Para propor uma resposta a essa consulta que se revela de ordem tão ampla, atrevo-me a fazer uma introdução inspirada em parecer de Paul Teyssier na sua História da Língua Portuguesa, com tradução de Celso Cunha (São Paulo: Martins Fontes, 2001). Concordo com o autor quando afirma que as divisões "diale{#c|}tais" no Brasil são menos geográficas que socioculturais. Ou seja, há uma certa homogeneização, inclusive do sotaque, nas camadas mais cultas que seguem a "norma" difundida, sobretudo, pela televisão e seus telejornais. Há, a título de exemplo, um trabalho apontando uma notável tentativa de "higienizar" o sotaque dos apresentadores de telejornais regionais, conforme o padrão das duas maiores capitais, Rio e São Paulo. O texto completo se encontra aqui.
Teyssier arrisca, inclusive, a determinação de uma isoglossa imaginária entre o Norte e o Sul do país que se localizaria no Sul do estado da Bahia e atravessaria o país de forma horizontal.
Ataliba de Castilho, por seu lado, na obra de Rodolfo Ilari, intitulada Lingüística Românica (São Paulo: Moderna, 2001), apresenta as "variedades do português do Brasil", levantando questões fonéticas que se repetem ou se realizam de forma intermitente em regiões diversas, obedecendo, como já havia notado Teyssier, a condicionantes socioecon{#ó|ô}micas. O texto de Castilho é boa referência para uma vista d'olhos de tentativas de constituição de Atlas ling{#u|ü}ísticos, sempre parciais, já publicados ou em elaboração. No texto mencionado, Castilho tem um item com o título "A variedade dos sujeitos não-escolarizados do PB falado" que sistematiza com fatos ling{#u|ü}ísticos o teor das afirmações de Teyssier sobre as divisões diale{#c|}tais do Brasil, mais culturais do que geográficas.
A propósito de proje{#c|}tos relacionados ao português falado no Brasil e aos atlas ling{#u|ü}ísticos desta variedade de português, recomendo Português Brasileiro, obra organizada por Roncarati e Abraçado (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003), com textos de diversas áreas da ling{#u|ü}ística e, em especial, o artigo sobre o projeto ALiB. Recomendo, igualmente, todas as publicações do Proje{#c|}to NURC, realizado em diferentes capitais do país, organizado por Ataliba de Castilho.
De toda {#a|} forma, não me parece que os sotaques «se formem» ou «tenham se formado» a partir de uma matriz comum ou de diferentes matrizes. O que se passa, no português falado no Brasil, como em todas as outras línguas, é uma variação que é tanto sincr{#ó|ô}nica — horizontal, e varia de região para região e, também, entre grupos diferentes na mesma região e no mesmo período histórico — como diacr{#ó|ô}nica — vertical, e varia através das épocas na mesma região e nas diferentes regiões.
Proponho, a seguir, um breve "passeio" virtual por alguns sites que tratam do assunto de forma menos acad{#é|ê}mica e mais prática, com exemplos, inclusive de áudio.
http://intra.vila.com.br/sites_2002a/urbana/natalie/sotaque.htm
Sítio com várias entradas diferentes para falar de sotaques no Brasil. Tentativa de explicar os "porquês", não me parece uma produção de especialista, mas não parece conter absurdos. Faz sentido.
http://www.blogtematico.blogger.com.br/2004_11_07_archive.html
Blogue onde se encontram postagens de várias pssoas discorrendo sobre um determinado assunto. Um dos temas é o sotaque. Não menciona origens, mas comenta os vários sotaques brasileiros, interessante.
Vídeo no sítio Globo.com mostrando o trabalho de atores para adquirir sotaques conforme as personagens que devem assumir. Mostra também exemplos de diferentes sotaques do Brasil com auto-avaliação dos falantes.
Pode ser que não chegue a uma conclusão precisa como teria desejado, mas a diversão é garantida, assim como o surgimento de novas e interessantes questões.