DÚVIDAS

O comparativo na frase «ela é falaz, tanto quanto a ilusão»

As minhas questões estão relacionadas com a subsequente frase:

«Ela falaz é tão quanto a Ilusão.»

Nesta frase, cuja ordem está invertida por motivos estilísticos, deverei manter o advérbio tão, o qual é usado em lugar de tanto antes de adjetivos e de advérbios, tendo em vista a ordem natural da frase «ela é tão falaz quanto a Ilusão», ou deverei mudar o tão para tanto por não se seguir um adjetivo ou um advérbio?

E, por igual nesta frase, deverei manter o quanto ou posso alterá-lo para quão, uma vez que está implícito um adjetivo, sendo «ela falaz é tão quão a Ilusão» equivalente a «ela falaz é tão quão (falaz é a) Ilusão»?

Obrigado desde já pela atenção.

Resposta

A questão apresentada insere-se no âmbito das construções comparativas de grau. O grau, que pode corresponder ao comparativo ou ao superlativo, expressa-se por meio de operadores comparativos. No caso particular da construção comparativa de igualdade, os operadores comparativos que se poderão mobilizar serão:

(i) tão (usado com adjetivos e advérbios) e tanto (usado com verbos e nomes), no primeiro termo da comparação;

(ii) como / quanto (com qualquer classe verbal), no segundo termo da comparação.

O segundo termo comparativo pode também ser introduzido pelo advérbio quão, que costuma ser sentido como mais literário. Este é usado normalmente quando se comparam graus de propriedades diferentes na mesma entidade:

(1) «Ela é tão simpática quão compreensiva.»

Assim sendo, respondendo diretamente às questões colocadas pelo consulente:

a) não é possível substituir quanto por quão porque na frase em questão se compara a mesma propriedade em entidades diferentes;

b)  embora não seja canónico com uma comparação construída em torno de um adjetivo, é possível, por razões estilísticas, deslocar o advérbio tão para junto do advérbio que introduz o segundo termo de comparação. Neste caso, o advérbio adota a forma tanto1:

(2) «Ela é simpática, tanto quanto compreensiva.»

Ou, no caso da frase em análise:

(3) «Ela é falaz, tanto quanto a ilusão.»

 

Disponha sempre!

 

1. in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 2146-2150.

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