A frase original faz parte da versão manuscrita da chamada carta-testamento de Getúlio Vargas. Em diferentes edições, apresenta-se sempre a palavra à com acento gráfico, a marcar a contração da preposição a com o artigo definido a – ou seja, a assinalar crase, como se diz no Brasil:
«Deixo à sanha de meus inimigos, o legado de minha morte.»
Note-se, porém, que o presidente parece ter cometido um pequeno erro nessa célebre nota manuscrita, ao escrever a forma "á", com acento agudo, a qual corretamente deveria grafar-se "à", com acento grave, mesmo em 1954, ano da sua morte1. Pelo menos, assim sugere o exame do documento em causa, que abaixo se reproduz conforme imagem publicada nas páginas do sítio eletrónico Só História:
1 É possível que Getúlio Vargas, nascido em 1882, tenha escrito "á" por condicionamento de hábitos gráficos adquiridos durante a sua escolarização, anterior às reformas ortográficas do português ocorridas depois de 1911. Contudo, à data da morte do presidente brasileiro em 1954, vigorava no Brasil, em matéria de ortografia, o Formulário Ortográfico de 1943 (FO 1943), o qual só deixou de se aplicar em 2009, com a adoção do Acordo Ortográfico de 1990 (AO 90). Sobre o emprego do acento grave, pode ler-se no FO 1943, secção XII: «16ª – O acento grave assinala as contrações da preposição a com o artigo a e com os adjetivos ou pronomes demonstrativos a, aquele, aqueloutro, aquilo, os quais se escreverão assim: à, às, àquele, àquela, àqueles, àquelas, àquilo, àqueloutro, àqueloutra, àqueloutros, àqueloutras.» O AO 90 não alterou esta norma.