se consignada, por exemplo, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001)
«stratēgía, as "o cargo do comandante de uma armada, o cargo ou a dignidade de uma espécie de ministro da guerra na antiga Atenas, pretor, em Roma; manobra ou artifício militar", pelo francês stratégie (1812, stratège [...]); a prosódia atual sofre influência das palavras abstratas em -ia, como em latim [exemplos: eficácia, pertinácia].»
Outras fontes consultadas não contrariam esta informação. É certo que José Pedro Machado, no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (Lisboa, Livros Horizonte, 1987), não menciona a via de transmissão francesa, mas esta é plausível, tendo em conta que os primeiros registos de estratégia – segundo Antônio Geraldo da Cunha2, da primeira metade do século XIX – datam de uma época em que o francês atuou frequentemente como medianeiro na adoção de numerosas palavras cultas quer de origem latina quer de origem grega.
Acrescente-se que, para o espanhol estrategia, também se aceita a origem grega, mas por via indireta, pelo latim e pelo francês:
«Estrategia [Acad. ya 1843], tomado del gr. στρατηγíα ‘generalato’, ‘aptitudes de general’, otro derivado de στρατηγóς; este último se tomó primero por conducto del fr. stratègue [1737; hoy más bien stratège], dándole la forma errónea estratega [Terr.], y en el sentido etimológico de ‘general griego’; después se le ha atribuido, por influjo de estrategia, el sentido de ‘entendido en estrategia’, y se ha intentado rectificar su forma en la correcta estratego, aunque aquélla sigue todavía empleándose bastante [...]» (Joan Coromines e José Antonio Pascual, Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico, Editorial Gredos, 2012)
[tradução livre, com abreviaturas desenvolvidas: «Estrategia [no dicionário da Real Academia Espanhola, já em 1843], tomado do grego grego στρατηγíα "generalato", "aptidões de general", outro derivado de στρατηγóς; este último foi transmitido primeiro pelo francês stratègue [1737; hoje preferencialmente stratège], dando-lhe a forma errónea estratega (Esteban de Terreros y Pando, Diccionario Castellano...) e no sentido etimológico de "general grego"; depois foi-lhe atribuído, por influência de estrategia, o sentido de "entendido em estratégia", e procurou-se retificar a sua forma com a correta, estratego, embora aquela continue ainda a empregar-se bastante.»]
Também o inglês strategy apresenta uma história semelhante: é vocábulo de origem grega transmitido pelo francês (cf. Online Etymology Dictionary).
Resumindo, a difusão da palavra e do conceito associado entre línguas do ocidente europeu deve muito à projeção do francês como língua de cultura e veículo de transmissão de ideias e conhecimento.
Neste contexto, não parece de concluir que existem, como pressupõe o consulente, «diversas explicações etimológicas para a palavra estratégia». Pelo contrário, constata-se grande consenso quanto à sua origem e história.
1 Cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (consultado em 6/10/2019).
2 Antônio Geraldo da Cunha, Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, 1986.