1. Com verbos e adjetivos, é frequente hesitar quando se trata de preposições: dê-se o exemplo de rumar, compatível quer com a preposição a quer com para: «rumar a» e «rumar para»; ou o do adjetivo propício, que aparece também com ambas preposições. Nas novas perguntas em linha no consultório, apresenta-se um caso semelhante, o de adaptar: aceita-se «adaptei este romance para o cinema», ou só «adaptei este romance ao cinema» é a frase correta? A interpretação do pronome o também suscita dúvidas, conforme acontece com a questão sobre uma frase do escritor português Júlio Dinis (1839-1871). Igual fonte de equívoco pode ser a comunicação entre falantes do Brasil e de Portugal, quando se emprega meia (= seis) nas conversas ao telefone, tópico que ainda faz parte da presente atualização, a par de outros dois: um a respeito da boa formação de estacionariedade; e outro, relativo à ocorrência da contração à (a chamada crase no Brasil) num contexto bem macabro, a nota de suicídio do político brasileiro Getúlio Vargas (1882-1954).
2. Falar em público com desembaraço e eficácia não se exercita como competência inata; pelo contrário, adquire-se com a experiência continuada. Para quantos queiram saber mais sobre técnicas de expressão oral e escrita, a Montra de Livros apresenta uma obra recentemente lançada em Portugal: trata-se de Comunicar com Sucesso, da autoria de Sandra Duarte Tavares, consultora linguística e de comunicação.
3. A história das palavras desempenha um papel central na investigação em toponímia (ou toponomástica). Em Portugal, estes estudos parecem longe dos tempos áureos de Leite de Vasconcelos (1858-1941), mas a olisipografia (ou olissipografia), ou seja, os estudos sobre a cidade de Lisboa, mantém vitalidade. Vem, portanto, a propósito falar aqui da história do microtopónimo lisboeta «travessa do Fala-Só» (freguesia de Santo António), de acordo com um interessante apontamento publicado em 29/09/2019 no blogue Toponímia de Lisboa. Uma curiosidade, entre outras reveladas por este pequeno artigo: o referido arruamento chamava-se «beco do Fala-Só», mas, em 1877, a pedido de vários moradores, foi-lhe mudada a denominação descritiva, de beco, de conotação negativa (disfórica), para travessa, termo bem mais positivo e de maior dignidade.
Mudanças toponímicas como estas não são insólitas. Basta evocar um caso bem conhecido na região de Lisboa, o de Aldeia Galega, cujos habitantes, ao que parece, por acharem desprestigiante ou pouco patriótico o nome desta povoação, viram satisfeito em 1930 o seu desejo de a localidade passar a ser chamada Montijo, outro topónimo local (mais informação aqui). Recorde-se ainda que a disciplina dedicada ao estudo da capital portuguesa deriva o seu nome – olisipografia ou olissipografia – da forma que Lisboa tinha na Antiguidade: Olisipo, de origem pré-romana (ver programa Cuidado com a Língua!, II série, 2008).
4. Entre as atividades para promoção da língua portuguesa, são notícia:
– o anúncio do lançamento do Dicionário Analógico do Português do Brasil, uma da plataforma digital destinado ao ensino da língua a estrangeiros e desenvolvida na Universidade de Brasília;
– a angariação de fundos levada a cabo pela comunidade portuguesa na área de Kingston, no leste do Canadá, para financiar o curso de Português na Universidade de Queen's, na mesma cidade;
– a realização da 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), pelo Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a Universidade do Porto, nos dias 7 e 8 de outubro de 2019, nas instalações da referida universidade.
5. Por último, uma informação: a Ciberescola da Língua Portuguesa, plataforma digital de ensino que desenvolve a sua atividade no âmbito da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, abriu inscrições nas aulas de Português como Língua Estrangeira (PLE) que vai realizar ao longo do ano letivo de 2019-2010. Pormenores nas Notícias.