1. Do ponto de vista ortográfico, os nomes dos meses e das estações do ano passam efetivamente a ser tratados como nomes comuns, mas devem ser vistos como nomes próprios.
No contexto da descrição gramatical brasileira, Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, págs. 113-114; ver Textos Relacionados) considera fevereiro é nome comum. Contudo, a Gramática do Português da Fundação Calouste Gulbenkian (2013, p. 1008) inclui os nomes das estações do ano, dos meses e até dos dias da semana entre os nomes próprios, fazendo as seguintes observações:
«[São nomes próprios os] Nomes de intervalos temporais convencionalizados, como os meses do ano (janeiro, fevereiro, março, outubro), as estações do ano (inverno, primavera, verão e outono), os dias da semana (sábado, domingo, segunda-feira), bem como os períodos correspondentes a festividades, religiosas ou pagãs, como Natal, Páscoa, Carnaval. Em cada ciclo temporal adequado, estes nomes designam entidades particulares (em cada ano, só existe uma época do Natal ou mês de janeiro; em cada semana só existe uma segunda-feira). No entanto, dado que, num contexto temporal mais vasto, estes períodos recorrem ciclicamente, deixam de ser únicos, talvez por isso, este nomes, tal como os nomes comuns, adquiriram um significado lexical que se pode consultar num dicionário, deixando de ser sentidos como nomes próprios por muitos falantes. Note-se também que (pelo acordo ortográfico de 1990) os nomes dos meses e estações do ano passaram a escrever-se com letra minúscula inicial.»
Sendo assim, direi que, pelo menos, em Portugal, a classe dos nomes próprios abrange os nomes das estações, dos meses e dos dias da semana, muito embora todos estes nomes sejam escritos com minúscula inicial.*
2. Não é fácil determinar o estatuto dos nomes dos meses e das estações do ano quanto ao contraste entre substantivos concretos e substantivos abstratos pela falta de um critério que os distinga claramente. Já aqui se disse que o Dicionário Terminológico, criado em Portugal para apoio do ensino básico e secundário, é omisso sobre o assunto. A classificação proposta pelo consulente parece-me válida, mas pode ser posta em causa. Por exemplo, Bechara (op. cit., pág. 113) considera que é concreto o substantivo que «designa ser de existência independente: casa, mar, sol, automóvel, filho, mãe» e é abstrato o substantivo que «designa ser de existência dependente: prazer, beijo, trabalho, saída, beleza, cansaço»; e acrescenta ainda:
«Os substantivos concretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas.
«Os substantivos abstratos designam ações (beijo, trabalho, saída, cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual.»
Com base nestas considerações, parece-me que também se pode argumentar que são abstratos os substantivos relativos a meses ou estações do ano, justamente porque os seus referentes são os acontecimentos que se produzem sob a forma de mudanças de estado, processos ou ações, ou seja, por realidades que dependem de certas configurações dos objetos no espaço. Para ser mais claro, em contexto escolar, para já, enquanto não se fixassem critérios, eu não exploraria a categorização os nomes dos dias de semana, dos meses e das estações do ano relativamente ao contraste concreto-abstrato.
*Secção atualizada em 22/01/2015.
N. E. (03/06/2020) – Foi alterado o título.