1. Associando as denominações de cargos políticos e governativos aos nomes dos seus titulares, como se deve pontuar a seguinte frase: com vírgulas – «o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, fez uma visita oficial» –, ou sem elas – «o primeiro-ministro António Costa fez uma visita oficial»? Neste caso, justificar-se-ão as duas vírgulas a ladear o nome pessoal, se este tiver a função de aposto, isto é, de modificador apositivo, como se explica numa das novas respostas em linha no Consultório. Outros tópicos abordados nesta atualização dizem respeito à legitimidade do uso do adjetivo perfilístico, à identificação da referência exata de «um par de calças» e à relação do composto porta-chaves com o nome porta. Por último, comenta-se a repetição do pronome se no mesmo complexo verbal – ex.: «deve-se conformar-se» ou, simplesmente, «deve-se conformar»?
2. Fala-se de discurso académico, mas que características e géneros tem ele, afinal, e que vantagem se tira do seu estudo para a promoção da literacia nos contextos escolar e científico? Procurando dar resposta a estas interrogações, publicou-se em 2019 um volume em formato eletrónico intitulado Discurso Académico: uma área disciplinar em construção. É um conjunto de 18 artigos nos quais se dá um panorama sobre a investigação que a linguística aplicada em Portugal desenvolve atualmente em torno do discurso académico. Na Montra de Livros, a consultora permanente do Ciberdúvidas, Carla Marques, dá pormenores na apresentação que faz desta obra.
3. Ainda a propósito de coisas menos simpáticas mas já não diretamente gramaticais ou linguísticas, refira-se a procura de um termo que, em português, denote a discriminação social com base na idade. Há diferentes formas em circulação, mas, entre as compatíveis com padrões de correção morfológica e de coerência semântico-referencial, contam-se as palavras idadismo (de idade), etarismo (de etário), a que se junta uma solução menos concisa, «discriminação etária».O tema tem sido abordado no Ciberdúvidas: em "Idadismo e idadista", "O neologismo idadista", "Etarismo" e "Etarismo: preconceito contra idosos". E, dado que convém sempre estar atento ao que é prática nas línguas próximas do português, assinale-se a recomendação que a Fundéu BBVA emitiu relativamente ao termo a empregar em espanhol – edadismo, um derivado de edad, «idade», que é, portanto, homólogo de idadismo quanto à sua formação.
Na imagem, foto de Christian Newman (Unsplash).
4. A identificação do que é e não é correto tem uma importante componente social, pois frequentemente resulta de atitudes perante usos do idioma, umas bem fundadas, outras com critérios nem sempre congruentes. Tendo em conta o interesse que há em conhecer os juízos dos falantes sobre os erros linguísticos, o tradutor e professor universitário Marco Neves pediu a várias pessoas que indicassem os mais irritantes. A lista, divulgada em 9 de fevereiro na plataforma Sapo 24 e no blogue deste autor Certas Palavras, é também transcrita com a devida vénia na rubrica O nosso idioma. Para compensar a irritação, leia-se, também de Marco Neves, outro breve e muito mais apaziguador elenco vocabular: "Cinco expressões deliciosas da língua portuguesa" (em Certas Palavras, 26/09/2020).
5. Na rubrica Notícias, divulga-se o agradecimento da família que o filólogo e académico português João Malaca Casteleiro dirigiu a quantos manifestaram pesar pelo seu desaparecimento, ocorrido no dia 7 de fevereiro de 2020. Foi, entre muitos, o caso do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
6. Falando ainda do mundo académico e, em particular, da linguística, registo para:
– o anúncio do colóquio Norma e Cidadania Linguística, promovido pela Academia das Ciências de Lisboa, que o realiza em 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa (inscrição de até 12 de março; mais informação aqui);
– a multiplicação do lançamento de obras científicas em formato eletrónico, como é o caso do livro acima mencionado, mas também de outras publicações recentes, como A linguística na formação do professor: das teorias às práticas, uma obra com organização e participação dos linguistas António Leal, Fátima Oliveira, Fátima Silva, Isabel Margarida Duarte, João Veloso, Purificação Silvano, Sónia Valente Rodrigues, entre mais nomes.
7. O tema principal dos programas de rádio que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa foca a vida e da obra do filólogo João Malaca Casteleiro, evocado em depoimentos prestados por Margarita Correia, professora da Faculdade de Letras de Lisboa e presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, e pelo gramático brasileiro Evanildo Bechara.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 15 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 22 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. O filólogo e académico português João Malaca Casteleiro faleceu em Lisboa (no dia 7 de fevereiro), aos 83 anos. Professor catedrático com uma longa carreira na docência universitária, Malaca Casteleiro distinguiu-se nos estudos no âmbito da sintaxe, do léxico e da didática da língua, tendo orientado mais de meia centena de teses de mestrado e doutoramento. Foi também membro da Academia de Ciências de Lisboa, diretor de investigação do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa. Participou em vários trabalhos conducentes à unificação da ortografia em língua portuguesa, sendo um dos autores do texto do Acordo Ortográfico de 1990. Deixa uma vasta obra científica, na qual se destaca a coordenação científica do Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea, obra que não conseguiu atualizar, como pretendia, e o Dicionário de Língua Portuguesa Medieval (brevemente a ser publicado), coordenado por si, por Maria de Lourdes Crispim e por Maria Francisca Xavier (também recentemente falecida). Em jeito de homenagem e despedida, Margarita Correia, presidente do conselho científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, partilha um texto in memoriam, que transcrevemos em O Nosso Idioma: «Até sempre, Professor Malaca». A informação do falecimento de João Malaca Casteleiro, noticiada pela agência Lusa, mereceu um justificado destaque nas páginas de diversos jornais portugueses – como o Expresso, o Observador, o Correio da Manhã, o Jornal de Notícias, entre outos.. Na rubrica Notícias, deixamos transcrito, com a devida vénia, o obituário escrito pelo jornalista Vítor Belanciano, no jornal Público: «João Malaca Casteleiro (1936-2020), mais do que obreiro do acordo ortográfico». Registe-se, ainda , a evocação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, num comunicado colocado sua página oficial.
Juntamente com o gramático e académico brasileiro Evanildo Bechara, João Malaca Casteleiro foi alvo de uma homenagem promovida pela equipa central do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), com apoio do IILP e da Universidade do Porto, por ocasião da 1.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ortografia da Língua Portuguesa (COLP), realizada no Porto, nos dias 7 e 8 de outubro de 2019.
2. A atribuição dos Óscares 2020 da Academia de Hollywood, que decorreu durante a madrugada de 10 de fevereiro, trouxe surpresas que fizeram história, sobretudo pela atribuição do Óscar de Melhor filme a Parasitas, filme sul-coreano que conquistou ainda as categorias de Melhor realizador, Melhor argumento original e Melhor filme internacional (ver notícia). Como acontece em muitas ocasiões, falar do vencedor implica também falar do derrotado. E, de facto, é previsível que, nos próximos dias, muito se fale do filme que era considerado o grande favorito: 1917, de Sam Mendes. O que já não é tão certo é que o apelido do realizador britânico seja bem pronunciado no espaço mediático português, como assinala a professora Carla Marques, num apontamento intitulado «É "Mendch" e não "Mendèsh"».
A cerimónia de atribuição dos Óscares justifica que aqui se recorde que a palavra Óscar é um nome próprio (que pode também ser usado como nome comum) que tem como plural Óscares. Este lembrete, já por diversas vezes recordado, mantém a sua pertinência uma vez que continuamos a encontrar textos onde se usa o termo inglês "Oscar/Oscars": «A lista de vencedores dos Oscars 2020» ou «Oscars 2020: Estes são os vencedores da noite». Esta opção não tem justificação dado que a tradução da palavra já entrou na língua portuguesa, estando mesmo dicionarizada, como se recorda na resposta «Oito "oscars" / oito óscares». Desta palavra têm derivado outras, num processo de criação lexical, como é o caso do verbo oscarizar, do particípio oscarizado ou do adjetivo oscarizável (como se recordou, por exemplo, na Abertura de 25 de fevereiro de 2019). É ainda de referir que o verbo nomear rege a preposição para, como se esclareceu em «Nomeado para 10 óscares».
3. O léxico científico próprio de cada área do saber pode mobilizar palavras de maior complexidade, tanto no domínio da ortografia como no da ortoépia. Exemplo disso são os pares de palavras assimptota/assintota e assímptota/assíntota, que aqui se analisam para determinar se se trata de uma palavra grave (paroxítona) ou esdrúxula (proparoxítona) e qual a grafia correta antes e depois do Acordo Ortográfico de 90. No Consultório, determina-se ainda a origem e evolução do regionalismo escolateira. Já no plano semântico, trata-se uma questão sobre a correção do uso das palavras alvo e objeto em referência a seres humanos. Uma outra questão pretende determinar a correção do uso do verbo ter com significado existencial. Por fim, regressamos aos relativos. Desta feita para identificar a função sintática desempenhada por quem no interior de uma oração subordinada substantiva relativa.
4. No âmbito das notícias relacionadas com a língua portuguesa, destacamos o Encontro de Escritores Lusófonos, organizado pelo Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, que terá lugar no dia 13 de fevereiro, na Biblioteca Camões, em Lisboa (notícia).
1. O verbo dizer é seguido muitas vezes de uma oração que o completa, como acontece na frase «ela diz que não quer isso». Geralmente essa oração tem o verbo no modo indicativo, embora também possa ocorrer o modo conjuntivo – «ela diz que lhe abram a porta» – , só que alterando o significado de dizer – de que maneira? A resposta está na presente atualização do Consultório, onde igualmente se fala de outro verbo, alastrar. Sobre a alteração, em Portugal, do nome de um serviço de atendimento, comenta-se o caso de «Loja do Cidadão», que em 2017 passou a chamar-se «Loja de Cidadão». Fala-se ainda de classes de palavras a propósito de outro e distingue-se sequência textual de tipo de texto.
2. De vez em quando, em referência às relações culturais e institucionais entre a língua portuguesa e a espanhola, salienta-se o importante grau de intercompreensão (discutível e com muitas assimetrias, é certo) entre os falantes dos dois idiomas. Na rubrica Diversidades, apresenta-se o resumo de uma publicação digital intitulada Iberofonía e Paniberismo – Articulación y Definición del MundoIbérico (em português, Iberofonia e Pan-Iberismo – Definição e articulação do Mundo Ibérico). Trata-se de um ensaio de Frigdiano Álvaro Durántez Prados, especialista em Ciências Políticas, que considera que os países de língua espanhola ou portuguesa formam um espaço linguístico de mais de 700 milhões de falantes – a iberofonia – com potencial para promover a cooperação horizontal entre diferentes países da América, África e Ásia, bem como para alcançar grande visibilidade e influência no plano internacional (ver entrevista que este politólogo concedeu em 09/02/2015 à agência de notícias espanhola EFE, disponibilizada nas páginas da Fundéu BBVA).
3. Ainda nas Diversidades, transcreve-se com a devida vénia um curioso artigo saído no Público de 5 de fevereiro 2020, no qual se resenha um estudo em inglês sobre as origens e as linhagens das línguas gestuais – "Evolutionary dynamics in the dispersal of sign languages" (literalmente "A dinâmica evolutiva a dispersão das línguas textuais"), publicado em 22/02/2020 na revista digital Royal Society Open Science (volume 7, n.º 1, janeiro de 2020). Assinale-se que o artigo menciona a língua gestual portuguesa, defendendo que esta procede da língua gestual sueca.
4. A atualidade internacional da semana que finda é marcada pela absolvição de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos da América, no final do processo de impeachment, anglicismo que frequentemente se deixa por traduzir, dada a sua especificidade na ordem político-jurídica norte-americana. Observe-se, porém, que não é impossível encontrar-lhe equivalente – a palavra impugnação é boa opção –, como já explicou o tradutor português Marco Neves em áudio disponível no canal Cinco Palavras. Sobre o termo impeachment, leia-se igualmente, do arquivo do Ciberdúvidas, a resposta "Impeachment = impugnação".
5. Ainda da atualidade, mas já no plano do quotidiano que foi notícia, em Portugal, a vitória da ucraniana Halina Dyakun, residente em Viseu ), na edição de 2019 do maior concurso realizado em Portugal para o setor das barbearias*. É de lembrar que esta e outras profissões, tradicionalmente tidas como domínios masculinos, passaram a abranger as mulheres, configurando uma mudança social com repercussão linguística, de que o Ciberdúvidas tem repetidamente dado testemunho em repostas e outros artigos, a saber: "Mulheres... barbeiras", "Palavras à procura do feminino", "Maléfica: Mestre do Mal", "O sexo das profissões","Sobre o uso da forma presidenta no Brasil e em Portugal", "O sexo e a língua", "Poetisa inferioriza?", "O feminino da palavra bispo", "Qual a regra gramatical que permite a forma presidenta?", "A propósito do feminino de procurador-geral da República".
* O concurso tem nome inglês: Challenge CACP Barbershop 2019. A sigla CACP está pela bem vernácula expressão Clube Artístico dos Cabeleireiros de Portugal. Porque não se deu nome também em português ao certame?
6. Regista-se com pesar o falecimento em 23/01/2020 do Sebastião Tavares de Pinho, professor catedrático da Universidade de Coimbra (UC) e reputado autor de uma obra repartida por vários temas, dos estudos clássicos greco-latinos ao legado clássico nas literaturas de língua portuguesa e dos estudos camonianos ao Humanismo à literatura neolatina do Renascimento em Portugal. Nas exéquias, celebradas em 25/01/2020, em Rocas do Vouga, terra natal do docente, o também classicista Carlos Ascenso André pronunciou, conforme é norma na UC, um elogio fúnebre, do qual se retiram as seguintes palavras:«[...] foi no Humanismo renascentista que [Tavares de Pinho] mais se deteve, esse tempo em que o homem se indagou e indagou o mundo que o rodeava e o seu lugar nesse mesmo mundo. Nesse estudo, tinha um prazer especial na busca da palavra, a sua raiz, o seu sentido sempre renovado, a sua identificação com o devir cósmico de que o homem é parte» (o texto integral está disponível no arquivo de mensagens públicas da UC).
7. Entre publicações recentes, com interesse para o estudo e o ensino da língua portuguesa, referência a um volume editado pelo Instituto Politécnico de Santarém em 2019: Estudos de Língua Portuguesa: a União na Diversidade, uma obra que teve coordenação de Madalena Teixeira, docente na Escola Superior de Educação de Santarém.
8. Temas principais da presente semana, nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 7 de fevereiro, pelas 13h20*, a africanização do português em Moçambique; e, no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 9 de fevereiro, pelas 12h30, um curso de Escrita Criativa sobre o conto que decorreu em janeiro de 2020 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 8 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 15 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. A palavra tona, vinda do fundo dos tempos – atribui-se a sua origem ao céltico *tunna, «pele, crosta» –, é hoje sobretudo usada em locuções como «vir à tona», no sentido de «vir à superfície», e «à tona de», como em «à tona de água» – ou será melhor «à tona da água», com o artigo definido a? A resposta integra a atualização do consultório, onde o mote céltico se prolonga noutra questão a respeito de nomes irlandeses começados pela partícula O' – caso de O'Connor ou, ainda, de O'Neill, que o poeta português Alexandre O'Neill (1924-1986) tornou conhecido em português. Além disso, reflete-se sobre a correção do termo «insuficiente renal », para referir os pacientes com insuficiência renal. Por último, regressa a análise sintática: como reconhecer o sujeito das chamadas frases copulativas identificadoras? E, em português, será que só a conjunção se pode marcar o valor condicional, ou existem outras construções?
2. Discriminar a descriminação é o resultado paradoxal a que chega quem confunde discriminar com descriminar. A esta troca incorreta mas recorrente na nossa língua, a professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, dedica um novo apontamento, em linha na rubrica O nosso idioma.
3. Na Montra de Livros, apresenta-se Novo Vocabulário Ortográfico – Com Prontuário Anexo, um novo livro de D´Silvas Filho, sob a chancela da editora Guerra & Paz. Ponto de partida desta obra, segundo o próprio autor: «aproveita[r] o que o AO 90 tem de positivo e mant[er] o que da equilibrada norma de 1945 pode ou deve conservar-se».
4. A saúde mundial continua na ordem do dia por causa do contágio do novo coronavírus, o nCoV-2019 (ver as Aberturas de 24/01/2020 e 03/01/2020). A China tem sido até agora a protagonista desta grave situação. Por toda a parte, os media têm dado cobertura da propagação da doença entre a população mundial, nem sempre da melhor forma, com notícias imprecisas ou falsas. Tanto mais grave quanto o alarmismo provocado e, pior, fomentador de reações de medo, descamba em formas inaceitáveis de sinofobia. Para denominar este vertiginoso fluxo informativo, em que é difícil distinguir fontes credíveis das que o não são, surge o novo termo infodemia, que começa a ter circulação, por exemplo, em italiano e facilmente se adapta ao português sem alteração gráfica – tal como para o espanhol. O termo faz parte do livro que o investigador Giancarlo Manfredi publicou em Itália em 2015, com o título original Infodemia. I meccanismi complessi della comunicazione nelle emergenze (literalmente, «os mecanismos complexos da comunicação nas emergências). Do ponto de vista da sua formação, diga-se que infodemia é composto de info-, um prefixo relativamente recente que resulta da truncação de informação, e do elemento -demia, que figura nas conhecidíssimas palavras epidemia e pandemia.
Cf. Entenda a infodemia e a desinformação na luta contra a COVID-19 + La OMS entra en guerra contra la 'infodemia' + Coronavirus: ¿epidemia o "infodemia"? + "Infodemia", o termo que descreve a grave epidemia de informações falsas sobre o coronavírus + Infodemia Coronavirus: l'epidemia più pericolosa sono le fake news + Enquanto o coronavírus avança, a xenofobia alastra-se pelo mundo + As duas pestes de 2020: coronavírus e racismo
5. Nas Controvérsias, transcrevem-se dois textos publicados no jornal Público em 4 de fevereiro de 2020: um, da autoria da professora Maria do Carmo Vieira, que critica as mudanças curriculares em Portugal, levando ao escasso ou nulo tratamento dos temas da 2.ª Guerra Mundial e do Holocausto nas diferentes disciplinas; noutro, a secretária-geral do Sindicato dos Professores das Comunidades Lusíadas, Teresa Duarte Soares, tece também duras críticas à gestão da rede de Ensino do Português no Estrangeiro (EPE), desmentindo as afirmações que o deputado português Paulo Pisco, do Partido Socialista, produziu em artigo saído igualmente no jornal Público (também disponível na mesma rubrica).
6. Morreu George Steiner (1929-2020), um dos grandes ensaístas e historiadores da cultura das últimas décadas, e, com ele, parece também ir-se fechando um capítulo da memórias do Ocidente renascido das cinzas da 2.ª Guerra Mundial (ler aqui, aqui e aqui). Steiner não ficou alheio às literaturas de língua portuguesa, havendo testemunho deste seu interesse, como acontece com o vídeo a seguir, que regista o encontro que teve com o escritor António Lobo Antunes em outubro de 2011, graças à iniciativa do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) e da revista Ler.
7. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa, têm relevo os seguintes temas: no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 7 de fevereiro, pelas 13h20*, a africanização do português em Moçambique, a propósito do uso transitivo do verbo nascer, numa entrevista à professora Sandra Duarte Tavares; e, no programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 9 de fevereiro, pelas 12h30, convida -se o professor José Ferreira GomesN para falar do curso de Escrita Criativa sobre o conto, que este especialista orientou em janeiro de 2020 na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 8 de fevereiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 15 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. A concordância entre o sujeito e o verbo nem sempre é um processo gramatical inequívoco. O facto de o sujeito poder assumir diferentes naturezas e a possibilidade de incluir combinações diversificadas de palavras podem abrir espaço a concordâncias distintas. O caso particular dos sujeitos introduzidos por um pronome interrogativo seguido do sintagma preposicional «de nós» ou «de vós» tem suscitado posições distintas entre os gramáticos: o verbo deve concordar com quais ou com nós/vós? Esta é uma das respostas disponibilizadas no Consultório, onde também se analisa a questão da pertença da expressão corrrelativa «seja... seja» à classe das locuções conjuncionais disjuntivas. A ortografia volta a ser um tema central nas questões colocadas no espaço do consultório, por um lado, a propósito da grafia de palavras introduzidas pelo prefixo trans-, e, por outro, relativamente ao uso de hífen na expressão «casa editora». Para concluir, regressamos à etimologia e significado dos topónimos. Desta feita, analisa-se o substantivo próprio (que também tem uso como substantivo comum) Rocim.
2. A colocação de vírgulas pode condicionar a interpretação de toda uma frase. No Pelourinho, explica-se como, no concurso televisivo Joker, da RTP1, um mau uso da vírgula conduziu à afirmação de que Abraham Lincoln é o atual presidente dos Estados Unidos.
3. A propagação do coronavírus continua imparável com mais de 17 000 pessoas infetadas e cerca de 362 mortos (cf. dossiê sobre o assunto no jornal Público e aqui). No plano linguístico, este fenómeno está a motivar um uso muito frequente de palavras como quarentena que, embora na sua origem apontasse para um intervalo de tempo de 40 dias, no contexto atual significa «período de isolamento necessário de pessoas portadoras ou supostas portadoras de doenças contagiosas, como forma de proteção contra a propagação da doença», o que poderá não corresponder, portanto, a 40 dias (cf. Infopédia). Verifica-se também o uso de assintomático em expressões como «propagação assintomática», «pacientes assintomáticos», «incubação assintomática» ou «infeção assintomática». Em todos estes contextos, o adjetivo significa «que não revela sintomas percetíveis de doença» (cf. Priberam). Destaque também para a expressão «período de incubação», que se refere ao período que medeia entre a exposição, neste caso, ao vírus até ao aparecimento da doença ou dos seus primeiros sintomas, período este que é variável de doença para doença. Outra palavra muito recorrente no espaço mediático é epicentro, termo que se refere ao núcleo do acontecimento, pelo que não deve ser utilizado na expressão «epicentro do foco», que será redundante. Neste contexto linguístico, recordamos ainda respostas relacionadas com o tema, disponíveis no Consultório: «Os vírus», «Um vírus nem sempre foi um vírus», «Viral, virótico e vírico», «Pandemia, epidemia e endemia», «Patologia» e «Zica: como nomear um vírus e um mosquito, entre outras dúvidas».
4. Fernando Pessoa, um dos poetas maiores da língua, foi convertido em herói de banda desenhada pelas mãos de Miguel Moreira e de Catarina Verdier, autor e ilustradora da obra As aventuras de Fernando Pessoa, escritor universal (da Parceria A. M. Pereira). Um livro que trata a biografia pessoana e enquadra alguns dos poemas do autor mais divulgados entre os leitores (vídeo disponível aqui).
5. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) fez saber que estão abertas as candidaturas ao «Prémio José Aparecido de Oliveira», um prémio bienal que vai na sua 5.ª edição e que visa homenagear pessoas ou instituições que se distingam na defesa e promoção dos objetivos e valores da CPLP. Este prémio agraciou já individualidades como Xanana Gusmão, antigo presidente de Timor-Leste, em 2014, ou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas António Guterres, em 2018.
1. A saída do Reino Unido da União Europeia, conhecida como Brexit ou "Exit day" (expressão preferida pelo primeiro-ministro britânico Boris Johnson), acontece hoje, dia 31 de janeiro, às 23h locais (mesma hora de Lisboa), depois de ter sido ratificada pelo Parlamento Europeu (jornais Observador, Público, Jornal de Notícias e Expresso). O termo Brexit tem levantado inúmeras questões linguísticas relacionadas com a sua grafia ou com a possibilidade de o traduzir para outras línguas, mas uma vez que a palavra parece ter-se instalado nos meios de comunicação social portugueses (e internacionais), poderemos seguir as sugestões da Fundéu BBVA, que recomenda que o termo se escreva de uma de duas formas: com letra minúscula e itálico (brexit), opção que toma a palavra como um nome comum, ou com letra de imprensa com maiúscula inicial (Brexit), uso que toma a palavra como um substantivo próprio que refere um facto histórico.
2. O Brexit é um acontecimento que alterará o funcionamento da União Europeia, mas esta mudança implicará também consequências a nível linguístico? Por exemplo, deixará o inglês de ser falado na instituições da União? Esta questão é analisada pelo professor universitário e tradutor Marco Neves, na sua crónica «O que vai acontecer ao inglês na União Europeia depois do Brexit?», divulgada no seu blogue Certas Palavras.
3. No Consultório, há questões que ciclicamente se voltam a colocar. É o caso da pronúncia do antropónimo Félix, que se deve realizar como "félis" e não "féliquesse", como aqui se explica de novo. A nova atualização centra-se em questões a propósito do significado das palavras «Ladravaz e ladravão» e do «adjetivo relativo e o verbo relativizar». Mais uma vez também se aborda a questão da colocação de pronomes clíticos na frase e ainda o problema da concordância com um sujeito composto com constituintes de géneros diferentes.
4. Entre as publicações relacionadas com a língua, destacamos, na Montra de Livros, a obra ABC da Tradução, de Marco Neves (editora Guerra & Paz), que trata, em estilo coloquial, alguns dos problemas da tradução, numa abordagem didática que privilegia a proximidade com o leitor. No plano das publicações, foi também lançada a obra Novo vocabulário ortográfico com prontuário anexo, da autoria de D'Silvas Filho, docente universitário aposentado, das edições Guerra & Paz. Uma publicação que visa estabelecer um percurso de conciliação entre o Acordo Ortográfico de 90 e a Norma de 45.
5. A atualidade está embrenhada na própria língua que a diz, e cada facto novo é suscetível de criar novos problemas a quem fala ou escreve. Desta feita, as dúvidas advêm da situação que afetou a cidade chinesa de Wuhan, com o aparecimento do coronavírus. Ora, de acordo com as recomendações da Fundéu BBVA, que adaptamos para a língua portuguesa, o substantivo coronavírus escreve-se como uma só palavra com acento agudo na letra -i-. É desaconselhada a expressão « doença do coronavírus», visto que a palavra em causa refere um tipo de vírus e não uma doença. Para referir a propagação do vírus, deve utilizar-se o termo pandemia, que significa "surto de uma doença com distribuição geográfica alargada" (Dicionário Priberam), uma vez que já há infetados em diversos países, sendo de rejeitar o termo epidemia, cujo significado é "doença que, numa localidade ou região, ataca simultaneamente muitas pessoas" (Ibidem). Por fim, a pronúncia correta da cidade de Wuham e da província de Hubei pode ser consultada aqui.
6. O problema de determinar se o ano de 2020 inicia ou fecha uma década continua a gerar controvérsia, como damos conta com a publicação da posição de Guilherme de Almeida, autor e professor aposentado de Física, que se funda em critérios matemáticos, rejeitando o argumento das convenções.
7. Marco Neves, professor universitário e tradutor, tem uma predileção por contar histórias relacionadas com a língua. Desta feita, foi em busca da história da letra -s-, desde a sua origem fenícia até aos sons que atualmente representa em português. Uma crónica publicada no blogue Certas Palavras, que aqui reproduzimos com a devida vénia.
8. O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua e o Instituto Cervantes apresentaram um projeto de lançamento de um livro que visa promover as línguas portuguesa e espanhola, através da demonstração do seu poder e potencial (notícia).
9. Os programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa abordam, nesta semana, os temas da influência das línguas bantas no português oral falado1 em Luanda (Angola) e de um projeto didático de ensino interdisciplinar do português2 (notícia).
1. Programa Língua de Todos, da RDP África, difundido na sexta-feira, dia 31 de janeiro, pelas 13h20 (repetido no sábado, dia 30 de janeiro, depois do noticiário das 09h00);
2. Programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, que vai para o ar no domingo, 2 de fevereiro, pelas 12h30, (com repetição no sábado, dia 8 de fevereiro, às 15h30).
Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. No Consultório, volta-se à poesia de Eugénio de Andrade (1923-2005), por causa de uma questão sobre as figuras de estilo que constroem os dois últimos versos de "quando em silêncio passas entre as folhas", do livro As Mãos e os Frutos (1948)*. Pedem-se também esclarecimentos sobre a expressão «fazer mal» e a boa formação do termo concertinista. Completam a atualização duas perguntas relacionadas com o contacto do português com outras línguas: em «cumprimentos desde o Brasil», não haverá um castelhanismo? E no uso das hashtags (anglicismo substituível por etiqueta), podem escrever-se acentos gráficos?
* Ouça-se o apontamento que o jornalista Carlos Vaz Marques dedicou a As Mãos e os Frutos em 19 de novembro de 2012 no programa O Livro do Dia, da TSF. Escute-se também a versão musical de "quando passas em silêncio...", da autoria do compositor português Fernando Lopes-Graça (1906-194) – aqui.
2. Em Portugal e não só, causam celeuma as revelações acerca das atividades de Isabel dos Santos, filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, designadamente, os Luanda Leaks, isto é, um conjunto de mais de 700 000 documentos que parecem comprometer criminalmente a empresária e outras figuras, incluindo vários cidadãos portugueses. Além da palavra leak (plural leaks), o mesmo que fuga de informação (confidencial), dois anglicismos são igualmente recorrentes nas notícias a respeito de Rui Pinto, um jovem pirata informático até há pouco acusado da divulgação de segredos contratuais de clubes de futebol portugueses e europeus, mas agora também tido como autor da recolha e difusão dos documentos sobre Isabel dos Santos. Trata-se de hacker, que tem como equivalentes ciberpirata e pirata informático; e whistleblower – literalmente «assoprador de apito» – termo ainda à espera de alternativa vernácula estável, mas que pode ser entendido como denunciador ou acusador, com conotação positiva, porque pressupõe uma ação a favor da justiça.
3. Na rubrica Controvérsias, transcreve-se com a devida vénia um artigo (Público, 27/01/2020) do jornalista português Paulo Prisco, deputado do Partido Socialista, que contesta as críticas que o professor Santana Castilho faz à política seguida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal na definição e funcionamento da rede de ensino de Português no estrangeiro.
4. Na rubrica Notícias, dá-se conta do lançamento em linha de um glossário organizado pelo Arquivo e Biblioteca Municipal de Sines e pela Universidade de Évora, no qual se listam 300 termos e expressões antigas das gentes do concelho de Sines – um vocabulário com muitas proveniências e relacionado com as atividades agrícolas e piscatórias (consulta gratuita aqui).
5. Na mesma rubrica, regista-se o aparecimento no mercado português do Scrabble GO, versão oficial do Scrabble para dispositivos móveis, com suporte para a língua portuguesa e verificação de palavras através do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
6. De Goa chega também a notícia da realização do V Simpósio Internacional Goa: Culturas, Línguas e Literaturas, pelo Departamento de Português e Estudos Lusófonos da Universidade de Goa e pelo Camões-Centro de Língua Portuguesa em Pangim. O evento, que decorre de 28 a 30/01/2020, em Goa, reúne especialistas na área dos estudos indo-portugueses, na maior parte membros do projeto temático “Pensando Goa”, financiado pela Fadesp, e investigadores goeses. No encontro, também se evocará a memória de quatro personalidades da vida académica e cultural de Goa, desaparecidos em 2019: Teotónio Rosário de Souza, Percival de Noronha, Margareth Mascarenhas e Alito Sequeira.
7. O tradutor e professor portugês Marco Neves acaba de publicar mais um livro, desta vez, sobre o tema da tradução, intitulado ABC da Tradução (edição da Guerra e Paz). O lançamento vai ter lugar em Lisboa (El Corte Inglés), no dia 30 de janeiro de 2020, pelas 18h30.
8. Temas centrais da presente semana nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa:
– no programa Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 31 de janeiro, pelas 13h20*, o linguista angolano Afonso Miguel fala da sua investigação de doutoramento, sobre a influência das línguas bantas no português oral de Luanda, capital de Angola;
– no programa Páginas de Português*, transmitido pela Antena 2, no domingo, 2 de fevereiro, pelas 12h30, convida-se a linguista e professora universitária Sónia Valente Rodrigues, a propósito do ensino do português em contexto pedagógico interdisciplinar e de um projeto didático desenvolvido na Universidade do Porto.
*O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 30 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 8 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. O campo de concentração de Auschwitz foi libertado há 75 anos. No dia 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas invadiram o campo devolvendo a liberdade aos que nele ainda permaneciam. Este dia é comemorado em todo o mundo como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto (designação atribuída pela Assembleia Geral das Nações Unidas) (ver notícia). A memória deste período trágico da humanidade é um processo que poderá ser fundamental para impedir a repetição de factos históricos tão terríveis como os que foram vividos em Auschwitz, em particular neste momento em que os extremismos voltam a ganhar força e o antissemistismo parece conquistar seguidores em muitos locais deste nosso planeta. Contar e relembrar histórias, como a de Michael Fresco, o único português a ter estado em Auschwitz, é também fundamental para prevenir o fortalecimento das teses negacionistas, que, aqui e além, vão surgindo como tentativa de reescrever os factos. A rejeição deste fenómeno é também feita por palavras que devem ser pronunciadas e por outras que devem ser silenciadas. Esta verdade serve de mote para recordarmos alguns textos do Ciberdúvidas relacionados com léxico alusivo ao tema: Holocausto, uma palavra para não esquecer, A grafia de holocausto, Holocausto, sem aspas, Nazi, nazista, liberal e liberalista, A insistência no "islamita"..., Gentílicos vários e membros da tribo de José, Judia/judaica, e Ainda os prefixos anti- e contra-. Ver, ainda. o vídeo feito pela France Inter, quando se assinalaram os 70 anos da libertação do campo de concentração e extermínio do nazismo, aqui. E: Sobreviventes voltam a Auschwitz, 75 anos após a libertação do campo da morte.
Fotos de Auschwitz: Getty Images
2. A propósito do aniversário da libertação de Auschwitz, a Fundéu BBVA divulgou um conjunto de recomendações para o espanhol. Aqui fazemos eco de algumas delas que também são pertinentes para a língua portuguesa: septuagésimo quinto pode ser referido como ordinal (75.º) ou como cardinal (75); a palavra holocausto pode ser grafada com maiúscula ou com minúscula em função do seu significado (ver explicação em «A grafia de holocausto») e o substantivo negacionismo e o adjetivo negacionista são os termos adequados para referir a negação de factos que podem ser verificados empiricamente (como é o caso do Holocausto).
3. Os usos do verbo faltar constituem uma das áreas críticas do português, sobretudo quando o que está em causa é a sua flexão. Convém, então, recordar, que este verbo é pessoal, ou seja, tem sujeito, e não se constrói com complemento direto. Assim, a sua flexão em enunciados como «Faltam cinco dias» ou «Falta fazer as malas» é o resultado da concordância sujeito-verbo. É neste contexto que no Consultório se analisa a função sintática de constituintes que acompanham o verbo faltar e se determina a natureza das orações que o modificam. Nesta atualização, regressamos à identificação da classe de pertença de uma palavra, neste caso dupla, na expressão «forma dupla». Apresentamos também respostas sobre a origem do topónimo Guimbra (localidade de Espinho, Aveiro), sobre a correção da expressão «fazer skate» e sobre a existência do termo mopa face a esfregona.
4. Na rubrica Montra de Livros, divulga-se a obra do jornalista português Germano Silva, intitulada Porto, Profissões (quase) Desaparecidas, com a chancela da Porto Editora. Uma obra que recorda 33 profissões da cidade do Porto, entretanto desaparecidas (ou adaptadas), trazendo consigo os pregões, as características dos ofícios, a sua origem histórica e o seu contexto social. Afirma José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, «só alguém como Germano Silva nos podia dar este tão saboroso Porto, Profissões (quase) Desaparecidas – ele que conhece como poucos a sua cidade».
5. O movimento reintegracionista que pretende aproximar o galego do português tem conquistado maior visibilidade no panorama nacional e internacional. Em entrevista ao escritor Nuno Gomes Garcia, Eduardo Maragoto, Presidente da Associação Galega da Língua, fala dos objetivos do reintegracionismo, da origem comum do galego e do português e do estado atual da língua galega (entrevista à Rádio Alfa, transcrita no Lusojornal).
6. Entre as notícias de relevo para a língua, destacamos:
– Uma ideia original que chega de Espanha: uma professora criou o "Hospital Ortográfico de Valladolid", espaço para onde vão as palavras que são "massacradas" pelos alunos. Em função da gravidade dos erros, as palavras passarão mais ou menos dias "internadas" (notícia). Uma ideia criativa em defesa da língua espanhola. Por cá, este hospital também teria muitos pacientes, com toda a certeza;
– O Instituto Português do Oriente, o Camões - Instituto da Cooperação e da língua e a Universidade de Macau anunciaram que vão lançar um concurso anual de tradução de língua portuguesa para chinês e de chinês para língua portuguesa. Este concurso terá, todos os anos, um tema específico e contemplará rotativamente diferentes géneros (poesia, conto, crónica) (notícia).
1. Há quem pense que «muitas das vezes» é forma incorreta, usada em lugar de «muitas vezes», mas no Consultório descarta-se tal ideia, porque há contextos onde essa expressão se justifica. Também na presente atualização, evidencia-se o contraste entre dois tempos do indicativo, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito, analisam-se frases de dois escritores – a brasileira Nélida Piñón, e o português Camilo Castelo Branco (1825-1890) – e, a propósito de fama e culto do eu, comenta-se o sentido que têm palavras como egotismo e egotista.
2. A forma e o significado das palavras motivam constantes interrogações sobre as suas relações e as suas origens; e, ao comparar as línguas existentes no mundo, descobrem-se quase sempre vocábulos aparentemente familiares ou exoticamente intrigantes, que sugerem míticos parentescos longínquos. Na rubrica Montra de Livros, ao encontro dessa indagação, apresenta-se o livro Palavras que Falam por Nós, cujo autor, o professor universitário português Pedro Braga Falcão, desvenda os segredos da história de cada palavra, recuando ao latim, ao grego e ao indo-europeu. E nas Notícias, dá-se conta do maior banco de dados do mundo de associações lexicais entre línguas e dialetos à volta do globo – num total de 3156 variedades de idiomas, incluído o português –, cuja plataforma, CLICS, disponibiliza um mapa interativo que permite comparar diferentes palavras à volta do globo com o mesmo significado.
3. Em Portugal, conforme resolução que a Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) tornou pública em 14/01/2020, os professores de Francês, Inglês, Alemão e Espanhol vão poder dar aulas de Português no 3.º ciclo e ensino secundário, nos casos em que ainda existam alunos sem aulas nesta disciplina. A Associação de Professores de Português considerou «[que,] à partida, não é uma má decisão», mas há vozes discordantes, como a de António Carlos Cortez, poeta, crítico literário e professor, que criticou a nova situação em artigo saído no jornal Público em 22/01/2020 e que, com a devida vénia, se transcreve na rubrica Ensino.
4. Dominando a atualidade internacional, registe-se o pânico que alastra pelo mundo por causa de um surto de pneumonia com origem na China (cf. comunicado da Direção-Geral de Saúde de Portugal em 23/01/2020)*. Sabe-se que a infeção tem como agente um vírus do tipo coronavírus, a que se atribuiu a designação de SARS-CoV-2 (ler aqui, aqui e aqui). Segundo o dicionário de termos médicos da Infopédia, o termo coranavírus aplica-se a «grupo de vírus que apresentam um halo ou uma coroa (corona) quando vistos ao microscópio, e que podem causar doenças respiratórias graves e gastroenterites (entre estes vírus encontra-se o causador da síndrome respiratória aguda grave)». É um composto formado por corona, do latim corona, «coroa», e vírus, do latim virus, «sumo, suco; sémen; peçonha, veneno». Entretanto, para controlar e evitar o contágio, as autoridades encerraram a cidade donde se supõe ter-se o vírus propagado –de Wuhan, na província de Hubei, cujos nomes se pronunciam conforme os registos áudio da página da Fundéu BBVA. Refira-se, por último, que esta situação afeta a comemoração em 25/01/2020 do Ano Novo chinês, festa do calendário tradicional chinês, que marca um novo ciclo anual, desta vez, dedicado ao rato (cada ano é dedicado a um dos 12 animais da astrologia chinesa). Sobre a China, leiam-se "Como dizer os dias em chinês", "Isso para mim é chinês", "A vingança do chinês", "Dicionário de Chinês-Português/Português-Chinês", "Lexicografia bilingue", "Vinte e três anos em vinte e três palavras", "O diminutivo da palavra chinês", "Festival Literário de Macau reúne o português e o chinês", "Macau e a língua portuguesa", "O patoá de Macau, uma língua em risco", "Macau, «enorme ponte virtual» entre a China e a língua portuguesa", "O ensino do português a chineses.
* Mais informação aqui, aqui (Portugal) e na Secretaria de Estado de Saúde do estado de São Paulo (Brasil). Na imagem, ilustração de um coronavírus (fonte: Wikipédia).
5.Ainda no plano da atualidade, registe-se o anúncio feito pelo director executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, Incanha Intumbo, sobre uma parceria com a Universidade de Cabo Verde para a promoção da língua portuguesa.
6. Nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa, são temas centrais da presente semana (pormenores nas Notícias): no Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 24 de janeiro, pelas 13h20*, fala-se da situação linguística de Cabo Verde; no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 26 de janeiro, pelas 12h30*, focam-se a técnica e a análise da escrita de diálogos.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 25 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 1 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Fala-se de sinais auxiliares de escrita para referir os «sinais gráficos utilizados para separar, assinalar ou destacar elementos de uma frase ou de um texto ou com funções convencionadas em contextos específicos de utilização» (Dicionário Terminológico). Neste conjunto, salientam-se as aspas, que, por apresentarem certo grau de diversidade gráfica e não obedecerem a regras estritas, motivam sempre várias perguntas. É o caso da que se encontra em linha na presente atualização do consultório, onde, a propósito do anglicismo scare quotes (literalmente «aspas de aviso, alerta»), se descrevem tipos de aspas e critérios de utilização num texto. Outros tópicos também abordados: a formação do verbo justapor; o uso frásico do verbo gravitar; o valor instrumental de uma construção relativa («com a qual», «pela qual»); a expressão «dar entrada»; o papel das palavras quantificadoras na colocação dos pronomes átonos (me, te, se, o/a, lhe, etc.).
2. Na derivação de diminutivos, toda a gente sabe que nomes como café ou José (ou o hipocorístico Zé) dão origem a cafezinho e Josezinho (Zezinho), que, embora conservem o timbre aberto da vogal e das palavras primitivas, perdem o acento gráfico. É, portanto, estranho insistir-se em escrever "cafézinho" ou "Zézinho"; mas incomensuravelmente mais esquisito é pôr um acento onde ele nunca existiu, como aconteceu com uma figura destacada da vida política portuguesa quando, manifestando-se nas redes sociais, grafou um erróneo "Zéquinha", em vez do correto Zequinha, que vem de Zeca (outro hipocorístico de José). No Pelourinho, um apontamento de João Nogueira da Costa dá conta do caso, que até chamou a atenção do humorista Ricardo Araújo Pereira.
3. Que sentido tem dizer que esta língua é mais antiga ou mais recente do que aquela? As línguas têm idade precisa? Trata-se de uma discussão a que se procura dar resposta nas Diversidades, com a transcrição de um texto da autoria do tradutor e professor universitário Marco Neves e por este publicado no blogue Certas Palavras em 02/08/2018. São considerações pertinentes para refletir sobre a relação entre o fenómeno linguístico e a história social, conforme se pode ajuizar pelas seguintes palavras: «[...] não há um momento em que possamos dizer: esta língua nasceu hoje. Em geral, a linguagem é transmitida sem cortes radicais entre gerações.»
4. Passando ao campo da promoção das culturas veiculadas pela língua portuguesa, é notícia o concurso de tradução literária que vão lançar o Instituto Português do Oriente, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e a Universidade de Macau. Trata-se da primeira de várias iniciativas a realizar no âmbito de um novo protocolo que as referidas entidades assinaram em 22/01/2020 no território de Macau.
5. Assinala-se no dia 23 de janeiro a passagem de 115 anos sobre a morte de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Caricaturista, ceramista, político e jornalista português dos fins do século XIX, Bordalo Pinheiro é muitas vezes recordado em Portugal, por ter criado em 1875 e popularizado a figura do Zé Povinho, com o gesto que lhe é típico, o chamado manguito. O programa Cuidado com a Língua! (RTP 1) dedicou-lhe um episódio em 02/10/2017. Nele, deu-se especial relevo à fábrica de faianças que fundou e ao museu em sua memória, nas Caldas da Rainha; e a outras curiosidades, a começar pela grafia do seu próprio nome, com ph e dois ll, e agora não. Ou, ainda, aos muitos provérbios alusivos ao humor, ao riso e… ao siso.
6. Um lembrete final, a respeito dos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para rádio pública portuguesa: o programa Língua de Todos tem mais uma emissão na RDP África, na sexta-feira, dia 24 de janeiro, pelas 13h20*, enquanto o programa Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, 26 de janeiro, pelas 12h30*.
O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 25 de janeiro, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 1 de fevereiro, às 15h30). Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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