1. Em Portugal, a campanha política com vista às eleições legislativas em 4 de outubro p. f. é o campo de uma enorme batalha verbal em que se arremessam empréstimos e neologismos. Dos muitos que se dizem e escrevem nas páginas da comunicação social, registemos os seguintes vocábulos, uns já consolidados no jargão eleitoralista, outros frutos do repentismo retórico*:
– o política e linguisticamente controverso plafonamento, no contexto da discussão do limite do valor das pensões;
– as já tradicionais arruadas, que agitam bandeiras pelas cidades e vilas do país;
– o verbo focalizar, para emprestar tom mais analítico ao discurso, que passou também a denominar-se de narrativa;
– o neologismo "troicuta" (ou "troikuta"), uma extraordinária amálgama adjetival inventada pelo deputado Luís Fazenda (Bloco de Esquerda), quando disse: «Essa coisa da maioria absoluta é, mais coisa, menos coisa, uma interseção entre absoluta e troika. É, portanto, uma maioria "troikuta"» (fonte: RTP Notícias).
– ou, ainda, a sigla PàF, correspondente à denominação da coligação Portugal à Frente, amiúde mal grafada nos media portugueses.
O consultório também recolhe alguns exemplos na resposta a algumas questões:
– O que são, afinal, as tracking polls constantemente citadas nos noticiários? E o que quererá dizer a expressão «sondagens low-cost»?
– E que poderá significar «salamizar (uma empresa)», verbo cujo aparecimento se deve a uma intervenção inspirada do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa?
* Se a inventividade da linguagem política e mediática é imparável em terras lusitanas, recorde-se que ela não tem freio em terras de Vera Cruz, e alcança o âmbito judicial: a recente Operação Lava Jato é ilustrativa, como é também um estudo dedicado ao impacto do tema da corrupção na retórica política brasileira de 2005, no tempo em que Luiz Inácio Lula da Silva era presidente da República Federativa do Brasil: trata-se de "A retórica da corrupção: os neologismos propagandísticos utilizados para denunciar a corrupção no Governo Lula, em 2005", de Sérgio Roberto Trem, investigador que recolhe, entre outras, mensalão, uma palavra que marca infelizmente toda uma época. Muito útil para perspetivar qualquer discurso político em língua portuguesa é a leitura da tese de doutoramento de Pedro Miguel Lavajo Natário Guilherme, A Prosódia Semântica como Fenómeno Léxico-Gramatical. Contributos Linguísticos para uma Análise Social (Universidade da Beira Interior, 2014).
2. Já que é tempo de prós e contras em Portugal, porque não saber qual é aqui a posição dos partidos políticos concorrentes acerca da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa? A iniciativa foi dos juristas Ivo Miguel Barroso e Artur Magalhães Mateus, que, continuando a sua campanha para a suspensão da nova ortografia, assinam um artigo intitulado "Conheça as posições do partidos sobre o AO90" (jornal Público, 29/09/2015).
3. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 2 de outubro (às 13h15**, na RDP África; com repetição no sábado, 3 de outubro, depois do noticiário das 9h00**), conversa com Sandra Duarte Tavares sobre a publicação da sua obra 500 Erros mais comuns da Língua Portuguesa. O Páginas de Português de domingo, 4 de outubro (às 17h00**, na Antena 2), entrevista Chrys Chrystello a respeito dos Colóquios da Lusofonia, que decorreram entre 24 e 27 de setembro na ilha Graciosa (Região Autónoma dos Açores).
** Hora oficial de Portugal continental.