1. As eleições legislativas tiveram lugar em Portugal ontem, dia 6 de outubro, tendo os resultados ditado a vitória do Partido Socialista, embora sem uma maioria absoluta, o que implica que o partido terá de procurar um acordo com um ou mais partidos políticos de modo a garantir estabilidade governativa. Com efeito, na noite da contagem dos votos e da divulgação faseada dos resultados, a palavra que provavelmente mais se ouviu nos meios de comunicação social, repetida por jornalistas, políticos e comentadores, foi acordos. E porque as hesitações e as oscilações na forma de pronunciar a palavra continuam a ocorrer, justifica-se que se recorde que a pronúncia correta da palavra no singular como no plural é com "o" tónico fechado(/acôrdo/ e /acôrdos/), tal como já se recordou em diversas ocasiões (aqui, aqui e aqui).
Dado que este acontecimento político, de relevo nacional e internacional, vai motivar muitas páginas escritas e muitas intervenções orais a propósito de todos os cenários que se vão desenhar, relembremos algumas respostas do Ciberdúvidas que abordam questões linguísticas relacionadas com esta temática: «Eleição e Eleições», «Eleições eleitorais», «Haverão eleições, diz Costa. E diz mal», ««Eleito como» e «considerado como»», «Elegível e legível», «Ganhado», «Plural de eleitor-fantasma», «Reeleito + arreia (arrear)», «Precariedade e não «precaridade»».
2. A teoria dos géneros textuais constitui um dos enquadramentos teóricos fundacionais dos programas de português do ensino básico e secundário em Portugal. Neste contexto, a publicação Ensinar géneros de texto: conteúdos, estratégias e materiais adquire extrema importância não só pela pertinência do tema como também por reunir um conjunto de propostas que contemplam uma abordagem teórico-didática de diferentes géneros textuais estudados em contexto escolar. Uma obra coordenada por Antónia Coutinho e Noémia Jorge, editada com o apoio do Centro Luís Krus / Escola de Verão da Nova (FCSH) / Associação Professores de Português / Porto Editora e apresentada na Montra de Livros.
3. A realidade política e os seus contornos dão azo a que a criatividade linguística procure todo o seu esplendor de forma a traduzir as realidades que vão tendo lugar e também as opiniões de quem as observa e analisa criticamente. Todas estas perspetivas parecem estar encerradas na nova palavra bolsomínion, aplicada à realidade política brasileira, cuja formação e grafia se explicam na nova atualização do Consultório. O nome estratégia, muito recorrente em domínios lexicais do foro político e de âmbito militar, é também tratado para dar conta do consenso existente em várias línguas europeias relativamente à sua etimologia. Não menos militar é a expressão «abrir fogo», cuja regência preposicional também aqui se analisa. «Não me diga», expressão de espanto, de interrogação ou de afirmação, motiva dúvidas quando à pontuação que a ela se deve associar e que aqui se esclarece. Por fim, a possibilidade de dar ordens de forma indireta e através de frases interrogativas é também motivo de reflexão associado à frase «Você pode ver que dia é hoje?»
4. O uso excessivo de estrangeirismos em língua portuguesa está em foco no magazine Cuidado com a Língua!, emitido na quarta-feira, dia 9/10, na RTP1, a partir das 21h00 (hora oficial de Portugal continental) – com uma abordagem de realidades muito distintas, da loja vintage ao drink ao final do dia (notícia aqui).
5. Como já aqui foi noticiado, a 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP) tem lugar hoje e amanhã (7 e 8 de outubro). Neste encontro inaugural procurar-se-á definir áreas prioritárias de intervenção do órgão agora constituído. Neste mesma reunião, terá lugar uma homenagem a Evanildo Bechara, professor, gramático e filólogo brasileiro, e ao filólogo português João Malaca Casteleiro (mais informações aqui).
6. Entre os acontecimentos relacionados com aspetos da língua, destacamos aqui:
— A atribuição do prémio Nobel da Medicina (a ter lugar no dia de hoje), que motiva um alerta para a forma como se pronuncia a palavra Nobel (recorde-se aqui e aqui);
— O restauro, em Espanha, do testamento de Fernão de Magalhães, um original de 1519, que foi escrito pelo navegador antes de iniciar a viagem de circum-navegação, do qual apenas resta um fragmento (embora se possua uma cópia do texto integral), que foi identificado há dez anos. Trata-se de um documento de grande interesse histórico e também linguístico.