Na sua proposta alternativa de análise, o consulente adota a visão presente, por exemplo, em Cunha e Cintra1, que consideram que a oração relativa pode funcionar como adjunto adnominal do pronome o. Nesta possibilidade de análise, o pronome o é um constituinte independente que é modificado pela oração subordinada adjetiva relativa restritiva «de que se fala».
Na visão que defendemos na resposta dada inicialmente, considera-se que a sequência «o que» corresponde não a dois constituintes distintos, mas a um único, que designámos locução relativa, na senda da proposta de Veloso2. Considera-se, nesta linha, que a locução «o que» tem a capacidade de ter como antecedente toda uma oração anterior. Assim sendo, a oração «do que fala» funciona em bloco, tem uma natureza substantiva e ocupa o espaço do complemento direto, como aconteceria com constituintes de natureza diferente e exemplificados nas frases seguintes:
(1) «Ele sabe a verdade.»
(2) «Ele sabe que tu vens.»
(3) «Ele sabe do que fala.»
A sustentar a visão que defendemos parece estar o facto de a preposição de se colocar antes de o. Se o pronome pertencesse a uma unidade sintática distinta, a preposição de deveria dar início apenas à oração relativa, o que não gera uma construção agramatical:
(4) «*Ele sabe o de que fala.»
Em síntese, estamos perante duas formas de ver o fenómeno. Caberá a cada um adotar a que lhe parece mais justa e adequada à realidade em que trabalha / investiga.
Disponha sempre!
*assinala a agramaticalidade da frase.
1. cf. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Ed. Sá da Costa, pp. 598-599.
2. In Raposo et al. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2085-2089.