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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A colocação dos pronomes clíticos na frase é considerada uma das áreas críticas do português. Com regras diferentes do português do Brasil, a variante europeia conhece casos de mesóclise (colocação do pronome no interior do verbo), de próclise (colocação antes do verbo) e de ênclise (colocação após o verbo, opção considerada a não marcada). No entanto, os contextos que atraem o pronome para antes do verbo colocam, por vezes, dificuldades aos falantes. Por exemplo, é sabido que os advérbios são atratores de próclise, mas esta especificidade aplica-se a qualquer advérbio? O advérbio hoje inclui-se neste grupo? A existência de palavras com formas e significados muito similares pode gerar atitudes de hesitação perante a seleção lexical em determinados contextos de utilização e mesmo quanto à sua correção. É neste âmbito que se enquadra a dúvida relacionada com as palavras anulação e anulamento. Os casos de evolução ortográfica justificam que se possa encontrar uma mesma palavra escrita com grafias distintas em textos que pertencem a diferentes fases da evolução da língua. É este o caso de siza / sisa que, na atualização do Consultório, se explica. Algumas associações lexicais podem oferecer dúvidas quanto à sua classe de pertença. Por exemplo, o sintagma nominal «Invasões francesas» deve ser considerado como pertencente à classe do nome próprio ou devemos proceder à sua análise considerando cada uma das palavras que o compõem?  Por fim, uma dúvida relacionada com os valores aspetual e modal de uma frase da escritora portuguesa Hélia Correia

2. Na Montra de Livros divulga-se Assim Nasceu uma Língua, a nova publicação do linguista português Fernando Venâncio, que promete abordar a evolução da língua portuguesa como se de uma história se tratasse. Esta é uma obra que trata criticamente o percurso de formação da língua, discutindo alguns dos mitos instalados e estabelecendo, em diversos momentos, um cotejo com o castelhano e com o galego. Trata-se de «um livro que vem reforçar a necessidade e o desejo de repensar a história da língua portuguesa», afirma-se no texto de apresentação. 

3. E eis que o mundo do futebol volta a 'dar pontapés' na gramática. Desta feita, o problema é a assim designada "Final Four Allianz Cup", a final da taça da Liga. Uma expressão inglesa para uma competição realizada em Portugal por quatro equipas portuguesas. Nada justifica esta constante opção pelos anglicismos para referir realidades para as quais a língua portuguesa oferece soluções eficazes e claras. É a "cup", o "derby",  o "fairplay", o "golden goal", o "playoff", o "sprint" final. Enfim, uma quantidade de empréstimos lexicais desnecessários, que facilmente se ultrapassariam com recurso ao português. Já em Os Maias, de Eça de Queirós, se refletia sobre este traço de caráter dos portugueses, que preferem importar a defender e usar o que é nacional:

«Porque essa simples forma de botas explicava todo o Portugal contemporâneo. Via-se ali como a coisa era. Tendo abandonado o seu feitio antigo, à D. João VI, que tão bem lhe ficava, este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas, sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideais, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha... Somente, como lhe falta sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo, deforma-o estraga-o até à caricatura.» (Edição «Livros do Brasil», p. 703)

Façamos, então,  de modo a que o texto queirosiano não permaneça dotado de atualidade.

O recurso aos angliscimos em diferentes domínios tem sido profusamente tratado no Ciberdúvidas. Vem a propósito recordar alguns dos textos que mantêm a sua atualidade: «A Final Four disputou-se mesmo entre equipas portuguesas?», «Lisbon Revisited», «Aos tropeções nos anglicismos do nosso quotidiano», «E falar português, vai desejar?», «É o lifestyle, stupid», «Talentos e talentaços», «Reflexões sobre a linguagem hodierna», «Porquê Eusébio Cup?», «Black Friday, um duplo contrassenso», «E o humor foi também em inglês?».

4. As expressões idiomáticas, coloquiais ou os provérbios guardam histórias curiosas associadas, não raro, às usas próprias origens. Conhecer este percurso da língua é também compreender a sua evolução. Porém, sobretudo para os falantes de português língua estrangeira (ou não materna), estas mesmas expressões são caracterizadas por uma opacidade de sentidos que impede a curial interpretação da intenção do locutor. É no sentido de auxiliar este processo de construção de sentidos que a plataforma Say it in portuguese divulga um conjunto já alargado de pequenos apontamentos áudio sobre expressões idiomáticas como «zangam-se as comadres», «perder o fio à meada», «em casa de ferreiro», «ter o rei na barriga», só para referir as mais recentemente divulgadas.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A toponímia é uma área da linguística que estuda os nomes próprios dados às localidades. A criação destes nomes e a sua evolução envolvem frequentemente conhecimentos da área da história e da geografia. Esta é uma área que, por norma, interessa aos habitantes de cada localidade, que procuram estabelecer as origens destas designações e reconhecem-nas como parte integrante da sua história. Todavia, há topónimos com origem obscura e alguns veem as suas origens perder-se na névoa dos tempos. Consequentemente, torna-se difícil reconstruir a sua história. Este parece ser o caso de Casal de/do Malta, uma  localidade da cidade de Marinha Grande (distrito de Leiria). Este é uma das respostas que podemos encontrar na atualização do Consultório, onde se tratam outros temas, como a natureza do verbo cobrir  em «cobrir-lhe a memória de sombras» e a função sintática de «de sombras». Ainda uma questão sobre os ditongos crescentes em português e a sua relação com a noção discutível de «falso ditongo». Por fim, analisa-se a correção da expressão «1h da tarde» e o significado e diferença das noções semânticas pacientetema

2. O estudo dos antropónimos em Portugal constitui ainda um domínio pouco trabalhado. Esta é uma área que pode tratar tanto os nomes próprios como os nomes de família (também designados apelidos ou sobrenomes). Interessando-se por este tema, o historiador português Nuno Gonçalo Monteiro investigou as alterações sofridas pelos nomes de família, contrastando a Idade Média com a viragem do século XX, num artigo que divulgamos em O Nosso Idioma.

Na foto: Família Chartes, Leiria

3Miguel Torga (1907-1995), uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX, morreu há 25 anos em Coimbra. Nascido em S. Martinho de Anta (Vila Real), Torga – Adolfo Correia da Rocha, de seu verdadeiro nome – destacou-se na poesia e na ficção com títulos como Orfeu Rebelde, Cântico do HomemA Criação do Mundo, Bichos, Novos Contos da Montanha, entre outros; mas no conjunto da sua obra os vários volumes de O Diário ocupam um lugar de relevo. O município de Coimbra, cidade onde estudou medicina e foi médico, presta-lhe homenagem a partir deste dia, com um extenso programa que compreende recitais de poesia, visitas guiadas, sessões de cinema, uma cerimónia evocativa e uma exposição – Miguel Torga e José Régio na relação com a Presença, patente até 16 de janeiro de 2021 na Casa-Museu Miguel Torga (consultar programa completo aqui). Na Antologia, Miguel Torga está representado por duas séries de excertos, ambas provenientes do seu Diário e tendo a língua como tema. É do Diário V o poema que adiante se transcreve:

Coimbra, 7 de Julho.

As palavras renascem.
Folhas de clorofila humana,
Brotam, crescem,
Murcham, desaparecem,
Mas renascem.

Que frescura teria a caravana,
A caminho da morte ou do nirvana,
Se os poetas cantassem!
 
Na imagem, fotografia de Miguel Torga atribuída a Alfredo Cunha e que acompanha o artigo "Miguel Torga e a consciência da portugalidade", do jornalista Sérgio C. Andrade, que o assinou no Público em 06/03/2016.

 

4. O  23.º aniversário do Ciberdúvidas não deixou indiferentes os seus consulentes. Muitos foram aqueles que lhe endereçaram os parabéns, agradecendo as mais de duas décadas de serviços prestados, e deixaram votos de continuidade. A estes consulentes agradecemos as gentis palavras que nos endereçaram, que muito nos estimulam a prosseguir nesta missão em prol da língua. No Correio, divulgamos algumas das mensagens que nos chegaram ao longo dos últimos dias.

5. Entre as notícias relacionadas com a língua portuguesa, destacamos o reforço da língua portuguesa em Macau, objetivo que preside à assinatura de um protocolo entre o Instituto Português do Oriente, o Camões - Instituto da Cooperação e da língua e a Universidade da Macau. Uma das metas deste protocolo é a criação de cursos de português para fins específicos (notícia).

6. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, destacamos:

– No Língua de todos*, da RDP África, o tema dos neologismos, estrangeirismos e empréstimos e ainda da pontuação;

– No Páginas de Português**, que vai para o ar na Antena 2, o tema será o seminário anual do Camões - Instituto da Cooperação e Língua, que se realizou a 8 e 9 de janeiro de 2020. 

* O programa Língua de Todos vai para o ar na sexta-feira, dia 17 de janeiro, pelas 13h20 e é repetido no sábado, dia 18 de janeiro, depois do noticiário das 09h00.  Por seu lado, **o programa Páginas de Português, é transmitido no domingo, 19 de dezembro, pelas 12h30. com repetição no sábado, dia 25 de janeiro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O Ciberdúvidas da Língua Portuguesa completa 23 anos neste dia, em que, nas Notícias,  se dá conta do balanço deste período de mais de duas décadas de trabalho árduo – eis os resultados:

– no Consultório, destinado a dar informação/esclarecimento, encontram-se, até ao momento, disponíveis para consulta livre, 35 644 respostas a questões colocadas sobre as mais diversas áreas da língua – da história à fonética e fonologia, bem como à dinâmica do texto, do discurso e até da literatura, passando pela formação de palavras, pela sua pertença a classes, pelo seu comportamento na frase (sintaxe) e por questões de semântica e de pragmática;

– já no campo da opinião ou da criação, as rubricas da secção Na 1.ª Pessoa –  O Nosso Idioma, Pelourinho, Controvérsias, Ensino, Lusofonias, Diversidades e  Acordo Ortográfico –, bem como as Notícias, a Montra de Livros e a  Antologia totalizam, de momento, 7650 artigos disponíveis em arquivo para leitura, análise e reflexão;

– acresce que, no final de 2019, o fluxo de visitas ascendia a mais de 14 milhões de visitas.

Há, pois, motivos de sobra para festejar mais um aniversário, e, na rubrica O nosso idioma, a professora Carla Marques dá os parabéns com o texto "Vinte e três anos em vinte e três palavras". Aqui se reúnem e definem, pelas memórias e emoções que evocam certos vocábulos – são exemplos solidez, validez, sensatez...–, tantos quantos os anos que já conta este serviço, sempre ao dispor de quem quer usar bem o português, conhecendo-o e praticando-o na sua unidade ou na sua diversidade. Como diz a autora, «[...] o Ciberdúvidas são as pessoas que o visitam a cada dia, são os textos sobre a língua e para a língua que aqui se partilham». Aos nossos consulentes, quer tenham o português como língua materna quer não, se deve, portanto, o registo do nosso reconhecimento grato, porque é na sua constante adesão aos conteúdos aqui em linha, manifestada também em contacto direto, através do envio quotidiano de questões, achegas, críticas, que o Ciberdúvidas tem encontrado justificação e alento para seguir caminho, ao encontro do interesse que lhe confiam.

2. É dia de festa, mas as rubricas do Ciberdúvidas não param, razão por que o Consultório tem mais uma atualização para responder a cinco perguntas: estará correto o uso de vírgulas para realçar o nome de um autor, como acontece no caso «Os Lusíadas, de Luís de Camões, são uma epopeia»? Como se analisa sintaticamente a construção «fazer de alguém tolo»? O verbo doer pode concordar no plural? O significa o nome jubarte? E diz-se «tomado de enorme alegria» ou «tomado por enorme alegria»?

3. Ao linguista, escritor, ensaísta e tradutor Fernando Venâncio continua a comunicação social portuguesa a dar especial atenção, na sequência do lançamento, em outubro de 2019, de Assim Nasceu uma Língua (Guerra e Paz). Trata-se de uma obra que não só divulga mas também aprofunda o debate sobre a génese e o perfil do português como língua autónoma e apta a ser usada em diferentes domínios. O livro tem tido receção entusiástica no âmbito jornalístico e nas redes sociais, facto comprovado pelos vários artigos que lhe são dedicados, entre os quais se salientam a crónica "O til de Fernãdo Venãcio", do historiador e político Rui Tavares (Público, 23/12/2019), e o trabalho que o jornalista José Mário Silva publicou com o título "As palavras têm história" (semanário Expresso, 11/01/2020). Ambos os textos se transcrevem com a devida vénia em O nosso idioma – aqui e aqui.

4. Da atualidade relacionada com as relações entre os países de língua portuguesa, destaca-se a deslocação do presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebel de Sousa, a Moçambique, onde permanecerá cinco dias, com um programa que inclui a presença na cerimónia de posse do Filipe Nyusi, reeleito presidente da República deste país, e uma à Beira, cidade que ficou devastada pelo ciclone Idai em 2019. É de referir que, neste contexto, e assinalando o 10.º aniversário da cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, o presidente português condecorou a professora e linguista Perpétua Gonçalves, diretora da referida cátedra. Mais notícias aqui.

À volta de Moçambique e do português moçambicano, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "Mito e Miopia - Moçambique como invenção literária", "A questão do galego e uma exposição sobre o português em Moçambique", "O ensino do português em Macau e Moçambique", "A língua portuguesa em Moçambique e a origem comum do português e do galego", "A Universidade Pedagógica da Beira (Moçambique) e os pseudoerros de português", "Enfermeiro e resiliência: as palavras do ano de 2018 em Portugal e em Moçambique", "O português em Moçambique e o estudo dos neologismos em Portugal", "Incêndios e tseke, as palavras do ano de 2017, em Portugal e em Moçambique", "Inovações lexicais em Moçambique, palavras inexistentes e uma viagem histórico-linguística no Cuidado com a Língua!", "O bilinguismo em Cabo Verde e os falares e escritas de Moçambique". Sobre um dos livros da autoria da linguista Pérpétua Gonçalves, leia-se a apresentação de A Génese do Português de Moçambique (2010).

5. Temas centrais dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa:

– no programa Língua de Todos, que vai para o ar na RDP África na sexta-feira, dia 17 de janeiro, pelas 13h20*, convida-se a professora Sandra Duarte Tavares, para falar de neologismos, estrangeirismos e empréstimos, de pontuação (principalmente de vírgulas) e de outros tópicos do uso e funcionamento do português;

no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 19 de dezembro, pelas 12h30*. entrevista-se a professora Ana Maria Martinho (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa) a propósito do seminário anual do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Camões I.P.), realizado em 8 e 9 de janeiro de 2020, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com vista a discutir a cooperação de Portugal com os países africanos de língua oficial portuguesa.

* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 18 de janeiro, depois do noticiário das 09h00.  Por seu lado, o programa Páginas de Português volta a ouvir-se no sábado, dia 25 de janeiro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aquiaqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A conjunção então, que surge habitualmente com um valor temporal, poderá ser usada num contexto argumentativo com um valor conclusivo? Na nova atualização do Consultório, abordamos esta questão. As liberdades poéticas permitem aos autores não seguirem determinadas regras gramaticais, como acontece no verso de Fernando Pessoa: «Minha loucura outros que me a tomem», no qual não se procede à contração dos pronomes mea. Neste caso, qual a função sintática de me? A ordenação dos constituintes na frase pode, por vezes, colocar problemas a quem escreve: qual é a melhor opção «conversas de café superficiais» ou «conversas superficiais de café»? A regência de relativos por preposições continua a oferecer dúvidas a quem escreve e lê: em «As coisas a que fiz alusão», por que razão não se diz «às que fiz alusão»? Finalmente, esclarece-se qual o plural da expressão «teclas de atalho», assinalando a regra que explica este caso particular. 

2. O concurso televisivo da RTP Joker tem dado matéria para diversos reparos disponíveis no Pelourinho e, mais uma vez, assinalamos uma imprecisão. Desta feita, o apresentador leu, em diversas ocasiões, a palavra taxidermia (que significa "arte de empalhar animais" (cf. Dicionário Priberam)) como "taxidérmia", pronuncia que não está correta porque a palavra não é proparoxítona, como se explica neste apontamento

3. Um erro ortográfico é erro em qualquer contexto. Todavia, o seu impacto pode ser muito diferente em função de quem o comete ou do local onde ele surge. Quando um erro é da responsabilidade de um membro do Governo e é divulgado em redes sociais de larga escala, o seu efeito pode ser demolidor. Mais grave será ainda se o seu autor for ministro da Educação. Foi o que aconteceu no Brasil com o ministro Abraham Weintraub, que recentemente escreveu no Twitter "imprecionante", erro que veio recordar que já em agosto tinha escrito a palavra paralisação com "z", como assinala o jornalista brasileiro Mateus Vargas, num artigo divulgado no Pelourinho. 

4. A origem da expressão «sem eira nem beira» perde-se no tempo e, para a consciência linguística dos falantes atuais, o seu significado original é opaco e quase misterioso. Numa tentativa de esclarecer o significado original da expressão, Alexandre M. Flores, ensaísta, professor e investigador, indo até ao mundo agrícola e ao da arquitetura, vai em busca da sua história, encontrando duas possíveis interpretações que apresenta num breve artigo que aqui transcrevemos. 

5. Também a lexicógrafa Ana Salgado procura a origem de expressões que usamos no nosso quotidiano. Deste feita, abordou a locução "discutir o sexo dos anjos", cuja origem parece remontar ao século XV e a um concílio onde se debateu efetivamente se os anjos teriam sexo (crónica divulgada na plataforma Gerador).

Pormenor da pintura Madona Sistina, de Rafael Sanzio (1512).

 

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1.  É possível falar-se de uma mala pesada de tédio? Ser, é, e basta recordar um dos versos de "Notas de Tavira", assinado por Álvaro de Campos, um dos heterónimos da criação pessoana: «Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala...». A propósito deste verso e da sua construção retórica, explica-se no Consultório o que é uma hipálage. Outros tópicos também suscitam questões: que função sintática tem «do passado» na expressão «detetive do passado»? O que estará certo: «ato de coragem patriótico», ou «ato de coragem patriótica»? Que sentido tem o prefixo nuper- em nupercitado? E sabe-se qual é a origem da expressão idiomática «às duas por três»?

2. A Associação Portuguesa de Linguística (APL) lançou no final de 2019 a sua primeira revista temática, subordinada ao tema Avaliar Aprendizagens Gramaticais na Escola e disponível em linha no página digital  da APL. Na Montra de livros, a professora e linguista Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, faz a apresentação desta nova publicação no domínio da investigação linguística desenvolvida em Portugal.

3. Fazendo eco dos acontecimentos que marcaram o ano transato, transcreve-se na rubrica O nosso idioma um texto do humorista português Ricardo Araújo Pereira, sobre o tema da intraduzibilidade entre línguas e, em particular, acerca do Black Friday de 29/11/2019, cuja tradução literal, «Sexta-Feira Negra», se arrisca a ter usos risíveis, assim levantando dúvidas quanto ao seu futuro na língua.

Cf. "Black Friday, um duplo contrassenso"+   «"Viernes negro», alternativa a Black Friday» é a recomendacão da Fundéu/RAE para o castelhano.

4. Ainda à volta de palavras inglesas, registe-se mais um caso de criatividade anglófona. Em referência à decisão inesperada dos duques de Sussex – o princípe Harry (ou Henrique) e Meghan (Meg) Markle – de renunciarem às suas funções oficiais na família real britânica, a comunicação social do Reino Unido cria e difunde uma nova denominação, Megxit, inspirada no modelo de Brexit («saída do Reino Unido da União Europeia»). Em princípio, Megxit, uma amálgama do hipocorístico Meg e do nome comum exit, «saída», é para deixar sem tradução; mas, tendo essa veleidade mais ou menos ociosa, a tarefa não se afigura fácil: «saída à Meg»? Aceitam-se sugestões.

5. Lisboa torna-se a Capital Verde Europeia 2020 a partir de 11/01/2020, dia em que recebe o testemunho da cidade norueguesa de Oslo. Este galardão, com que a União Europeia distinguiu a cidade em 21/06/2018, tem associado um programa extenso que inclui a plantação de 20 mil árvores, a inauguração de espaços verdes e do Museu da Reciclagem, várias exposições e conferências, espetáculos e atividades com escolas e universidades. Sobre ambiente, sustentabilidade e ecologia, consultem-se, do arquivo do Ciberdúvidas, os seguintes artigos e respostas: "Orgânico, ecológico, biológico, natural", "Conservação, preservação e salvaguarda", "A palavra sustentável", "A utilização de sustentabilizar e sustentabilização", "Etimologia de meio ambiente", "O uso de ecossistema", "Neologismos da polémica ambiental", "Ambiência e ambiental",  "Ecopista", "O género de biota", "Ecoturismo + área-destino", "Lótico e lêntico", "A palavra oleão", "Linguística Eco-", "Do clima à ortografia", "Prioridade às mudanças climáticas, a formação do verbo desunhar, a língua portuguesa no mundo e um curso de esperanto em Angola".

CfLisboa Capital Verde: "Estamos juntos e vamos vencer", diz Marcelo com elogios ao Governo e a Guterres

6. No domínio da promoção do português, parece não faltarem notícias sobre o interesse que motiva noutros países europeus. Assim, na República Checa, a delegação do  Camões – Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal na Faculdade de Letras da Universidade de Praga regista cada vez maior procura (cfRádio Renascença em 09(01/20120); e, em Roma, capital da Itália, surge uma nova cátedra de língua portuguesa ainda no decurso do mês de janeiro de 2020, conforme anúncio feito em 08/01/2020, em Lisboa, no seminário anual do Instituto Camões.

7. Quanto aos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, tem destaque uma conversa que a jornalista Paula Torres de Carvalho dá ao programa Língua de Todos, (RDP África, sexta-feira, dia 10 de janeiro, pelas 13h20*), sobre o Manual de Comunicação, um guia escrito em coautoria com o jornalista José Mário Costa com a finalidade de orientar o bom uso da linguagem nas várias plataformas do  Comité Olímpico de Portugal (mais informação nas Notícias). No programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 12 de janeiro, pelas 12h30*), Sónia Valente Rodrigues, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), evoca a personalidade e o legado do linguista e professor universitário Joaquim Fonseca (1941-2019), que desenvolveu na FLUP trabalho pioneiro em Portugal, sobretudo na ligação dos estudos didáticos aos estudos linguísticos e literários.

* Hora oficial de Portugal continental,  ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português  disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Nas Controvérsias, discute-se um  tema que é praticamente o mesmo de há duas décadas: assim como havia interrogações sobre o começo do presente século e milénio – foi em 2000 ou 2001? –, também agora se levanta a questão de saber se o ano de 2020 marca ou não o princípio de uma nova década. O consultor D'Silvas Filho dá o seu parecer.

2. Como se usa o verbo constar? Por exemplo, estará correta a frase «no que consta o relatório, os resultados foram positivos»? A resposta faz parte da atualização do Consultório, onde se abordam ainda outros tópicos: um nome no plural modificado pela associação de adjetivos no singular («nos domingos anterior e posterior ao Natal»); a contagem de sílabas de um dissílabo que ocorre num poema (caso do possessivo sua); a polissemia de uma palavra (o adjetivo casual); e a boa formação de um nome (o regionalismo prateleiro).

3. «Ensinar é sempre um último sopro, aquele que faz valer a pena continuar a ser professor, apesar de tantas adversidades» – declara a professora Lúcia Vaz Pedro sobre o que move os professores na sua ação pedagógica apesar das dificuldades, em artigo que assinala, em Portugal, o regresso à escola após as férias do Natal e que foi publicado no jornal Público, em 6 de janeiro de 2020.

4. A Galiza continua a ser tema de atualidade, porque, finalmente, parece haver vontade política para concretizar a sua aproximação aos países de língua portuguesa. Nas Diversidades, transcreve-se com a devida vénia a crónica que o professor universitário e tradutor português Marco Neves dedicou* à notícia segundo a qual a emissão de canais de rádio e televisão portugueses na  Galiza faz parte do acordo de governação em Espanha entre o PSOE e o Bloco Nacionalista Galego. Trata-se de uma reclamação antiga do parlamento galego, que em 2014 aprovou a Lei Paz-Andrade, com a qual se visa incentivar na Galiza o ensino do português e o contacto com as culturas veiculadas nesta língua.

* Texto intitulado "Porque querem os galegos ver televisão portugues?", publicado na plataforma noticiosa Sapo 24 e no blogue do autor, Certas Palavras, com a data de 5/01/20020.

5. Entre as notícias que têm marcado a atualidade da língua portuguesa, merecem registo:

– Ainda envolvendo a Galiza, mas no contexto de debate político nas cortes espanholas, em Madrid, o uso do agradecimento obrigado  entre o deputado do Bloco Nacionalista Galego e o recém-eleito presidente do governo de Espanha, Pedro Sánchez, gerou polémica, porque, mesmo em galego, a fórmula mais corrente é gracias ou grazas (numa ortografia reintegracionista, à portuguesa, graças). Na Galiza, muitos dizem que obrigado só se emprega em português, mas há setores que consideram que a expressão também tem cabimento em galego. É o que se defende em "Agradecermos con 'obrigada' é correcto", um artigo publicado no jornal Nós, uma nova publicação diária em língua galega lançada em 02/01/2020.

– Decorre o Seminário anual do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua nos dias 8 e 9 de janeiro de 2020, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Este encontro conta com a participação de várias figuras da vida política e institucional portuguesa que discutirão aspetos da promoção internacional da língua. Sobre este acontecimento, leia-se o artigo que o presidente do Camões, Luís Faro Ramos, publicou em 07/01/2020 no jornal Diário de Notícias.

6. Nos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa,  têm realce os seguintes temas:

– No programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 10 de janeiro, pelas 13h20*, entrevista-se a jornalista Paula Torres de Carvalho, que partilha com o jornalista José Mário Costa a autoria de Manual de Comunicação, um guia orientador da linguagem utilizada nas várias plataformas  Comité Olímpico de Portugal (mais informação nas Notícias).

* Hora oficial de Portugal continental,  ficando  programa Língua de Todos,disponível posteriormente aqui.

– No programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 12 de janeiro, pelas 12h30**, convida-se a linguista Sónia Valente Rodrigues,  professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), para falar de Joaquim Fonseca, falecido em 20 de agosto de 2019, investigador e docente na área da linguística do texto também na FLUP, que foi precursor em Portugal de diversos domínios, nomeadamente os que ligam os estudos didáticos aos estudos linguísticos e literários.

** Hora oficial de Portugal continental,  ficando o programa Páginas de Português  disponível posteriormente aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A entrada neste novo ano leva-nos a desejar a todos os nossos consulentes um excelente 2020, com felicidade, sucesso e bom português.Cada começo de ano é motivo para elaborar projetos a concretizar no decurso dos seus 365 dias. Ora, este ano temos mais um dia para realizar todos os nossos objetivos porque 2020 é um ano bissexto, o que significa que tem 366 dias. Esta situação tem lugar de quatro em quatro anos, de modo a manter o calendário anual ajustado ao movimento de translação da Terra, que, na realidade, tem a duração de  365 dias, 5 horas e 48 minutos. Logo, a cada quatro anos, introduz-se mais um dia no calendário para fazer o acerto (cf. aqui). Popularmente, julga-se que o termo bissexto, usado para designar este ano, está relacionado com os dois 6 de 366 (ou seja, bissexto significaria "dois 6"), mas a palavra tem a sua origem no termo latino bisextus, palavra complexa formada por "bi-" ("duas vezes") e "sextus", em referência ao sexto dia antes das calendas de Março, de acordo com o calendário romano – ou seja, os romanos, de quatro em quatro anos, repetiam este dia sexto, o que atualmente corresponderia a colocar um dia extra entre 24 e 25 de fevereiro (cf. resposta «Ano bissexto»). O início do ano implica também o recomeço da contagem do tempo, feita em horas, dias, semanas e meses. O primeiro intervalo de tempo é um mês de 31 dias que recebe o nome de janeiro, termo herdado do latim e que está relacionado com o deus Jano, o deus da mudança, que tem como característica marcante o facto de ter duas faces, uma que olha para trás, para o passado, e outra para a frente, para o futuro (a propósito, recordamos o artigo da professora Maria Regina Rocha sobre o calendário e os nomes dos meses). 

2. Também motivado pela entrada do novo ano, o tradutor e professor universitário Marco Neves pega exatamente na palavra ano para convidar os seus leitores a uma viagem pelas formas de dizer e escrever a palavra em algumas línguas latinas, de Portugal à Transnístria (vídeo disponível no seu blogue Certas Palavras). 

3. Com o início do novo ano, o Ciberdúvidas regressa às atualizações regulares do Consultório, tratando as mais diversificadas questões: da norma às evolução linguística, passando pela ortografia, sintaxe, semântica, pragmática, entre outros domínios específicos da língua portuguesa. Com base numa primeira questão, verificamos que o contacto entre línguas leva a que, por vezes, ocorram empréstimos de palavras e até decalque de expressões. Será este o caso de «ficar a dever uma», expressão pouco normativa em português que terá sido decalcada do inglês. Também pouco aceitável do  ponto de vista formal, no âmbito do português europeu, será o verbo vidrar com o significado de «ficar encantado». É também no âmbito da norma que se enquadra a questão dos tempos e modos verbais a utilizar numa ata, embora se venha a verificar que algumas opções são condicionadas pelas intenções dos falantes. Ainda uma resposta sobre as possibilidades sintáticas do verbo indemnizar e sobre as razões da grafia distinta no português europeu e no português do Brasil. Por fim, a questão do aportuguesamento do nome latino Ammaia, designação dada a uma antiga cidade da Lusitânia romana, localizada em Portugal, em São Salvador de Aramenha (concelho de Marvão, Portalegre). 

4. Saudade é a palavra que caracteriza por excelência a língua portuguesa. O mito da impossibilidade de tradução desta palavra cresceu e transformou-a numa realidade opaca e carregada de sentimentos que, aparentemente, só quem é falante de língua portuguesa estará habilitado a experimentar. Retomando a simbologia da palavra e a problemática da sua origem, a revista National Geographic apresenta um apontamento que destaca a importância que a saudade foi conquistando. A este texto associamos outro do escritor português Onésimo Teotónio de Almeida (datado de 2016), que reflete sobre a essência da supostamente intraduzível palavra. A palavra saudade tem também uma história associada à entrada em vigor em Portugal da norma  ortográfica de 1945. Vigorando até então a reforma de 1911, a palavra grafava-se com um trema (saüdade) e a mudança não deixou indiferentes os falantes que tinham sido alfabetizados nessa norma.  Definia a Base XXVII da norma ortográfica de 45: «O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo». E, ontem como hoje, sempre que há mudanças na língua, as reações não faltam. Uma delas está bem ilustrada pelo poema satírico de autoria do poeta e escritor português João Silva Tavares (1893-1964), que, de forma bem humorada, defendeu que a supressão do trema constituía afinal um problema a menos numa realidade tão complexa como é a da saudade

No português do Brasil, o trema caiu com a entrada em vigor no país do Acordo Ortográfico de 1990, conforme o estipulado na sua  Base XIV.

Cf. «E um verso em branco à espera de futuro»

5. A Galiza vai poder ter acesso aos canais de rádio e televisão portugueses, fruto do acordo entre o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) e o BNG (Bloco Nacionalista Galego), através do qual se facilitará a investidura de Pedro Sánchez com o voto de Néstor Rego, deputado nacionalista galego (notícia aqui). Este acordo serve os interesses da Galiza, que pretende promover a língua galega através de  inúmeras estratégias, entre as quais a aproximação ao português, língua com a qual partilha as suas raízes. 

6. Durante o período de interrupção das atividades do Consultório, o Ciberdúvidas manteve a divulgação de textos relacionados com a língua portuguesa, que aqui recordamos num breve apanhado: a nossa colaboradora permanente Carla Marques, olhando alguns usos recorrentes na comunicação social, alertou para os casos de utilização excessiva e, por vezes, violenta do verbo arrastar; numa perspetiva mais histórica, destacámos a crónica do historiador e político Rui Tavares sobre o livro Assim Nasceu uma Língua, do linguista Fernando Venâncio, centrando-se no tema da origem problemática e longínqua da língua portuguesa; ainda numa perspetiva histórica, divulgámos um apontamento do tradutor Vítor Lindegaard que trata as origens das palavras charro, insumo sótão; em torno das palavras relacionadas com a época natalícia, um texto do poeta e cronista Pedro Mexia explora o período e o significado do Advento; por fim, um texto do professor Santana Castilho, que reflete sobre a situação do ensino do português no estrangeiro. 

7. palavra do ano 2019 é violência doméstica. Esta iniciativa da Porto Editora, que divulgou hoje (6 de janeiro) a palavra eleita,  destaca a riqueza e a diversidade lexical da língua portuguesa e tem permitido sublinhar assuntos centrais a que a população e a comunicação social atribuem maior importância ao longo do ano. Num ano marcado pelas notícias relacionadas com este flagelo, a escolha de violência doméstica como palavra do ano é também mais uma forma de consciencializar para a importância de prevenir e impedir a existência de quaisquer tipos de maus-tratos em ambiente familiar. «A escolha é justificada pela Porto Editora “em consequência dos inúmeros casos que foram sendo conhecidos ao longo do ano e que, infelizmente, resultaram em vítimas mortais — de acordo com notícias recentes, foram 35 mulheres, homens e crianças assassinadas em Portugal no contexto de violência doméstica só no ano passado”», afirma-se na notícia do jornal Público

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Natal: época de reflexão e de união, época de partilha e de proximidade. A vivência deste período convida à comunicação entre os Homens, que procuram, por atitudes ou palavras, expressar os votos que a data estimula. Proliferam as mensagens que lembram e fazem lembrar, que distribuem esperança e força para recomeçar. Dada a importância que estas palavras podem ter para quem as envia ou para quem as recebe, é fundamental que os erros não venham manchar as boas intenções (ainda que se trate de uma mensagem estereotipada). Por esta razão, Carla Marques, colaboradora permanente do Ciberdúvidas, num pequeno apontamento, passa em revista algumas mensagens menos corretas que por aí circulam, passando de mão em mão, e explica a natureza dos erros. Para que as festividades possam também ser o espaço de uma língua estimada e cuidada. 

Quem também não é indiferente à ligação entre a língua e Natal é o tradutor e professor universitário Marco Neves, que tem publicado diversas crónicas relacionadas com o tema, das quais recordamos aqui «Doze deliciosas palavras deste Natal» e «Que língua fala o Pai Natal? E o Menino Jesus?». E, para além destas, alguns textos alusivos ao Natal e suas tradições: «Els caganers: a mais estranha tradição de Natal na Catalunha» e «Natal, sexo e escadas rolantes». Ver, ainda, Como São as Tradições de Natal Nestes Países?

O Ciberdúvidas faz coincidir a sua interrupção com a pausa escolar do 1.º período em Portugal, ficando fechado o consultório linguístico. Não obstante, continuaremos a assinalar nos Destaques notícias relevantes da atualidade, ficando disponível o acesso ao vasto arquivo do Ciberdúvidas (ver aqui). A partir de 6 de janeiro de 2020, regressaremos com as atualizações regulares. Para qualquer outro assunto os contactos estão descritos aqui.

 Primeira imagem: iluminação da cidade do Porto: segunda imagem: iluminação da cidade de Viseu.   

2. Três países de língua portuguesa, Brasil Cabo Verde e Portugal, foram presenteados durante a semana de 11 de dezembro com o anúncio de que a UNESCO reconheceu a três das suas tradições como Património Imaterial da Humanidade:  o Bumba meu boi, festa tradicional do estado do Maranhão; a morna, género musical cabo-verdiano, considerado a «música rainha» do país e que teve como maior expoente a cantora Cesária Évora, que a projetou a nível mundial; e os caretos de Podence. Caretos são figuras tradicionais da aldeia de Podence (do concelho de Macedo de Cavaleiros, situado na região nordeste de Portugal), que representam figuras diabólicas, vestidas de colchas vermelhas decoradas com lã colorida, máscaras vermelhas e chocalhos à cintura. Na época das festividades do final do inverno e da celebração do Carnaval, os caretos apanham as raparigas para as poder "chocalhar" (notícias aqui aqui e aqui).

No plano linguístico, esta última tradição levanta o problema de como pronunciar corretamente o topónimo Podence. Como explica Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, não há razão histórica para se pronunciar "Pòdence", com vogal aberta (o que poderá, eventualmente, acontecer pela sugestão de "Esposende" - que se diz "Espòsende", com "o" átono mas aberto). Na verdade, os próprios naturais da aldeia, dizem "pudence", como seria de esperar em posição átona. Há topónimos que têm vogal abertas em posição átonas por razões históricas: por exemplo, além de "Esposende", conta-se "Resende", com "e" aberto átono na sílaba "Re-". Estas vogais átonas abertas devem-se  geralmente à contração (crase) de pares de vogais iguais; assim, "Esposende" tem um "o" aberto que remonta ao par "oo" da forma medieval (hipotética) "Espoosendi"; e o "e" aberto de "Resende" será o resultado de "ee" da forma também medieval "Reezende".*

* A forma é "Espoosendi" é hipotética, porque o que se atesta em 1258 é "Espoesendi" (ver José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa). Quanto a "Reezende", ocorre esta nos Portugaliae Monumenta Historica, muito embora nesta fonte também figure "Reisindi", que pode pôr em causa a possibilidade de o "e" aberto da forma atual ter a explicação aqui proposta.

 3. A jovem ativista sueca Greta Thunberg foi considerada pela revista Time personalidade do ano 2019. O destaque que a jovem tem merecido em todos os meios de comunicação social motiva a questão sobre a pronúncia correta do seu nome, dada até a complexidade do sistema fonético sueco. Este esclarecimento é feito na atualização do Consultório e dá o mote para algumas das respostas que agora divulgamos, relacionadas com a importância que a correção assume em vários planos da língua, para além de permitir recordar que, não raro, o problema da correção não se coloca no domínio do certo ou do errado, mas está antes dependente do contexto de comunicação ou do registo de língua a ser usado. É desta natureza a alternância de usos das expressões «jogar mais ele» e «jogar com ele». É também a preocupação com a correção que está na base de uma pergunta sobre os termos de âmbito regional garruço e barruço ou sobre o uso da expressão «muito fundamental». Já a alternância entre as expressões «funcionar aos sábados» e «funcionar nos sábados» evidencia um caso de especialização dos sentidos. Uma outra questão prende-se com a correção da opção pela colocação de uma preposição em início de construção clivada (como em «Do que muitos começam a duvidar é das suas possibilidades»). Por fim, identifica-se o ato ilocutório configurado pela interrogação «O remédio?» e a função sintática do grupo preposicional na frase «Estreou em 1843».  

4.  Na rubrica Montra de Livrosdivulgamos a obra do historiador português António Borges Coelho, intitulada Ruas e Gentes na Lisboa Quinhentista (com a chancela da editora Caminho), onde se esboça um retrato das pessoas e da Lisboa quinhentista, passando também pela toponímia da capital. 

5. Na atualidade relacionada com língua, destacamos a colaboração do Plano Nacional da Língua 2027 com o programa Jogo da Língua, transmitido de segunda a sexta-feira na Antena 1 e na RDP Internacional, da responsabilidade da Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. Alunos que frequentam o 3.º ciclo e o ensino secundário em Portugal passam a participar ao desafio do dia. Quem acertar na resposta, a respetiva Biblioteca Escolar receberá livros oferecidos pelo PNL2027.  Mais pormenores aqui

6. Sobre os temas da semana dos outros dois programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, o  Língua de Todos , na RDP África, e  o Páginas de Português , na Antena 2aqui.

7. Para celebrar a língua em época natalícia, o Ciberdúvidas brinda os seus leitores com um poema alusivo à época, da autoria do poeta e compositor musical brasileiro Vinicius de Moraes, acompanhado por uma pintura sugestiva do pintor português Domingos Sequeira. Boas festas!  

 

Poema de Natal
 
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
 
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
 
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
 
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
 
Vinicius de Moraes, Antologia Poética

 Domingos Sequeira, Adoração dos Magos. 1828

 
Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  O atribulado processo de saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, continua a ser terreno fértil para novas palavras. Além do que já ficou registado em arquivo¹, no contexto das eleições em 12 de dezembro de 2019, em que os britânicos vão (espera-se) definir finalmente o seu rumo, a comunicação social em português estreia mais uma criação lexical, a do verbo brexitar², que se atesta, por exemplo, na seguinte passagem, da autoria do jornalista Ferreira Fernandes (Diário de Notícias, 7/12/2019; sublinhado nosso): «Se houver uma maioria de voto conservador, é a decisão que tem consequências mais francas sobre a Europa: eles brexitam mesmo. E não só saem, como essa decisão pode levar a Escócia a referendar a sua independência e as Irlandas a unir-se. Quer dizer, ao partir, e por partir, o Reino Unido pode partir-se. Tudo mau.» E significará brexitar? Proponha-se a seguinte perífrase: «sair da União Europeia, em referência ao Reino Unido (ou, talvez, parte dele)».

¹ Brexit vs. Bremain, os dois anglicismos marcantes do referendo na Grã-Bretanha, pró e anti-União Europeia + Erros persistentes que apoquentam os professores, o questionamento linguístico e o neologismo brexiteiros + O neologismo Mayexit História do inglês do Beowulf ao Brexit  + As línguas na Europa: o que mudará com o Brexit? O euroléxico de A a Z.

²  Sobre brexiteiro, como aportuguesamento de brexiteer, «defensor ou ativista do Brexit», ler aquinotícia de 10/12/2019 do jornal Público.

2. Diz-se «a União Europeia advertiu de que....», ou «advertiu que...»? É certo que o verbo advertir se associa sempre com a preposição de – isto é, tem regência – a uma expressão nominal, como acontece com «a União Europeia advertiu de eventuais riscos».  Mas será legítimo suprimir a preposição de antes da conjunção que? A esta questão dá resposta o Consultório na presente atualização, na qual também se revela que a conjunção e, apesar de pequenina, é palavra polissémica, ou seja, tem vários significados e que «o suficiente» é um grupo nominal que pode funcional adverbialmente. Fala-se ainda da formação do adjetivo parafraseável e retoma-se o problema do aportuguesamento de topónimos estrangeiros com a análise do caso de Vancouver, nome de uma cidade canadiana.

3.  Aproxima-se um novo ano, e o mês de dezembro constitui a tradicional oportunidade de os media brindarem o público com balanços e projeções. Entre contagens e estatísticas, mencionemos dois casos relacionados com a onomástica – por outras palavras, com o estudo dos nomes próprios:

– em Portugal, os nomes próprios mais frequentemente atribuídos em 2019 no registo de recém-nascidos foram, para  as meninas, Maria, Leonor e Matilde, enquanto, entre os meninos, Francisco foi o favorito, seguido de João e Santiago (fonte: Público, 10/12/2019);

– no Brasil, a situação é outra em matéria de escolha de nomes : Miguel, Arthur3  e Heitor são os três mais usados para os rapazes, ao passo que Helena, Alice e Laura dominam entre as raparigas(fonte: Bebe.com.br, do grupo Abril);

– quanto aos nomes que, em Portugal, mais pesquisados foram pelo Google, em primeiro lugar conta-se Ângelo Rodrigues – assim se chama o ator português que foi notícia em agosto de 2019 por causa de um grave problema de saúde – e Flamengo, denominação da equipa de futebol treinada pelo português Jorge Jesus, que conseguiu conquistar o campeonato brasileiro e a Taça dos Libertadores (fonte: Jornal de Notícias, 11/12/2019).

– internacionalmente, Greta é o nome mais relevante – segundo a escolha da revista norte-americana Time, que considerou a jovem ativista sueca como personalidade do ano, destacada pelo trabalho que fez em prol da defesa do planeta. Ver ainda "Greta é a personalidade do ano para a revista "Time". Foto tirada em Portugal" + Greta Thunberg. A história por detrás da foto da Time tirada em Lisboa.

3 A forma portuguesa é Artur, mas a onomástica pessoal mostra certa flexibilidade (sobre a grafia dos nomes próprios pessoais, ver documento do Instituto dos Registos e do Notariado).

4 Como se sabe, em Portugal, a palavra rapariga define-se como «criança ou jovem do sexo feminino». É, portanto, equivalente a moça ou menina

4. Outros registos da atualidade:

– Em Portugal, a Assembleia da República vota neste dia a Lei da Nacionalidade, a qual diz respeito às condições de concessão da cidadania portuguesa. De acordo com dados publicados no Público de 28/06/2019, entre as nacionalidades estrangeiras mais numerosas no território português, estão, por ordem decrescente, os brasileiros, os cabo-verdianos, os romenos, os ucranianos, os britânicos, os chineses, os franceses, os italianos, os angolanos e os guineenses da Guiné-Bissau.

Sobre o gentílico cabo-verdiano, consultar "A insistência cabo-verdiana no erróneo "caboverdiano". Acerca do gentílico da Guiné-Bissau, ler "Os nomes pátrios da Guiné-Equatorial e da Guiné-Bissau". 

Cf. Filhos de imigrantes nascidos em Portugal podem ser portugueses desde que um progenitor seja residente +  Já há mais cidadãos a obter nacionalidade portuguesa do que nascimentos +  Este ano houve quase 103 mil cidadãos que se tornaram portugueses +  Em Portugal, um em cada dez bebés nasce de mãe estrangeira

– O lançamento de uma petição no aniversário da morte de Fernando Pessoa, em 30/12/2019, com o objetivo de exigir «o ressurgimento do ensino de português como língua materna junto das crianças e jovens portugueses e lusodescendentes residentes no estrangeiro». A iniciativa partiu de Pedro Rupio, um conselheiro das Comunidades eleito na Bélgica.

– Faz 20 anos – em 20 de dezembro – que Macau passou à administração da República Popular da China. Neste território, a língua portuguesa continua a ter uso oficial a par do mandarim, mas o embaixador António Santana Carlos, que liderou o processo de transferência de soberania, recorda que a manutenção desse estatuto «não foi fácil de conseguir, [pois] foi preciso insistirmos muito e mantermos uma coerência ao longo de todo esse processo» (fonte: agência Lusa e Mundo ao Minuto).

5. Quanto aos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, lembramos que o programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 13 de dezembro, pelas 13h20*, e o programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de dezembro, pelas 12h30*,

* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 14 de dezembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 21 de dezembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental,  ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A pronúncia é a forma como se realiza a prosódia de uma palavra. Todavia, os falantes não pronunciam as palavras sempre da mesma forma, ficando as diferenças dependentes de fenómenos regionais, sociais, educacionais ou simplesmente de modas em vigor. O contraste entre as pronúncias de uma mesma palavra gera, por vezes, as hesitações dos falantes, que podem mesmo questionar a correção da forma como sempre pronunciaram uma dada palavra. Esta situação ocorre na questão que se coloca ao Consultório relacionada com a pronúncia de Isaac. Numa outra questão pergunta-se se a expressão «um ror de», que surge com alguma frequência, terá alguma ligação com a palavra horror? Regressando ao tema dos verbos, sabemos que as classes verbais podem ser constituídas segundo diversos critérios, sintáticos, semânticos ou morfológicos. Nesta perspetiva, a que classe pertencerá o verbo acusar, segundo a sua significação? Para concluir, uma questão de âmbito textual e discursivo sobre o tipo de coesão assegurado pelo advérbio de lugar .

Primeira imagem: Abraão e Isaac, de Rembrandt, 1634   

 2. Celebra-se hoje, dia 9 de dezembro, o Dia Nacional da Imprensa, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Imprensa. Este ano, as comemorações têm lugar em Coimbra e visam apontar caminhos a seguir pela imprensa, numa altura em que atravessa uma situação de crise e se debate com o problema das «notícias falsas» (notícia aqui). O Ciberdúvidas tem, desde sempre, dedicado uma particular atenção à imprensa, como espaço de vida da língua, de divulgação de temas de âmbito linguístico e também de erros e dúvidas. Neste domínio, as comemorações deste evento recordam-nos respostas relacionadas diretamente com os géneros da imprensa ou com vocabulário temático, sobretudo os anglicismos: «Os diferentes textos de imprensa», «Sobre a notícia», «Crónica de imprensa», «Imprensa generalista», «Imprensa escrita?», «Press release = comunicado de imprensa», «A formação e o significado do termo mediólogo», «Newsletter = «boletim informativo»», «O anglicismo newsletter = «boletim informativo»», «A tradução de newsmaker». Publicámos também um número considerável de respostas relacionadas com o termo «meios de comunicação social»: «Media e «meios de comunicação»», «Ainda à volta da palavra latina media», «O uso de "media" (=«meios de comunicação social»)», «Media e «meios de comunicação»», «Ainda à volta da palavra latina media», «/Mèdia/ e não "mídia"», ««Media», média, /mídia/ + "canasto" / canastro». Sobre este tema, recordar também o apontamento do Pelourinho «In mídia virtus» e o artigo «Populismo e fake news». 

3.  As bengalas linguísticas são usadas como marcadores de discurso oral, sobretudo em situações de interação linguística. Auxiliam o locutor a organizar as ideias, marcam a tomada de fala, assinalam a reorientação discursiva... Enfim, são muitas e diversificadas as funções das bengalas linguísticas. Todavia, quando são frequentes e insistentes podem tornar o discurso pesado, enfadonho e difícil de interpretar por parte do interlocutor, o que leva a que sejam consideradas por muitos um vício de linguagem que importa eliminar. Estas bengalas linguísticas estão também associadas a modas que acabam por impor o uso de determinados itens lexicais. Assim, do  de gerações anteriores evoluiu-se para o pronto e o então e, mais recentemente, para o tipo, muito popular entre os mais jovens. É a este bordão linguístico que se dedica o texto da agência Lusa «"Tipo, ok. Tipo, não. Tipo, eu sei." Perceba o fenómeno», que aqui reproduzimos, com a devida vénia, e no qual se descreve o facto, se encontram causas e se apresentam algumas das posições distintas que gera. O recurso a determinadas bengalas linguísticas no discurso dos jovens, como tipo, foi também já assinalado no Ciberdúvidas num artigo divulgado na rubrica Na 1.ª pessoa (ver aqui). 

4.  O recurso, numa crónica do jornalista  português João Miguel Tavares, à expressão Homo sapiens com sentido plural lançou a discórdia sobre a forma que a expressão latina deverá assumir. O que está correto: a forma Homo sapiens, para o singular e para o plural, ou a forma Homines sapientes, se o sentido é plural? Poderá acompanhar a polémica na rubrica Controvérsias  (ver artigo aqui). 

5.  A existência de choques de culturas e a recusa de variantes do português que não a europeia são alguns dos dados resultantes de um estudo desenvolvido pela investigadora Juliana Chatti Iorio, divulgado em traços largos no Diário de Notícias (notícia aqui transcrita). A investigação em questão veio demonstrar que ainda existem preconceitos linguísticos nas universidades portuguesas, que levam a que se tenha dificuldade em aceitar como corretas outras variantes do português ou em querer conhecer as culturas dos estudantes estrangeiros. Dando como exemplo o caso dos alunos brasileiros, a investigadora afirma: «Muitas vezes, os próprios professores não aceitam a língua portuguesa falada e escrita no Brasil, discriminando mesmo o seu uso em sala de aula e não permitindo o uso de livros cuja tradução seja feita no Brasil.»

6. Nas notícias relacionadas com a língua portuguesa e com a comunicação, destaque para: 

— A decisão de entregar o Prémio CamõesChico Buarque, músico e escritor brasileiro, em Portugal, no âmbito das comemorações do 25 de abril em Lisboa, depois de o presidente brasileiro Jair Bolsonaro ter dado a entender que não iria assinar o diploma de entrega do prémio ao autor (ver notícia);

— A entrevista a Fernando Venâncio, escritor português e académico, por ocasião do lançamento da sua obra Assim nasceu uma língua, na qual defende que o português é uma língua tardia, que só se autonomizou do galego a partir do início do século XV (divulgada no jornal Público);

— A apresentação do projeto Mãos que cantam, da responsabilidade do maestro Sérgio Peixoto, que criou um coro de surdos com os alunos da Licenciatura e Mestrado em Língua Gestual Portuguesa do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica, que começou por atuar em conjunto com o Coro dessa Universidade, no dia 11 dezembro de 2019, às 18h00, na Biblioteca Palácio Galveias.